Minha perna está ardendo, meu corpo mole, minha cabeça pesa, mas ainda consigo pensar com clareza, Júlia me encara e está quase tirando sangue das unhas de tanto roer, quero fazê-la parar, mas sei que o medo nos consome, Pedro ainda está parado em pé, quase como uma estátua, não tem mais gritos ou barulhos altos, escutamos algo que parecia com coisas caindo, mas foi distante e já parou.
— Quantos estão aqui? — Perguntei
— Dezessete contando com eu e o Pedro.
— Pensar em quem é o assassino não vai nos ajudar a resolver agora. — Pedro falou
— Temos que analisar as possibilidades… Nos dois sabemos que e uma pessoa alta.
— Tamires, Bruno, Luan, Antônio e o Mateus... — Júlia foi rápida — A Fernanda também.
— Já reduzimos incrivelmente o número, não devemos confiar em ninguém, principalmente neles. Tem mais alguma característica que possamos usar?
— Tenho quase certeza que é um homem.
— Eu também, mas não quero ser surpreendida.
Finalmente tinha parado de chorar, as meninas haviam me soltado e estávamos todas sentadas em círculo. Cris, Tamires, Paula e Fernanda tentam me tranquilizar sobre tudo que está acontecendo, estão tentando fazer tudo parecer um bate-papo, mas elas não entendem que não quero falar de assuntos banais ou fofocas sobre essa noite, quero ir para minha casa ter uma conversa seria com Lavínia e depois cortar qualquer laço de amizade com Rafaela.— A Valéria vai falar para o Bruno toda a verdade, não duvido que ele já saiba e só esteja esperando que ela deixe. — Comentou Paula— Você acha que ela vai ser presa quando pegam o assassino? — Cris questionou— O pai dela é bem influente...— Da para pararem de fingir que não sequestraram cinco pessoas. — Disse cruzando os braços — Só vamos acabar com isso
Tudo é um borrão ridículo, consigo me lembrar perfeitamente da minha briga com Mateus, de como ficamos todos esperando a polícia, mas depois disso só lembro que estava deitado em uma maca no hospital. Fui sequestrado da casa de Ísis, depois me separaram do pessoal, na minha sala estava Fani e Alexandre, eles tentavam falar várias coisas tentando justificar a ação horrível que estavam fazendo, mas quando Mateus entrou na sala, praticamente pirei, começamos a nos xingar e gritar, mas quando alguém forçou a porta e a abriu por uma fresta rápida, conseguimos ver a máscara do Fim, Alexandre e Mateus seguram a porta, mas ele não forçou uma entrada, pouco tempo depois escutamos as vozes alteradas do andar de baixo. Alexandre estava perturbado, me pedia desculpa a cada duas palavras, Mateus começou a falar varias coisas como se fosse algum tipo de deus, Fani era a única que estava em plena consciência e então me soltou da cadeira. Gritamos ainda mais uns com os outros, até q
O sol nasceu, não consegui dormir, apenas fiquei da janela o observando nascer, estou trancado no quarto, sem nenhuma comunicação com o mundo externo e ainda por cima meu pai está com a chave do quarto.Não sei o que está acontecendo, a polícia já falou comigo e, já disse tudo para eles, desde o começo. Contei sobre como recebi uma caixa misteriosa que dava a entender que os quatro eram culpados e depois como Rafaela e André também estavam com uma igual, depois dessas informações vieram as sugestões, deveríamos cuidar deles, por que não na escola, onde tudo tinha se dado início. O nosso amigo secreto começou a arcar com tudo, com o jeito em conseguirmos entrar já escola, no carro para levarmos a Ísis, e até mesmo o jeito de convencer a todos que aquilo era a única possibilidade de salvar o dia.Nunca achei que era o ele, o Fim, fui burro e inconsequente, apenas larguei meu melhor amigo de mão por medo de ser morto, ainda convenci Alexandre e Fani a se juntar a isso tud
Bom, estou apenas tentando fingir que tudo é normal. Meu pai largou o trabalho e está voltando para nossa cidade, mamãe está trabalhando desde que soube onde estávamos, mal a vi, a única pessoa que tive contato o dia todo foi minha tia, que está de cara fechada na sala mexendo no celular. Passo pela cozinha e pego um copo de água pela quarta vez, enquanto tento pensar em um jeito de pedir meu celular ou tentar ver TV. — O que quer? — Ela fala da sala — Só vim pegar água. — Sei. — Minha tia vem até a cozinha, ela se parece muito com mamãe, mas usa o cabelo crespo e roupas mais leves — O que quer? — Meu celular. — Sua mãe levou, para o que, não me contou. — Vi ela guardando meu celular noescritório dela. — Minha tia revira os olhos — Meus outros meios de comunicação estão cortados também?— Sim.— Só quero saber algo do pessoal… Por favor.— Sua mãe não pode nem sonhar que deixei você tocar nele, ok? — Concordo
Tudo parece em câmera lenta quando abro os olhos e encaro o teto branco, rolo a cabeça para o lado um pouco, minha boca está seca e parece anestesiada, na verdade, meu corpo todo está completamente travado. Aos poucos me dou conta de tudo, o quarto estranho, a maca, o cheiro de remédio, estou no hospital, quanto tempo se passou desde que saí da escola?Escuto passos, então vejo meu pai se aproximar e passar a mão na minha cabeça, ele sorri para mim e sorriu de volta.— Pai. Cadê todo mundo? — Pergunto meio grogue, sem saber que palavras usar exatamente— Em casa.— E o Natan? A Júlia...— Shhh. — Ele sorri triste — Não é hora de pensar nisso— Mas pai, a quanto tempo estou aqui? Preciso saber de todo mundo...— Não, Ísis. Vamos cuidar de você, só sde você
As pessoas acabaram de sair da minha casa depois do culto, mainha e painho chamaram algumas pessoas da igreja com urgência, fizeram uma oração para afastar esse demônio de perto de mim. Foi a primeira vez que eu estava completamente desconexa em uma oração, só conseguia olhar para Lavínia e todo o fingimento que ela estava fazendo, quando falei para nossos pais que ela tinha me levado a escola, Lav chorou e me abraçou, dizendo que não sabia de nada, que só sabia sobre a homenagem, mas sei bem que ela me viu gritando e sendo arrastada com um saco na cabeça, ela sabe que a vi pegando o caderno. Depois de escutar muitas vezes que o mundo está próximo do fim, que o apocalipse está se aproximando, que o assassino é um demônio, um possuído, um pervertido e que cultua Satanás, a última coisa que esperava era que encostasse perto de mim para dizer que eu estava pagando por algo que fiz e que deveria orar com mais vontade, fiquei com o rosto perplexo, observei a senhora de cima a bai
— Meu amor? — A voz de Luciana atingiu meus ouvidos como um sopro do ventoEstava sentado sozinho na sala de aula, olhei em volta assustado, mas a vi na porta. Luci usava a roupa dotimede vôlei da escola e seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, ela sorriu para mim.— Dormiu na aula de novo? — Luci perguntou revirando os olhos e veio até minha carteira — Vamos, o intervalo já começou.Ela pegou minha mão e me fez levantar da cadeira, passamos pela porta e pelo corredor vazio até chegar no refeitório. Todo o terceiro ano estava lá, espalhados pelas mesas, Luci me puxou e me deu um beijo, antes de sorrir e se juntar a Márcia e Valeria, às três pareciam cheias de assuntos.—Achei queia ficar na sala. — Marco passou o braço pelo meu ombro e me arrastou sor
Faz horas que estou no escuro e sozinha, na parte de trás de uma van. As coisas aconteceram de forma rápida depois que eu saí da casa de Janaína, dobrando a esquina, só senti as mãos me agarrarem e fui jogada no fundo do van, tudo estava escuro, as janelas tampadas por um pano preto, não conseguia abrir a porta para me jogar para fora, também não podia ver o motorista, bati em todos os lugares possíveis, ate que uma freada me jogou para frente, acho que machuquei meu rosto um pouco. Já orei varias vezes, pedindo a Deus, liberdade e salvação, Ele sabe que sou uma filha fiel e devota, sabe que minha devoção é única. O motor da van desliga e me agarro a minhas pernas mais ainda, quando as portas se abrem o sol brilha e como se fosse uma visão o Fim aparece. Sua máscara está desligada e não tem nenhuma arma nas mãos, apenas estende a mão para mim, sem mais escolha aceito e o Fim me puxa para fora do van. O lugar que estamos não tem nada, parece ser um grande galpão, vejo