Foi difícil tirar a Sofia da cabeça nos dias seguintes, ela costumava pontuar meus pensamentos enquanto eu trabalhava e quando eu me fechava sozinho no quarto em casa.
Confesso que muitas vezes me lembrava dela nua na beira da lagoa com uma onda de culpa, outras vezes me sentia febril no meio da noite recordando a sensação que tivera no carro, e todo meu corpo se arrepiava, como se eu ainda estivesse lá dentro, sentindo-a tão perto de mim. Quinze dias depois, eu a vi entrar no mercado quando estava colocando os amaciantes nas prateleiras. Fiquei parado por alguns instantes, observando entre os produtos com o coração acelerado, enquanto os olhos dela varriam o lugar como se procurasse algo específico. &nQuando Diogo sai do banheiro, ainda estou sentada no mesmo lugar. Posso sentir o cheiro de xampu e sabonete que irradiam do seu corpo com uma onda de nostalgia. Agora ele parece um pouco mais desperto, mas ainda assim impaciente. Não consigo conter um sorriso com nostalgia. - Olha, preciso comer alguma coisa. – diz colocando a carteira no bolso – Não quero nenhum de nós cozinhando, então eu vou buscar alguma coisa. Apenas balanço a cabeça concordando e ele sai sem nem mesmo trocarmos um olhar. Escuto o som do carro se afastando e depois o silêncio absoluto. Logo em seguida uma chuva fina começ
Depois daquela noite desastrosa passei a encontrar Sofia com certa regularidade. Íamos ver alguns filmes, comer coisas por aí – jamais em locais sofisticados novamente – ou apenas saíamos para jogar conversa fora. - E seus pais? – perguntei, cansado de esperar que ela falasse alguma coisa, enquanto estávamos sentados num banco qualquer de uma praça deserta. Eu gostava de ficar em locais mais desertos quando estava com ela, me passava ideia de que menos pessoas poderiam julgar nossa proximidade. - Divórcio. – ela mexia com um dedo numa mecha do cabelo – Eu moro com a minha mãe, que está sempre por aí fazendo sabe-se lá o que. Ela vi
Diogo está muito quieto deitado ao meu lado, não consigo nem mesmo ouvir sua respiração, apenas a tempestade que está caindo lá fora. É quase como se não estivéssemos mesmo aqui, como se tudo isso fosse um sonho. Eu acreditaria nisso, se não estivesse encaixada entre seu peito e seu braço, sentindo as batidas de seu coração se normalizando. - Sofia. – ele diz meu nome com cansaço, colocando o outro braço atrás da cabeça, e eu observo os músculos se contraindo. – Foi para isso que você me trouxe de volta para esse lugar? - Não. – quase rio, nem nos meus maiores sonhos eu imagin
- Você quer dizer que está a fim dela? – Ester, caixa do mercado e uma antiga amiga minha, pergunta. - Não foi isso que eu disse. – encosto o quadril no balcão ao lado dela. É um horário de pouco movimento e estamos quase sozinhos. - O que você quis dizer? – ela olha ao redor, checando se alguém pode nos ouvir. - Eu já fui a fim de algumas garotas. – digo, sem saber como dizer o que quero dizer. - Eu sei. – Ester retruca e gesticula para que eu prossiga. Somos amigos desde a escola, então ela
Comemos lado a lado no sofá, muito mais próximos dessa vez, com meu celular vibrando em intervalos com as mensagens do meu filho. Diogo ignora a maior parte das mensagens, sem fazer nenhum comentário, mas sei que me observa respondendo. - Você deixou de comer carne logo depois... – falo, sem completar a frase. - Vim na cabana uma vez. – confidencia – Depois. – Diogo dá um meio sorriso triste e seus olhos encontram os meus. – Encontrei um gato machucado, acredito que tinha sido abandonado. - Você ficou com ele? – pergunto curiosa.&n
- Feliz Natal. – diz Daniela entrando em casa, o cabelo grudando no pescoço suado. Estou sentado no nosso sofá esperando para almoçar com ela, que logo terá que voltar ao trabalho. O dia parece extremamente longo quando todo mundo ao redor está reunido com a família, e você sozinho em casa. - Feliz Natal. – me levanto, começando a esquentar as coisas que já eu havia deixado prontas. Nossa rotina de Natal quase nunca incluía os dois livres de trabalho. Comemos em silêncio, o cansaço dela bem claro pelas olheiras fundas e os cabelos sem brilho algum. Sinto uma tristeza
Diogo apenas me encara, os olhos firmes nos meus, sem realmente acreditar no que supostamente estou dizendo. Ele parece sentir que pode estar dentro de um sonho ou escutando coisas demais. Engulo duas vezes antes que finalmente saia o que eu precisava dizer esse tempo todo: - Ele é seu filho, Diogo. Ele se estica, como se tivesse tomado um choque, depois se levanta e se afasta de mim. Por um tempo, que me parece longo demais, nenhum de nós fala. Observo suas costas tensas, desejando imensamente poder saber o que se passa dentro dos seus pensamentos. - Como assim? – ele vira de frente para mim e percebo que seus olhos estão cheios de
Depois daquela primeira noite, fiquei muito mais confiante com nosso relacionamento e os receios foram varridos da minha cabeça. Sentia que estava mais ligado à Sofia conforme repetíamos a dose e eu ganhava mais experiência. Era como se com o aumento da intimidade, nosso laço fosse ainda mais forte. Começamos a ficar mais tempo na cabana, vivendo no nosso próprio tempo e espaço. Tudo que queríamos era estar sozinhos nos braços um do outro e esquecer todo o resto. - Então quer dizer que agora está tudo sob controle? – Ester me jogou a pergunta uma vez, batucando no balcão, tentando parecer casual e falhando completamente.&nb