Parte 7...— Eu vou descer no próximo ponto - Anelise disse e levantou — A gente se vê amanhã - sorriu — Se cuide.— Você também.Ela desceu do ônibus e acenou da calçada. Precisava andar um pouco ainda até chegar em casa. Foi olhando as casas, os jardins, a rua toda. O bairro ali era simples, mas era muito melhor do que onde Diana morava. Ela tinha crescido por ali e somente nos últimos dez anos ela havia perdido o contato com o lugar, mas fazia parte dali, tinha uma história.Ela puxou o ar e ajeitou a bolsa no ombro. As luzes das casas e na frente das portas já estavam acesas. O barulho de carros em breve iria diminuir, cada família em seu canto.Suas pernas doíam por ficar em pé de um lado para outro o dia todo. Fazia tempo que não passava tanto tempo de pé. Ela estava mais acostumada a trabalhar sentada em uma confortável e moderna cadeira.Porém ela não iria reclamar. Estava fazendo bom proveito até disso. Estava se reconectando com coisas que haviam ficado para trás. E tinha si
Parte 8...Ter companhia animal desde pequeno muda muitas coisas na vida de uma criança. Eles são ótimos para o desenvolvimento emocional e do caráter.Ter um bicho de estimação cria memórias incríveis e proporciona uma vida mais longa e saudável. Animais em casa, quando bem cuidados, fortalecem o sistema imunológico, estimulam o cérebro, são terapêuticos, controlam o estresse infantil e ainda ajudam no desenvolvimento físico por conta das horas de correria e risadas.Quando Haroldo lhe disse que os filhos eram livres para se desenvolver, ela ficou feliz com isso e logo deu apoio quando Alan surgiu com seu primeiro pet. E não se arrependia. O filho tinha uma empatia enorme por vários assuntos e para ela era um orgulho ter um filho que crescia bem no emocional. E sua avó Lourdes sempre lhe dizia para desconfiar de pessoas que não gostavam de animais.— São pessoas más - Lourdes dizia — A pessoa pode não ter tempo, não ter espaço, não ter condição financeira ou até física de criar, mas
Parte 9...— Anelise, se não se chatear que eu diga, espero que fique atenta ao seu cunhado. Desculpe me meter - ele disse de forma preocupada — Não consigo confiar nele, está tendo uma atitude esquisita ultimamente.Ela riu. Felipe era muito observador e a pessoa mais desconfiada que ela conhecia, mas devido o seu trabalho, isso era normal.— Lembra do que sua avó dizia, sobre gente e animais?— Bem, mas nesse caso você tem que considerar que uma cobra píton, uma caranguejeira e dois camaleões, são meio complicados de aceitar - quis rir.— E um gato, não se esqueça.— Ah, é mesmo - ela riu — E agora temos um gato. Ele só está com medo, é isso.— Pode ser, mas ainda assim vou ficar de olho nele.— Ok - ela deu uma risadinha — Pode ficar, eu agradeço.Eles conversaram mais um pouco sobre os assuntos da casa e dos filhos. Felipe fazia quase que um relatório. Depois ela acertou a vinda dele até a casa da avó para trazer algumas coisas que iria precisar e também documentos.— As crianças
Parte 1...Ela dormiu, mas não foi um sono tranquilo. Foi cheio de lembranças em forma de sonhos.Acordou com a luz do sol que entrava no quarto. Tinha deixado a cortina aberta. Ela suspirou e se espreguiçou. Ainda tinha tempo antes de precisar levantar para pegar o ônibus.Afofou o travesseiro com a fronha cor de rosa feita pela avó e ficou pensando no passado e no que a trazia até ali. Mais do que a compra da empresa, era sim uma vingança de um coração ferido.E quem poderia mesmo dizer que ela não tinha razão em aproveitar a chance e devolver na mesma moeda?Quando chegava na fronteira da cidade ela olhou pela janela do ônibus e viu o portal que marcava a entrada e saída da cidade e isso lhe causou uma sensação diferente. Ela se fechou para a dor que Mathias lhe causou e ficou firme. Olhou para a frente e respirou fundo, fazendo uma oração mental para que Deus a ajudasse, pois estava sozinha no mundo agora.Estava com muito medo do futuro, mas não podia voltar e causar uma decepçã
Parte 2...Ligou para a avó certa vez para saber como estavam as coisas e ela lhe disse que não voltasse. Luiza tinha aparecido em sua casa com ameaças e Márcia encontrou com ela na rua e aproveitou para dizer que o irmão estava entrando com um processo contra ela por roubo. E às vezes durante a noite o telefone tocava e ninguém dizia nada do outro lado.Ela não poderia mesmo voltar. As ameaças continuavam.O tempo foi passando. Ela foi até o endereço que Camélia havia lhe dado e já tinham contratado outra pessoa no dia anterior. Mesmo desanimada ela seguiu no dia seguinte para o segundo endereço, mas antes de chegar até lá, a mão divina interviu e sua vida começou a mudar.***************Fazia calor. Era final de tarde, mas o ar estava carregado, parecendo que em breve choveria. Ela comprou um copinho de água mineral em um trailer e sentou em um banco da praça para descansar os pés.Não se sentia bem. Sua pulsação estava rápida e sentia uma leve tontura. Bebeu um gole e fechou os ol
Parte 3...— Jesus! - Haroldo exclamou — Que absurdo ele fez com você... Isso é errado - olhou para Felipe que concordou com a cabeça — É muito jovem.— Isso não é papel de um homem decente - Felipe disse de modo sério — Onde está hospedada?Anelise disse onde ficava e contou que estava em busca de um emprego com moradia para começar a se organizar e contou também que as freiras queriam que ela desse a criança para a adoção assim que nascesse, mesmo sem ela querer.— E o que você vai fazer? - ele apertou os olhos.— Não sei - ela respondeu firme — Mas a criança é minha e jamais vou me livrar dela - fez uma cara fechada.Haroldo gostou de ouvir a forma como ela respondeu, rápida e segura, apesar da situação tão difícil. E então ele soltou.— Fique em minha casa - ele disse suave — Terá abrigo, proteção e um amigo.— Dois - Felipe completou.— Você vai me dar um emprego? - ficou surpresa.— Se é o que você precisa - ele riu de modo gentil.Ela ficou com medo da proposta e demorou a resp
Parte 4...Com apenas quatro semanas ela se viu casada com Haroldo e foi uma reviravolta. Passou por uma bateria de exames, uma equipe ligada a moda e beleza que lhe deu toda atenção e ficou com ela por duas semanas, ocupando quase que todo seu tempo lhe dando aulas e dicas sobre tudo que era relacionado a esse mundo.Ela aprendeu como se maquiar até chegar a fazer isso sozinha. Mudaram seu cabelo, roupas e criaram um estilo baseado nas preferências dela. Até mesmo o modo de falar lhe foi ensinado.Para todos em volta ela passou a ser conhecida apenas como Neli Ferroso. Foi enviada para a Toscana, na Itália, onde o marido tinha uma propriedade de mais de quinhentos anos de idade. Era o lugar mais lindo que ela já tinha visto no mundo e para sua situação, era o mais perfeito também.Lá ela tinha aulas de etiquetas, idiomas e negócios. Tudo organizado pelo marido, que lhe dava muito, porém lhe cobrava muito também. E ela tentava fazer valer esse investimento dele.Os empregados do local
Parte 5...Ela só não era mais feliz, porque a avó não conhecia os bisnetos. Não queria magoar o marido e trazer o passado para o presente. Elas mantinham contato, ainda que não fosse o que ela queria mesmo. Lourdes preferia que ela não retornasse, mesmo sendo casada com um homem importante como Haroldo e ao mesmo tempo não queria sair da cidade e ainda mantinha o mesmo medo de que se alguém soubesse da verdade, isso poderia trazer um prejuízo ao seu casamento.Lourdes apenas queria manter a felicidade da neta a todo custo e fez um acordo com Haroldo de não revelar nada para ninguém e tudo continuaria como sempre.Haroldo cuidou de tudo para ela e nunca mais Lourdes teve problemas financeiros. Desse dia em diante ela podia viver bem, mas escolheu continuar na mesma casa. Era uma mulher calma e simples e que não se importava com luxos.Quando Haroldo morreu durante uma viagem de trabalho ela ficou arrasada. Eles já moravam em definitivo em Aracaju e ela já fazia parte da diretoria. Foi