- Feliz Natal. – diz Daniela entrando em casa, o cabelo grudando no pescoço suado.
Estou sentado no nosso sofá esperando para almoçar com ela, que logo terá que voltar ao trabalho. O dia parece extremamente longo quando todo mundo ao redor está reunido com a família, e você sozinho em casa. - Feliz Natal. – me levanto, começando a esquentar as coisas que já eu havia deixado prontas. Nossa rotina de Natal quase nunca incluía os dois livres de trabalho. Comemos em silêncio, o cansaço dela bem claro pelas olheiras fundas e os cabelos sem brilho algum. Sinto uma tristezaDiogo apenas me encara, os olhos firmes nos meus, sem realmente acreditar no que supostamente estou dizendo. Ele parece sentir que pode estar dentro de um sonho ou escutando coisas demais. Engulo duas vezes antes que finalmente saia o que eu precisava dizer esse tempo todo: - Ele é seu filho, Diogo. Ele se estica, como se tivesse tomado um choque, depois se levanta e se afasta de mim. Por um tempo, que me parece longo demais, nenhum de nós fala. Observo suas costas tensas, desejando imensamente poder saber o que se passa dentro dos seus pensamentos. - Como assim? – ele vira de frente para mim e percebo que seus olhos estão cheios de
Depois daquela primeira noite, fiquei muito mais confiante com nosso relacionamento e os receios foram varridos da minha cabeça. Sentia que estava mais ligado à Sofia conforme repetíamos a dose e eu ganhava mais experiência. Era como se com o aumento da intimidade, nosso laço fosse ainda mais forte. Começamos a ficar mais tempo na cabana, vivendo no nosso próprio tempo e espaço. Tudo que queríamos era estar sozinhos nos braços um do outro e esquecer todo o resto. - Então quer dizer que agora está tudo sob controle? – Ester me jogou a pergunta uma vez, batucando no balcão, tentando parecer casual e falhando completamente.&nb
- Ele parece comigo ou com você? - Diogo pergunta acariciando minha mão enquanto nos aninhamos no sofá. É a sua primeira curiosidade sobre o filho que acabou de saber que tem. - Com... – sorrio, hesitando – Na verdade, ele é uma mistura. O gênio é todo seu, na verdade. – ele sorri com isso – Mas a cor do cabelo é minha. – meu tom sai involuntariamente orgulhoso – Os olhos são seus. Nos encaramos por alguns segundos e consigo ver a dor em seus olhos, uma tristeza que talvez eu nunca consiga resolver. Como eu disse, algumas coisas não podem ser consertadas depois que se quebram. - Eu queria muito ter feito parte da vida dele, Sof
Resolvi levar Sofia para conhecer Daniela, num dos raros momentos em que minha irmã estava em casa à noite, porque por mais que eu gostasse do nosso próprio mundo, minha irmã sempre estaria comigo. Ela pareceu tensa em ter alguém em casa e tentou parecer o mais apresentável possível, até mesmo usando um pouco de maquiagem. - Então, Sofia. – Daniela disse enquanto comíamos um bolo que ela havia preparado especialmente para a noite. – O Diogo disse que você pensa em fazer faculdade? Eu estava feliz que as duas estivessem conversando agradavelmente até agora, não que eu esperasse que fossem ser amigas mas talvez Daniela parasse de s
Nos acomodamos no sofá, lado a lado como eu pedi, e respiro fundo algumas vezes para organizar meus pensamentos e ter a coragem de dizer tudo que é necessário. - Quando você soube? – Diogo logo pergunta. Ele está com os cotovelos apoiados nas coxas e a cabeça entre as mãos. Seus cabelos estão completamente despenteados. - Minha menstruação atrasou e eu comprei um teste. – conto lentamente – Você tinha ido fazer aquela entrevista de trabalho e ia passar o dia todo fora. Lembra? - Lembro. – ele me olha – Aquela loja de materiais de construção n
Desci do ônibus completamente exausto depois de passar o dia numa frustrante entrevista numa loja de materiais de construção em outra cidade. Avistei Sofia sentada num dos bancos e senti uma suave pontada de ânimo. Era só do que eu precisava para meu dia melhorar consideravelmente. - Ei. – sorri, me aproximando, mas ela não sorriu de volta. Nos abraçamos um pouco além do costume e um pouco mais apertado do que o habitual. Algo dentro de mim se agitou, como um alarme soando. – O que foi? - Diogo, eu estou me mudando essa noit
- Foi horrível o que ela fez com você. – Diogo me diz enquanto dirige. Resolvemos comer em algum restaurante na cidade. Fazer algo leve depois de tanta pressão juntos dentro da cabana. – E comigo também. – acrescenta com rancor, sem tirar os olhos da estrada chuvosa. - Queria proteger você. – tento amenizar, porque realmente sei que Daniela é tudo o que restou da família dele. Não que eu não tenha certa mágoa dela, mas ainda não quero dizer nada que possa fazer Diogo odiá-la mais do que nesse momento.&
- Ele está ansioso por isso. – Sofia responde com um sorriso que me recorda os velhos tempos. Uma onda de nervosismo passa por mim. E se ele não gostar de mim? O que se pode sentir por um pai que nunca esteve perto? Ele consegue entender porque eu nunca fiz nada por ele? - Quando? – pergunto depois que pagamos a conta e saímos para o ar mais gelado da noite, devido à chuva de antes. - Se quiser, podemos ir agora. Ele está esperando desde ontem por isso. – nos encaramos por um instante, em completo silêncio – Se você quiser. – ela repete. - Eu quero. – tento falar firme, mas min