"Mais rápido"
— Bom dia filhote! - Luísa, sua belíssima mãe, o cumprimentara. Ela fazia a linha de mulher de classe alta, totalmente socialite.
"Erick, eu vou..."
— Você acordou tarde hoje...quase perdeu a hora. - Comentou em um bom humor atípico, comendo umas torradinhas com patê.
"Quero você. Agora."
— Erick? Eu estou falando com você. - A mulher loira de quarenta e poucos anos estalou os dedos em frente a face do filho, tentando tirá-lo do mundo da lua.
— O quê? - Murmurou, limpando a garganta e tentando raciocinar direito.
"O que diabos aconteceu ontem?"
O loiro pensou, juntando as sobrancelhas em uma tentativa falha de se recordar com detalhes.— Tudo bem meu filho? - Dessa vez fora Henrico quem se pronunciou, com a típica voz grossa e forte de empresário que arrepiava qualquer um.
— S-sim eu só...estou com a cabeça doendo. - Disse a verdade, finalmente esticando a mão para pegar um pão francês, colocando alguns salames dentro.
— Mas é claro! Nem te vi chegar ontem, e quando fui olhar no seu quarto de manhã você fedia à álcool de longe. O que aconteceu? - Luísa curiosamente perguntou, trocando olhares significativos com o marido.
Só tinha uma coisa em que Luísa era melhor do que proteger os seus dois filhos: arrancar a verdade deles.
Nem mesmo Noah, o mais rebelde e desprendido, conseguia esconder qualquer que fosse o que ela queria saber.— Nada. Eu só sai. - Murmurou, fechando a cara.
— Então estava fazendo o certo! - Henrico disse, parecendo satisfeito com a resposta do loiro.
— Fazendo o certo? Por Deus Henrico! - Luísa virou-se para Erick, gesticulando muito com as mãos de forma espalhafatosa proveniente de seu nervosismo. — Tinham duas camisinhas usadas no seu quarto! Duas! - Sua voz estava tão alta que chegava a ser irritante. — E você trouxe alguma desconhecida de porta de boate pra cá! - O tom de voz mais agitado demonstrava a tamanha indignação que a loira sentia.
Se as circunstâncias fossem outras, Erick com certeza passaria o dia inteiro com raiva do que a mãe tinha dito. Afinal, ele não era nenhum adolescente pra levar esse tipo de bronca, mas sua atenção ficou parada mesmo nos preservativos.
Duas? Usadas?"Você é ativo ou passivo?"
Ethan parecia se divertir com a cena, ao mesmo tempo que tentava fazê-lo relaxar, distribuindo algumaschupadas e carícias por seu pescoço. "Eu realmente não tenho ideia sobre isso." O moreno riu, puxando-o para mais um dos inúmeros beijos que haviam dado até agora. "Vamos testar as duas opções, então."Foi aí que tudo ficou muito claro: tinha acontecido.
"Droga. Eu não me lembro de quase nada." Erick suspirou, se sentindo a pior pessoa do mundo.— Já vai? Nem tocou na comida direito! - Sua mãe já se preparava para continuar a sessão esporro, mas ele fora mais rápido saindo sem dar satisfação.
**
Durante o trajeto até o trabalho, o loiro tentava, entre um semáforo e outro, lembrar-se do que havia acontecido, mas era como se sua mente não quisesse colaborar em nada, o revelando apenas flashes da noite anterior. — Bom dia Yuri! - Cumprimentou o amigo e sua paixonite aguda, não hesitando em sorrir abertamente para ele, apesar do humor péssimo ao qual se encontrava.
— E aí, cara? Tudo certo? - O professor foi até ele, envolvendo seus braços muito bem trabalhados ao redor do pescoço de Erick em uma espécie de "abraço de brother"
— Mano, eu queria falar sobre a Sheila com você. - Confessou, sem se dar ao trabalho de escutar a reposta do loiro.— Sheila? - Repetiu, franzindo o cenho sem se atrever a desfazer aquele toque tão...bom e reconfortante – claro que isso tudo em seu pensamento romantizado e fora de realidade.
— A novatinha que eu tô comendo. - Explicou grotescamente, criando uma distância entre os dois, para infelicidade dele. — Já te falei dela.
Erick suspirou desanimado, fechando a cara quase que instantaneamente.
— Ah, eu não lembro. E... tô um pouco atrasado para a minha aula agora, foi mal.De todos os tipos de humilhação que enfrentava todos os dias por estar perto de Yuri e gostar de alguém como ele, ter que ouvir sobre suas puladas de cerca era a pior delas. Por isso, ele tratou logo de contar essa meia verdade, saindo praticamente correndo da sala dos professores, mas antes de entrar na sala de aula, seu smartphone brilhou com a notificação de uma nova mensagem, vibrando em seu bolso. Era Selena, perguntando se as coisas na boate deram certo, e qual era o “bafão” que, em pleno desespero, o professor infelizmente disse que tinha para contar. Maldita a hora!
Como ela estava ocupada trabalhando com seu irmão, ele apenas disse que falaria sobre isso outra hora, mas até então Erick não teve coragem - porque sabia muito bem o tipo de reação a morena teria -, e estava pronto para ignorar a mensagem, até que uma outra chegou."Maggie me convidou pra almoçar com vocês, é claro que eu vou!! Quero saber tudinho."
O loiro pensou por alguns segundos no que dizer. Não tinha escapatória: teria que contar sobre o que ele se lembrava do que tinha acontecido - o que, sinceramente, não era lá grande coisa, e apesar do garoto ter deixado seu número anotado, eles nunca mais iriam se ver na vida, disso ele tinha certeza!
"Tudo bem. Só não pergunte na frente dela."
Optou por responder, notando que um número considerável de alunos pareciam agitados demais. Não se importou com isso no momento, concentrando-se em apenas cumprir sua carga horária e se preparar para o tal almoço. Foi quando o dia, já tenso, se tornou impossível: o tal garoto, aquele que não veria mais em sua vida, estava ali, sentado e o encarando tão surpreso quanto ele."Que porra é essa?!"
Sua consciência gritava, em um estado de perfeito pânico. Tudo bem. Ok, é só... é só fingir que não o conhece. Talvez ele nem se lembre também, né?Os olhos verdes do professor se encontraram com os de Ethan, como se um buscasse respostas do outro.
No caso de Erick, era como sair daquela situação mais do que constrangedora.Droga. É claro que ele lembra!
—...Continuando, o trabalho em si precisa abordar os pontos elencados na última aula. É na verdade algo bem simples, doze páginas está bom. - Sua voz estava tremida, como a de um garoto no início da puberdade, e suas mãos suavam de forma irritante. Talvez não fosse a escolha mais inteligente ali, mas fingiria que não conhecia aquele aluno até ter ideia do que fazer.
A aula que seguiu foi completamente diferente do que qualquer um estava acostumado: Erick gaguejava, esquecia o que ia dizer, as vezes andava em círculos e tinha uma dificuldade imensa em explicar o conteúdo.
Tanto, que alguns alunos se prestaram a ajudar na formação das frases, outros o olhavam como se ele fosse um alien que tivesse substituído o ótimo professor de administração, e alguns até riam baixinho de seu completo estado de nervoso. O problema era que Ethan o encarava demais, parecia devorá-lo com seus olhos brilhantes, vez ou outra soltava um suspiro profundo e Erick podia jurar por três ou quatro vezes de que ele iria até a frente da classe, perguntar a razão dele estar fingindo que não o conhecia.Quando o horário do almoço estralou os ponteiros do relógio de parede, o loiro se sentiu extremamente aliviado com o fim de sua tortura, e saiu praticamente correndo antes mesmo dos alunos se levantarem. Maggie, a namorada, e Selena o esperavam na recepção da faculdade, uma sentada ao lado da outra em poltronas confortáveis, conversando como grandes amigas - o que, na verdade, não eram.
— Finalmente! Pensei que ia ter que comer uma marmita aqui. - Reclamou Selena, se levantando quase ao mesmo tempo que a outra.
— Você parece cansado, está tudo bem meu amor? - A garota quis saber, colocando ambas as mãos em seus ombros de forma suave e acolhedora.
Maggie era um pouco parecida com Sel: tinha um tom de pele bem semelhante e os olhos também eram escuros como a noite. Mas ao contrário da influencer, ela amava exibir seus lindos e volumosos cachos com muito prazer, obrigado.
Além disso, Maggie tinha uma personalidade amável, era muito inteligente para tão pouca idade - sendo a mais nova entre os três - e ajudava sua família com as despesas da casa, ganhando merecidamente o título de melhor filha do mundo.— Eu tô bem. - Resmungou em seu mal humor quase que costumeiro, dando um passo para trás, desvencilhando-se do toque da namorada.
— Credo, que cara feia! - Selena reclamou, fazendo uma careta para o loiro.
— É fome! - A namorada brincou, não se importando com a atitude do professor.
Foram os três até um restaurante de classe média que ficava à poucos quarteirões da faculdade, um tal de Gastrô Baiano, que servia obviamente comidas típicas da Bahia, mas em uma reformulação fresca e gourmet que rico adorava. Durante todo o caminho, Selena parecia ansiosa para saber qual assunto o amigo queria conversar, e entre stories com fotos do prato e marcações da localização para fazer uma publi básica, a morena achou o momento perfeito quando Maggie se retirou da mesa, dizendo que precisava atender um telefonema urgente do serviço.
— Erick não me enrola, fala logo! - A it girl foi logo falando, desligando o smartphone ao qual estava grudada desde que chegara.
— O quê?! Você tá louca? A Gie pode voltar a qualquer momento! - Disse, nervoso, olhando para a janela imensa de vidro na lateral da mesa para vigiar o paradeiro da moça.
— Exatamente, é melhor você ser rápido.
Erick tentou escapar do olhar quase fatal da garota, mas respirou fundo e limpou a garganta, decidido a contar a bomba de uma vez só: — Eu transei com um cara. - Jogou, assim, do nada. A surpresa de Selena fora tão grande que ela soltou um "O QUÊ?" em forma de um grito muito agudo, chamado a atenção de várias mesas ao redor.
— Pelo amor de Deus, fala baixo! - O loiro sussurrou de uma forma alta, super envergonhado com a atenção recebida.
A morena fechou os olhos, se controlando e soltando uma gargalhada meio contida em seguida. — Meu Deus, eu nunca acreditei que você teria coragem! - Admitiu, notando a cara de limão azedo do outro. — Tudo bem...então... - Ela tentou se recompor, soprando o ar pela boca. - Me conta como foi!
Erick olhou mais uma vez na direção de Maggie - e ao redor também para ter segurança de que ninguém estava os olhando, e sabendo que a amiga não desistira fácil daquela história, se pôs à confessar o pecado: — Eu fui na boate que você me indicou, e...tinha um cara lá. A gente ficou conversando e bebendo e...aconteceu.
—...Aconteceu? Como assim aconteceu? Quem comeu quem? - A sequência de perguntas de Selena fizeram o professor revirar os olhos, sem paciência para aquilo.
— Já tá bom demais, você não precisa saber do resto. - Se defendeu, não querendo expor tanto aquele momento íntimo. Mas a verdade era que ele não queria admitir de que não se lembrava de nada. Até que um gigantesco detalhe veio em mente: —
O problema é que...pelo visto, esse cara é um aluno novato meu.E novamente Selena riu, falando alguns palavrões enquanto tentava entender a situação. — Só tendo muito azar para isso acontecer mesmo! - Ela brincou, mordendo o lábio inferior um pouco incrédula. — Como você não o reconheceu?
— Existem inúmeros alunos naquela faculdade, e como eu disse, ele é um calouro. Como eu iria saber? Não sei o que fazer agora. - O professor admitiu, passando as mãos pelos cabelos claros em um misto de frustração e medo.
— Ok... vocês já conversaram sobre isso? - O loiro balançou a cabeça em negação, como uma criança com medo. — Seu idiota! Tá esperando o quê? Que ele saia falando pra faculdade inteira que vocês dormiram juntos?! - Ela disse alto demais, atraindo expressões chocadas das mesas ao lado. —...Foi o que eu disse pra minha amiga, né?! - A morena tentou disfarçar, rindo de nervoso.
Apenas a cogitação dessa situação causava calafrios e uma dor de barriga imensa. Imagina só se, em um belo dia, todo mundo fica sabendo do ocorrido? E pior: sabendo mais que o próprio envolvido no caso, já que Ethan provavelmente conseguia se lembrar de tudo. Ou quase tudo.
"Ai meu Deus, o que o Yuri vai pensar de mim?"
Fora a primeira coisa que lhe veio à mente, o fazendo prender a respiração. — Não! Isso não pode acontecer! - Exclamou, em puro pânico.— Exatamente, por isso que essa amiga tem que conversar com esse cara! - Selena ainda tentava disfarçar o teor da conversa, gesticulando muito com as mãos.
— Tá, já entendi. Eu vou falar com ele. - Resmungou, cruzando os braços e fechando a cara.
— Se você tem o número dele, apenas ligue e marque um encontro. - Sugeriu, voltando a comer como se nada tivesse acontecido. — E a Maggie? Como vai ser agora?
— Como vai ser o quê? Eu gosto dela. E ela não precisa saber desse...detalhe. Nunca mais vai acontecer de novo.
— Mas e se ela souber?
Erick a olhou com as sobrancelhas juntas e os olhos semicerrados, com um ar de desconfiança sobre a garota. —
Selena, ninguém pode saber.— E aí, o meu pedido já chegou? - A moça chegou na hora, fazendo os dois darem um pulinho de susto. —
Ninguém pode saber do quê, amor?Os amigos se entreolharam, tentando pensar rápido. — De um contrato que eu consegui com uma marca de maquiagem, é segredo ainda. - A blogueira comentou, dando um sorriso amarelo.
Eram sete e meia da noite, a boatePeccatoainda não estava com nem um terço da capacidade de gente que era acostumada, mas os dançarinos e outros empregados andavam pelo ambiente de cores escuras e amargasàtodo vapor, preparando-se para a noitada.—E aí, curtindo uma fossa? -Anthonny, o cara que dividia o bar com Ethan, perguntou. O mesmo que o havia visto com Erick e serviu as cervejas para eles.—Ah, Tonny...eu me acho um idiota, sinceramente. - Confessou o moreno, com a cabe&c
É óbvio que eu me senti um completo lixo por ter agido daquela forma com Ethan, e isso ficou na minha cabeça pordias.Dias esses que o garoto sequer pisou na universidade.Quando Lilly, a sua superior, veio falar sobre o desempenho dos alunos, no fundo o professor ficou aliviado por poder ter uma desculpa de encontrá-lo e tentar limpar toda aquela bagunça.—Até quando você vai deixar de ir na faculdade por causa daquele otário? - Alex chegara de supetão no amigo, que levou umsu
Por quê tinha perdido o controle daquela forma?Porquênão conseguia se manter racional e distante daquele garoto?Enquanto a água gelada escorria por seu corpo, ele tentou esfriar a cabeça e se permitir ter um minuto de paz: antes mesmo de chegar em casa, sua mãe fez questão de enviar trinta mensagens o lembrando de uma "reunião familiar" que a mesma tinha organizado, reclamando sobre seu atraso de bônus.Já fazia uma semana que Luísa mantinha total segredo, e ele até tentou obter informações privilegiadas, m
—Ethan, Ethan...pare de brincar com fogo. - Alex disse, sentado em sua frente no bar, saboreando um drinque que algum cliente interessado em sua performance anterior havia o pagado.—Mas é justamente isso o que eu quero. - Soltou entre uma risada gostosa de se ouvir, atendendo o próximo pedido.—Você quem sabe, só não quero te ver igual aquele dia que te encontrei na sala do chefe. - O amigo murmurou, mordendo a azeitona dentro da taça. Quando chegara à faculdade, a primeira coisa que Ethan fizera fora procurar o seu professor naquela manhã tão confusa e agitada - se equivalendo ao metrô de São Paulo mais do que lotado, típico das malditas segundas-feiras.Todos receberam uma mensagem sobre a verdadeira inquisição que aconteceria naquele dia, então a faculdade inteira parecia um caos, com os alunos conversando freneticamente, achando graça ou até mesmo sendo sensatos ao ponto de estarem preocupados com quem quer que fosse revelado hoje.Ele deve estar pirando.Pensou enquanto caminhava pelos corredores, cumprimentando quem passava e o reconhecia. Em pouco tempo, su8 - EXPOSIÇÃO
—Covarde! - Alex gritou no auge de sua ira, jogando o controle doPlaystation 2no sofá, esfregando o rosto entre as mãos.—Como ele ousa atirar em mim pelas costas? Isso é ridículo!—Ei, não precisa de tanto... - Ethan se pronunciou entre uma mordida e outra no misto quente, se encolhendo no sofá quando ostriperparou e o encarou incrédulo.
Faziam quatro dias desde o ocorrido na sala de aula, desde então Ethan vivia tentando evitar ao máximo cruzar com Erick nos corredores, e era o primeiro a deixar suas aulas quando estas acabavam.E é por isso, senhoras e senhores, que vocês não devem se envolver com ninguém da mesma faculdade.Distraído sobre a rotina que teria naquele dia corrido e bagunçado na boate - já que Alex o ligara para dizer que o gerente havia sido trocado, assim como alguns gestores do local - Ethan sequer sentiu quando alguém tocou o espaço e
Ethan estava decidido: depois de passar a noite inteira revirando na cama, bebendo chá de erva doce e observando a vista nada privilegiada de seu apartamento, ele finalmente iria conversar com Erick sobre tudo. Colocar todas as coisas nos eixos.E que seja o que Deus quiser!Pensou, enquanto caminhava pelos corredores da faculdade, sentindo o nervosismo brotar desde o formigamento na pontinha do pé ao estômago que revirava.De acordo com a grade, as aulas administradas pelo loiro seriam as próximas, e o garoto mal podia esperar para que tudo acabasse logo e eles pudessem conversar. Foi aí que, ao ficar cinco minutos sentados e meio excluído do resto de sua turma, uma