Parte 2...— Credo, você tem uma boca enorme - balancei a cabeça.— Bom, é que eu sou honesto.— Eu chamaria de cruel - torci a boca — Tem certas coisas que você fala que parece que não escuta o que diz.— Mas eu sou seu chefe - ele deu de ombro — Eu reparo no modo como você trabalha e às vezes você parece mesmo um pouco lenta.— Quer dizer burra?— Não exatamente... Voadora seria um termo melhor.— É que às vezes eu tomo remédios que me deixam um pouco lenta, mas eu cumpro com meu serviço.— Sim, eu sei disso, mas antes eu nem sabia que você tomava medicamentos. Poderia ter me dito.Eu ergui a sobrancelha de modo irônico e ri baixinho.— Isso mudaria o que?Ele olhou meio de lado e depois riu, balançando a cabeça.— É... Acho que nada.Esse diálogo me pegou meio de surpresa. Senti um misto de tristeza e raiva. Agora não sei se deveria ter sido tão honesta logo de cara sobre minha condição física.Eu sempre me esforço muito para cumprir todas as minhas tarefas de modo certo, apesar de
Parte 1...AnaEu fiquei surpresa. Tudo bem que eu já sabia que teria que mudar para a casa dele, mas ouvir esse pedido, direto assim, fiquei meio desorientada.Onde estava o chefe rude e impaciente que eu conheço?Ele até parecia estar preocupado comigo. Isso não entra bem na minha cabeça, porque não é essa a imagem que eu tenho dele.O que houve com ele para ter essa transformação de sapo para príncipe? Ou será que eu tinha uma visão errada sobre ele?Minha mente está começando a dar uma pane.— Hã... Tudo bem, eu posso me mudar em uns dois dias.— Não - ele disse firme — Você vai voltar comigo agora. Pegue o que precisar e vamos.Eu fiquei travada. Assim? Pegar uma bolsa com algumas coisas e voltar para a casa dele?Arregalei os olhos. Dormir na casa dele sem nem me preparar emocionalmente para isso?Não sei se eu posso. É uma mudança muito brusca.— É que... - apertei os lábios sem jeito — Eu tenho que me oganizar e... Sendo bem honesta, eu não sei se consigo dormir na sua casa.—
Parte 2...— Você não tem o direito de falar assim comigo, Edu! Eu trabalho o dia todo, cuido da casa e ainda tenho que aturar suas grosserias! - exclamou Maria, a voz carregada de frustração.— Eu sei que você trabalha, Maria, mas isso não te dá o direito de ficar no meu pé o tempo todo! Não aguento mais essa pressão! - retrucou Edu, a voz repleta de irritação.Os gritos dos vizinhos se misturavam com sons de objetos sendo jogados no chão, criando um cenário de caos e instabilidade. Pude imaginar como essas brigas, se forem constantes afetavam o ambiente do condomínio, deixando todos tensos e preocupados.Com um suspiro, pensei em algumas vezes que ela chegava na empresa com a cara abatida e olheiras. Com certeza por não conseguir ter uma boa noite de sono.Ana olhou para mim com um misto de vergonha e gratidão em seu olhar. Acredito que ela esperava uma reação diferente da minha, talvez sendo até grosseiro, mas eu estava disposto a ser compreensivo e receptivo às suas preocupações.
Parte 3...Eu ri, ainda não convencida, e disse: — Espero que sim, porque eu tenho um sono tão leve que até o ronco de um mosquito me acorda! Então se você for desse tipo de homem, faça o favor de enfiar um travesseiro em cima da cabeça.— Então, vamos fazer um acordo. Se eu roncar, você me acorda e eu paro e se você roncar, eu faço o mesmo por você!Eu assenti com a cabeça e disse: — Negócio fechado! Vamos ser os guardiões dos roncos noturnos um do outro!Enquanto continuávamos a conversar, eu sentia que essa nova convivência com Matteo seria repleta de momentos diferentes do que eu já tinha visto na empresa. Saber que ele tinha senso de humor e estava disposto a rir de si mesmo era um sinal promissor para nossa nova jornada juntos. Melhor assim do que rabugento e reclamão.Chegamos à cobertura e mais uma vez ele carregou minha bolsa até lá dentro. Isso me surpreendeu também. Vi que Matteo tinha modos gentis.Ele me guiou pelo apartamento até um quarto.— Já que temos mais um acord
Parte 1...AnaEu fiquei surpresa. Muito mesmo. Como pode uma pessoa ter várias facetas ao longo do dia? Será que Matteo, meu chefe rude e chato, no fundo tem uma alma boa ou ele tem várias personalidades? Se for a segunda opção não é nada bom pra mim. Conviver com alguém emocionalmente instável não é nada legal. Sei bem disso.Eu não conseguia deixar de pensar em minha própria história, em como a convivência com uma família emocionalmente perturbada havia me afetado profundamente.Minha mente vagou para os tempos de infância, quando eu era pequena e vivia com uma das famílias adotiva que, infelizmente, era emocionalmente instável. Eles lutavam com seus próprios demônios internos, o que resultava em um ambiente tóxico e cheio de tensão. Lembro-me de como os dias eram repletos de discussões acaloradas, gritos e lágrimas. Eu era apenas uma criança, inocente e vulnerável e estava presa em meio a esse caos.Uma lembrança em particular veio à tona: uma noite em que a raiva do meu pai a
Parte 2... O universo parecia estar alinhando os eventos para que eu pudesse oferecer àquela mulher que sempre me amou e cuidou tanto, o melhor que eu pudesse proporcionar. Mas e quanto a mim? O que eu poderia fazer realmente por mim? Estou tendo uma oportunidade enorme na vida e chegou de uma forma que nunca imaginei e pelas mãos de alguém totalmente além do que eu poderia pensar. Nós nunca falamos mais do que algumas palavras e sempre sobre coisas relacionadas ao trabalho. Agora já conversei com ele por mais tempo do que todos os meses e dias em que trabalho na empresa. Consegui conversar sem que ele gritasse comigo e até me senti bem algumas vezes, ouvindo-o me contar sobre sua vida. Ouvi duas batidinhas na porta e levantei para abrir. Ao abrir, me deparei com uma visão que me pegou completamente desprevenida. Era Matteo, meu chefe, em pessoa, parado ali com uma expressão tranquila. Até pisquei rápido ao ver meu chefe, quer dizer, Matteo, parado ali apenas de pijama azul. Fui
Parte 1...MatteoAinda sonolento, percebi um brilho suave em meu rosto, como se o sol estivesse tentando gentilmente me acordar. Com os olhos entreabertos, percebi que havia esquecido de fechar completamente a cortina do quarto na noite anterior. O sol da manhã estava encontrando seu caminho até mim, iluminando o ambiente de forma acolhedora.Busquei o relógio na mesinha ao lado da cama, esforçando-me para focar meus olhos ainda sonolentos. Para minha surpresa, eram pouco mais de seis e meia. Normalmente, eu costumava despertar antes desse horário, mas as reflexões da noite passada pareciam ter me roubado parte do sono.Agora, a realidade se mostrava diante de mim. A presença física da minha futura esposa, dormindo no quarto ao lado. Era uma situação incomum, algo com que eu não estava muito familiarizado, mas estranhamente, não estava sentindo o temor que imaginei ter ao conversar sobre isso com Otávio e Sandro. De alguma maneira, o peso dessa possibilidade havia diminuído.Tent
Parte 2...AnaAcordei em um estado de confusão total. Meus sentidos estavam dispersos, como se tivessem sido jogados em um liquidificador de desorientação. No meio desse caos sensorial, emergiu uma bagunça de gritos e palavrões. Inicialmente, eu pensei que era mais um dia típico de briga entre meus vizinhos. Afinal, esses episódios matinais eram quase uma tradição local.Meu coração pulou no peito como se estivesse tentando acompanhar uma maratona, acelerando devido ao susto repentino. Minha mente precisou de um tempo, como se estivesse tentando reiniciar, para identificar a origem dos sons. Finalmente uma luz iluminou o nevoeiro mental quando minha ficha caiu. Era a voz do meu chefe.A surpresa inicial me fez piscar algumas vezes, processando o fato de que estava na casa de Matteo. Ele não era mais apenas meu chefe, agora também era o sujeito que eu poderia ouvir claramente, aparentemente soltando uma torrente de palavras coloridas.Então a consciência do meu papel ali ficou cla