Rudá encarava seu reflexo no espelho, em silêncio. Estava no quarto de Elis, no qual havia dormido na noite anterior, e eles se arrumavam para o enterro de seu pai.
Enterro. A cada vez que pensava nessa palavra, sentia o corpo arrepiar. Até aquele momento, ainda não era real, definitivo, mas ali seria. Seu pai seria sepultado, teria o corpo coberto de terra e pedra, e Rudá nunca mais veria o homem que o havia criado e dado amor por toda a sua vida.
“Amor?” Elis se aproximou dele, os dois se encarando pelo espelho. “Está pronto?”
“Não, mas nunca vou estar.” Ele ajeitou a camisa branca, suspirando.
“Você sabe que eu não vou sair do seu lado, certo?”
“Sei, e isso me conforta muito.” Rudá a abraçou, beijando sua testa.
A vida foi, aos poucos, voltando aos eixos após a morte de Dom. Todos sabiam que o primeiro ano seria o mais difícil de todos, e tendo quatro crianças para sentirem à perda do pai, Valéria precisaria de muita ajuda.Durante os primeiros meses, praticamente, os trigêmeos não dormiram em casa. A presença do pai era muito forte ali, e por mais que tentassem, não conseguiam aguentar. Rudá e Leon quase sempre dormiam na casa das namoradas, vez ou outra ficavam com Eric ou Luan. Já Susi foi quase de mala e cuia para o apartamento dos Gandia, e não era difícil que Eric pernoitasse na casa dos tios, lhe fazendo companhia.Kaio se entregou de vez a fé judaica, com o apoio da mãe, em sua própria forma de lidar com o luto e a ausência do pai. Rudá voltou a escrever com frequência, na sua melhor forma de externar a dor. Se não fosse por Elis para
Elis estava inquieta. Por conta dos dias de festival, Rudá não estava dormindo em sua casa, e sim na de Luan.Porém, o namorado estava distante e estranho, e ela não sabia porquê.Ou melhor, sabia, mas não queria aceitar que ele talvez não estivesse feliz por sua conquista com o Bolshoi.“Hey!” Sorriu ao vê-lo chegar em sua casa, na tarde de segunda. “Como você está?”“Bem. E você?” Ele sentou no sofá à sua frente, o rosto uma máscara sem expressão.“Um pouco cansada ainda, foi uma semana puxada.” Ela colocou o cabelo atrás da orelha, ansiosa. “Rudá, eu queria conversar com você sobre...”“Eu te trai.”“O quê?&rdquo
“Eu tive uma ideia, recentemente.” Ele atraiu a atenção da esposa. “Mandar a Maju estudar fora.”“Fora? Fora do país?” Se espantou Carola.“Sim. Carola, a Maju está no quentinho. Ela faz tudo o que faz porque nós protegemos, limpamos as cagadas dela! Talvez, enfrentando o mundo como ele é, sem alguém para limpar as merdas dela e livrar ela das consequências, a Maju amadureça.” Darlan explicou sua ideia, vendo a esposa se afastar, tensa.“Isso não é sermos omissos, Dan? Entregar nossa filha para o mundo?”“Nós já estamos entregando, Carola. A diferença é que não temos deixado que a Maju colha as consequências.”Lembrou o marido. “Não precisa dizer nada agora. O a
“Ele é filho do seu pai, querida, não tem o que fazer.” Riu a mãe, lembrando do estilo casual e desleixado que o marido cultivava até os dias atuais. “Mas... O quê?”As duas viram com espanto quando uma das vendedoras se aproximou de Ryan e começou a gritar com ele, apontando a saída. Apertaram o passo, tensas, e começaram a ouvir a gritaria.“Sai daqui, garoto, aqui não é lugar para você.” Mandava a vendedora, irritada.“Mas...” Ryan tentava falar, sem conseguir brecha.“Ainda por cima com um sorvete. Se você sujar alguma dessas roupas, sua mãe vai ter que vender a casa para pagar. Isso se tiver mãe, né?” Desdenhou a vendedora, o olhando com repulsa. “Molequinho encardido.”“O que e
A vida foi, aos poucos, voltando aos eixos após a morte de Dom. Todos sabiam que o primeiro ano seria o mais difícil de todos, e tendo quatro crianças para sentirem à perda do pai, Valéria precisaria de muita ajuda.Durante os primeiros meses, praticamente, os trigêmeos não dormiram em casa. A presença do pai era muito forte ali, e por mais que tentassem, não conseguiam aguentar.Rudá e Leon quase sempre dormiam na casa das namoradas, vez ou outra ficavam com Eric ou Luan. Já Susi foi quase de mala e cuia para o apartamento dos Gandia, e não era difícil que Eric pernoitasse na casa dos tios, lhe fazendo companhia.Kaio se entregou de vez a fé judaica, com o apoio da mãe, em sua própria forma de lidar com o luto e a ausência do pai. Rudá voltou a escrever com frequência, na sua melhor forma de externar a dor. Se não fosse por El
Era mais um dos dias difíceis de Roberto. Lilian ligou para Pablo e Marcela assim que o dia amanheceu, avisando que o marido havia saído pela rua de pijamas, bradando que não estava em sua casa e recitando o antigo endereço.Pablo, então, se dispôs a passar o dia com os dois, para ajudar a conter Roberto se necessário. Levou Gabe junto, para que Aline fosse para o trabalho, e combinaram de almoçar todos juntos.A doença de Roberto, infelizmente, progredia muito mais rápido do que tinham imaginado, e não era incomum que ele não reconhecesse os filhos. Por vezes, chamava Luna e Eric de Aline e Mariano, perguntando aonde Pablo e Marcela estavam escondidos.“Precisa de ajuda, mãe?” Pablo entrou na cozinha, encontrando Lilian preparando o almoço.“Seu pai?”
“Sai da minha frente, Luan! Eu vou matar o Rudá!” Luna rosnou para o namorado, assim que ele abriu a porta.“Vamos matar, você quis dizer.” Nita e Susi estavam junto com a amiga, Eric e Leon mais atrás, confusos.“Se acalmem e escutem ele, antes de tudo.”“Não tem o que escutar! Meu irmão... Ele não merece nem ser chamado de meu irmão!” Gritou Susi, entrando no apartamento dos Cavalieri. “RUDÁ, SEU DESGRAÇADO, VEM AQUI!”Todos marcharam pelo apartamento até o quarto de Luan, encontrando Rudá na cama do amigo. Encolhido e chorando, inconsolável.“Chorar não vai adianta em nada, Rudá!” Rosnou Nita. “Como... Como você pôde fazer isso? Como pôde trair a Elis? Dizer aquelas c
“Luna?” A porta foi aberta, revelando Luna, Bina e Lily, com Gabe agarrado na mão da irmã mais velha.“Oi, Luna?” A mais velha encarou a porta, tentando disfarçar a cara de choro.“Vocês estão tristes porque todo mundo foi viajar e vocês ficaram aqui?” Perguntou Lily, envergonhada.“Não, pequena... Nós só estamos cansados.” Luan tentou sorrir para a irmã.“Eu sei que não está sendo legal... O tio Dom morreu, a Elis foi morar longe, a Maju fica aprontando, o vovô Roberto tá doente. Mas hoje é aniversário de vocês.” Bina sentou na perna do irmão, que se sentou e a abraçou. “O papai e a mamãe estão tristes de ver vocês tristes, e a gente também.”“Nós também estamos tristes, pequenas. Vem cá.” L