SETE

Voltei para casa com um sorriso enorme nos lábios. Ainda bem que ninguém poderia vê-lo por que se não iriam pensar que eu era uma psicopata.

— Onde você estava, Georgia? — minha mãe berrou da cozinha assim que eu entrei.

— Eu disse que chegaria tarde, mãe.

— Eu não pensei que seria tão tarde. — respondeu.

— Não se preocupe. É que nós mudamos algumas coisas no projeto, o que levou mais tempo ainda. Desculpe.

— Tudo bem. Tudo bem. Agora direto para a cama. — ordenou.

Não podia ir para a cama agora. Ainda tinha que escrever como foi meu dia com aquele garoto da escola. Fiquei impressionada que a namorada dele não estava lá, por que normalmente ela só vive na casa dele. Mas que bom, por que assim não fomos interrompidos.

Passei a tarde e parte da noite na casa dele. Foi maravilhoso. Fizemos o nosso projeto, que ficou ótimo, falamos algumas bobagens e rimos muito quando o experimento não dava certo. A irmã dele é muito fofa. Ele me disse que ela tinha puxado ao pai tanto ciúme, eu nunca imaginaria que Edward Collins era órfão de pai, e isso me fez acreditar que com toda a certeza do mundo: Eu não conhecia Edward. Conhecia o menino da escola, amigo de todos. Mas não conhecia o Edward namorado, companheiro. Não sabia de nada da vida dele, e acho que ele não iria querer me contar, afinal, nós ficamos mais próximos agora. Devo ir com calma. Mesmo assim, a tarde foi maravilhosa, e em algum momento, ele elogiou a cor dos meus olhos. Dá pra acreditar? Eu ainda estou nas nuvens.

Precisei de muito esforço para cair no sono, aquele dia tinha sido cheio. Não via a hora de encontrar Zoe e Megan para contar as noticias. Esse pensamento me levou até Ana. O que ela deve estar fazendo agora? Chorando? Na escola? Pensando em mim, como eu penso nela? Sinto tanta saudade. Será que as meninas também pensam nela?

Ai meu Deus. Eu sou idiota?

Assim que caí em si, lembrei que eu tinha um celular. Eu podia conversar com ela. Como não pensei nisso antes? Idiota. Mas a esta hora ela já deve estar dormindo. Deixo isso para amanhã de manhã.

♥ ♥ ♥

Enquanto comia de manhã, pensei em minhas amigas e em todas as coisas estranhas que elas falavam as vezes. Eu estava com uma pequena raiva delas, pois elas me disseram que tinham conversado com Edward a respeito de mim. Bando de traidoras! Nem sei o que falaram de mim para ele. Céus, o que eu iria dizer hoje? Para piorar o meu dia, aula de biologia, seguida por química. Estava de saco cheio com os professores, que ficavam nos olhando com um olhar de pena, por causa de Ana, como se eu precisasse de alguém para ter pena de mim. Eu mesma tenho.

Não sei o que aconteceu comigo na noite passada, mas sei que estava com tanta raiva das meninas que deixei meu celular de lado o dia inteiro. Disse que iria falar com Ana, mas faria isso quando chegasse da escola. Enquanto isso, tinha coisas mais importantes a tratar.

Quando cheguei na escola mais tarde, procurei as duas traidoras safadas. Não demorei muito procurando, pois elas estavam indo na direção dele.

Meu coração disparou. Corri até as duas, agarrei os braços das diabinhas e as puxei para o jardim, enquanto eu as puxava, elas me olhavam confusas.

— Espere! O que está fazendo? — disse Megan, fingindo não saber de nada. Traidora safada.

Soltei as duas debaixo de uma das árvores do jardim, enquanto Zoe massageava o braço, Megan me olhava com raiva misturada com confusão.

— Posso saber o que aconteceu com você? — Zoe me perguntou.

— Como vocês puderam fazer aquilo comigo? Falar com ele sobre mim para quê? Vocês sabem que ele tem namorada e ainda me fazem passar por esse vexame. Queriam me matar de vergonha? — comecei a fazer muitas perguntas de uma vez só, e elas não estavam me entendendo muito bem mas sabiam do que eu estava falando, por que quando fiz esta última pergunta, as duas caíram na gargalhada.

Enquanto elas riam cada vez mais alto, atraindo a atenção das outras pessoas que estavam desfrutando da calma momentânea, eu as mandava calar a boca.

— É por causa disso que você está tão irritadinha? — disse Zoe, seguida por outra gargalhada — Nós fizemos um bem a você.

— Bem? Vocês falaram de mim para um garoto que até um tempinho atrás eu mal conhecia. Vocês acabaram com a minha vida!

— Calma aí, baixinha — disse Megan com um sorriso. Ela sabe que eu não gostava quando as pessoas me chamavam de baixinha, apesar de ser verdade. — Não falamos mais do que deveríamos. Só perguntamos como foi o encontro de vocês na casa dele e fizemos umas perguntinhas básicas sobre o que ele achava de você. E sabe o que ele disse?

— Encontro? Vocês estão malucas? Fui para a casa dele pelo trabalho. E o que ele disse? — comecei a despejar as perguntas novamente, mas elas só me responderam a última.

— Ele disse que te achou bem legal e engraçada, disse que você vivia fazendo piadinhas sem graça, mas que ele achava graça justamente por esse motivo. — explicou Zoe, antes de dar outra risadinha maliciosa — Ele contou que vocês trabalharam por seis horas e que a irmã dele quase morreu de ciúmes por causa de você.

Depois de dito isso, fiquei paralisada. Ele tinha mesmo falado de mim para elas, mas imagino que elas aprofundaram o assunto para dar mais drama. Eu não conseguia encará-las, então olhei para o chão. Que vergonha eu passei. Pensei. Como elas puderam fazer isso comigo? Traidoras safadas.

Não acredito que vocês fizeram um questionamento desses. E por falar nisso, aonde vocês conversaram?

— Ontem encontramos ele na rua enquanto voltávamos para nossas casas, e fizemos as perguntinhas. — explicou Megan, a traidora.

— Não fique brava conosco, Gi. Só queríamos saber se o que ele sentia por você se parecia com o que você sentia por ele.

— Eu não estou brava com vocês, só estou com muita vergonha. Céus, dia inteiro de aula de biologia, e como vou poder olhar para ele sem lembrar disso? Traidoras! — depois dessa última palavra, meus olhos se encheram de lágrimas, mas não iria chorar naquele momento, pois ia dar a entender que eu era frágil e não preciso de mais ninguém olhando com pena para mim.

— Não somos traidoras — disse Zoe — mas gostamos de você o suficiente para não fazê-la passar vergonha na frente dele.

— Ah, e a propósito, Gi, o Logan veio até mim, perguntar por você — Megan, a traidora, disse Logan com uma voz sensual, que eu odiava mas achava graça mesmo assim, e não pude conter o risinho.

— Sinto falta da Ana — choraminguei e depois funguei, quando as lágrimas começaram a rolar em meu rosto.

— Todas nós sentimos — as duas vieram me abraçar, também chorando, o que me fez perceber que realmente as três eram meus tesouros que eu guardaria bem escondido para mais ninguém encontrar e ficar com ele.

— Nós vamos nos atrasar, suas cretinas — disse, com um sorriso, que mostrava meus dentes.

— Sim, vamos lá! Estou louca para ver o casalzinho — Megan provocou, me lançando um sorriso malicioso. Safada.

Assim que entramos na sala, vi o olhar sinistro de Amanda pousado sobre mim. Mais especificamente na minha roupa do dia. Eu estava mesmo querendo me produzir hoje, já que iria passar o dia inteiro com ele. Vesti uma calça jeans escura justa, que ressaltava a grossura das minhas coxas, com uma blusa branca que tinha uns desenhos estampados, um casaco maravilhoso, que comprei em Roma, e um sapato preto com um pequeno salto. Eu percebi que realmente chamava atenção.

— Todos os olhos estão em você amiga. Aproveite — murmurou Megan em meu ouvido, para que só eu escutasse.

Só percebi que Edward também olhava admirado para mim, quando me sentei ao seu lado. Seus olhos azuis estavam fixos nas minhas pernas, já que eu nunca havia usado uma calça tão justa que até deixava meu bumbum dolorido. Mas ignorei a sensação e me concentrei nele.

— Bom dia — disse, olhando em seus olhos e me distraindo com a beleza deles.

— Bom dia — ele me respondeu, voltando a olhar para a frente, pois ele não disfarçava que estava olhando exatamente para minhas coxas grossas. Eu era pequena, mas pelo menos não era seca, e pude aproveitar isso agora.

— O que o professor achou do nosso projeto?

— Ele disse que estava fantástico, você fez um excelente trabalho com os experimentos — respondeu, olhando para mim novamente, e com um sorriso nos lábios.

Lábios lindos.

— Que ótimo — exclamei, realmente feliz. Até que cinco minutos depois, o professor entrou na sala dando “bom dia” a todos.

— Muito bem turma, todos os projetos foram entregues ontem, e realmente todos estavam ótimos — disse o professor, mais que feliz pelo sucesso dos seus alunos queridos. —, embora alguns dos trabalhos precisaram de pequenas alterações, mas nada muito sério. Por fim, admito que os dois melhores trabalhos apresentados foram os de Zoe Reichel e Laurent, e Edward e Georgia.

Não acredito! A ficha ainda não caiu, quando o professor entregou nosso projeto com um grande “A” na frente. Meu coração veio parar na garganta de tão feliz que eu estava, e notei que Edward sorria ao meu lado, fiquei tentada a observá-lo sorrindo, aquele sorriso maravilhoso, feito pelos anjos, ou até mesmo pelo próprio Deus, que deixou a perfeição toda para ele... Afastei o pensamento. Claro que ele não era perfeito. Mas estava perto disso.

Olhei para trás para ver a expressão que Zoe tinha, e ela e Laurent estavam radiantes, os dois se encarando, com um enorme sorriso em cada rosto. Notei um clima, e fiquei observando para ver se alguma coisa acontecia. Nada. Enfim, ela revirou os olhos, também a minha procura, e quando seus olhos encontraram os meus, ela ergueu o seu projeto para me mostrar seu “A”. e Megan fez o mesmo. Também tinha tirado “A” mas pude perceber pequenas alterações feito pelo professor, o que a impediu de tirar o primeiro lugar também. Mas deu para notar o quanto as duas estavam felizes.

— Suas amigas são bem animadas, não é? — disse uma voz doce, ao meu lado, e eu levei um susto, quase pulando da cadeira e me virando para Edward.

— Sim, gosto muito delas. Queria que Ana estivesse aqui também, sinto falta dela — disse, já querendo chorar, mas não choraria na frente de um garoto. Jamais!

— Eu sinto muito por não ter feito nada por ela, Georgia.

— Você fez. Você a defendeu, soube isso das meninas que presenciaram mais ou menos a briga. Mas não se sinta culpado, a culpa não foi sua e sim da mesquinha da Amanda.

Ele soltou um riso, e olhou para baixo novamente. Estava ficando constrangida por ter seu olhar concentrado nas minhas pernas o tempo todo. Quase o mandei parar, mas ele puxou assunto novamente.

— Sua família também é baixinha como você? Ou você foi a única que não teve sorte?

Fingi o olhar com irritação, e ele riu quando o viu.

— Na verdade, minha irmã de treze anos já está maior do que eu, e meus irmãos são bem mais altos, o que os faz pensarem que são nossos guarda-costas. Mas já me acostumei com a ideia de ser pequena o resto da vida. — expliquei, e ele escutou com atenção, e até riu.

— Qual é a sua altura mesmo?

— Um metro e cinqüenta e cinco — disse, envergonhada. Eu realmente era uma anã. Ainda mais perto dele, que tinha uns trinta e cinco centímetros a mais do que eu.

As pessoas viviam dizendo que ser pequena não era tão ruim assim. Mas eu gostaria de ver um mundo um pouco mais alto, acho que seria legal. Dizem que as baixinhas são mais fáceis de esconder quando estão em perigo, e que elas normalmente são bem leves, o que não era meu caso. Eu não era gorda, mas não era magra. Minhas coxas eram grossas, meus peitos meio grandes, mas não deixa de ser pequeno, e meu pé minúsculo. As vezes eu sentia vergonha pelo seu tamanho, trinta e quatro. Principalmente quando ia à pedicure, mas também não me importava, pois sei que seria anã de jardim pelo resto da vida.

— Sinto lhe informar, mas você realmente é uma anãzinha — ele disse, abrindo um sorriso malicioso, e eu fiz cara feia quando olhei para ele, o que o fez rir.

— Não precisa sentir pena de mim, sei que sou anã, você não foi o primeiro, nem será o último a me informar isso  rebati, afinal, qual era o problema de ter um metro e cinqüenta e cinco? Ele adorava fazer essas brincadeirinhas de mau gosto.

— Não quis magoá-la. — esclareceu.

— Tudo bem. Já me acostumei.

♥ ♥ ♥

Saímos da sala em um clima estranho. Eu não tinha ficado brava com ele, mas ele parecia entender justamente o contrário, me dando espaço para ficar sozinha, e eu tentei umas três vezes dize que não estava brava, mas ele não acreditou.

Eu fui surpreendida com um rosto sorridente na minha frente assim que passei pela porta em direção ao refeitório. Logan. As meninas me disseram que ele queria saber sobre mim certo dia, o que ele achou que fosse uma deixa para vir falar comigo. Ele está bem enganado.

— Olá, Georgia. Tudo bem? — ele me lançou um olhar sedutor, que outras garotas derreteriam ao vê-lo, mas meu rosto continuou da mesma forma.

— Olá Logan, estou bem sim — quando as meninas saíram da sala, e me viram conversando com ele, me deixaram sozinha com aquele garoto. Traidoras safadas. Não parava de repetir isso em minha mente.

— E então, tem planos hoje a tarde? — ele me perguntou, em uma forma de que eu não precisasse entender que ele queria um momento a sós comigo, mas ele era tão legal. Nós nos falávamos as vezes quando nos encontrávamos nos corredores, e ele sempre foi simpático, e nunca brincou com a minha altura.

— Hum... Não — respondi, depois de um tempo. Se ele queria me convidar para sair, eu aceitaria. Afinal, Edward tinha namorada e eu não podia ficar esperando por ele para sempre. E ainda tinha o detalhe de que ele poderia não sentir o mesmo sobre mim.

— Então... Quer dar um passeio pelo shopping hoje? Podemos ir ao cinema se você quiser.

— Ah, é claro! Adoro cinema! — respondi, com um sorriso sincero nos lábios.

— Que ótimo! Pego você a que horas?

— Hum... Eu irei pesquisar a que horas os filmes estarão disponíveis e te mando uma mensagem confirmando a hora. O.k?

— Perfeito — ele disse, e me deu um beijo na bochecha, o que me deixou constrangida mas gostei do gesto mesmo assim, e até retribuí, e ele deu uma risadinha quando beijei a sua bochecha também. — então, nos vemos depois.

Cheguei em casa e já comecei a fuçar o computador, em busca de um horário adequado para ir ao cinema, de acordo com os filmes que estavam passando. Filmes de ação, romance, alienígenas, ficção científica, e outros chatos lá. Eu optei por um filme de ação que tinha o Tom Cruise, e estava em um horário ótimo para começar e terminar.

Para: Logan Carter

De: Georgia Lins

Assunto: Filme perfeito

Oi! Encontrei um filme maravilhoso de ação, pois soube que você gosta. Tem até o Tom Cruise! Enfim, o filme está em um horário bom para voltar para casa e podemos até dar uma passada em uma lanchonete depois, sei lá. Se você gostar da ideia, manda retorno.

Dois minutos depois, veio a resposta.

Para: Georgia Lins

De: Logan Carter

Assunto: Filme perfeito!

Adorei a escolha, Gi! E como você disse, amo ação! A que horas pego você em sua casa?

Para: Logan Carter

De: Georgia Lins

Assunto: Que bom que gostou!

Venha me buscar às duas. O filme começa às três.

Para: Georgia Lins

De: Logan Carter

Assunto: Combinado!

Às duas então! Até daqui a pouco, gracinha!

Gracinha. Quem ele pensava que era? Será que era uma cantada? Não sei. E não gostei disso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo