- Sabe, está ficando meio tarde. – Diogo diz se levantando – E eu vim de longe. Preciso descansar.
- Tudo bem. – concordo me levantando também. Eu sei que o que o tocou embora foi a menção ao meu filho. Embora ele não tenha feito nenhuma pergunta, nem mencionado nada, sei o quanto essa relação significa para ele. Sinto vontade de contar uma porção de coisas, mas nada sai. Tudo parece entalado na minha garganta. Fico pateticamente parada enquanto ele vai até o carro e pega uma pequena mala, parcialmente emocionada porque ele sempre teve a intenção de ficar e imaginando como vaNem me dou ao trabalho de tentar dormir. Apenas estico o corpo na cama, torcendo para que seja suficiente para ele descansar ou que em algum momento o cansaço vença a mente e eu acabe dormindo de qualquer forma. De preferência um sono pesado e sem sonhos. “Meu filho”, penso. Não consigo deixar de pensar se ele parece com ela ou com o... pai. Imagino o garoto grudado nela, feliz e sorridente. Me pergunto se ele tem sardas iguais as dela, se os olhos são do mesmo tom ou o cabelo. Espero que haja mais heranças da parte de Sofia ali. Me questiono como foi para ela gerar uma vida, mas sei que não vou perg
Na manhã seguinte, quando levanto, percebo um cheiro de café pela cabana e encontro Diogo encostado na pia com uma xícara nas mãos. Está vestindo um moletom azul e uma camiseta branca meio amarrotados, e os seus olhos circundados por círculos arroxeados me mostram que também é difícil dormir ali para ele. Pego café também, sem trocarmos palavras, e me sento no sofá observando a mudança do clima lá fora. O céu está repleto de nuvens cinzas, sem sol, e as árvores balançam suavemente – quase monotonamente. - Então. – Diogo senta na outra ponta do sofá – Você vai parar de
Foi difícil tirar a Sofia da cabeça nos dias seguintes, ela costumava pontuar meus pensamentos enquanto eu trabalhava e quando eu me fechava sozinho no quarto em casa. Confesso que muitas vezes me lembrava dela nua na beira da lagoa com uma onda de culpa, outras vezes me sentia febril no meio da noite recordando a sensação que tivera no carro, e todo meu corpo se arrepiava, como se eu ainda estivesse lá dentro, sentindo-a tão perto de mim. Quinze dias depois, eu a vi entrar no mercado quando estava colocando os amaciantes nas prateleiras. Fiquei parado por alguns instantes, observando entre os produtos com o coração acelerado, enquanto os olhos dela varriam o lugar como se procurasse algo específico.&n
Quando Diogo sai do banheiro, ainda estou sentada no mesmo lugar. Posso sentir o cheiro de xampu e sabonete que irradiam do seu corpo com uma onda de nostalgia. Agora ele parece um pouco mais desperto, mas ainda assim impaciente. Não consigo conter um sorriso com nostalgia. - Olha, preciso comer alguma coisa. – diz colocando a carteira no bolso – Não quero nenhum de nós cozinhando, então eu vou buscar alguma coisa. Apenas balanço a cabeça concordando e ele sai sem nem mesmo trocarmos um olhar. Escuto o som do carro se afastando e depois o silêncio absoluto. Logo em seguida uma chuva fina começ
Depois daquela noite desastrosa passei a encontrar Sofia com certa regularidade. Íamos ver alguns filmes, comer coisas por aí – jamais em locais sofisticados novamente – ou apenas saíamos para jogar conversa fora. - E seus pais? – perguntei, cansado de esperar que ela falasse alguma coisa, enquanto estávamos sentados num banco qualquer de uma praça deserta. Eu gostava de ficar em locais mais desertos quando estava com ela, me passava ideia de que menos pessoas poderiam julgar nossa proximidade. - Divórcio. – ela mexia com um dedo numa mecha do cabelo – Eu moro com a minha mãe, que está sempre por aí fazendo sabe-se lá o que. Ela vi
Diogo está muito quieto deitado ao meu lado, não consigo nem mesmo ouvir sua respiração, apenas a tempestade que está caindo lá fora. É quase como se não estivéssemos mesmo aqui, como se tudo isso fosse um sonho. Eu acreditaria nisso, se não estivesse encaixada entre seu peito e seu braço, sentindo as batidas de seu coração se normalizando. - Sofia. – ele diz meu nome com cansaço, colocando o outro braço atrás da cabeça, e eu observo os músculos se contraindo. – Foi para isso que você me trouxe de volta para esse lugar? - Não. – quase rio, nem nos meus maiores sonhos eu imagin
- Você quer dizer que está a fim dela? – Ester, caixa do mercado e uma antiga amiga minha, pergunta. - Não foi isso que eu disse. – encosto o quadril no balcão ao lado dela. É um horário de pouco movimento e estamos quase sozinhos. - O que você quis dizer? – ela olha ao redor, checando se alguém pode nos ouvir. - Eu já fui a fim de algumas garotas. – digo, sem saber como dizer o que quero dizer. - Eu sei. – Ester retruca e gesticula para que eu prossiga. Somos amigos desde a escola, então ela
Comemos lado a lado no sofá, muito mais próximos dessa vez, com meu celular vibrando em intervalos com as mensagens do meu filho. Diogo ignora a maior parte das mensagens, sem fazer nenhum comentário, mas sei que me observa respondendo. - Você deixou de comer carne logo depois... – falo, sem completar a frase. - Vim na cabana uma vez. – confidencia – Depois. – Diogo dá um meio sorriso triste e seus olhos encontram os meus. – Encontrei um gato machucado, acredito que tinha sido abandonado. - Você ficou com ele? – pergunto curiosa.&n