O Arranjo Perfeito
O Arranjo Perfeito
Por: HD Alves
UM

Na maioria das vezes que escrevi no meu diário, sempre pensava no futuro que eu gostaria de ter. Sempre registrava os melhores momentos da minha vida e os piores também. Mas eu tinha um diário especial, na verdade vários, que eu falava sobre um menino. Eu me apaixonei por ele no momento em que o vi pela primeira vez. Claro que ninguém sabia disso — acho — mas eu tentava de todas as formas guardar esse segredo só para mim.

Sempre que alguém me perguntava o que eu fazia durante a tarde, eu dizia que estava estudando e me exercitando no quarto. Ele é o meu cantinho seguro. Onde eu guardo os meus maiores segredos. Minha mãe havia comprado uma esteira e uns pesos para mim. Ela sempre dissera que eu estava magra demais e precisava engordar um pouco.

Eu considerei essa ideia, até o momento em que eu comecei a correr na esteira. Na primeira vez, nunca havia imaginado que uma pessoa pudesse soar tanto. Na segunda, fui um pouco mais devagar e não soei muito. E a terceira vez ainda não aconteceu. Eu nunca me achei magra demais. Eu era uma daquelas adolescentes que comiam muito, e engordavam pouquíssimo, mas nunca cheguei a me importar com isso. As minhas amigas falavam que queriam ter o meu corpo. Até parece.

Neste dia, eu estava deitada na minha cama lendo um livro. Era mais um daqueles chatos que falavam sobre a Origem do mundo. Existiam várias versões para este tipo de assunto, como que o mundo surgiu através de uma grande explosão chamada Big Bang; que foi Deus quem criou o mundo; e outras aí.

— Gi, o jantar está quase pronto — minha mãe gritou do andar de baixo.

Levei um susto e pulei da cama, fechando o livro.

— Já estou indo, mãe — gritei de volta, alto o suficiente para que ela escute, e baixo o suficiente para os vizinhos não reclamarem depois.

Levantei da cama e fui em direção à minha penteadeira. Ela era pequena, com quatro gavetas e um espelho. Depois de encontrar a minha escova de cabelo no meio daquela bagunça, comecei a penteá-lo. Meu cabelo estava caindo com mais frequência, o que deixava a escova cheia de fios castanhos. Por mais que minha mãe tentasse encontrar algum método de parar com a queda, nunca resolvia o problema. Eu me olhei no espelho, e notei um brilho estranho nos meus olhos verdes. Estava pensando nele.

Edward Collins. Um garoto que eu não podia ter. Estudávamos na mesma classe do segundo ano do ensino médio. Mas quase não nos falávamos. Ele tinha o seu jeito atraente de falar, de olhar. Eu sempre senti uma queda por ele, desde que entrei naquela escola no quinto ano. Mas sabia que seria impossível, afinal, ele tem gostos diferentes dos meus e gostava de conversar sobre futebol, esportes, e eu não gostava de nada disso. E além do mais, agora ele tem uma namorada.

— Georgia, o que você está fazendo aí em cima? — chamou minha mãe novamente, me fazendo lembrar da vida.

Abri a porta do quarto e desci as escadas que dava para a sala de estar. Nossa casa era mais ou menos grande. Tinha cinco quartos, mais a sala de estar, cozinha e sala de jantar. A decoração da festa de aniversário da minha irmã ainda estava em algumas paredes.

Eu era quase a filha mais nova, dos quatro filhos que a minha mãe e o meu pai tinham. Minha irmã caçula era a Emilly, que tinha treze anos. Depois, eu. Depois meu irmão Matheus, que tinha dezenove anos e fazia faculdade de medicina, e meu último irmão, Josh, de vinte e um anos, que cursava direito, e já estava quase terminando a faculdade. Minha mãe sempre via os dois como os nossos guarda-costas. Mas eu odiava esta ideia, como se eu precisasse de alguém me protegendo de tudo. Ela é uma pessoa animada, que era a luz em momentos de tristeza. Já meu pai, é bem culto, quase não falava com a família na hora do jantar, mesmo quando estávamos todos reunidos, pois meus irmãos na maioria das vezes não jantam conosco por que estão ocupados demais com os assuntos de faculdade.

— O cheiro está ótimo, mãe — elogiei, para depois piscar para ela.

Ela amava quando alguém falava bem da sua comida, ela sempre cozinhou muito bem e esses dias ela anda precisando de um pouco mais de animação.

— Obrigada, querida. A Emilly também ajudou a preparar o jantar. — minha mãe disse, abrindo um sorriso capaz de iluminar o mundo, e radiante de orgulho diante da caçula.

Todos estávamos juntos esta noite. Meus irmãos se livraram de alguns trabalhos e puderam jantar conosco. Eu as vezes chegava a imaginar que o que os trancavam dentro dos quartos, não eram só os trabalhos, afinal, poderiam ser outros motivos, como uma garota talvez. Afastei o pensamento. Claro que eles eram muito estudiosos, não sei como pude pensar em alguma coisa assim deles.

— E aí, Gi? Alguma novidade? — perguntou meu irmão Josh, enquanto esperava pacientemente a comida.

Ergui a cabeça para olhar em seus olhos verdes vibrantes, e dei de cara com um sorriso malicioso que eu já sabia o que significava.

— Não Josh, nada de garotos. — falei, para depois abrir um sorriso. Ele sempre desconfiou de mim em relação a isso, E não estava totalmente errado, na verdade.

— Mesmo? Pensei que você estivesse namorando com aquele tal de Edward. — ele disse e mais uma vez abriu o seu sorriso travesso.

Assim que as palavras namorando e Edward, saíram da boca dele, a minha mãe olhou para mim, querendo uma explicação.

— Nós nem nos falamos, Josh. E além disso, ele não está interessado em mim e eu não estou interessada nele. — afirmei.

— Duvido muito. Você já chegou aqui várias vezes falando sobre esse garoto, e agora vem dizer que não está apaixonada? Conta outra! — ele disse, e eu dei um chute em seu joelho, o que o fez gemer de dor. Meu pai estava sério olhando para mim.

— O jantar está servido. — cantarolou minha mãe, ao colocar uma enorme travessa de lasanha na nossa frente. Aquele cheiro maravilhoso tomou conta do ambiente.

Depois do anunciado, todos nós avançamos contra a deliciosa lasanha. E como esperado, o gosto estava divino, do mesmo jeito do cheiro. Enquanto mastigava, comecei a pensar nas palavras de Josh. Você já chegou aqui várias vezes falando sobre esse garoto, e agora vem dizer que não está apaixonada? Será que eu estava mesmo apaixonada por ele e não sabia? Comecei a pensar sobre essa possibilidade, e acabei perdendo a noção do tempo.

Meu irmão Matheus limpou a garganta, e imediatamente deixei de lado o pensamento e me voltei para ele. Ele também tinha um sorrisinho malicioso estampado no rosto.

— Caso não tenha notado, você já terminou de comer e está brincando com o prato. — ele disse, ao pegar o meu prato e levá-lo para a cozinha.

Lá em casa, tínhamos regras que indicavam de quem seria a vez de lavar as louças. Hoje, o dia era de Matheus. Enquanto ele ia em direção a cozinha, fui para o meu quarto, peguei o meu diário querido, e comecei a escrever:

Hoje meu irmão disse que eu estava apaixonada. Não sei se é verdade, pois todas as meninas tem uma quedinha pelo querido Edward, mas mesmo assim fiquei na dúvida, afinal, se estiver mesmo, por que estou me dando o trabalho de esconder? Mas mesmo assim, não quero contar para ninguém. Esse segredo por enquanto é só meu.

Ainda estava cedo, mas resolvi me arrumar para dormir. Vesti minha calça do pijama que tinha algumas cabeças de unicórnio estampadas, e uma camisa branca. Me joguei na cama, me cobri e adormeci.

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