Sentada à mesa do restaurante chique no shopping próximo ao trabalho, meu coração batia de maneira irregular, a ansiedade se enroscando em meu estômago enquanto eu checava meu celular repetidamente. Cada vibração falsa, cada movimento ao meu redor, aumentava meu nervosismo. A parte de mim que ainda abrigava esperança, por menor que fosse, desejava que Estela mudasse de ideia, que desistisse não só do encontro, mas de toda a chantagem. Porém, essa parte da minha esperança foi se desfazendo conforme eu observava, através do grande vidro do restaurante, a figura de Estela se aproximando.
Ela caminhava com uma confiança exagerada, vestindo roupas chiques que mais pareciam gritar seu desejo de se provar. A cada passo que Estela dava em direção ao restaurante, minha ansiedade crescia em proporções igualmente grandes. O modo como ela balançava a bolsa e
~VITOR~Saí cedo do trabalho naquela terça-feira, uma raridade para mim, mas necessária. Precisava desanuviar um pouco, especialmente com tudo o que estava acontecendo. O campo de golfe no Clube Milani era um lugar perfeito para isso. Os gramados estavam impecáveis, um tapete verde que se estendia até onde a vista alcançava, pontuado por bandeiras que tremulavam suavemente com a brisa do final da tarde.Ao chegar logo encontrei Matt Lennox, Adam Benatti e Otto Milani. Matt e Otto eram velhos amigos dos tempos de natação, companheiros de muitas competições e desafios. Adam, por outro lado, era um amigo mais recente, mas tinha se mostrado um aliado valioso no mundo dos negócios.— Vitor, bro, finalmente tirou um tempo para si mesmo? — Otto brincou, me entregando um taco.— Parece que sim — respondi, sorrindo enquanto pegava o taco. — E pa
Eu estava sentada à minha mesa, digitando freneticamente no computador enquanto navegava por páginas de empréstimos online e sites de venda de joias. Meu coração pesava a cada nova aba aberta. O rosto de Estela, com seu sorriso cruel, ficara gravado na minha mente enquanto ela ditava os termos da chantagem. Cem mil reais por mês. Como se fosse algo simples de conseguir.Por que eu aceitei isso? Me perguntei, passando uma mão trêmula pelo cabelo. Ela era minha irmã, e mesmo com tudo o que havia feito, eu sentia um resquício de responsabilidade. Estela não era a garota inocente que eu me lembrava, mas ainda era sangue do meu sangue. A verdade, no entanto, era que ela me prendia contra a parede, e a ameaça de perder Clara e Vitor era sufocante.Suspirei e cliquei em uma das abas, onde tinha começado a cotar as joias que Vitor me dera durante nossa viagem a Paris. Colares, brincos, pul
~VITOR~Quando Luna saiu batendo a porta, fiquei sozinho na minha sala, o eco da batida ainda reverberando pelo ar. Tentei ignorar a sensação de vazio que tomou conta do ambiente. Puxei um relatório da mesa e o coloquei diante de mim, mas a mente estava inquieta, vagando entre o desejo de ajudar Luna e a indignação de que ela recusasse meu apoio. Ela era minha namorada. Eu tinha o direito de ajudá-la se ela precisava!Passei as mãos pelos cabelos, respirando fundo para acalmar meus nervos. Abri o notebook e comecei a revisar alguns e-mails, respondendo solicitações urgentes. A concentração, no entanto, era constantemente interrompida pela memória da expressão furiosa de Luna.Meu olhar desviou-se para a porta quando ela se abriu. Por um breve momento, minha expressão suavizou-se, esperando encontrar Luna de volta, arrependida de sua cena. Mas nã
O ar fresco do parque ajudava a clarear meus pensamentos enquanto eu caminhava lentamente, tentando acalmar a irritação que fervia dentro de mim. As árvores dançavam suavemente ao vento, e as crianças riam enquanto corriam e brincavam ao meu redor, mas minha mente estava a quilômetros de distância.Vitor me transferir um milhão de reais era algo que eu não sabia como processar. De um lado, ele apenas queria me ajudar, e eu sabia que essa quantia não significava muito para ele. Ele gastava trezentos mil com balões de festa e havia construído um castelo no quintal para o aniversário de Clara. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar a sensação de que ele estava tentando me comprar, de que esse dinheiro viria com uma etiqueta de preço emocional.Sentei-me em um banco próximo ao lago, observando os patos nadarem, enquanto meus pensamentos continuava
~VITOR~Clara parecia animada, saltitante ao meu lado, enquanto Marina mantinha um sorriso forçado e uma expressão cuidadosa, como se estivesse prestando atenção ao menor sinal de desconforto meu. Fomos ao shopping próximo ao prédio da empresa para almoçar num restaurante sofisticado que, infelizmente, também permitia a Marina fazer suas encenações.Ela já tinha começado a se ajeitar para os vídeos e fotos logo que entramos no restaurante. Pedi uma mesa reservada, mas Marina insistiu em ficar num espaço mais aberto, dizendo que “a luz era melhor”. Assim, eu me encontrava ali, tentando ao máximo interagir com Clara enquanto Marina fazia de tudo para posar como a típica mãe de família feliz.— Tire uma foto nossa, Vitor. — Marina pediu, segurando Clara de forma teatral enquanto sorria para a câmer
O hospital estava lotado, mas Felipe e eu conseguimos encontrar a recepção rapidamente. Fui diretamente ao balcão e perguntei pela sala onde Vitor estava esperando por Clara. A recepcionista me lançou um olhar hesitante, mas depois de verificar algo no sistema, fez um sinal afirmativo com a cabeça.— O senhor Oeri já deixou tudo autorizado. Por favor, sigam-me.Seguimos a enfermeira através dos corredores até uma sala isolada onde Vitor e Marina aguardavam. Fiquei completamente desconfortável, eu não sabia que Marina estava lá. Nós nunca tínhamos sido colocadas uma diante da outra assim, em um espaço tão restrito, depois que comecei a me relacionar com Vitor. Mas... tentei ignorar a situação.Pude sentir a preocupação estampada no rosto de Vitor quando entrei. Marina, por outro lado, parecia mais incomodada do que preocupada.
Quando Clara finalmente teve alta, uma sensação de alívio tão grande tomou conta de mim, que tive que correr até o banheiro mais próximo para deixar as lágrimas rolarem sem ser vista. Era a segunda vez que eu via a minha filha naquela situação e eu não gostava nada disso. É claro, eu não me importaria de doar até a minha última gota de sangue se isso fosse necessário, mas Clara precisava de um tratamento mais eficiente para ficar boa logo. Vitor estava tratando disso, lógico, mas eu não gostava nada de ser mantida de fora.Quando finalmente retornei à sala onde Clara e Vitor estavam, Marina já tinha sumido. Vitor me explicou que eles tinham decidido que Clara ficaria com ele aquela noite.Me aproximei de Vitor e olhei para Clara, que estava sonolenta mas sorria suavemente para nós, sua respiração calma e tranquila.
~VITOR~Os dias passaram rápido, preenchidos por reuniões, projetos e viagens a canteiros de obras. Com a audiência de reconciliação se aproximando, minha mente estava cada vez mais ocupada com estratégias e precauções. A tensão permeava cada detalhe do meu trabalho, mas eu sabia que precisava manter a calma.Rafael, o advogado indicado por Matt, tem me orientado de forma brilhante. Mas por enquanto, nossa estratégia é manter Hugo como meu advogado. Ele e Marina estão confiantes de que podem me manipular, mas não fazem ideia de que o relacionamento deles, se é que posso chamar assim, será uma das nossas principais armas. Com a equipe de detetive particular que coloquei atrás deles, logo teremos provas o suficiente.Olho para o calendário na parede do meu escritório, onde a data da audiência está marcada com um c&