Capítulo 3

A mansão estava um completo silêncio, pelo horário todos ainda deveriam estar dormindo, enquanto isso, o escritório era o seu lugar preferido, até agora.

Os dedos do duque não paravam de tamborilar sobre a mesa, adquiriu essa mania quando ficava inquieto — pensando em algo que não conseguia tirar da cabeça. Estava totalmente intrigado com o encontro inesperado com a moça de cabelo ruivo. Para a sua surpresa, aquela criança intrusa e atrevida se tornou uma belíssima mulher. Outra coisa que estava o deixando louco era o cheiro  completamente delicioso dela.

Somente ele sabia o esforço pelo qual tinha que fazer para controlar o seu instinto animal e o desejo insano que sentiu.

Kenneth rodou a cadeira que estava sentando e se virou de frente para a janela, que dava a visão do seu jardim, podia perceber estar amanhecendo. Olhou para o teto estranhamente perturbado. Deus do céu, quanto mais tentava tirar aquilo da cabeça mais pensava. Havia passado quase duas noites inteiras pensando em como seria ter aquela mulher em sua cama, as imagens da ruiva desmaiando em seus braços e o seu corpo contra o dela, ainda eram vividas em sua mente.

E o cheiro? Ah! Aquele cheiro...

Levantou-se rápido da cadeira, precisava sair da mansão para organizar seus pensamentos — e tentar se distrair — antes que cometesse alguma besteira, assim que abriu a porta encontrou Tristan parado encostado contra a parede com um sorriso debochado nos lábios.

— Você tem que ir à aldeia esta tarde, — avisou. — Espalhei os boatos ontem, e então vai me contar como foi o encontro? — Tristan tirou um charuto do bolso.

— Preciso de um tempo. — Respondeu, ignorando totalmente a pergunta anterior do amigo —, mantenha qualquer pessoa distante da mansão. — Sorriu. — Tenho que tentar achar alguém, quero saber se ainda mora por aqui.

— Está certo! — Disse o loiro, antes de sair pelos corredores e sumir.

Logo em seguida Kenneth saiu da mansão, entrou na floresta, andou rapidamente, parou, seu olfato farejou um cheiro familiar, deu um sorriso e sumiu no meio à neblina.

Quando voltou a aparecer, estava perto do alto da colina, observou um senhor, girando a espada nas mãos, enquanto simulava golpes e fazia um jogo de pés perfeitos, se encostando em um tronco de uma árvore, permaneceu ali, até sua presença ser percebida. O homem já estava com aparência bem envelhecida, a última vez que o vira, foi a vinte anos atrás.

— Já faz bastante tempo, não é mesmo? — A voz sussurrou. — Como vai, vossa graça? — O mesmo se virou e se curvou de uma maneira respeitosa.

— Sim, há muito tempo. Como você está Vladeck Smith? — Se desencostou da árvore e foi até o velho conhecido, erguendo as mãos em cumprimento. — Sabe, que não gosto de formalização pode me chamar pelo nome. Continua o mesmo de sempre Vlad. — Afirmou, ouvindo uma breve gargalhada.

Kenneth lembrou-se de como o havia conhecido, estavam na guerra, Vlad era o ferreiro que construía armas, certa vez o encontrou uma vez caído na floresta prestes a morrer, uma flecha o havia acertado precisamente. Bom, ele não hesitou em ajudar, talvez a sua conta avermelhada diminuísse se fizesse isso, estava tentando não ser dominado pelo desejo insano e assassino, e se ajudasse àquele rapaz ferido, poderia ser sua redenção.

— Eu me aposentei. — Respondeu, olhando na sua direção e franzindo o cenho, Vlad o analisou de cima a baixo. — É, você continua o mesmo, a não ser pelo cabelo e ter tirado a barba. E, nem precisa me explicar isso. — Gesticulou com as mãos para a máscara. 

Ele sorriu assentindo com a cabeça, na época em que salvou o ferreiro, estava em momentos difíceis e quase impossível de ter controle e o homem só soube o que White queria que ele soubesse e nada de perguntas em relação a isso. Por isso sempre gostou dele, Vladeck sempre soube ter algo estranho, mas o respeitava de alguma maneira.

— Então, você se casou? — apontou para o dedo, em que estava a aliança —, com a sua noiva naquela época, correto? — sugeriu.

— Sim, me casei com ela. — Sorriu —, tenho uma linda filha também, hoje está com vinte anos, e ainda uma mulher solteira. — O ferreiro balançou a cabeça. — Foge de casamento, como o diabo foge da cruz.

O duque riu, e colocou as mãos no bolso.

— Qual o nome dela?

— Aime Smith, deveria a conhecer. — Vladeck riu e balançou a cabeça. — Ou melhor, você vai, já estou sabendo que irá à aldeia hoje. O que andam dizendo é que precisa de uma esposa, — comentou enquanto guardava o restante das armas e acrescentando em seguida; — depois de todo esse tempo ainda está sozinho.

— Sim, entretanto decidi estar na hora de encontrar uma mulher. — Olhou para a aldeia. — Preciso de uma mulher ideal, acredito que você possa ajudar com isso, certo?

— Bom, como lhe disse antes, minha filha está solteira, estou começando a ficar preocupado em relação a seu futuro, as pessoas andam comentando, porém, o que eu mais queria é que Aime fosse feliz — pausou por um tempo, e continuou —, seria uma honra apresentá-la ao senhor, penso que os dois se dariam muito bem, e minha menina tem uma beleza diferente assim como você, ela é exótica. 

Dessa vez, Kenneth deu toda atenção para o homem, parando de observar a aldeia. 

— Exótica? — indagou. — Sua filha seria exótica, por quê? 

— Ela é ruiva, a única ruiva da aldeia, deve ser por isso que ela tem mais atenção do que qualquer mulher. — Vlad gargalhou. — Ainda bem que moramos por aqui, soube que estamos vivendo dias perigosos, mulheres ruivas sendo consideradas bruxas, mas te garanto que Aime, não é. 

Os olhos dele se arregalaram de surpresa e engoliu um seco. 

— Eu sei, não tem problema nenhum — sua voz saiu mais rouca do que o de costume. — Smith, eu realmente gostaria de conhecer sua filha, se assim você desejar é óbvio. 

— Claro, bom, algo me diz que ela irá gostar de você. — Sorrindo, Vladeck sorriu e ergueu as mãos a Kenneth, se despedindo. — Certo, então até breve? 

Assentiu e colocou as mãos para trás enquanto observava o homem descer a trilha para a entrada da aldeia, ele permaneceu ali, ainda exasperado. Aquilo era uma tremenda coincidência, em pensar que a mulher que estava na cabeça era justamente a filha de um velho conhecido. 

Não tinha reparado nisso antes, devido ao cheiro, o aroma dela parecia ser completamente afrodisíaco para ele, colocou as mãos sobre o rosto. 

— Interessante, muito interessante. — Um sorriso completamente torto e malicioso, surgiu nos seus lábios.

                                    ✧✦🌒✧✦

O vilarejo estava sendo todo enfeitado, as pessoas comentavam animadas e até mesmo as crianças estavam ajudando naquele momento, Mia apenas observava tudo da varanda de sua casa comendo uma maçã. Desde que soube no dia anterior que um duque estava vindo para a aldeia, não aprovou muito a ideia. Mas por hora não iria pensar aquilo.

Seus pensamentos se voltaram a um dia atrás, quando foi salva pelo mascarado. Mordeu os lábios em puro nervoso, não conseguia tirá-lo da cabeça, por mais que tentasse. E apesar da escuridão daquele dia, percebeu que o estranho era forte e aquele sorriso.

Ah! O sorriso...

Por favor, Mia, nem mesmo o conhece. Ele é um esquisitão. Um esquisitão bem atraente.

Os pensamentos dela foram interrompidos assim que o seu pai chegou no portão de entrada da casa, ele carregava as armas, na mochila e lhe deu um sorriso, beijando sua testa, em seguida entrou em casa.

— Trago novidades! — anunciou, colocando a bolsa das armas em cima da mesa. — Principalmente para você Aime, venha cá. — Assim que fez o que ele pediu, observou a expressão alegre no rosto do pai. — Encontrei um amigo de muitos anos e ele quer conhecer você.

— Conhecer? De que jeito? — questionou, levantando uma sobrancelha.

— Ora essa, conhecer para casar Aime — respondeu o pai. — Você já está na idade de casar, eu te conheço, sei bem o que está fazendo. — Suspirou, prosseguiu. —, filha, se ele não fosse um bom homem, nunca teria a minha bênção, mas algo me diz para você dar uma oportunidade.

— O quê? — Atônita, Mia caiu sentada no banco.

Era aquilo mesmo que acabara de ouvir?

O seu pai tinha praticamente dado a mão dela em casamento para um homem que ela nem sequer conhecia, colocou as mãos na cabeça.

— Mia, querida, apenas converse com ele, garanto que vocês dois vão se dar bem. — Sorriu. — Ele vem para a aldeia hoje. — Disse a última frase subindo para os seus aposentos.

— Mas, pai, o tal do duque não vem está tarde também?

— Sim, aproveita o embalo Aime. — Escutou a voz do pai lá de cima.

Mia encarou a mãe que mantinha os olhos grudados nos dela, continuou sentada no banco de madeira e colocou as mãos na cabeça, sabia que de certo modo o seu pai tinha razão, mas ela nunca se interessou por ninguém da aldeia antes, a não ser agora, por um estranho que apareceu na floresta. Essa última parte desde o último encontro deles, algo havia mudado.

Ela não poderia estar interessada nele? Certo?

Nem percebeu quando Agnes continuou a fazer o almoço, enquanto ela permaneceu calada. Céus! Iria conversar com um velho — quer dizer, pelo menos pensava que fosse um velho babão —, e ainda teria que aguentar aquele maldito duque e povo da aldeia babando nele.

— Mãe, a senhora concorda com o pai? — indagou de repente se levantando e se aproximando de Agnes.

— Meu anjo, o que te custa tentar? — Paciente a senhora Smith, largou a colher de madeira, e segurou no rosto dela. — Se ele for um homem bom, como seu pai disse, eu acredito no que ele fala. Apenas converse, sem nenhum comprometimento, se você não sentir nada, não vamos forçar — comentou dando um beijo na testa dela —, só queremos o seu bem.

— Acredita mesmo nisso? Digo, que possa ser um homem legal?

— Eu tenho certeza — riu e beijou a ponta do seu nariz. — Agora, esqueça tudo isso, e venha ajudar no almoço.

Mia teve total confiança no que sua mãe dissera, não existia pessoa no mundo que queria mais o seu bem do que seus pais, então deixaria o barco navegar.

Quem sabe, isso poderia funcionar?

Por muitas vezes, se pegou, observando a floresta pela janela da cozinha, a vontade que tinha de correr até lá era grande, mas desde o último acontecimento estava com um certo receio. Mordeu os lábios, enquanto descascava as batatas, pensando nele novamente.

Onde será que o seu esquisito estaria agora?

Quando a tarde chegou todos estavam esperando a chegada do duque, a aldeia inteira estava arrumada, montaram pequenas barracas em volta do pátio, cheio de guloseimas, por sorte a neve cessou completamente aquele dia. Enquanto isso, Mia tentava se animar, só de pensar que teria que conhecer o amigo do pai, havia tentando pelo menos saber o nome do tal homem, mas Vladeck se recusava a dizer, e cada vez mais ela se sentia frustrada.

Ainda tentou controlar seu gênio mal-humorado para não discutir com a mãe sobre a opção de vestido mais apropriado para vestir. Por ela, teria escolhido qualquer um, mas com muita insistência de Agnes, aceitou a colocar o melhor vestido que tinha. A cor do pano era vermelho e branco, que marcava bem sua cintura e apertava o seu busto, deixando os seus seios espremidos. Usou os cabelos soltos e colocou suas botas, por final, pegou sua capa vermelha e saiu de casa com os pais.

Todos estavam animados, enquanto ela parecia estar preparada para um velório. Encontrou o xerife de sua vila, ensaiando um discurso para apresentar ao duque. Teve vontade de rir do jeito muito bem formal que ele estava se pronunciando, balançou a cabeça.

Observou os amigos sentados e conversando, acenou para os pais e foi rapidamente na direção deles.

— Quando eu digo que você é a mulher mais bonita desta aldeia, não estou brincando. Olha que beldade. — Z, apontou para ela.

— Seu tolo, exagerado. — Respondeu, fazendo uma careta.

— Aceita? — Kurts perguntou, erguendo o copo de cerveja na direção dela.

Balançou a cabeça negando, depois do que houve, estava recusando qualquer bebida.

— Não é por nada não, mas você parece nervosa — comentou Brice, olhando para as mãos dela, que se mexiam toda hora umas nas outras.

— Sim, meu pai quer que eu conheça um amigo dele hoje. — Soltou um muxoxo.

— Vladeck está bancando o casamenteiro? — Perguntou Arthur, sem segurar a risada. Quando confirmou o amigo continuou — você sabe, eu tenho irmãs e quando meu pai começou com isso, não parou até que minhas irmãs estivessem com uma aliança nos dedos.

— Obrigada pelo apoio, Arthur. — Zombou —, me deixou bastante tranquila.

— É sempre um prazer, Mia.

Franzindo a sobrancelha em irritação, ela resolveu não pensar naquilo, como sua mãe Agnes havia dito, apenas uma conversa, nada de compromisso. Olhou na direção de Vladeck e reparou o quanto ele parecia ansioso.

Na verdade, até ela estava começando a ficar um pouco ansiosa, queria acabar logo com aquele mistério todo, quem era o maldito duque? Quem era o amigo do seu pai?

Então a carruagem apareceu no horizonte e todos da aldeia se aglomeraram no pátio, enfim o tal duque havia chegado. Quando o veículo parou, um homem de capuz negro que estava conduzindo os cavalos, desceu e tirou a capa, revelando os cabelos loiros e os sussurros começaram.

O homem loiro abriu a porta da carruagem ficando em uma posição completamente formal. Mia se levantou do banco para  observar melhor, assim como o resto dos amigos. Um sujeito alto saiu da carruagem, a aldeia parou e os sussurros começaram. Quando o tal duque se virou na direção deles,  os lábios se abriram em surpresa, arfou completamente, quase perdendo o ar.

— Recebam, o duque de Florswood! — exclamou o xerife.

O duque era ele, o seu mascarado.

Ela segurou em algo com força, sem nem ao menos se importar de saber o que era — ou o que seria — suas mãos ficaram geladas, suaram mais do que nunca, seu coração disparou, seu rosto ficou pálido.

— Ai Aime! — exclamou Brice, reclamando de um beliscão, despercebido por ela. — O que houve Mia? Você está pálida!

Estava tão transtornada que não ouviu uma palavra do que a amiga disse, ficou totalmente concentrada na figura parada a uns metros dela. Sobre a luz do dia, podia observar perfeitamente — ele usava sua inseparável máscara, os cabelos escuros e lisos estavam soltos caindo até o ombro, a expressão do rosto estava séria, com traços fortes e marcantes. Aquele homem era lindo, vestia uma roupa, toda preta, assim corpo o seu sobretudo.

Ela tinha razão. Ele é forte. Muito forte.

Enquanto o Xerife se apresentava, continuou o observando, e os olhos dele percorreram todo lugar parecendo procurar alguém. Foi naquele exato momento que queria se enfiar em um buraco para se esconder.

Será que se eu sair de fininho, ele vai notar?

— O duque usa máscara. — Observou Z. — Por que ele usa máscara? Deve ser alguma moda. 

— Moda, eu não sei, mas ele é muito atraente. — Brice riu quando Arthur soltou as mãos dela. — Pare com isso querido, você sabe que só tenho olhos para você. Aime, está tudo bem?

Com certeza ela não estava. Procurava uma rota de fuga para fugir dali bem depressa, porque na mesma hora em Brice disse o seu nome, os olhos dele se encontraram com os dela. Então o mundo pareceu girar e tudo parou, o olhar do mascarado era completamente sensual e perigoso, a ponto de deixá-la completamente ofegante, os lábios dele se curvaram em um sorriso discreto e sedutor.

Um formigamento estranho atingiu a barriga dela, arrepiando-a inteira. Mesmo com aquela máscara, Mia percebeu o quanto ele era perversamente sensual e charmoso, completamente viril, e estava atraindo vários olhares e suspiros. Seu ventre queimou, uma coisa que nunca aconteceu. 

O povo da aldeia cada vez mais se aproximava do duque, e com um visível esforço conseguiram tirar a atenção dos dois de seu contato visual excitante.

— Você vai se apresentar? — Questionou, Brice.

— N-não — gaguejou ainda perdida.

— Eu vi vocês dois se olhando — comentou a amiga maliciosa. — Creio que ele gostou de você.

— Não foi nada disso, é o meu cabelo, sabe como sempre chamo a atenção, por ser diferente. — Deu de ombros tentando debochar da situação.

— Ou, porque você simplesmente é linda — disse Z.

Mia tentou se distrair com qualquer outra coisa, fracassando em seguida, seu olhar não deixava um segundo do mascarado, era como se um ímã fosse a atraindo para ele. Durante algum tempo, várias vezes, seus olhares se encontraram, e o sorriso ladino não saia dos lábios dele em nenhuma vez. As moças solteiras da aldeia chegam mais perto dele.

— Esse duque não terá paz, as solteironas já o querem — avisou Zyner sussurrando entre eles.

Contudo, logo em seguida um fato curioso despertou os seus amigos, o duque não estava dando a mínima atenção a nenhuma das moças — que tentavam puxar alguma conversa desesperadamente —, o olhar do homem mascarado estava totalmente concentrado neles — ou melhor, nela.

— Então, Mia, ele gostou de você, sim — sussurrou um dos amigos entre risos.

Dessa vez, ela acompanhou o restante, estava totalmente corada com a situação, voltou a olhá-lo, e sim, Deus, ele continuava a encarar sem nem mesmo piscar. Desviou o olhar para o ponto, tentando evitar um contato visual. Se mais alguém percebe aquilo.

— Oh! Céus, o mundo vai acabar pessoal, um homem está fazendo a nossa amiga corar. — Brice brincou e se aproximou do ouvido dela —, ele continua olhando para você.

— Calem a boca! E, parem de encará-lo — rebateu constrangida, sentindo as bochechas queimarem.

— Pode voltar a olhá-lo, ele já parou de te encarar. — Brice avisou sem esconder o seu divertimento.

Aime fez uma careta em resposta para a amiga, e continuou olhando para outro lugar, quando finalmente percebeu ser seguro, voltou a olhar na direção dele. Algo completamente inesperado aconteceu, ele estava caminhando até uma pessoa que conhecia muito bem.

O seu pai.

O coração se agitou, seus olhos se arregalaram, assim que viu o duque mascarado apertando as mãos do seu pai, como se fossem velhos amigos e, em seguida, cumprimentando com um aceno de cabeça a sua mãe.

Vladeck observou onde ela estava e fez um aceno com as mãos.

— Aime, venha até aqui! — Ouviu a voz do pai a chamando.

Foi quando a realidade a atingiu, aquele maldito homem, misterioso e atraente, era o amigo do seu pai.

Nossa senhora das desavisadas! Aquilo tinha que ser um sonho.

Piscou algumas vezes, ficando congelada no mesmo lugar, seus pés não se mexiam e tremia tanto que pensava que teria que ser carregada até lá, até que sentiu um leve empurrão de alguém, nesse momento, foi obrigada a dar uns passos, ou então iria ser humilhante cair na frente de todo mundo.

Enquanto andava na direção dos pais, observou um sorriso ainda maior no rosto dele, mostrando suas covinhas lindas. 

Ah sim! Ótimo, ele deveria estar se divertindo muito com aquilo.

Quando chegou perto deles e parou em frente ao duque, estremeceu ao sentir o delicioso aroma de menta vindo dele, quase ficando completamente tonta.

— Aime, esse é o duque, Kenneth Withe. — O senhor Smith fez os cumprimentos. — A vossa graça que é o amigo de quem falei mais cedo.

Ela não conseguia encontrar o som de sua voz, estava totalmente despreparada para aquilo. E, costumava ser difícil algo a pegar desprevenida, no entanto, se tratando da pessoa na sua frente, o inesperado podia ser o segundo nome dele.

— É um prazer lhe conhecer, senhorita Smith. — Kenneth se aproximou dela, e pegou nas suas mãos a beijando em seguida, dando uma leve piscada.

Novamente, ela estremeceu.

— Olá — sua voz não passava de sussurro fraco, ouviu outra risada dele, e limpou a garganta levemente. — É um prazer, também, em lhe conhece-lo, vossa graça!

— Ah! Por favor, pode me chamar de Kenneth. — Sorriu torto.

O coração dela deu um pulo, chamar um homem pelo primeiro nome exigia uma intimidade — principalmente se for alguém nobre. Os dois permaneceram se encarando, até que ouviram um pigarro vindo da direção dos pais, chamando a atenção deles. Virou para eles, e sua mãe tinha um sorriso esperto nos lábios.

— Bom, iremos deixá-los conversando — avisou Vladeck. — Venha, querida, tenho que falar com o Xerife, algumas coisas. — Antes de sair, Mia recebeu uma piscadela da mãe, apenas, abaixou a cabeça e conteve um riso.

Quando ergueu o olhar na direção do duque novamente, ofegou, a língua dele brincava com o seu dente canino sustentando um sorriso completamente malicioso.

— Então... — Forçou sua voz a aparecer novamente. — O senhor é o amigo do pai, ouça, não irei mentir, estou bem surpresa, nunca iria pensar uma coisa dessas pela minha cabeça.

— Nem eu mocinha, e a propósito gostei do seu nome. — Ele sussurrou rouco, levando as mãos para trás, continuou a fitar intensamente.

Tão intenso, que Mia sentiu-se como se estivesse nua na frente dele, e arrepiou-se inteira ao encarar os olhos do homem, agora bem de pertinho, viu a cor dos seus olhos, eram de um azul brilhante, lembravam um mar revolto.

— Seus olhos são lindos — comentou e pausou. — Mudando de assunto, o senhor, naquela noite... — Disse, se referindo à noite em que ele tinha a salvo. — Como conseguiu me trazer em casa? No caso, sabia onde eu morava? Como me colocar no quarto? — Sem perceber as perguntas, já saíram assim, do nada e de forma rápida.

— Nossa, vejo que você tem muitas perguntas. — O duque se aproximou mais dela. — Tenho meus segredos, sim, eu sabia onde você morava, o que importa é que eu cheguei a tempo de mantê-la a salvo e a deixei em casa a livrando de um belo problema, mocinha. Não concorda comigo? — Questionou cruzando os braços, deixando transparecer os braços musculosos, salientando por baixo do sobretudo.

— S-sim — gaguejou, assentindo. — Tem razão, obrigada por aquele dia se não fosse pelo senhor. — As bochechas dela esquentaram. — Mas, soube que está procurando uma mulher para casar, certo? Eu poderia ajudá-lo com isso, se quiser é claro. — Novamente, estava falando tudo apressadamente. 

Ele a deixava tão nervosa, que acabava falando demais, sugerindo coisas demais. 

— Sim, estou à procura de uma esposa. — Kenneth a respondeu com calma. — Bom, mas acredito que isso, eu já resolvi. — Terminou a olhando de cima a baixo. 

— Ah! É... mesmo? — Controlou-se novamente com as palavras.

Uma das garçonetes da taverna veio na direção deles, lhe oferecendo uma cerveja, a mulher o encarava de uma maneira nada apropriada. Aime simplesmente pegou a caneca de cerveja e acabou bebendo tudo de uma só vez, enquanto o mascarado recusava. 

— Está com sede. — Observou, arregalando os olhos. — Seus amigos não param de olhar para cá. 

— É que eles são uns tolos. — Ela riu, — e o seu, parece estar com problemas. — Apontou com a cabeça na direção do homem loiro, recheado de mulheres à sua volta. 

— Não estou preocupado com ele. — Kenneth olhou para o céu e franziu o cenho. — Bom, senhorita Smith, preciso ir. 

— Só Aime, ou melhor Mia. Pode me chamar de Mia. 

— Mia — ele repetiu, analisando o nome. — Gostei muito de Mia —, enfatizou o nome dessa vez olhando para ela sensualmente. — Eu terei que ir, cheguei agora na aldeia e preciso me organizar na minha casa. 

— Tão cedo, a vossa graça está na mansão? — Questionou, tentando não demonstrar estar abalada por ele está indo embora. 

— Oh! Sim, aquela mansão é minha, estou por lá, eu tenho que resolver uns assuntos. — Deu um olhar sombrio na direção da floresta —, logo voltarei para lhe ver, muito em breve. Por favor, me chame só de Kenneth. — Segurou nas mãos dela novamente e depositou um beijo, e depois abaixou-se levemente, se aproximou do ouvido, deu uma leve assoprada e sussurrou. — Me aguarda? 

Ela apenas fechou os olhos, se arrepiando todinha da cabeça aos pés, se derretendo inteira. 

Santo Deus, que homem é esse? 

— S-sim, eu o espero aparecer. — Respondeu em fio de voz. 

Kenneth sorriu e fez um leve carinho com o polegar sobre soltou as mãos dela, deu uma piscada e saiu até o xerife, os dois se cumprimentaram, ele deu um breve aceno para os aldeões, enquanto o cocheiro abria a porta da carruagem, subiu os degraus e voltou a olhar na direção dela com um sorriso discreto, entrou e então partiu. 

A medida em que a carruagem se afastava da aldeia pela estrada, Aime sentia sua respiração voltando ao normal, mordeu os lábios levemente, e então reparou em uma coisa, a aldeia inteira estava olhando para ela — principalmente as mulheres — ignorando todo mundo, precisava pensar no que acontecera. 

E ainda mais precisava acalmar seu coração acelerado, acenou para os amigos, e foi andando rapidamente até em casa, assim que passou pela porta, caiu sentada ali mesmo. 

Tinha muita coisa para se pensar, e agora mais do que nunca, ela tinha uma resposta, estava sim, de fato, interessada em Kenneth, e agora mais do que nunca. 

E, sabia também que aquele sentimento era recíproco. 

No que aquilo iria dar? Não sabia. Porém, estava ansiosa para descobrir. 

                                    ✧✦🌒✧✦

Enquanto voltava com Tristan em direção à mansão, Kenneth ficou bastante pensativo, cada vez que seus olhos bateram naquela mulher, ele a achava incrivelmente linda, e ficava ainda mais intrigado em relação a ela. Sorriu, novamente, se lembrando do quanto a ruivinha ficara nervosa quando o viu e ainda melhor, quando sentiu o cheiro da excitação dela. 

Aquele cheiro era ainda mais provocante do que o natural, já era o bastante para o excitar, imaginou como seria quando ela estivesse delirando de prazer. Passou a língua sobre os lábios bem devagar e soltou uma risada rouca. 

Sim, aquilo não parava de ficar cada vez mais interessante. Tinha a certeza de que sua escolha já estava feita. 

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