QUATRO

Meu cabelo estava todo espetado em várias direções quando levantei. Cambaleei pelo quarto como uma bêbada até chegar ao banheiro. Mesma rotina de sempre.

A escola estava mais lotada que o normal. É claro. Hoje é o dia da apresentação dos novatos à escola. Lembro do dia da minha apresentação, eu estava morrendo de vergonha, fiquei o tempo todo corada, esperando ansiosamente pelo momento em que poderíamos ir para as salas. Foi um completo desastre, pois muitos alunos do terceiro ano ficavam caçoando de mim por causa da minha altura. Realmente eu sou bem pequena para minha idade, devo ter pelo menos um metro e cinqüenta e cinco, para uma pessoa de dezesseis anos isso é muito baixo, nunca fui alta mesmo. O contrário de meus irmãos e de Emilly, que já esta da minha altura com treze anos de idade. Absurdo. As mais velhas deveriam ser mais altas, mas infelizmente Deus não quis me dar esse gostinho de ver o mundo um pouco mais do alto.

Resumindo, as apresentações dos alunos foram bem rápidas, pois como eu, eles estavam nervosos demais para falar muita coisa. Depois de trinta minutos chatos sentada esperando o final, finalmente sentei na minha cadeira na sala. As aulas do dia não foram exatamente ruins, exceto o momento em que o professor de biologia passou um trabalho para daqui a duas semanas sobre nosso assunto estudado. Ainda não sabíamos exatamente o que iríamos fazer, pois teríamos que escolher nosso projeto e executá-lo com perfeição para nosso querido professor.

— Você poderia ir para a minha casa para podermos fazer nosso projeto — propôs Edward. Eu não sabia direito o que responder, por isso corei. Droga.

— Claro, mas você precisará me dar o endereço — disse, lutando para esconder o grande sorriso que estava prestes a aparecer no meu rosto.

— Tudo bem. Então nos vemos mais tarde — ele se despediu e seguiu seu caminho para casa. Meu coração estava acelerado.

— O que foi aquilo? — perguntou Zoe, aparecendo do nada ao meu lado seguida por Ana e Megan.

— Aquilo o quê?

— Você estava prestes a vomitar arco-íris quando ele se dirigiu a você. Não se faça de sonsa. — disse Ana, parecendo um pouco irritada.

— Eu não sei do que vocês estão falando. — disse, tentando soar inocente, mas de inocente eu não tinha nada.

— Conta outra Georgia. Você está apaixonada por ele! — Gritou a escrota Megan.

— Cala a boca, Megan — ordenei, e ela se calou. — Não estou apaixonada por ele coisa nenhuma. Vocês que inventaram toda essa história para brincar com a minha cara!

As três caíram na gargalhada, e eu precisei me segurar para não gritar para elas calarem a boca. Já estava de saco cheio, mas odeio brigar com elas, por isso mantive a boca fechadinha até o momento certo.

— Não estamos brincando com você, Gi — assegurou Zoe, ainda rindo. — Só que nós percebemos como você age quando está com ele, e é bem diferente de como você está com a gente. E então consideramos as hipóteses de que você possa estar apaixonadinha pelo gatinho da escola.

Não consegui conter a gargalhada da cara safada que ela fez depois de pronunciar essas palavras. Éramos o grupo perfeito, e eu amava quando elas “consideravam hipóteses” sobre minha vida amorosa, acabava sendo bem divertido.

— Não precisam considerar hipótese nenhuma. Não gosto dele e não quero nada com ele. — menti.

— Hum... Tá. — disse Megan, com um sorrisinho malicioso, antes de se virar para Ana. — Por que não jantamos fora? Faz tempo que não fazemos algumas atividades juntas.

— Ideia perfeita. — disse Ana, dando pulinhos animados, o que nos fez rir.

♥ ♥ ♥

A noite com elas foi ótima, conversamos muito sobre nossas viagens internacionais, sobre o meu último beijo que foi com um menino de dezessete anos em Roma. A menos de dois meses atrás. Esse beijo foi roubado dele momentos antes de eu partir. Ele era um dos nossos guias turísticos e me disse que estava perdidamente apaixonado por mim. Fiquei triste por ter ido embora e acabado com as esperanças dele, pois ele era bem atraente, e eu mentiria se dissesse que não senti alguma atração por ele.

Ana nos contou uma história absurda que ela vivenciou na semana de férias, que foi sobre um menino bem mais velho que ela que a chamou para passar uma noite com ele, na cama dele, os dois pelados. Quando ela nos contou isso, caímos na gargalhada, ela ficou toda vermelha pois nunca tinham falado desse jeito assim com ela.

Zoe contou sua história do beijo romântico na cidade em que ela nasceu. De longe, a sua história foi a melhor. Ela contou que ela estava em um jardim botânico — um lugar muito romântico para beijos — esperando sua família, quando um garoto apareceu e eles começaram a conversar, e descobriram que tinham quase os mesmos gostos para tudo. E então ele não se segurou e a beijou.

A história de Megan foi sempre a mesma: Passou as férias em casa com os pais e o namorado John, que não fez nada além de levá-la ao shopping e ao cinema. Nada de romântico.

Acabou que eu registrei esses belos momentos no meu diário. Algumas pessoas achavam meio infantil esse meu diário, diziam que era coisa de criança e que eu era criança, mas nunca ligava. Meu diário as vezes era meu melhor amigo. Quando eu estava com problemas e não podia falar com ninguém, escrevia. Quando estava feliz demais por alguma coisa que eu queria guardar só para mim, escrevia. Quando estava triste, escrevia. Quando estava tudo ao mesmo tempo, escrevia.

Minha mãe bateu na porta alguns minutos depois que eu terminei de escrever, enfiou a cabeça no quarto e disse:

— Olá querida, quer um chá?

— Para dizer a verdade, um chá cairia bem agora. — disse, abrindo um sorriso, o que fez minha mãe sorrir também.

Ela saiu, e voltou dois minutos depois com duas xícaras de chá. Sinto que ela quer me falar ou me fazer falar alguma coisa.

Ela me entregou minha xícara, que eu agradeci, e se sentou na beira da cama e começou a alisar meus pés.

— Você está bem, Georgia? — ela perguntou do nada com cara de preocupada.

— Estou bem, mãe. Só um pouco cansada, estou precisando dormir mais. — respondi, enquanto tomava um gole do chá.

— Claro, deixarei você descansar mais um pouco. — disse, e pegou minha xícara vazia, e me deu um beijo na testa antes de sair.

Minha mãe era uma mistura de humores bem esquisito. Uma hora ela estava feliz, e fazia tudo o que pedíamos, outra hora estava zangada e reclamando de Deus e o mundo. Mas eu gostava desta troca, significava que nem sempre ela era essa mãe boazinha que satisfazia os desejos dos filhos. Mas enquanto ela fosse essa mãe bondosa, preocupada e amiga dos seus filhos, para mim já estava perfeito.

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