Vinícius Narrando O bar tava cheio, a música alta e o cheiro de cigarro misturado com álcool deixava o ambiente mais carregado do que eu precisava. Segurei o copo de uísque com força, os olhos fixos no líquido âmbar enquanto meus pensamentos ferviam.Ana Kelly.Ela sumiu como se nunca tivesse existido, como se a vida ao meu lado fosse um inferno do qual ela precisava escapar. Mas eu sabia que não era bem assim. Ela ainda pensava em mim, ainda sentia minha falta. Era impossível que não sentisse.A mulher no meu colo deslizou a mão pelo meu peito, jogando o cabelo para o lado para chamar minha atenção. Brenda. A ironia do destino. Ela e Ana Kelly eram inseparáveis, e agora era ela quem estava comigo. Na verdade eu sempre estive com as duas.— Vinícius, você tá aéreo. — Ela resmungou, revirando os olhos. — Parece que tá aqui por obrigação.— Tô aqui porque quero. — Respondi, sem paciência.Ela bufou, mas antes que respondesse, um dos meus amigos, Lucas, puxou a cadeira e se sentou ao me
Anthony Narrando Eu tava no banco do passageiro, o olhar perdido na estrada enquanto Estevão dirigia na direção do aeroporto. A reunião no Rio era importante, uma negociação de valores altos, contratos estratégicos… Mas minha cabeça tava em outro lugar. Ou melhor, em outra pessoa. — Que cara é essa? — Estevão perguntou, dando uma olhada rápida pra mim antes de voltar a atenção pra pista. Suspirei, passando a mão no rosto. — Queria que a Ana Kelly tivesse vindo nessa viagem comigo. Chamei ela, mas levei um nó na cara. Ele soltou uma gargalhada, aquela bem debochada. — Não acredito que tu meteu as caras e chamou a mina! Assenti, olhando pro lado de fora. — Claro que chamei. Ela deveria baixar a guarda e vir comigo pro Rio. Ia ser bom pra ela. — Bom pra ela ou pra tu? — Ele riu mais ainda. — Vai se tratar, cara. Revirei os olhos, já arrependido de ter falado qualquer coisa. — Só o final de semana. Já já eu volto. — Aham, sei — ele debochou. — Chega lá, tu esquece Ana Kelly e
Ana Kelly Narrando O despertador tocou, e eu abri os olhos devagar. O sol já entrava pela fresta da cortina, e eu respirei fundo, tentando espantar a preguiça. Depois de um banho quente, me senti um pouco mais disposta. Escolhi uma roupa confortável, prendi o cabelo num coque e fui para a cozinha tomar café.Chegando no café, Karen já estava lá, toda sorridente.— Bom dia, dona do café mais famoso da cidade! — ela brincou.— Bom dia! — sorri, pegando um pão de queijo.Nos sentamos, e logo começamos a conversar sobre os últimos acontecimentos. Karen estava empolgada com Estevão, e eu adorava ver minha amiga feliz.— Ele é muito carinhoso, Ana! Me trata como uma princesa! — ela suspirou.— Fico feliz por você, amiga.Karen me olhou com atenção e franziu a testa.— O que foi?— Sei lá, você tá com uma cara estranha.— Nada, só cansei de ficar parada ouvindo você falar do seu boy.Ela riu.— Sei… — cruzou os braços. — O Anthony ligou pra você?Revirei os olhos.— Ele manda mensagem todo
Anthony Narrando O coração falhou feio, perdeu o compasso quando percebi que aquele jatinho podia decolar comigo dentro, e eu receber a notícia de que fizeram mal pra ela. Eu nunca ia me perdoar. Nunca.Foi jogo rápido. Liguei pro coroa, mandei atrasar a reunião em quarenta minutos. Depois, acionei os caras certos, os que sabiam fazer o serviço do jeito que precisava ser feito. Sem erro. Sem deixar rastro. Sem ela desconfiar. Porque se Ana Kelly soubesse que fui eu, ela jamais viria até mim.Quando arranquei o saco preto da cabeça dela e vi aqueles olhos cheios de lágrima, a cara assustada, o peito subindo e descendo rápido... me deu um aperto. Pensei no desespero que ela deve ter sentido, porque eu acompanhei tudo. Cada segundo.Mas agora ela tava ali, viva, inteira, na minha frente. O cheiro dela, o olhar dela, a respiração pesada de quem ainda tentava entender o que tinha acontecido.E mesmo sabendo o que fiz, não me arrependi. Nem por um caralho.O jatinho estava pronto para deco
Karen Narrando O café ficou em silêncio por alguns segundos depois que a van arrancou levando Ana Kelly. O choque paralisou todo mundo, mas só por um instante. O grito de Marcela foi o estopim para que a confusão começasse.— O QUE FOI ISSO? ALGUÉM CHAMA A POLÍCIA! — ela berrou, as mãos no rosto, completamente desesperada.Eu ainda estava travada na porta, olhando para o nada, tentando entender se aquilo realmente tinha acontecido. Mas assim que minha mente registrou que Ana Kelly tinha sido levada à força, eu explodi.— MEU DEUS! — gritei, colocando as mãos na cabeça. — O que tá acontecendo?! Quem eram aqueles caras?Jéssica veio correndo na minha direção, os olhos arregalados de pânico.— A gente precisa ligar pra ela! — disse, já puxando o celular do bolso.— O telefone dela tá na bolsa! — Marcela interrompeu, já correndo para o armário onde Ana Kelly sempre guardava as coisas.Ela abriu a porta e puxou a bolsa com tanta força que quase rasgou a alça. Mexeu desesperada, jogando tu
Ana Kelly Narrando O jatinho pousou suavemente na pista, mas meu coração parecia que ia atravessar meu peito. O Rio de Janeiro sempre teve um ar diferente, uma energia vibrante, mas naquele momento, tudo parecia tenso, carregado de incerteza.O silêncio entre mim e Anthony era quase palpável. Eu ainda estava tentando processar tudo. Como fui parar ali? Como tudo virou de cabeça para baixo tão rápido? Meu corpo estava rígido, minha mente acelerada. Quando as portas do jatinho se abriram, senti o calor do ar carioca bater no rosto.Anthony desceu primeiro, com sua postura confiante de sempre, e eu segui logo atrás, cruzando os braços. Estevão veio até nós, olhando de Anthony para mim, percebendo a tensão.— Bom, eu vou indo na frente pra reunião. Vocês veem o que fazem. — Ele ajustou a manga do paletó. — Eu ganho tempo por lá.Anthony fez um sinal de joia para ele.— Valeu, mano.Eu arregalei os olhos.— Vocês são malucos! Eu não vou pra reunião nenhuma!Anthony me olhou de canto, um m
Anthony Narrando Assim que descemos do carro e entramos no restaurante reservado para a reunião, avistei Estevão do outro lado da mesa, soltando um suspiro visível de alívio.— Ufa, até que enfim chegou. — Ele murmurou, ajeitando a gravata.Não respondi, apenas mantive minha expressão séria enquanto guiava Ana Kelly pelo salão. O ambiente era luxuoso, com uma iluminação sofisticada e um cheiro amadeirado no ar. O problema? Assim que entramos, os olhares masculinos da mesa se voltaram para ela.Meu sangue ferveu instantaneamente.Os olhos dos caras percorriam o corpo de Ana Kelly de um jeito que me deu vontade de quebrar aquela reunião e partir para outra coisa. Minha mão apertou a dela com firmeza, e ela, perceptiva como sempre, respirou fundo e colocou a outra mão no meu braço.— O que foi? Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou baixinho, sem entender meu súbito endurecimento.Não respondi de imediato. Apenas guiei ela até a cadeira ao meu lado e puxei para que ela sentasse. Assim
Ana Kelly Narrando O clima dentro do apart hotel esta diferente. Ainda falei em voz alta, sobre a calcinha. O ar parece mais quente, mais pesado. Eu tentando manter minha compostura, mas é impossível ignorar a maneira como Anthony me olha. Ele se aproximou lentamente, aquele olhar intenso pregado em mim. Meu coração acelerou quando senti suas mãos tocarem minha cintura, puxando-me para perto. — Para de fugir de mim, Ana Kelly. — A voz dele soou rouca, carregada de emoção. Coloquei as duas mãos no peito dele, tentando criar alguma distância, mas Anthony não cedeu. — Eu não tô fugindo, Anthony… só… Ele inclinou a cabeça para o lado, me analisando. — Então por que você sempre recua quando eu chego perto? Suspirei, mordendo o lábio. — Porque tudo isso está acontecendo muito rápido. Eu preciso de tempo. Ele soltou um riso baixo, mas não de deboche. Era como se estivesse tentando entender. — Eu não vou fazer nada que você não queira. Mas, sinceramente, eu queria fazer tudo e mai