Elis estava sentada no corredor da academia de dança, sozinha. Mesmo com toda a sua preparação física, estava bastante cansada. A audição era mais puxada do que ela imaginava, mais intensa do que tudo o que ela havia vivido até aquele dia.
Primeiro foi uma “aula-geral”, com todas as bailarinas pré-selecionadas. Elis não conseguia deixar de se sentir intimidada pelas concorrentes, todas mais velhas e mais experientes. Porém ela se destacava, e sabia disso. Sua postura, comportamento, empenho e dedicação a faziam chamar a atenção dos professores e ela podia se orgulhar desse fato.
Agora, Raquel e os demais examinadores estavam reunidos no auditório e cada uma das finalistas podia apresentar um número solo. Das quinze pré-selecionadas, apenas seis receberam essa oportunidade.
E
“Adorei a ideia de viajarmos todos juntos nas férias.” Comentou Nita, colocando sua mala no bagageiro da van que os levaria para o aeroporto.“Como se já não ficássemos juntos na escola, nos finais de semana, na maternidade...” Brincou Luan, colocando as coisas dele e de Luna.“Aprendam com o Luan e sejam cavalheiros com as suas namoradas, seus lesados.” Susi deu um tapa na cabeça dos irmãos, que reclamaram.“Eu tenho dificuldade de colocar a minha mala, que é pequena. Sem chance de conseguir erguer as da Elis.”Lembrou Rudá, vendo a namorada se aproximar com a bagagem. “Amor, nós vamos passar uma semana na praia!”“Você sabe quantas variações de biquínis, saída de praia, canga, chinelos, rasteirinha
“Ela mudou muito quando fomos para BH, Ali. Nós dois mudamos, na verdade. Você sabe que eu nunca quis deixar a lanchonete, aquele era o meu sonho, junto com vocês dois. Eu sofri trabalhando como empregado lá, penei para abrir meu próprio foodtruck e começar do zero, como nós tínhamos feito muito tempo atrás. E ela nunca me apoiou em nada, só me cobrava arranjar um emprego melhor ou ganhar mais dinheiro, especialmente quando perdeu o emprego. Meus pais acham que, se tivéssemos ficado, as coisas teriam sido diferentes, mas não sei. Acho que no fim, teríamos chegado ao nosso máximo.”“Bom, já que você tocou no assunto, sabe que sempre vai ter um emprego garantido com a gente, certo?” Pablo sorriu para o amigo. “Existem poucos chapeiros como você, Jaime. Você vale ouro, meu irmão.”
“Paradise Resort. É o nome perfeito, porque esse lugar é o paraíso.” Suspirou Pablo, encarando a praia.“Então senta aí, que a visão do seu corpinho de sunga está sendo a amostra grátis do inferno.” Junior aporrinhou o amigo. “Olha essa pança peluda de cerveja, meu Deus.”“Quem ouve falando até pensa que você é lindo.” O Gandia revirou os olhos, sentando novamente.“Melhor do que você, com certeza. Eu depilo a barriga, não tenho as pernas parecendo do Chewbacca, e faço exercícios regularmente para manter a forma.”“Pai, o tio Junior está te detonando.” Luna gargalhou da cara de tacho do pai.“Se estão falando isso do Pablo, tenho medo do que vão falar de mim.” Resmungou Adriano, enquanto a esposa passava protetor em suas costas.&
Depois de jantarem, todos foram se deitar. Como na noite anterior, Dom, Darlan, Pablo e Caique quiseram “colocar” as filhas na cama, para ter certeza que elas iriam ficar nos próprios quartos.“Vocês são um tanto quanto hipócritas, sabia?” Reclamou Nita, encarando o pai e os tios no corredor.“Olha, não é algo legal para a gente também. Nós preferíamos já estar no quarto com as mães de vocês, mas considerando que a Elis e o Rudá, contrariando todas as probabilidades, já fizeram isso, precisamos nos precaver.”Explicou Darlan.“Por que nós contrariamos as probabilidades? Quem vocês acharam que faria isso primeiro?” Questionou o rapaz, também parado na porta de seu quarto.“Honestamente? Eu jura
“Então só isso está bom?” Elis arqueou a sobrancelha.“Ah, não, não... Sabe, eu acho que preciso de mais um pouco de carinho e... Outras coisinhas mais. Só assim eu vou ficar bem feliz.”“Pervertido.” Elis riu, antes de voltarem a ação.Já Nita e Leon estavam abraçados na cama, em silêncio. Ela brincava com os dedos dele sobre o peito do garoto, onde estava deitada.“O que você está sentindo?”“Como assim, vida?”“Sobre o seu pai e tudo o que está acontecendo com ele.” Nita ergueu os olhos para ele.“Você sabe como eu tenho me sentido, Nita.” Suspirou Leon. “Frustrado, cansado, sofrendo. Queria tanto que tudo isso fosse mentira,
Tinham conseguido uma babá de emergência, que nada mais era do que uma das monitoras do hotel. Deixaram Gabe, Ana e Vitor dormindo no quarto dos Mishima, e levaram Arthur para ficar junto dos meninos, e a babá estaria de prontidão entre os três quartos.Assim, o grupo todo foi para o hospital, sendo Junior o último a chegar com os adolescentes.“Cadê ele? Cadê o papai?” Leon entrou correndo desesperado, Nita tentando acompanhá-lo.“Os médicos levaram ele para dentro, querido, e sua mãe está junto.” Aline foi tentar acalmar o menino, vendo que Eric praticamente carregava Susi. “Carola...”“Eu cuido disso.” A madrinha se aproximou da menina, a apoiando com carinho. “Vem, meu bem, vamos nos sentar.”“É melhor tod
Valéria encarava o nada, perdida. Não estava mais no hospital, não tinha conseguido ficar lá. Foi tudo tão rápido, inesperado, desesperador.Ele já estava vestido, sentado na cama, esperando a alta. Ela e os amigos estavam no quarto, rindo de alguma piada de Pablo. E então Dom começou a arfar, ficou pálido, engasgado. Caique se aproximou depressa, os olhos arregalados.“Enfermeira! Ele está tendo uma parada cardíaca.” Gritou, assustando os demais. “Aguenta firme, Dom, aguenta firme.”“Domzinho, eu to aqui, tá bom?” Valéria segurou a mão do marido, que a encarou com os olhos saltando para fora no esforço de respirar. “Aguenta firme, meu amor, por favor.”Mas ele não aguentou. Ele lutou a batalha com tudo o que pôde, mas o inimigo foi mais forte. O câncer debilitou seu corpo, corpo
Rudá encarava seu reflexo no espelho, em silêncio. Estava no quarto de Elis, no qual havia dormido na noite anterior, e eles se arrumavam para o enterro de seu pai.Enterro. A cada vez que pensava nessa palavra, sentia o corpo arrepiar. Até aquele momento, ainda não era real, definitivo, mas ali seria. Seu pai seria sepultado, teria o corpo coberto de terra e pedra, e Rudá nunca mais veria o homem que o havia criado e dado amor por toda a sua vida.“Amor?” Elis se aproximou dele, os dois se encarando pelo espelho. “Está pronto?”“Não, mas nunca vou estar.” Ele ajeitou a camisa branca, suspirando.“Você sabe que eu não vou sair do seu lado, certo?”“Sei, e isso me conforta muito.” Rudá a abraçou, beijando sua testa.