As pessoas acabaram de sair da minha casa depois do culto, mainha e painho chamaram algumas pessoas da igreja com urgência, fizeram uma oração para afastar esse demônio de perto de mim. Foi a primeira vez que eu estava completamente desconexa em uma oração, só conseguia olhar para Lavínia e todo o fingimento que ela estava fazendo, quando falei para nossos pais que ela tinha me levado a escola, Lav chorou e me abraçou, dizendo que não sabia de nada, que só sabia sobre a homenagem, mas sei bem que ela me viu gritando e sendo arrastada com um saco na cabeça, ela sabe que a vi pegando o caderno.
Depois de escutar muitas vezes que o mundo está próximo do fim, que o apocalipse está se aproximando, que o assassino é um demônio, um possuído, um pervertido e que cultua Satanás, a última coisa que esperava era que encostasse perto de mim para dizer que eu estava pagando por algo que fiz e que deveria orar com mais vontade, fiquei com o rosto perplexo, observei a senhora de cima a bai
— Meu amor? — A voz de Luciana atingiu meus ouvidos como um sopro do ventoEstava sentado sozinho na sala de aula, olhei em volta assustado, mas a vi na porta. Luci usava a roupa dotimede vôlei da escola e seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, ela sorriu para mim.— Dormiu na aula de novo? — Luci perguntou revirando os olhos e veio até minha carteira — Vamos, o intervalo já começou.Ela pegou minha mão e me fez levantar da cadeira, passamos pela porta e pelo corredor vazio até chegar no refeitório. Todo o terceiro ano estava lá, espalhados pelas mesas, Luci me puxou e me deu um beijo, antes de sorrir e se juntar a Márcia e Valeria, às três pareciam cheias de assuntos.—Achei queia ficar na sala. — Marco passou o braço pelo meu ombro e me arrastou sor
Faz horas que estou no escuro e sozinha, na parte de trás de uma van. As coisas aconteceram de forma rápida depois que eu saí da casa de Janaína, dobrando a esquina, só senti as mãos me agarrarem e fui jogada no fundo do van, tudo estava escuro, as janelas tampadas por um pano preto, não conseguia abrir a porta para me jogar para fora, também não podia ver o motorista, bati em todos os lugares possíveis, ate que uma freada me jogou para frente, acho que machuquei meu rosto um pouco. Já orei varias vezes, pedindo a Deus, liberdade e salvação, Ele sabe que sou uma filha fiel e devota, sabe que minha devoção é única. O motor da van desliga e me agarro a minhas pernas mais ainda, quando as portas se abrem o sol brilha e como se fosse uma visão o Fim aparece. Sua máscara está desligada e não tem nenhuma arma nas mãos, apenas estende a mão para mim, sem mais escolha aceito e o Fim me puxa para fora do van. O lugar que estamos não tem nada, parece ser um grande galpão, vejo
Minha cabeça está girando desde o momento que minha mãe abriu a boca para dar o nome daquele desgraçado, ainda não fazia sentido, mas se realmente fosse ele, estaríamos um passo da vitória. Mesmo que tenha sido pedido varias vezes para que não contar a ninguém, não deixaria meus amigos sem saber, mas a morte de Mateus me acertou em cheio, comecei a repensar se deveria ou não contar a eles, Miguel deveria estar completamente em choque e se descobrisse quem era, iria querer fazer uma bagunça.Fiquei horas analisando a filmagem que tinha feito de Valéria, o que isso significava? Foi a primeira vez que ficou claro para mim que ela não era uma vítima e sim uma agente do Fim, me fazendo o tempo todo de idiota, toquei minha boca, nosso beijo tinha sido uma mentira para ela, respirei fundo, deveria mostrar para minha mãe tudo que tinha. Antes de sair do quarto, notei que as mensagens começavam a chegar, Ísis estava em surto, seus diários tinham desaparecido e ela estava com medo de qu
Não estou satisfeita, não posso sair de casa, não posso confiar em ninguém. Maria já apareceu por aqui algumas vezes, ela e meu pai brigaram bastante, não consegui vê-la, muito menos perguntar sobre Alexandre, minha mãe não parece muito feliz, disse varias vezes que estou fazendo muito drama, com a cara fechada faz as coisas para mim. Meus movimentos estão muito limitados, não estou saindo da cama sem ajuda, passo a maior parte do tempo no quarto, sozinha e isso está me matando.Miguel me abandonou completamente, o entendo, sei que ele quer apenas desistir de tudo isso e as coisas não parecem estar indo ao encontro de uma boa realidade, Emanuel também sumiu de contato, nenhuma mensagem é respondida, Luís não pode sair de casa, tanto por estar se recuperando também quanto pelo fato de que Alberto o vigia, já que ele tem um celular de Luís clonado estamos dando preferência para conversar via vídeo, Janaína é a única que ainda aparece, ela estava querendo vir me ver, mas depois
Já faz um tempo que estou sentada na sala sem chorar ou me mover, todo mundo em minha volta fala de Rafaela, lembra de Rafaela, mas ela está morta. Quando vi a foto ao lado do Fim já imaginei que tudo acabaria assim, meu mundo estava uma loucura.Ela poderia estar só sendo sequestrada, foi o que Lavínia repetiu várias vezes enquanto andava pela sala, não havia sangue na foto, não tinha uma marca de faca ou coisa do tipo, nenhum sinal de que ela estava sendo maltratada, para ela Rafaela ainda podia estar viva, mas eu tinha certeza que não. Não estava sendo pessimista, estava apenas pegando os fatos, ninguém saiu vivo, somente a Clara que ainda está em coma no hospital. Minha mãe tentou me convencer a receber pessoas da igreja em casa, ou até mesmo ir ver os pais de Rafaela, não quero nada nesse momento.— Se não tem um corpo, ela não está morta. — Lav bateu o pé no chão pela quinta vez — Esse maluco gosta de deixar os corpos por aí, sangrando, por que com a Rafaela seri
Pego o meu caderno e começo a escrever o cabeçalho, com a caneta preta, escrevo Escola Metódica, solto um suspiro e então pego o corretivo no estojo, passo o líquido branco sobre, quase como se escondesse a verdade, espero secar e então escrevo Escola Estadual e desisto de colocar o resto do nome da escola, boto somente a data e começo a copiar a atividade.Escuto os outros alunos conversarem, eles estão animados com alguma coisa, olho para o lado e vejo as meninas que sentam ao meu lado fofocarem, é tão diferente. Fisicamente a sala é espaçosa, tem mesinhas para todo mundo e um quadro branco para os professores, as pessoas são amigáveis, a maioria usa a blusa azul do uniforme que a escola dá, todos tem personalidades e aparências bem diferentes, uma parte da turma é bem dispersa, a outra se dedica bastante, não fiz amizade com nenhuma das duas partes, por mais que tentassem me inserir de algum jeito me isolei, na primeira semana foram muitas perguntas sobre tudo, diziam que
Minha psicóloga parece me encarar e arrancar minha alma, os olhos escuros parecem consumir meu corpo, o jeito que ela anota as coisas que falo, o jeito que bate a caneta no bloquinho, que balança a cabeça concordando com minhas falas, não sei dizer se acha que sou um caso perdido ou que tenho solução.Sempre falo da angústia que sinto no meu peito, somente eu fiquei vivo e ainda por cima fui muito covarde com Jorge e Emanuel, fugi e deixei meus amigos morrerem, minha mãe tentou me convencer que foram apenas atitudes de instinto ou coisa do tipo, mas quase faz um mês e ainda me vejo conversando com Rafaela e Mateus, ainda me vejo indo encontrar as mensagens do Fim, ainda me vejo com medo total que me subiu quando vi o Fim entrar pela porta da sala. Já contei varias vezes sobre como fiquei sentado no banheiro o tempo todo, chorando, enquanto pessoas morriam.Eu e Jorge dividíamos anos de amizade, ele sempre me mandava mensagem todo dia assim que se levantava e terminava
— Temos que sair daqui. — As palavras escaparam da minha boca rapidamente.— Porquê?Não tive tempo de responder, nossos celulares tocaram em uma sincronia perfeita. Pegamos nosso celular do bolso e olhamos um para a cara do outro, quem se arriscaria a atender novamente? Miguel atendeu e as outras ligações pararam.— O que quer?— Vão embora! — A voz robótica gritou.Ficamos um pouco chocados, mas escutamos um barulho alto como um tiro, nossos corpos se encolheram e então olhamos uns para os outros novamente, começamos a andar para trás e então viramos as costas para o corpo de André, saímos a passos apressados para a rua mais movimentada, o telefone ainda está ligado e no viva voz, escutamos uma risada abafada e logo uma frase.— Não posso perseguir vocês se a polícia estiver por perto, não é mesmo? — A ligação acaba.— Que porra foi essa? — Ísis diz ofegante.— O Fim está de volta, é isso... Ele nos reuniu para mostrar que es