- Ele parece comigo ou com você? - Diogo pergunta acariciando minha mão enquanto nos aninhamos no sofá. É a sua primeira curiosidade sobre o filho que acabou de saber que tem.
- Com... – sorrio, hesitando – Na verdade, ele é uma mistura. O gênio é todo seu, na verdade. – ele sorri com isso – Mas a cor do cabelo é minha. – meu tom sai involuntariamente orgulhoso – Os olhos são seus. Nos encaramos por alguns segundos e consigo ver a dor em seus olhos, uma tristeza que talvez eu nunca consiga resolver. Como eu disse, algumas coisas não podem ser consertadas depois que se quebram. - Eu queria muito ter feito parte da vida dele, SofResolvi levar Sofia para conhecer Daniela, num dos raros momentos em que minha irmã estava em casa à noite, porque por mais que eu gostasse do nosso próprio mundo, minha irmã sempre estaria comigo. Ela pareceu tensa em ter alguém em casa e tentou parecer o mais apresentável possível, até mesmo usando um pouco de maquiagem. - Então, Sofia. – Daniela disse enquanto comíamos um bolo que ela havia preparado especialmente para a noite. – O Diogo disse que você pensa em fazer faculdade? Eu estava feliz que as duas estivessem conversando agradavelmente até agora, não que eu esperasse que fossem ser amigas mas talvez Daniela parasse de s
Nos acomodamos no sofá, lado a lado como eu pedi, e respiro fundo algumas vezes para organizar meus pensamentos e ter a coragem de dizer tudo que é necessário. - Quando você soube? – Diogo logo pergunta. Ele está com os cotovelos apoiados nas coxas e a cabeça entre as mãos. Seus cabelos estão completamente despenteados. - Minha menstruação atrasou e eu comprei um teste. – conto lentamente – Você tinha ido fazer aquela entrevista de trabalho e ia passar o dia todo fora. Lembra? - Lembro. – ele me olha – Aquela loja de materiais de construção n
Desci do ônibus completamente exausto depois de passar o dia numa frustrante entrevista numa loja de materiais de construção em outra cidade. Avistei Sofia sentada num dos bancos e senti uma suave pontada de ânimo. Era só do que eu precisava para meu dia melhorar consideravelmente. - Ei. – sorri, me aproximando, mas ela não sorriu de volta. Nos abraçamos um pouco além do costume e um pouco mais apertado do que o habitual. Algo dentro de mim se agitou, como um alarme soando. – O que foi? - Diogo, eu estou me mudando essa noit
- Foi horrível o que ela fez com você. – Diogo me diz enquanto dirige. Resolvemos comer em algum restaurante na cidade. Fazer algo leve depois de tanta pressão juntos dentro da cabana. – E comigo também. – acrescenta com rancor, sem tirar os olhos da estrada chuvosa. - Queria proteger você. – tento amenizar, porque realmente sei que Daniela é tudo o que restou da família dele. Não que eu não tenha certa mágoa dela, mas ainda não quero dizer nada que possa fazer Diogo odiá-la mais do que nesse momento.&
- Ele está ansioso por isso. – Sofia responde com um sorriso que me recorda os velhos tempos. Uma onda de nervosismo passa por mim. E se ele não gostar de mim? O que se pode sentir por um pai que nunca esteve perto? Ele consegue entender porque eu nunca fiz nada por ele? - Quando? – pergunto depois que pagamos a conta e saímos para o ar mais gelado da noite, devido à chuva de antes. - Se quiser, podemos ir agora. Ele está esperando desde ontem por isso. – nos encaramos por um instante, em completo silêncio – Se você quiser. – ela repete. - Eu quero. – tento falar firme, mas min
- Nós vamos morar com ele? – Tomas pergunta enquanto arruma suas coisas para sairmos do hotel. Diogo está nos esperando no carro, ciente de que precisávamos de um momento a sós após o turbilhão de emoções que todos sentimos. – Vocês voltaram? – seus olhos brilham de expectativa. - Fique calmo. – rio para ele, não quero que Tomas atropele etapas ou fique criando muitas expectativas – Sim, nós estamos juntos de novo. – respondo com menos euforia do que realmente sinto. Ele sorri, extremamente feliz por finalmente ter o pai que sempre desejou por perto
Feliz demais para conseguir dormir – ainda mais pensando que nos dois outros quartos estão Sofia e Tomas -, me levanto e ando o mais silenciosamente que posso até a geladeira. Após beber um grande copo de água gelada percebo que, na verdade, não estou sozinho ali. - Problemas para dormir? – pergunto a Tomas, que me observa das sombras do sofá, usando moletom e uma camiseta velha. - Um pouco. – reponde, batucando na almofada. – Muitas emoções. – acrescenta de um jeito familiar. - Nem me fale – me aproximo dele, pensando que a cor dos olhos pode ser minha, mas a forma de
Deixamos a cabana logo pela manhã, e Tomas adormeceu minutos depois no banco do passageiro. Até me sinto grata pelo silêncio e o vento suave que entra pela fresta da janela. Sorrio lembrando do período que Diogo nos seguiu com o carro, buzinando como despedida quando tomou um rumo diferente. Meus olhos marejam quando visualizo o momento que ele se esgueirou até o meu quarto, pouco antes do amanhecer. Nos abraçamos e depois de um longo beijo, Diogo murmurou: - Você iria morar comigo? – a voz cheia de expectativa. Meu coração acelerou, cheio de emoção. Claro que eu iria, não