Surto, é isso que se resume o começo da manhã. Choro, desespero, Márcia está morta e ninguém entende o porquê. Nos deixaram presos na sala, enquanto os professores se retiraram para conversar sobre como proceder, a maioria da turma chora, a wi-fi da escola foi desligada, poucos tem internet para ter uma notícia nova, os meninos tentam especular algo, mas quando Ísis joga a cadeira do meu lado e me encara, todos se assustam e se afastam, inicialmente eu e ela não falamos nada inicialmente, apenas nós encaramos de um jeito triste e tosco, mas quando Janaína também se junta limpando as lágrimas, Ísis abre a boca.
— Não faz sentido, vão ter que parar as aulas até que esse assassino seja pego. A Márcia sempre foi tão normal...— Posso estar sendo insensível, mas até agora não tivemos nenhum sinal do assassino. Quem foi que contou para todo mundo mesmo? — Digo mordendo a ponta da tampa da caneta incansavelmente— A Gabi recebeu uma mensagem e começou a chorar. — JanaíEstou sentada na quadra com Natan, ele tem uma bolsa de gelo sobre o olho esquerdo e uma careta, ainda não falamos nada, me lembro de termos sido amigos, mas acabou no mesmo momento que ele e Pedro se tornaram melhores amigos, era muito mais pelo futebol, pelas brincadeiras do que por serem compatíveis, era muito mais pelo amparo das más criações que eles se uniram, e como Pedro não perdeu a oportunidade fez minha caveira, mas com Natan consigo conviver melhor.— Você quer a fofoca completa?— É.— Acho que o Pedro está afim da Valéria... Mas aí eu disse para ele abrir o olho, principalmente sobre o Bruno.— Você sabe que eles são amigos, né?— Mas o problema é justamente esse, Bruno é puta cuzão, ele tem aquela cara de sonso, mas fala umas coisas... O Pedro é só burro mesmo.— Olha, sim. — Deixo escapar uma risada— Eu falei isso para ele e o Pedro já ficou todo irritado, mas estávamos de boa, só que ele tava no celular com a cara fe
Terça-feira Ainda não me levantei, posso escutar os barulhos de mamãe e Lav pela casa. Elas me levaram café na cama, e me deixaram a vontade o dia inteiro, Rafaela mandou mensagem logo depois do almoço, pois, vira aqui para casa, não quer ficar sozinha já que os pais dela trabalham o dia inteiro. A fofoca ainda é sobre a morte de Márcia, o corpo está sendo preparado e a mãe dela fez um post trágico, além das entrevistas, os jornais de televisão finalmente parecem notar a gravidade que as coisas estão indo, querem entrevistas, filmagens, matérias, a diretoria junto a advogada Adriana, mãe de Emanuel, fizeram uma mensagem recomendando que não dessemos muitas informações e que os pais permanecessem de olho em seus filhos.Mainha me chama para o almoço, dou uma ráp
Eu e Mateus estamos na sala da casa de Alexandre, jogando vídeo game. É um lugar legal e confortável, a mãe dele gosta bastante de nós, o pai de Ísis normalmente chega quando estamos saindo, então mal o conhecemos. Ísis não está em casa, a mãe dela está na cidade e segundo Alexandre, os ânimos estão pirados, as histórias que ele escutou a mãe de Ísis não é uma pessoa completamente legal e talvez um pouco culpada da personalidade da garota.Luciana estava a caminho, ela não queria ficar sozinha em casa, mas também não queria vir para a casa de Alexandre, ela o acha um saco, principalmente depois da traição que ele nega ter feito.— Cadê a Luci? Já tem mais de uma hora que você falou que ela vinha. — Alexandre reclama enquanto entrego o controle para ele— Eu é que devia estar preocupado, não?— É que todo mundo passou a me odiar sabe. A Fani não quer saber mais de mim, me bloqueou em todas as redes sociais, mandou que eu desaparecesse da vida dela.
Eu perdi meu sapato.Perdi meu sapato e estava tão assustada que foi a única coisa que consegui contar a polícia, nem mesmo explicar que a máscara eletrônica mudava de FIM para um sorriso doentio, e o fato mais importante, as roupas daquele eram o uniforme da escola, o emblema estampado bem no peito. Depois que cheguei em casa e todo aquele surto pareceu passar foi que finalmente me dei conta de todas as informações que eu tinham, talvez eu pudesse o reconhecer, era um homem, estudante da escola, bem mais alto que eu, isso já reduziria as buscas de uma forma incrível, eles só uma precisar fazer um interrogatório para pegar o culpado e assim eu não morreria.Desde a história do caderno estou preocupada, fiz de tudo para parecer o mais assustada possível, uma pobre menininha, mas, na verdade, estava confiante que tinha escapado, grande mentira. Particularmente esse assassino não mentiu quando revelou meu lance com Alexandre, sei que fui burra em acreditar nele e me sinto
Não tinha mais sol quando a ambulância levou Clara, Miguel desmaiado está sendo levado para o hospital no banco de trás do carro de minha mãe. A coisa toda foi insana.Quando o carro bateu em Clara, eu apenas corri até ela segurando aquele maldito sapato, me ajoelhei na frente dela falando a única coisa que conseguia, para que ela ficasse entre nós, mas ela fechou os olhos lentamente enquanto sangrava uma de suas pernas está quebrada e assumiu umaforma completamenteimpensável, seus braços estão bem machucados, seu rosto tem cortes e sangue, osolhospareciam suplicar algumacoisade mim.O barulho de Ísis arrancando o motorista de dentro do carro foi intimidador, ela o socou primeiro antes de perguntar qualquer coisa, ao mesmo tempo, minha mãe e várias viaturas chegaram, eles fazem com que me afaste do corpo de Clara, coloquei as mãos na cabeça, Ísis foi afastadapor umpolicial largando o homem no
Nada, nem ninguém vai me dizer que família é uma coisa para ser respeitada e entendida.Eu tentei deixar as coisas serem normais, ou não levar a sério, mas ver minha mãe de novo não da. Estávamos longe, distantes e ela se esforçou para construir uma imagem boazinha, me fazendo esquecer o caos que era quando ela e meu pai estavam juntos, brigas constantes, acusações, quando comecei a terapia piorou, para mamãe, era tudo drama infantil.Até hoje, cada coisa que faço é puro drama infantil. Por isso que agora, no começo dessa perseguição optei por não entrar em contato com minha mãe, não queria que ela voltasse, queria que as coisas deveriam ter acabado onde começaram... É a única coisa que consigo pensar enquanto estou parada nos pés da escada. Mamãe está no quarto, fazendo qualquer coi
Estamos todos reunidos na sala de casa, painho já me deu uma bronca enorme, mainha foi extremamente sentimental, Lav escutou tudo atentamente. As coisas que Rafaela disse aos meus pais ficaram impregnadas em suas mentes, eu estava sendo levada para o mal caminho por vários desviados, repetiram várias vezes que eu era apenas uma pobre e indefesa garota, escutei cada frase sem abrir a boca e não tive como me defender, ninguém me deu a palavra em momento nenhum, mesmo que eu não tenha dormido, porque toda a vez que fecho meus olhos o acidente de Clara vem na minha mente, mesmo que esteja a um passo de gritar com todos eles não conseguem, respiro fundo pedindo paciência a Deus.Estou proibida de sair de casa para o meu próprio bem, isso não quer dizer que as tragédias não vão continuar a acontecer. Painho da uma batidinha no braço do sofá e se levanta, mainha faz o mesmo em seguida, Lav me encara, ainda não sei de que lado exato ela está.— Então... Nem conversamos direito
É impossível descrever a dor que estou sentindo. Me levanto da cama e desvio de quem está dormindo no chão do meu quarto, abro a porta e começo a andar, acabo no banheiro me encarando no espelho, arrancaram um pedaço de mim, me pisaram destruíram e largaram no meio do mar a deriva. Começo a chorar e me agacho no chão, noto o barulho de passos e logo Alexandre está me abraçando, me arrastando para sentar no chão com ele, nós dois choramos, agradeço ao fato dele não tentar dizer nada, não falar uma palavra. Não quis encarar Emanuel e Ísis hoje, nem pretendo por tão cedo, sei que eles não têm nada com isso, mas não quero olhar para eles, para encarar que, entre nós quatro, fui o escolhido para sofrer. Sei que quando amanhã começar os pais de Luciana vão estar programando um enterro, que não vou ter quem eu preciso, ninguém vai responder minhas mensagens ou meus eu te amo, não vai ter ninguém nunca mais, e nem ao menos um pedido de namoro descente foi feito. Um c