— Então vocês...? - Alex o olhava com uma expressão incrédula, morrendo de rir.
— Sim, nós passamos a noite juntos! - Admitiu, acompanhando o amigo nas gargalhadas da fofoca quentíssima sobre a noite anterior.
— Eu não acredito nisso! - Gritou, sendo o excelente escandaloso que era.
Um dos gerentes da boate os repreendeu, dizendo que eram para os dois pararem de conversar e irem trabalhar.
Alex era um dos dançarinos profissionais - como gosta de ser chamado - da boate, e melhor amigo de Ethan. Eles dividiam as contas de um apartamento e se conheciam há alguns bons anos, quando o próprio dançarino saiu do interior de Minas Gerais para a cidade grande de São Paulo sem um tustão na carteira. O rapaz tinha a pele um pouco mais escura que a dele, as irises em um preto penetrante, e seus cabelos também eram cacheados e igualmente escuros aos olhos. Os dois sempre foram tão grudados que as pessoas perguntavam do parentesco - e as semelhanças físicas também ajudavam na confusão.— E agora, Ethan? - Cochichou, observando o moreno organizando as bebidas no bar, já que era o seu turno como barman.
— Agora...? - Repetiu, parando de mexer nas garrafas alcoólicas por um momento. — Eu deixei um recado com o meu número pra ele, mas...
Incomodado com aquela situação, Ethan voltou a organizar as prateleiras do bar, ficando de costas para o amigo.— Mas...? - O dançarino pressionou, ignorando os alertas do gerente sobre ele não estar ensaiando como foi pedido.
— Eu não sei, ele não parece ser assumido. - Contou como uma criança que acabara de fazer arte, escutando um suspiro alto de Alex. — E nós estávamos meio bêbados também...
— Você só pode estar brincando comigo!
"Parem de tricotar, vocês estão aqui pra trabalhar!"
Berrou o gerente da porta de uma salinha/escritório, fazendo com que o dançarino revirasse os olhos. — Ethan, você sabe que esse tipo de cara é furada. - O timbre de voz raivoso deu lugar à um mais ameno e compreensivo assim que percebeu a leve frustração do barman.— Pode até ser, mas se ele voltar aqui, nós pelo menos vamos conversar e realmente saber a verdade. - O moreno voltou a olhar para o amigo, dando um sorriso para ele.
— Mais iludido que você, só fã de BlackPink esperando comeback. - Alex negou com a cabeça, fazendo referência àqueles grupos coreanos de pop ao qual era fã, dando um tapinha na mão de Ethan antes de se distanciar e finalmente acatar a ordem do gerente chato para que não fosse demitido por justa causa.
Alex tinha um corpo muito bem definido - afinal, seu emprego pedia isso - e conseguia manter uma ótima elasticidade enquanto utilizava o pole dance.
Não eram todos os dias que ele precisava fazer esse tipo de show, geralmente, só tinha pole quando alguém ia casar, em aniversários ou outras comemorações e dias especiais, sendo uma espécie de bico para manter as contas que ambos dividam em dia.**
Tudo bem, eu realmente estava um pouquinho chateado com essa situação de ter sido supostamente usado por uma noite...
Não que eu quisesse algo sério, mas poxa...nem um oizinho no WhatsApp?! Enquanto caminhava pelos corredores da faculdade, Ethan pensava sobre os acontecimentos da semana passada. O ar descontraído e leve que o moreno geralmente carregava e conseguia facilmente emanar por aí parecia não existir naquele dia, e ele se aproximava mais de um adolescente emburrado por não ter conseguido algo.Enquanto cruzava os corredores do lugar novo, escutou uma menina falar "Bom dia!" sorrindo simpaticamente para ele, e o rapaz apenas acenou com a cabeça, se concentrando em achar a sala que seria a sua primeira aula.
Ethan estava cursando administração há pouco mais de um ano e meio, e finalmente conseguira a chance de mudar para uma das melhores faculdades do país: VidenOgVisdom, um nome estranho que significa alguma coisa em dinamarquês - nacionalidade da fundadora da instituição. À princípio, Ethan pensou um pouco sobre essa oportunidade, já que se tratava de um local muito conservador e ele não queria correr o risco de sofrer qualquer tipo de homofobia ou ter que fingir ser algo que não era. Porém...ele tinha direito de estar ali tanto quanto qualquer um, não tinha? Havia se matado de estudar para conseguir manter suas notas altas, ficou noites em claro buscando pela bolsa que o salvaria de pagar uma quantia muito mais alta em uma faculdade definitivamente inferior, e não seria um bando de playboys riquinhos que iriam tirá-lo de campo.Ao chegar na tal sala, o moreno evitou os olhares curiosos sobre si, procurando um lugar mais reservado ao fundo.
Olhando de fora, Ethan tinha um ar derrotado, como se fosse um impostor ali, e era exatamente assim como ele se sentia. Nenhum pingo de sua habitual confiança transparecia, e aquele ambiente o sufocava um pouco. Como um garoto de baixa renda, que precisava se desdobrar entre o trabalho e os estudos – o que era a realidade de inúmeros estudantes brasileiros -, estar em um ambiente cheio de jovens adultos que sequer sabiam o que era precisar fazer aquilo para sobreviver o deixava com um sentimento de que, talvez, ele não fosse ser aceito.Tentando se distrair daqueles sentimentos, o rapaz se concentrou em checar suas redes sociais em busca de uma mísera mensagem do loiro que pegou no final de semana, mas não tinha nada. Absolutamente nada. Só o restava, então, aceitar a derrota. E enquanto afundava aos poucos na cadeira em um misto de tédio e frustração, ele ouvira uma voz ecoar pelo cômodo, calando todos à sua volta. Era o professor. Ethan voltou seu olhar para a frente, recompondo a sua postura até que aquela figura masculina fosse alcançável à sua vista, mas quando finalmente conseguiu vê-lo, seu coração deu um ou dois pulos à mais, quase saltando pela boca. — O loiro...? - Murmurou incrédulo, franzindo o cenho e se segurando para simplesmente não levantar dali e ir até ele certificar-se de que seus olhos não estavam o enganando, de que o cara da noite passada estava bem ali, na frente do quadro, explicando algumas coisas que sequer conseguia prestar atenção.
O professor estava bem diferente da figura que encontrara em Peccato: suas roupas, antes próximas da de um adolescente que ama rock e demonstra isso em várias camisetas de bandas e calças rasgadas, agora dava lugar à um look bem social. Camisa branca, um terno escuro que combinava com uma calça - marcando perigosamente suas coxas de uma maneira muito sútil e quase inocente - uma gravata de mesma cor e um allstar. A única coisa que destoava do estilo "sou um profissional sério" e denunciava sua pouca idade frente aos velhos reptilianos que tinham na faculdade.
Qual era mesmo o nome dele?
Droga! Era algo tão simples... Tão...— Bom dia à todos, meu nome é Erick Robin, e... - Ele fez uma pausa, olhando a turma superficialmente. — Acho que não tem ninguém novo aqui, não é?
Foi então que um aluno o avisou que havia sim um novato na sala, causando burburinho de curiosidade entre os alunos. — É mesmo? Onde? - Erick quis saber, procurando-o com os olhos.
Naquele momento, Ethan quis sumir ou se transformar em outra pessoa. A vergonha o alcançou tão rápido quanto aquelas malditas orbes verdes como esmeraldas.
As pupilas contraídas evidenciaram o susto que o professor levara ao encará-lo. O loiro engoliu em seco, desviando sua atenção para o quadro novamente, simplesmente fingindo que não o conhecia. E...ah, ele conhecia! Conhecia muito bem!"Mais rápido"—Bom dia filhote! - Luísa, sua belíssima mãe, o cumprimentara. Ela fazia a linha de mulher de classe alta, totalmente socialite."Erick, eu vou..."—Você acordou tarde hoje...quase perdeu a hora. - Comentou em um bom humor atípico, comendo umas torradinhas com pat&e
Eram sete e meia da noite, a boatePeccatoainda não estava com nem um terço da capacidade de gente que era acostumada, mas os dançarinos e outros empregados andavam pelo ambiente de cores escuras e amargasàtodo vapor, preparando-se para a noitada.—E aí, curtindo uma fossa? -Anthonny, o cara que dividia o bar com Ethan, perguntou. O mesmo que o havia visto com Erick e serviu as cervejas para eles.—Ah, Tonny...eu me acho um idiota, sinceramente. - Confessou o moreno, com a cabe&c
É óbvio que eu me senti um completo lixo por ter agido daquela forma com Ethan, e isso ficou na minha cabeça pordias.Dias esses que o garoto sequer pisou na universidade.Quando Lilly, a sua superior, veio falar sobre o desempenho dos alunos, no fundo o professor ficou aliviado por poder ter uma desculpa de encontrá-lo e tentar limpar toda aquela bagunça.—Até quando você vai deixar de ir na faculdade por causa daquele otário? - Alex chegara de supetão no amigo, que levou umsu
Por quê tinha perdido o controle daquela forma?Porquênão conseguia se manter racional e distante daquele garoto?Enquanto a água gelada escorria por seu corpo, ele tentou esfriar a cabeça e se permitir ter um minuto de paz: antes mesmo de chegar em casa, sua mãe fez questão de enviar trinta mensagens o lembrando de uma "reunião familiar" que a mesma tinha organizado, reclamando sobre seu atraso de bônus.Já fazia uma semana que Luísa mantinha total segredo, e ele até tentou obter informações privilegiadas, m
—Ethan, Ethan...pare de brincar com fogo. - Alex disse, sentado em sua frente no bar, saboreando um drinque que algum cliente interessado em sua performance anterior havia o pagado.—Mas é justamente isso o que eu quero. - Soltou entre uma risada gostosa de se ouvir, atendendo o próximo pedido.—Você quem sabe, só não quero te ver igual aquele dia que te encontrei na sala do chefe. - O amigo murmurou, mordendo a azeitona dentro da taça. Quando chegara à faculdade, a primeira coisa que Ethan fizera fora procurar o seu professor naquela manhã tão confusa e agitada - se equivalendo ao metrô de São Paulo mais do que lotado, típico das malditas segundas-feiras.Todos receberam uma mensagem sobre a verdadeira inquisição que aconteceria naquele dia, então a faculdade inteira parecia um caos, com os alunos conversando freneticamente, achando graça ou até mesmo sendo sensatos ao ponto de estarem preocupados com quem quer que fosse revelado hoje.Ele deve estar pirando.Pensou enquanto caminhava pelos corredores, cumprimentando quem passava e o reconhecia. Em pouco tempo, su8 - EXPOSIÇÃO
—Covarde! - Alex gritou no auge de sua ira, jogando o controle doPlaystation 2no sofá, esfregando o rosto entre as mãos.—Como ele ousa atirar em mim pelas costas? Isso é ridículo!—Ei, não precisa de tanto... - Ethan se pronunciou entre uma mordida e outra no misto quente, se encolhendo no sofá quando ostriperparou e o encarou incrédulo.
Faziam quatro dias desde o ocorrido na sala de aula, desde então Ethan vivia tentando evitar ao máximo cruzar com Erick nos corredores, e era o primeiro a deixar suas aulas quando estas acabavam.E é por isso, senhoras e senhores, que vocês não devem se envolver com ninguém da mesma faculdade.Distraído sobre a rotina que teria naquele dia corrido e bagunçado na boate - já que Alex o ligara para dizer que o gerente havia sido trocado, assim como alguns gestores do local - Ethan sequer sentiu quando alguém tocou o espaço e