Lembrança: Me virei na cama pela milésima vez, mas com cuidado para não acordar Fernando. Eu havia tentado pegar no sono a todo custo, sem sucesso, nada teve efeito em acalmar minha mente que maquinava todos os cenários para o almoço de domingo. Havíamos convidado minha família e a dele para um almoço, já que iriamos casar em breve decidimos que era uma boa hora para eles se conhecerem e de quebra íamos anunciar a data do casamento. O problema não era justamente esse, a família dele toda já sabia do pedido e apoiava nossa relação. Ana e eu éramos boas amigas, ela me tratava como uma filha, Miguel do mesmo jeito havia me recebido de braços abertos na família, Emy também, era mais difícil de sair, mas sempre que estávamos juntas ela era ótima, fazia tudo que eu pedisse. Em nenhum momento eu ouvi o questionamento: mas você não é muito velha pra ele? Já na minha casa desde o primeiro momento que eu ousei falar que estava namorando começaram as perguntas, nem precisei dizer que ele era
Eu acordei naquela manhã me dando conta de que mais um dia não tinha Fernando aqui comigo, poderia ser mais um dia qualquer em que desejava que ele já tivesse resolvido seus problemas e voltado para nós, mas não. Não era outro dia qualquer porque minha consulta do sétimo mês havia chegado e novamente ele não estava ao meu lado. Ainda conversávamos todos os dias e até parecia que havíamos voltado às bases de um casamento, amizade, companheirismo, mas foi impossível não ter pensamentos negativos sobre nossa relação hoje. — Pronta filha? — Miguel me chamou da sala. O homem estava ansioso para a consulta, mas até do que eu podia dizer. — Prontinha. — dei meu melhor sorriso. Ele não precisava saber os meus pensamentos ou ligaria para Fernando imediatamente e a última coisa que eu queria era o filho ao meu lado por estar sendo pressionado. Ainda não tinha engolido a conversa dele com minha mãe e sua mudança depois disso. — Vamos, vi na televisão que vem uma chuva por ai daquelas. Quero
O beijo estava errado, apesar de toda compreensão entre nós naquele momento, dividindo algo tão triste, não estava certo. Ele não era Fernando! O que eu tinha feito? Onde eu estava com a cabeça? Ele não era meu marido, não era Fernando. Me afastei de pressa e Pedro fez o mesmo, já se levantando da cama. — Desculpa, desculpa. Eu... eu não sei o que me deu, simplesmente perdi a cabeça e não sei. — Está tudo bem. Você está vulnerável e confusa, vamos só esquecer isso ok. — Pedro ainda parecia sem graça, mas se sentou no chão ao lado da cama. — Não é com um beijo que vou esquecer que me deixou de fora hoje do ultrassom. Por que não me chamou? Eu encarei o homem no chão, ele tinha o dom de mudar de assunto rápido e fingir que nada tinha acontecido, havia alguns momentos que eu agradecia por isso, como agora. Mas mesmo ele mudando o foco da minha loucura há segundos atrás eu não ia esquecer do medo que vi refletido em seus olhos quando ele entrou aqui. — Não queria atrapalhar. Sei que
— Você tem certeza de que vai? Tem mil por cento de certeza? Era a milésima vez que eu ouvia aquelas palavras só de Emy, se contasse a de todos os outros a nossa volta eu iria surtar. Sexta-feira, começava o feriado prolongado e a maratona de shows no clube. Eu não queria ficar em casa, não aguentava passar mais um dia trancada lendo, tomando sol ou comendo enquanto assistia. — Eu juro que vou surtar e dar na sua cara se me perguntar isso mais uma vez! — ameacei e ganhei a atenção de todos na sala. — Estou maravilhosamente bem e vou aproveitar. Agora que vem comigo? Ou eu vou pegar o carro e ir sozinha. Ninguém discutiu, em fileira saímos eu, Sara, Emy seguida de Marcos. Miguel cuidaria das crianças, já que Carla ia cantar e nenhum de nós se prontificou a ficar de baba para Felipe ou Fábio. — E então Sara, ele confirmou alguma coisa? — Emy perguntou quando todos estavam acomodados no carro. — Ele não disse se ia quando Marcos perguntou. Pedro, ele ainda não queria falar comigo. N
— Essa é a última caixa Helen. — Marcos gritou enquanto carregava junto com Bruno a caixa pesada. Finalmente eu havia pegado as chaves da casa nova, vulgo antiga casa da Bete, e tirei um tempo para trazer toda às coisas do bebê para cá. Tinha até me animado com a mudança e resolvi comprar alguns moveis para meu novo quarto, a cama enorme e mais confortável, do que aquela molenga que eu estava dormindo nos dois últimos meses. Nem parecia que já havia passado tanto tempo assim — Tem certeza de que não vai voltar pra casa com a gente? — a voz de Emy me tirou dos meus pensamentos me trazendo de volta ao presente. — Não quero deixar você sozinha aqui. — Deixa de ser tão dramática, já conversei com seu pai e ele vai me pegar em algumas horas. — me voltei para a casa e vi os meninos deixando o lugar. Bruno e Carlos haviam se unido a marcos para me ajudar com tudo, se pudesse reclamar sobre Pedro ainda estar me evitando eu reclamaria, mas estava agradecida que ele estava compartilhando s
— Você senta aqui, que eu vou esquentar nosso almoço. Eu nunca tinha estado na casa dele, o lugar era pequeno e aconchegante, cheio de árvores em volta escondendo a pequena casa de dois cômodos. Parecia até que essa era realmente a intensão, mantê-lo isolado do mundo. A sala era repleta de livros, por todos os lugares, no chão, nas prateleiras, no sofá-cama que ocupava quase todo o cômodo, a cadeira no canto. Todos em um estado que demonstrava muito uso, folhas amareladas, orelhas, amassados e alguns nem conseguia se ler o título. O chão de madeira rangeu enquanto eu dava passos pelo lugar, nenhuma foto, nenhuma caixa, nada além dos livros para dar um toque pessoal. As cortinas estavam velhas e gastas, assim como o tapete que cobria parte do chão. — Não sabia que você era um leitor tão voraz. — resmunguei, mas o que eu queria mesmo falar é: como você vive aqui? Ele continuou a bater nas panelas e eu levada pela curiosidade segui o som encontrando-o batendo aqui e ali, se mexendo b
— Tem certeza que eu preciso ir? — resmunguei entrando no carro com certa dificuldade. Não estava com animo para sair de casa, os últimos meses só conhecia cansaço, fome e sono. Meus pés estavam inchados com aquele calor, minha barriga parecia que iria explodir a qualquer momento e não vou nem começar a falar dos meus seios. — Me obrigaram a te levar, ou acha que eu estaria aqui de bom grado? — fuzilei Pedro com o olhar. Ele já deveria saber que a essa altura meu humor andava azedo. Estávamos esperando que o bebê nascesse qualquer dia da próxima semana, Pedro tinha se tornado meu médico particular, junto com Bianca, viviam me monitorando esperando por qualquer mudança que indicasse que tinha chegado a hora. Eu por outro lado, estava torcendo que Angel esperasse até o casamento da tia. Angel, sim eu tinha escolhido o nome em homenagem a avó Ana, que teria adorado estar aqui nesse momento, mas ainda não tinha comunicado a ninguém. Estava esperando que Fernando chegasse para o casame
Meu coração batia em disparada, o frio na barriga estava presente novamente. Isso era normal? Depois de tantos anos eu ainda me sentir afetada assim por ele me assustava, especialmente depois de tudo o que aconteceu nos últimos meses.Eu deveria querer gritar com ele, socar aquele rosto perfeito, arrancar os cabelos macios, mas tudo o que eu consegui foi ficar ali encarando o homem no gramado, acompanhado das malas e uma cara nada boa. Mesmo querendo me mexer e ir até ele, ou dizer qualquer coisa que fosse meu cérebro parecia ter perdido essa capacidade.— Então esse é... — Pedro começou, mas foi logo interrompido.— O marido!— Um marido bem ausente, não é mesmo. Fazem o que já? Cinco meses querida? — ele me olhou e eu soube que estava provocando Fernando de propósito, só não conseguia entender o porquê.— Querida? Que porra você pensa que é pra chamá-la assim? — Nando bradou e então avançou pelo gramado a passos largos e determinados até estar na nossa frente.Para o meu desespero P