Parte 2...AnaAcordei em um estado de confusão total. Meus sentidos estavam dispersos, como se tivessem sido jogados em um liquidificador de desorientação. No meio desse caos sensorial, emergiu uma bagunça de gritos e palavrões. Inicialmente, eu pensei que era mais um dia típico de briga entre meus vizinhos. Afinal, esses episódios matinais eram quase uma tradição local.Meu coração pulou no peito como se estivesse tentando acompanhar uma maratona, acelerando devido ao susto repentino. Minha mente precisou de um tempo, como se estivesse tentando reiniciar, para identificar a origem dos sons. Finalmente uma luz iluminou o nevoeiro mental quando minha ficha caiu. Era a voz do meu chefe.A surpresa inicial me fez piscar algumas vezes, processando o fato de que estava na casa de Matteo. Ele não era mais apenas meu chefe, agora também era o sujeito que eu poderia ouvir claramente, aparentemente soltando uma torrente de palavras coloridas.Então a consciência do meu papel ali ficou cla
Parte 1...MatteoNão pensei que a Ana seria tão rápida para uma desculpa, assim como foi com a Patty, mas que bom que está me surpreendendo.Deixei as duas na cozinha conversando e se entrosando. Tenho que ligar para o Tim e começar o plano de vez.Ele atendeu no terceiro toque. Não perdi tempo e já fui perguntando sobre a leitura do testamento. Ele quis saber porque eu estava apressado e foi aí que comecei.— Bom, é o seguinte... Não estou falando pra muitas pessoas, porque não quero fofcas na mídia sobre isso - joguei um suspense — Eu estou morando com uma pessoa e a gente vai se casar.— Como é? Você?Me deu vontade de rir, mas tudo bem, eu entendo o susto.— Pois é, meu caro... Até eu caí nessa - dei uma risadinha — É um relacionamento que já tem um tempo e a gente acabou morando junto... Aqui na minha cobertura - fui jogando a mentira — E agora a gente achou que pelo tempo, o melhor seria oficializar isso.— E você vai casar? De verdade?Eu ri de novo.— É... Casar de verdade, m
Parte 2...— Sim... Quer dizer... Não para a empresa. Pode ir resolver seu assunto particular. Eu também vou acertar umas coisas com o Sandro e Otávio. Falei com o testamenteiro e ele vai querer te conhecer depois.— Mais uma pessoa, Matteo?— Sim, mais uma... Na verdade, mais três - balancei a cabeça meio irônico — Meu irmão é casado e tem um amigo muito ínitmo... Vamos dizer assim. Você vai conhecer os três.Ela soltou o ar devagar e torceu a boca. Eu sei como é.— Vá se acostumando, eu não curto mentiras também, mas faço qualquer coisa para ter a propriedade só pra mim.Do nada ela pegou minha mão e apertou. Eu franzi a testa.— Eu sei como é importante ter o que queremos de coração... Já entendi que sua vontade pela propriedade não é apenas uma questão financeira.Eu achei estranho ela falar isso. — Sandro me disse algumas coisas sobre sua infância - ela mordeu o lábio — Não vou entrar em detalhes... Mas eu também ficaria muito triste se estivesse em sua posição e perdesse um lug
Parte 3...Acho que hoje é um daqueles dias em que ela está meio fora do ar. Parei ao lado da cama e comecei a conversar com ela, que me respondia baixinho, mas notei que realmente não estava sabendo quem eu era direito.Voltei para falar com o médico de novo e assinei alguns documentos que ele me deu. Também me explicou coo seria feita a transferência dela, que não seria hoje, mas no máximo em três dias e que me avisaria com antecedência.Saí do hospital me sentindo muito bem. Parecia até que eu estava mais leve. É algo que nem sei explicar.Não sou uma pessoa interesseira, mas preciso admitir que fazer algo pensando em ter retorno financeiro, é bem melhor.A cada dia que passa eu vejo que a sociedade não valoriza mais a pessoa em si e olha só o que ela tem no banco e o que pode tirar de volta.É muito triste isso. Eu mesma já fui vítima de comportamentos assim e é muito desgastante. Me senti um lixo de pessoa e sei que não sou. Eu apenas não tenho dinheiro.Ou melhor, eu não tinha.
Parte 1... Matteo Ana ainda não tinha voltado, mas eu preciso falar com ela sobre a ida ao cartório. E outras coisas também. Engraçado, estou ansiosos e faz muito tempo que não me sinto assim. Talvez a situação nova seja a responsável. Ainda não me acostumei. É estranho demais essa parte de ter alguém ao meu lado. Mas pelo menos Ana me parece ser bem mais fácil de lidar, do que se fosse uma de minhas ex amantes, que iriam querer atenção o tempo todo e depois ficariam me cobrando por tudo. Meu celular tocou. Era um dos funcionários querendo saber sobre uma reunião que estava marcada e que eu tinha me esquecido completamente. Quem me lembrava dos compromissos era a Ana e com isso dela entrar em minha vida, nem me toquei, mas vou ter que achar alguém competente para ocupar o lugar dela. Preciso falar com ela sobre nossa ida à casa de meu irmão. Tenho que deixá-la por dentro de como é minha relação com ele e dar uma breve história sobre o casamento de Lucas. ** ** ** ** ** ** ** A
Parte 2...AnaEu até me esqueci de um detalhe, focada só no beijo. A porta do escritório estava entreaberta, e só percebi quando o beijo cessou e recuei um passo, assim como as demais pessoas presentes. Duas das funcionárias, com sorrisos travessos e olhos arregalados, observavam atentamente a cena que acabara de acontecer.Uma sensação de constrangimento tomou conta de mim instantaneamente, paralisando-me no lugar. Ele franziu a testa e seguiu meu olhar, avistando as funcionárias à porta. Rápido em sua reação, dirigiu-se até elas. Gelei. Pensei que ele iria dar uma bronca nas duas, mas não.Minhas expectativas de uma repreensão foram prontamente desfeitas. Ao invés disso, o tom foi inesperadamente diferente. — Peço desculpas, senhor Firenze - uma delas gaguejou — Trouxemos esses documentos para sua apreciação e...Ele interrompeu com um sorriso compreensivo ao pegar a pasta. — Não há problema algum - declarou amistosamente — De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde todos ficar
Parte 1...MatteoNão sei o que me deu para beijar a Ana assim, mas foi um impulso e do qual eu não me arrependo.Quem diria que a secretária feinha, chata e lerda, sabia beijar dessa forma?É até engraçado. Quem sabe ela tem mais segredos escondidos por baixo da roupa sem graça que ela usa todos os dias para trabalhar?E por falar nisso, tenho que mudar toda essa parte de Ana. Meu irmão é casado com uma mulher muito bonita, mesmo que não seja bem disso que ele goste, mas ainda assim, ele soube escolher na hora de criar seu disfarce.Enhco o peito de ar pensando nisso. Nós dois estamos criando falsos relacionamentos para conseguir o que queremos, embora pra mim, seja algo menos complicado. Ou talvez não?Eu não tenho cem por cento de certeza de que o casamento do Lucas seja apenas de fachada realmente.É o que tudo me leva a crer, porém nunca houve uma prova real disso. Sei que ele esconde sua homosexualidade por trás de namoradas que teve antes e agora com esse casamento.Mas quem sa
Parte 2...Eu engoli em seco. Como pode ela estar me explicando algo tão óbvio assim? Fiquei burro de repente?— Parece que você tem muita coisa escondida nessa sua cabeçinha, não é? - ela riu alto — Sabe, eu não me recordo de você ter dado uma risada assim no escritório.— Porque você era chato e mandão. Eu vi como deu um corte na funcionária do recursos humanos, só porque a pegou no corredor, morrendo de rir.— Eu fiz isso? - franzi a testa.— Fez sim. Você nem lembra de como você é rude às vezes? - eu fiz que não — Credo… Isso é uma característica, então? - fez uma careta.— Não… Nada a ver… Vai saber porque eu fiz isso? - dei de ombro — Talvez isso foi em um dia em que eu estava aborrecido por outro assunto.— Ah, tá!… E descontou em cima de outra pessoa?Eu ri, mas ela tinha razão. São pequenas coisas que acabam virando um hábito, mas um péssimo hábito.— Chegamos.— Onde? - ela virou o rosto.Entrei no estacionamento do salão de uma amiga. Dei uma chamada pra ela antes de sair d