|1| TRILHAS

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"O coração humano esconde tesouros,

Em segredo guardados, em silêncio selados,

Os pensamentos, as esperanças, os sonhos, os prazeres,

Seus encantos quebrariam, se revelados".

Charlotte Brontë_ "Evening Solace".

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WESTWOOD_ LOS ANGELES.

UMA SEMANA ANTES...

07:35 pm_

      Manhatan pode ser muita coisa, menos misteriosa ou bombada em sua rotina adjacente de grande cidade em movimento cercada por água, ainda assim, eu me pegava sentindo falta de minha antiga e velha cidade ao caminhar pelas ruas aglomeradas de Westwood e ao constratar minhas duas realidades por de trás de uma linha imaginária paralela. De um lado, o conforto simples do Maine, a adolescência humilde e inocente sendo desfrutada no fliperama e em encontros ocasionais com os amigos nos velhos parques de diversões que em todos os anos, sempre precisavam de sérios reparos.

Do outro lado, a vida caótica e exacerbada das pilhas e pilhas de problemas e passes errados a grande Green Coast, o acúmulo de trabalhos não concluídos da faculdade recém iniciada e o desalento de um pequeno apartamento dividido com uma garota que era provavelmente o símbolo agregado e multiplicado de toda a loucura existente em todos os planetas desta galáxia.

Mas nas palavras de minha mãe: Eu precisava crescer e conhecer o mundo. Era sua forma delicada de me dar um belo chute no traseiro com direito a reprise e dizer: "Já está na hora de arranjar um namorado e ter sua vida, Srta. Happer!". E bem, que outro lugar melhor para mandar uma filha sem namorado do que para a faculdade desastrosamente populosa University

of Califórnia*, LA, contando com seus 43.239 mil estudantes?? Não era como se eu não quisesse crescer, mas o processo em si tinha toda essa coisa negativa de abrir os olhos e perceber que na realidade, não havia nenhum brilho intenso caindo do céu como a Disney me fizera acreditar por muitos anos seguidos, ou que meu Príncipe Encantando não estava a caminho, galopando num belo corcel branco para me salvar das contas mensais, que chegavam a minha caixa de correio quer eu tivesse dinheiro ou não.

Ou da fila para comprar um simples cappuccino com creme e açúcar enquanto a névoa peçonhenta e preguiçosa ainda se desprendia mansamente da grama coberta de orvalho lá fora, marchando em direção às nuvens em seixos transparentes que fisgavam a energia pulsante dos primeiros raios solares daquela manhã com gosto de torrão de açúcar. Geralmente, o gosto de Westwood era esse. Como se um algodão doce gigante que tivesse sido chamuscado numa fogueira ao ar livre, fazendo o cheiro agridoce se propagar no ar.

Bem, eu era uma simples estudante usando um vestido opaco e provavelmente sem marca ou etiqueta e bem cortado por cima de meias arrastão numa maré incandescente de ternos, gravatas skinny, coletes caros, sapatos de marca, chapéus fedora e abotoaduras Paul Smith, Burberry e Lanvin. O que mais eu podia fazer a não ser esperar ser notada para finalmente ter minha esperada e merecida porção de cafeína do dia?

O apartamento que eu dividia com Drushilla Lee não tinha exatamente armários ou uma geladeira farta representando os pontos positivos gastronômicos americanos, o que dizia que nosso café tinha que ser comprado no meio do caminho, o dever de pescar a atenção das atendentes atarefadas dos expressos mais vazios que ladeavam o trajeto recaindo sobre meus ombros enquanto minha colega de apartamento se empoleirava numa das mesas com o celular dependurado numa orelha, conversando com o namorado perfeito como se eles não tivessem se visto na noite anterior e como se eles não fossem se ver em apenas alguns minutos.

O amor era uma constante interessante quando comparado a outros sentimentos primitivos da humanidade. Ele te tornava meio egoísta, te privando de reconhecer que sua melhor amiga estava se virando sozinha ultimamente com os deveres diários enquanto você passava todo o tempo disponível tagarelando no celular.

É por isso que eu estou bem sozinha...

Não ter um namorado com dezessete anos não me parecia um defeito totalmente desvinculado para uma garota que não tinha tempo nem para amarrar os cadarços dos tênis direito ― quando lembrava de amarrar ―, tendo sempre que particionar o tempo entre a faculdade, atividades extra curriculares, limpezas obrigatoriamente diárias no apartamento que curiosamente era um atrativo nato para pequenos animais que se achavam no direito de torná-lo sua casa ― talvez em consequência da bagunça que Drushilla era incrivelmente capaz de fazer com apenas alguns livros e uma espátula ―, e entre o emprego no Queen's, a única lanchonete-café na Tenth Avênue North que não possuía um grande fluxo de clientes e nem era famosa por não possuir pelo menos meia dúzias de máquinas Caça Níqueis. Ou um serviço descente de Karaokê, mesmo que eu achasse que o real problema se devesse ao horrível som ambiente, que era uma ridícula orquestra animal recriando as curiosidades sonoras da vida selvagem.

― Sabe querida, essa coisa não sociável e manufaturada tecnologicamente que Los Angeles se tornou precisa de um pequeno lembrete que a natureza ainda quer se conectar conosco. ― Era o argumento que Meena, minha chefe, sempre usava como desculpa.

Por mais de dez vezes eu havia rebatido, murmurando que já haviam suficientes zoológicos em todos os distritos de Los Angeles para isso.

Mas eu precisava de meu emprego, e a única coisa que eu precisava fazer, era servir as mesas. A degradação social que recaísse sobre ela, como dona do local. Fim do Drama Jaime E o Som Ambiente de Macacos _parte 1.

― Você já foi atendida, moça? ― Alguém finalmente notou minha existência.

Quando voltei vitoriosa com dois copos de cappuccino expresso com creme, açúcar e canela, Drushilla me enviou aquele olhar amável e agradecido que me fazia ter a sensação que eu havia acabado de salvar o mundo. Ela era, provavelmente, meu conceito de beleza global aos dezessete: alta, curvilínea, com longas madeixas castanhas completamente lisas, olhos amendoados cor de pera, e uma e uma boca ridiculamente bela com contornos em formato de coração. Algumas pessoas achavam que o castanho era sem graça para cabelos, mas os de Drull eram diferentes. Possuíam tons que iam do terracota ao café, algumas mechas mais escuras se mesclando com as mais claras e parecendo sugar o brilho e a claridade ambiente de todos os lugares em que ela entrava. Era estranho pensar sobre isso, especialmente sobre cabelos, mas eu sempre percebia essa peculiaridade neles, a mesma que fluía livremente por seus olhos.

― Hum... ― ela farejou o ar, guardando o celular no bolso e fechando os olhos de forma prazerosa ― Canela! Eu te amo, Jamie! Realmente amo. Acho que vou me casar com você!

Empurrei o copo de isopor em sua direção, o arrastando pelo tampo da mesa com um guicho enquanto despencava do outro lado.

― Algo me diz que Tyler pode acabar não gostando muita disso. A ideia de te dividir conjugalmente comigo, quero dizer.

Ele verificou o café com um misto de prazer nos olhos e satisfação.

― Ele é um bom namorado. ― era tudo que ela dizia sobre o assunto em todas as vezes que a conversa inevitávelmente recaía sobre sua vida amorosa, já que ela era a única de nós duas que tinha uma.

Para alguém que se mostrava incapaz de ficar dele mesmo pelo celular, era algo razoavelmente inóspito e que fazia pouco sentido. Talvez Drull apenas não gostasse de dividir os pontos suicidas de sua vida amorosa. E eu meio que agradecia por isso.

Drull havia vindo de algum lugar da Califórnia, uma pequena cidade chamada East Bay, e seu ar californiano se chocara de forma impactante com meus preceitos nova iorquinos na primeira vez que nos vimos. Para alguém que se conhecera na biblioteca de uma faculdade, nós duas tínhamos uma amizade profunda e pouco comum para duas adolescentes tão diferentes. Em menos de um mês, Drull já havia ultrapassado todas as minhas barreiras, se tornando o quê eu tinha de mais próxima a uma irmã. Nem Johanna, minha irmã de sangue que havia ficado em Nova York com minha família era tão próxima a mim. Nem Johanna havia entendido meu Drama Do Som Ambiente de Macacos, mas Drull sim. Era estranha essa conexão que eu sentia com ela, como se estivéssemos interligadas por um mesmo fio em meio a um emaranhado de outros fios dentro de uma placa mãe.

― Se não irmos agora, vamos chegar atrasadas... ― eu guichei, depois de uma olhada ocasional no relógio de porcelana familiar em forma de xícara acima de uma das máquinas de expresso.

Ela gesticulou um aceno qualquer com a mão, bebericando seu café satisfeita enquanto meus olhos escaneavam sua beleza exótica mais uma vez no dia. As maças altas do rosto lhe davam um ar refinado de traços quase italianos, combinando com o queixo levemente redondo. Drull tinha descendência espanhola, impregnada em todos os seus traços morenos e mestiços esculpidos por baixo da pele latina e impecável. Drull tinha o tipo de beleza que fazia você querer parar e olhar melhor, uma vez, duas, três, até que as cores de seu cabelo castanho se confundissem em suas órbitas, trocando de forma ilusória em seus diversos tons enquanto você não conseguia desviar o olhar.

― Drull?

― Huh?

― Seu cabelo... está mudando de cor.

A frase havia saído meio grogue, meio hipnotizada, meio patética.

Por um momento, meus olhos captaram Drull se engasgando com o líquido quente e açucarado, para logo em seguida, ela cair na gargalhada como se eu tivesse contado uma piada ruim, que era tão ruim, a ponto de ser engraçada.

― Certo, hora de irmos... ― ela se levantou, me puxando com ela para o mar grudento e indistinto de pessoas do lado de fora.

― É sério... eu juro que ele fez isso. Mudou de cor...

― Sim, e o céu está se abrindo e unicórnios coloridos estão cantando em couro "Aleluia!". Espere! Isso soa mais como "Diamonds", da Rhianna, você não acha?

Na realidade, ela estava cantando "Diamonds", do outro lado da rua, sua voz cristalizada e ecoante soando das caixas de som improvisadas da carrocinha de hot-dog do os lado da rua. Minha língua formigou, se acentuando e sacudindo com o gosto de pimenta verde que esperava por mim a menos de três metros de distância, mas não tínhamos dinheiro para isso naquele dia, de forma que me obriguei a calar os lamentos traumáticos de meu sistema Alerta gastronômico que implorava pelo petisco. Não era como se eu ligasse sobre os boatos das carrocinhas de rua. Era mais como se eu me importasse de forma mais verídica e preferencial com a saliva se acumulando nos cantos de minha boca ao cogitar comer algo gorduroso e apimentado.

Meu pé direito tropeçou no esquerdo, o ângulo estranho que meu tronco formou em relação ao chão de repente me sugando de volta para a realidade.

A realidade que eu completamente havia me esquecido do assunto que estivera debatendo com Drull há apenas alguns segundos atrás, como se um buraco tivesse se esticado em meu cérebro, sugando as lembranças para dentro dele e embaraçando a fortaleza cautelosa de minhas lacunas. Não era a primeira vez que isso acontecia. Era como uma névoa entrando para os pulmões, trancando as vias respiratórias e te impedindo de respirar da forma adequada para suprir o corpo com oxigênio.

Não que eu não achasse que o desejo por um bom hot-dog apimentado não tivesse o poder para tanto, mas do ponto de vista unilateral, o acaso me pareceu patético.

É o monóxido de carbono se acumulando no cérebro e em todos os esconderijos secretos dos pulmões... ― apaziguei a mim mesma enquanto seguia Drull para o velho Fiat prata fosco que se encontrava estacionado ao lado do meio fio amarelo da via. Era impossível cruzar Westwood de um lado ao outro naquelas horas da manhã a pé, ou sem um GPS digno de duas imigrantes em Los Angeles. Drull havia aparecido com o velho motor no apartamento numa noite qualquer, dizendo que o havia ganhado em uma aposta no Carteados_ um cassino ilegal em andamento num beco escuro que nem eu mesma conhecia. Eu ainda encontrava argumentos para desacreditar de sua explicação simples por ser apenas boa demais nos jogos noturnos das noites em Los Angeles, então, eu apenas não dizia nada sobre sua sorte hedionda em ganhar um carro numa aposta. Eu gostaria que as pessoas apostassem mais hot-dogs com ela.

Em algum momento em que eu estivesse junto, aliás.

Apesar de pequeno, ou de parecer um pirulito achatado, ele era confortável. Não tinha um dos melhores roncos que eu já havia ouvido, mas nunca havia nos deixado na mão, até onde minha mente conseguia lembrar. E bem, não deixava de ser um carro, o que camuflava seus defeitos mais óbvios. Que eram muitos.

Encontrar uma vaga no estacionamento da UCLA devia ser o mesmo que encontrar uma vaga num show dos Rolling Stones... ou na garagem de Bruce Wayne. O campus apinhalado de belos modelos diminuía de forma aparente nossa presença no ambiente, e ás vezes, eu achava que gostava disso, ou até preferia, assim como Drull. Em meio a uma maré tão densa e diversificada de alunos, não éramos exatamente famosas, mesmo que Drushilla tivesse o dom aparentemente notável de despertar atenções profundas por onde quer que passasse.

― Dios... simplesmente odeio isso! ― ela costumava dizer, quase se encolhendo ao meu lado sempre que isso acontecia, seus cabelos e olhos faiscando de maneiras estranhas, lembrando a um pinheiro cheio de luzes com estática, enevoado pela neblina matinal se desprendendo da neve.

Andar com Drull era meio como traçar trilhas diferentes todos os dias, mesmo que nossa rotina obviamente não fosse muito diferente em quesitos diários. Ás vezes, eu me perguntava se as outras pessoas também se enraizavam nessas sensações quando ela estava por perto. A sensação de viver algo diferente em situações já familiares, a sensação se ver algo diferente toda vez que se olhava em seus olhos, ou a sensação da névoa encobrindo sua mente em alguns momentos, arrastando para longe algumas lembranças passageiras que davam a impressão de apenas não serem mais tão importantes ou relevantes.

Drull era uma trilha que eu sempre tentava percorrer, uma enorme montanha que eu sempre persistia em escalar, sem nunca conseguir enxergar o seu pico. Eu apenas tinha aquela visão de sua extensão, mas nenhum avanço real quanto a chegar no topo.

E ás vezes, isso era frustrante.

Quando o Fiat deslizou por uma das vagas mais reclusas e apertadas que costeavam o pequeno canal salpicado de grandes salgueiros reclinados, ouvi claramente seu suspiro. Mas eu rapidamente captei seu sentido, como geralmente conseguia captar suas mudanças de expressões. Era um suspiro pragmático, como se algo estivesse espetando sua pele, cutucando algum membro ou simplesmente enviando sua paz interior a baixo.

Foi apenas um relance, longo o suficiente para que meus olhos se erguessem de forma automática por cima do capô fosco do carro, meu olhar rapidamente sendo sugado para o outro lado do estacionamento como se um enorme imã estivesse o puxando como uma maré silenciosa arrastando a areia da praia, forte e aterradora, não deixando escolhas por onde passava.

E por cima das muitas cabeças que circulavam, uma em especial me chamou a atenção.

Não por algum motivo exorbitante ou extrassensorial, mas porque a cabeça em si estava voltada exatamente na minha direção, intensos olhos violeta me fitando por debaixo de grossas sobrancelhas escuras no vai e vem tremulante e incerto de corpos adolescentes se movendo entre nós.

Eu fui sugada em direção a algo, eu fui rasgada de dentro para fora por alguma sensação incógnita de desespero que podia ser traduzida em milhares de formas diferentes, e ao mesmo tempo, eu fui embalada nos acordes silenciosos do vento em sua direção, voltando a mim, vivendo aqueles olhos e respirando seu oxigênio.

Pisquei.

Drull endureceu do meu lado. Uma porta se abriu, e mais uma vez o buraco em meu cérebro sugou essas recordações, a névoa encobrindo meus sentidos e se infiltrando por minhas terminações mais íntimas.

E não havia mais nada.

Meus olhos varreram novamente o perímetro esverdeado, procurando algo. O que eu estava procurando mesmo?

― Estamos atrasadas! ― Drushilla gritou de fora do carro, segurando minha porta aberta ― Vamos, Jamie! O que você está esperando? Um pedido formal?

Eu sorri para ela, sendo rebocada de dentro do carro enquanto ela corria por cima da mureta de pedra que cincundava a estátua do Joe Bruin Bear* vestindo seus calções azul e ouro.

― Veja! Eu seria algo mais interessante de se olhar do que esse urso sem graça!

Eu ri quando ela executou um salto estranho, caindo em cima de um pobre garoto que cortava caminho por ali no exato momento errado.

Exalei, surpresa, quando Drull desenterrou um "Opa!" de sua garganta, se levantando e ajudando o garoto a se levantar. Ele era magro, usava um óculos com armação estilo Ray-ban e um poluver escocês. Era muito branco, mas tinha um cabelo legal, jogado nas direções certas que o diferenciavam de um nerd sem estilo ou com um corte de cabelo horrível.

― Sua maluca. M-A-L-U-C-A. ― O cara murmurou, ajeitando seus óculos e empilhando os livros que caíram no chão ― Quem você estava tentando imitar? A tartaruga ninja? Deixa eu dizer: não funcionou. Tartarugas ninjas não tentam destroncar o pescoço de estudantes inocentes. E A Paramount Pictures* jamais iria te contratar. Só disse.

Rindo, eu me aproximei da vítima.

Eu gostei dele. Imediatamente. O que era incomum sobre mim.

― Desculpe, Drushilla... ― eu endireitei a posição social de minha amiga, ajudando o carinha legal a juntar seus livros, me ajoelhando à sua frente ― Ela meio que está totalmente dopada de cafeína pela manhã, então sim: seus reflexos são meio que... mais fatais do que o dos outros adolescentes pela manhã. A culpa não é dela, totalmente. É daquele cappuccino horrivelmente delicioso...

Drushilla cruzou os braços, fechando a cara numa carranca inabalável enquanto o carinha legal sorria para mim, ainda de forma tímida e incerta, mas sincera. Seus nariz era longo, assim como a testa, e ele tinha aqueles lábios finos e adoráveis que te faziam lembrar de algo úmido e adocicado, fofo. Algo como goma de mascar.

― Bem, eu percebi isso. ― ele disse, se levantando. Ele analisou Drushilla, e depois a mim, desconfiado ― Vocês... são irmãs?

Talvez ele nos conhecesse e nos visse sempre juntas. E talvez essa fosse sua forma de dizer isso.

― Sim! ― Drull passou a mão pela minha cintura repentinamente, lançando ao carinha legal aquela sua expressão de desafio.

Ele apenas levantou suas sobrancelhas, claramente não convencido com aquela resposta, ainda mais depois de comparar a fisionomia atraente e surreal de Drull com a minha: simples cabelos escuros emaranhados e olhos cinzentos, como num dia de céu nublado. Ou um céu até legal, mas visto por de trás de um denso nevoeiro.

― De sangue? ― ele persistiu.

― Não, ― Drull facilmente entregou os pontos ― Mas se ela precisar do meu, eu dou. Assim como se ela precisar do de alguém, eu também tiro.

Ele se surpreendeu, abrindo um lago sorriso enquanto ponderava que aquilo podia ter soado como uma ameaça, e eu rapidamente captei o divertimento de Drull, através daquela linha preferencial e única que nos ligava. O fio mandando informações criptografadas que minha frame rapidamente decodificava e convertia em linguagem informal.

― Ok, eu entendi. Sou Esh.

― Jaime. E a tartaruga ninja que provavelmente seria recusada pela Paramount é Drushilla.

― Drushilla ― ele provou a sinfonia do nome, parecendo se agradar do gosto das sílabas ― Legal conhecer vocês, suas malucas. Nós nos vemos por aí...

E Esh se foi, rindo enquanto Drull cutucava minhas costelas com a ponta ridiculamente precisa do cotovelo.

― As estatísticas afirmam que nós arranjamos um belo amigo gay. E isso é legal, porque ele acha que nos somos malucas, e sabe o que isso quer dizer? Só um maluco reconhece outro quando ele cai por cima de você no campus da faculdade.

Pavor apertou meus ombros, e eu lhe enviei um olhar recriminador. Sobre a parte questionável de sua certeza sobre a preferência sexual de Esh.

― Como você pode saber disso?

Ela deu de ombros, seguindo na minha frente como se a resposta não fosse realmente importante.

― Eu simplesmente sei.

Eu a segui.

Drull era uma Trilha que sempre conhecia em que fim ela iria desembocar, em cada percurso diferente, e tudo que eu podia fazer, era concordar com ela e seguir à sua sombra, porque ela conhecia o caminho. Esh era legal, e de forma sugestiva, nosso amigo.

Yep.

Eu comecei gostando desse dia, em particular, admirando a peculiaridade dessa nova trilha, mesmo que tivesse certeza de que havia alguma coisa faltando.

Alguma coisa que me fazia engolir, me dizendo que eu havia perdido um pedaço importante do mundo.

Um buraco na ponta esquerda de meu peito.

*

*University

of Califórnia, Los Angeles: UCLA, Univerdade da Califórnia Em Los Angeles.

*Joe Bruin Bear: Mascote oficial da UCLA.

*Paramount Pictures: No original, "Paramount Pictures Studios", indústria cinematográfica mais antiga de Hollywood ainda em funcionamento na região.

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