~VITOR~
Quando Luna saiu batendo a porta, fiquei sozinho na minha sala, o eco da batida ainda reverberando pelo ar. Tentei ignorar a sensação de vazio que tomou conta do ambiente. Puxei um relatório da mesa e o coloquei diante de mim, mas a mente estava inquieta, vagando entre o desejo de ajudar Luna e a indignação de que ela recusasse meu apoio. Ela era minha namorada. Eu tinha o direito de ajudá-la se ela precisava!
Passei as mãos pelos cabelos, respirando fundo para acalmar meus nervos. Abri o notebook e comecei a revisar alguns e-mails, respondendo solicitações urgentes. A concentração, no entanto, era constantemente interrompida pela memória da expressão furiosa de Luna.
Meu olhar desviou-se para a porta quando ela se abriu. Por um breve momento, minha expressão suavizou-se, esperando encontrar Luna de volta, arrependida de sua cena. Mas nã
O ar fresco do parque ajudava a clarear meus pensamentos enquanto eu caminhava lentamente, tentando acalmar a irritação que fervia dentro de mim. As árvores dançavam suavemente ao vento, e as crianças riam enquanto corriam e brincavam ao meu redor, mas minha mente estava a quilômetros de distância.Vitor me transferir um milhão de reais era algo que eu não sabia como processar. De um lado, ele apenas queria me ajudar, e eu sabia que essa quantia não significava muito para ele. Ele gastava trezentos mil com balões de festa e havia construído um castelo no quintal para o aniversário de Clara. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar a sensação de que ele estava tentando me comprar, de que esse dinheiro viria com uma etiqueta de preço emocional.Sentei-me em um banco próximo ao lago, observando os patos nadarem, enquanto meus pensamentos continuava
~VITOR~Clara parecia animada, saltitante ao meu lado, enquanto Marina mantinha um sorriso forçado e uma expressão cuidadosa, como se estivesse prestando atenção ao menor sinal de desconforto meu. Fomos ao shopping próximo ao prédio da empresa para almoçar num restaurante sofisticado que, infelizmente, também permitia a Marina fazer suas encenações.Ela já tinha começado a se ajeitar para os vídeos e fotos logo que entramos no restaurante. Pedi uma mesa reservada, mas Marina insistiu em ficar num espaço mais aberto, dizendo que “a luz era melhor”. Assim, eu me encontrava ali, tentando ao máximo interagir com Clara enquanto Marina fazia de tudo para posar como a típica mãe de família feliz.— Tire uma foto nossa, Vitor. — Marina pediu, segurando Clara de forma teatral enquanto sorria para a câmer
O hospital estava lotado, mas Felipe e eu conseguimos encontrar a recepção rapidamente. Fui diretamente ao balcão e perguntei pela sala onde Vitor estava esperando por Clara. A recepcionista me lançou um olhar hesitante, mas depois de verificar algo no sistema, fez um sinal afirmativo com a cabeça.— O senhor Oeri já deixou tudo autorizado. Por favor, sigam-me.Seguimos a enfermeira através dos corredores até uma sala isolada onde Vitor e Marina aguardavam. Fiquei completamente desconfortável, eu não sabia que Marina estava lá. Nós nunca tínhamos sido colocadas uma diante da outra assim, em um espaço tão restrito, depois que comecei a me relacionar com Vitor. Mas... tentei ignorar a situação.Pude sentir a preocupação estampada no rosto de Vitor quando entrei. Marina, por outro lado, parecia mais incomodada do que preocupada.
Quando Clara finalmente teve alta, uma sensação de alívio tão grande tomou conta de mim, que tive que correr até o banheiro mais próximo para deixar as lágrimas rolarem sem ser vista. Era a segunda vez que eu via a minha filha naquela situação e eu não gostava nada disso. É claro, eu não me importaria de doar até a minha última gota de sangue se isso fosse necessário, mas Clara precisava de um tratamento mais eficiente para ficar boa logo. Vitor estava tratando disso, lógico, mas eu não gostava nada de ser mantida de fora.Quando finalmente retornei à sala onde Clara e Vitor estavam, Marina já tinha sumido. Vitor me explicou que eles tinham decidido que Clara ficaria com ele aquela noite.Me aproximei de Vitor e olhei para Clara, que estava sonolenta mas sorria suavemente para nós, sua respiração calma e tranquila.
~VITOR~Os dias passaram rápido, preenchidos por reuniões, projetos e viagens a canteiros de obras. Com a audiência de reconciliação se aproximando, minha mente estava cada vez mais ocupada com estratégias e precauções. A tensão permeava cada detalhe do meu trabalho, mas eu sabia que precisava manter a calma.Rafael, o advogado indicado por Matt, tem me orientado de forma brilhante. Mas por enquanto, nossa estratégia é manter Hugo como meu advogado. Ele e Marina estão confiantes de que podem me manipular, mas não fazem ideia de que o relacionamento deles, se é que posso chamar assim, será uma das nossas principais armas. Com a equipe de detetive particular que coloquei atrás deles, logo teremos provas o suficiente.Olho para o calendário na parede do meu escritório, onde a data da audiência está marcada com um c&
A noite estava sendo longa e agitada, e não conseguia dormir de tanta preocupação com a audiência de Vitor. Eu sabia o quanto significava para ele conseguir a guarda de Clara, e a ideia de perder a menina para Marina me fazia estremecer. Estava no sofá do meu pequeno apartamento, com a luz suave do abajur lançando sombras nas paredes, encarando uma taça de vinho em minha mão. O apartamento estava mergulhado no silêncio absoluto, exceto pelos sons insistentes que vinham do bar.Os minutos passavam lentamente, e eu não conseguia parar de pensar em como Vitor estaria lidando com tudo. Ele não me ligara desde que saíra do fórum, e isso só aumentava minha inquietação. Quando o telefone finalmente tocou, meu coração disparou.— Luna? — A voz dele soava cansada. — Pode descer? Estou no carro.Acelerei o passo, deixando a ta&ccedi
Eu estava parada em frente ao pequeno sobrado amarelo, admirando-o do outro lado da rua. Era estranho como o tempo parecia não ter passado para aquele lugar. As paredes descascadas, a varanda simples e o telhado com algumas telhas quebradas permaneciam exatamente como estavam na última vez que estive ali, seis anos atrás. Eu não podia negar que tinha algumas memórias boas daquele lugar, como as noites em que minha irmã e eu nos escondíamos na varanda, rindo e inventando histórias enquanto as luzes da casa se apagavam. Ou os momentos em que minha mãe, Isabel, nos ensinava a fazer pães e bolos na cozinha. Mas essas lembranças boas se tornavam fugazes à medida que outras, mais intensas, tomavam conta.A igreja. O sufocante cheiro de velas e o calor opressivo de dezenas de corpos enfileirados nos bancos. As horas intermináveis de orações e cânticos. Meus pais nos obrigav
Depois do estresse de rever minha mãe em uma situação na qual eu não gostaria de precisar estar, liguei para Julia e a chamei para tomarmos um drink no fim do dia. Estávamos em um barzinho distante, rindo do fato de termos ido tão longe quando morávamos logo acima de um bar. A luz baixa e a música ambiente criavam o clima perfeito para relaxar. A mesa estava coberta com copos vazios, limões cortados e guardanapos amassados.O bar era pequeno e aconchegante, com paredes de tijolos à mostra e pôsteres de bandas de rock colados em todo lugar. Luzes coloridas piscavam suavemente acima do balcão, onde os bartenders misturavam coquetéis com destreza. A música indie tocava no fundo, misturando-se ao burburinho das conversas.Júlia estava radiante, mexendo distraidamente seu mojito, e eu percebia o brilho nos olhos dela. Parecia feliz de ter saído para tomar uma bebid