Parte 9...— Anelise, se não se chatear que eu diga, espero que fique atenta ao seu cunhado. Desculpe me meter - ele disse de forma preocupada — Não consigo confiar nele, está tendo uma atitude esquisita ultimamente.Ela riu. Felipe era muito observador e a pessoa mais desconfiada que ela conhecia, mas devido o seu trabalho, isso era normal.— Lembra do que sua avó dizia, sobre gente e animais?— Bem, mas nesse caso você tem que considerar que uma cobra píton, uma caranguejeira e dois camaleões, são meio complicados de aceitar - quis rir.— E um gato, não se esqueça.— Ah, é mesmo - ela riu — E agora temos um gato. Ele só está com medo, é isso.— Pode ser, mas ainda assim vou ficar de olho nele.— Ok - ela deu uma risadinha — Pode ficar, eu agradeço.Eles conversaram mais um pouco sobre os assuntos da casa e dos filhos. Felipe fazia quase que um relatório. Depois ela acertou a vinda dele até a casa da avó para trazer algumas coisas que iria precisar e também documentos.— As crianças
Parte 1...Ela dormiu, mas não foi um sono tranquilo. Foi cheio de lembranças em forma de sonhos.Acordou com a luz do sol que entrava no quarto. Tinha deixado a cortina aberta. Ela suspirou e se espreguiçou. Ainda tinha tempo antes de precisar levantar para pegar o ônibus.Afofou o travesseiro com a fronha cor de rosa feita pela avó e ficou pensando no passado e no que a trazia até ali. Mais do que a compra da empresa, era sim uma vingança de um coração ferido.E quem poderia mesmo dizer que ela não tinha razão em aproveitar a chance e devolver na mesma moeda?Quando chegava na fronteira da cidade ela olhou pela janela do ônibus e viu o portal que marcava a entrada e saída da cidade e isso lhe causou uma sensação diferente. Ela se fechou para a dor que Mathias lhe causou e ficou firme. Olhou para a frente e respirou fundo, fazendo uma oração mental para que Deus a ajudasse, pois estava sozinha no mundo agora.Estava com muito medo do futuro, mas não podia voltar e causar uma decepçã
Parte 2...Ligou para a avó certa vez para saber como estavam as coisas e ela lhe disse que não voltasse. Luiza tinha aparecido em sua casa com ameaças e Márcia encontrou com ela na rua e aproveitou para dizer que o irmão estava entrando com um processo contra ela por roubo. E às vezes durante a noite o telefone tocava e ninguém dizia nada do outro lado.Ela não poderia mesmo voltar. As ameaças continuavam.O tempo foi passando. Ela foi até o endereço que Camélia havia lhe dado e já tinham contratado outra pessoa no dia anterior. Mesmo desanimada ela seguiu no dia seguinte para o segundo endereço, mas antes de chegar até lá, a mão divina interviu e sua vida começou a mudar.***************Fazia calor. Era final de tarde, mas o ar estava carregado, parecendo que em breve choveria. Ela comprou um copinho de água mineral em um trailer e sentou em um banco da praça para descansar os pés.Não se sentia bem. Sua pulsação estava rápida e sentia uma leve tontura. Bebeu um gole e fechou os ol
Parte 3...— Jesus! - Haroldo exclamou — Que absurdo ele fez com você... Isso é errado - olhou para Felipe que concordou com a cabeça — É muito jovem.— Isso não é papel de um homem decente - Felipe disse de modo sério — Onde está hospedada?Anelise disse onde ficava e contou que estava em busca de um emprego com moradia para começar a se organizar e contou também que as freiras queriam que ela desse a criança para a adoção assim que nascesse, mesmo sem ela querer.— E o que você vai fazer? - ele apertou os olhos.— Não sei - ela respondeu firme — Mas a criança é minha e jamais vou me livrar dela - fez uma cara fechada.Haroldo gostou de ouvir a forma como ela respondeu, rápida e segura, apesar da situação tão difícil. E então ele soltou.— Fique em minha casa - ele disse suave — Terá abrigo, proteção e um amigo.— Dois - Felipe completou.— Você vai me dar um emprego? - ficou surpresa.— Se é o que você precisa - ele riu de modo gentil.Ela ficou com medo da proposta e demorou a resp
Parte 4...Com apenas quatro semanas ela se viu casada com Haroldo e foi uma reviravolta. Passou por uma bateria de exames, uma equipe ligada a moda e beleza que lhe deu toda atenção e ficou com ela por duas semanas, ocupando quase que todo seu tempo lhe dando aulas e dicas sobre tudo que era relacionado a esse mundo.Ela aprendeu como se maquiar até chegar a fazer isso sozinha. Mudaram seu cabelo, roupas e criaram um estilo baseado nas preferências dela. Até mesmo o modo de falar lhe foi ensinado.Para todos em volta ela passou a ser conhecida apenas como Neli Ferroso. Foi enviada para a Toscana, na Itália, onde o marido tinha uma propriedade de mais de quinhentos anos de idade. Era o lugar mais lindo que ela já tinha visto no mundo e para sua situação, era o mais perfeito também.Lá ela tinha aulas de etiquetas, idiomas e negócios. Tudo organizado pelo marido, que lhe dava muito, porém lhe cobrava muito também. E ela tentava fazer valer esse investimento dele.Os empregados do local
Parte 5...Ela só não era mais feliz, porque a avó não conhecia os bisnetos. Não queria magoar o marido e trazer o passado para o presente. Elas mantinham contato, ainda que não fosse o que ela queria mesmo. Lourdes preferia que ela não retornasse, mesmo sendo casada com um homem importante como Haroldo e ao mesmo tempo não queria sair da cidade e ainda mantinha o mesmo medo de que se alguém soubesse da verdade, isso poderia trazer um prejuízo ao seu casamento.Lourdes apenas queria manter a felicidade da neta a todo custo e fez um acordo com Haroldo de não revelar nada para ninguém e tudo continuaria como sempre.Haroldo cuidou de tudo para ela e nunca mais Lourdes teve problemas financeiros. Desse dia em diante ela podia viver bem, mas escolheu continuar na mesma casa. Era uma mulher calma e simples e que não se importava com luxos.Quando Haroldo morreu durante uma viagem de trabalho ela ficou arrasada. Eles já moravam em definitivo em Aracaju e ela já fazia parte da diretoria. Foi
Parte 6...Eles terminaram de comer e Felipe levantou, deixando a louça usada na pia.— Infelizmente, não vou poder ficar, mas eu volto como combinamos - ele lhe deu um beijo leve no rosto.— Volte logo - apertou os lábios — Sinto falta de um rosto amigo ao meu lado - apertou seu braço.— Nós também estamos com saudade de você e as crianças não param de falar.— Não deixe que os dois façam bagunça em casa.— Não se preocupe - ele sorriu e a abraçou.Antes de sair, Felipe parou e se virou para ela, a olhando de modo carinhoso e preocupado.— Por favor, Anelise, cuide-se bem. Cuidado com essa gente. Lembre-se de que Haroldo fez tudo para manter você protegida do que lhe fizeram. E eu ainda estou aqui. Tenho receio de que se subir muito alto, possa cair e se machucar de novo.Ela ficou emocionada pelo carinho de Felipe e sabia que ele tinha razão no que dizia.— Eu entendo - o abraçou de novo — E agradeço por você estar sempre comigo - beijou sua bochecha de leve.Quando Felipe saiu, viu
Parte 1...Márcia notou que a mãe não estava bem durante o jantar, mas não poderia questioná-la até que os convidados fossem embora. Luiza pouco comeu e falou. Estava alheiá à conversa.— Mãe, o que está havendo? - ela perguntou baixinho.— Depois nós falamos - a olhou de lado.Márcia não gostou disso. Ficaria ansiosa até depois. Enquanto ainda tivessem convidados teria que imaginar o que acontecera.Luiza não conseguia parar de pensar na conversa com Anelise pela manhã. Tinha sido uma surpresa ver um homem sair da casa ela e mais surpresa ainda ver o modo seguro como ela se portou.Era quase como se fosse outra pessoa, outra mulher. No entanto era ela ali em sua frente. Mas com certeza o espírito e a força eram outros. A garota medrosa não existia mais.Ainda assim, precisava se livrar dela o quanto antes. Anelise era perigosa para Mathias. Sentia que uma tempestade se aproximava e não queria ficar no meio.Ela quase não deu atenção aos convidados porque sua mente estava ocupada com