LANA MARTINS
Acordo cedo, como sempre. O sol já brilha forte lá fora, e o calor se insinua pelas frestas da janela, mas estou alheia ao clima. Minha mente, como nos últimos dias, está em outro lugar, tentando organizar a bagunça interna que parece crescer cada vez mais. Nos últimos dias, minha rotina gira em torno de uma única meta: conseguir um trabalho. Algo que seja só meu, algo que não dependa de contratos antigos ou lembranças do passado.
Começo o dia com uma visita ao centro de empregos. É mais um dia de entregas de currículos, entrevistas rápidas com recrutadores e promessas vagas de oportunidades. Tento me concentrar, manter a confiança, mas cada palavra de incentivo soa um pouco distante, como se eu estivesse assistindo a tudo de fora. Depois de mais uma manhã sem
LANA MARTINSOs dias passam com uma regularidade angustiante. Às vezes, sinto um mal-estar persistente, como se algo estivesse errado dentro de mim, mas nunca me dou ao trabalho de procurar um médico. Sempre encontro uma desculpa, uma razão para adiar o que, no fundo, sei que terei que enfrentar mais cedo ou mais tarde. O mais difícil é o silêncio dos meus currículos, esperando por uma resposta que nunca chega.É um sábado comum, e estou tentando ser forte. Depois de um dia adorável com Ana, ao deixá-la na casa de Clara e Lucas — que, por sorte, são pessoas incríveis e me aceitam sem questionar meu passado — sinto-me um pouco mais leve. Clara se tornou uma verdadeira amiga, alguém que entende minhas lutas sem me julgar.Antes de s
DANIEL NAVARROO clima no escritório está carregado. Observo o pôr do sol pela janela, enquanto as palavras de Lana ecoam na minha cabeça como uma ferida aberta. A frustração e o arrependimento se entrelaçam, tornando impossível esquecer o que aconteceu. Eu não sei o que fazer para superar a dor de vê-la tão decidida a se afastar de mim. Toda vez que fecho os olhos, a lembrança da sua voz frágil e das lágrimas em seu rosto volta com força total."Eu sou uma acompanhante, e isso sempre estará entre nós." Essas palavras martelam na minha mente. Eu sabia dos riscos ao me envolver com Lana, mas não estava preparado para lidar com o peso do passado dela e como ele se insinuava entre nós.
LANA MARTINSO peso no meu peito ainda persiste na manhã seguinte, como se a noite não tivesse sido suficiente para aliviar a tormenta dentro de mim. O dia anterior me deixou tonta, como se tivesse sido atropelada por uma onda de sentimentos conflitantes, e agora estou presa na ressaca emocional de tudo que aconteceu.Daniel está em cada pensamento, cada respiração. Mas ele não está mais ao meu lado, e uma parte de mim sabe que isso é o melhor. Preciso seguir em frente, por mim, por Ana, por nós. Mesmo que as lágrimas ainda estejam aqui e o vazio seja imenso, a decisão está tomada. Ainda assim, tudo parece tão irreversível. Eu só queria que a dor desaparecesse.Me levanto da cama, com o corpo exausto e uma sensação de en
DANIEL NAVARROEstou na sala de casa, sem ânimo para encarar o trabalho, com a ansiedade correndo pelas minhas veias como uma corrente elétrica. As palavras de Lana ainda ecoam na minha mente, um lamento persistente. A ideia de que ela realmente está decidida a me deixar é insuportável. Cada minuto parece uma eternidade. Sei que preciso fazer algo, qualquer coisa que possa impedir o que está prestes a acontecer.A conversa que tivemos está cravada na minha memória. Ela foi direta, fria. — E, no fundo, sei que falhei com ela. Mas a ideia de perder Lana agora, depois de tudo que passamos, depois de tudo que ainda acredito que poderíamos ser, me deixa desolado.Estou decidido: vou lutar por ela. Quero, preciso abrir meu coração, ser o homem que ela precisa, mo
LANA MARTINSTento reconstruir minha vida, mas os fantasmas do passado ainda me perseguem. Depois de todas as escolhas difíceis, mudo-me para Madrid, em busca de uma nova chance para mim e para Ana. Mas, mesmo com a mudança de cenário, a dor não desaparece. Cada dia parece um peso, carregado de incertezas e perguntas sem resposta.Ana, com sua pureza, não entende o que estamos vivendo. Cada vez que pergunta por que estamos em um lugar tão distante e diferente, sinto meu coração se partir. Ela só quer entender, e eu, desesperada, busco uma resposta que a tranquilize. Mas, a verdade é que nem eu mesma sei o que fazer com minha vida, quanto mais com as perguntas dela.— Maninha, por que estamos aqui? — Ela me pergunta um dia, com um olhar curioso e preocupado
DANIEL NAVARROA vida parecia ter desmoronado ao meu redor, e eu sabia que era minha culpa. Cada erro, cada palavra impensada, cada escolha errada que me afastou dela... tudo isso me consumia. O vazio dentro de mim parecia crescer a cada dia, um poço sem fundo que, por mais que eu tentasse preencher, continuava a me sufocar. Tentei seguir em frente, mas a raiva e a frustração por ter perdido Lana eram um fardo insuportável. E não importava o quanto tentasse escapar, o pensamento dela permanecia comigo, como uma sombra constante.Foi então que Carol apareceu.Ela foi uma distração. Uma fuga, talvez. Me convenci de que aquilo era só algo temporário, um jeito de abafar a dor que parecia corroer cada parte de mim. Carol foi se aproximando devagar, como quem sabe que a entr
DANIEL NAVARROA vejo ali, parada na minha frente, com os olhos fixos em mim e uma expressão de choque que parece me atravessar. A mistura de sentimentos que me consome é avassaladora—alívio, raiva, confusão. Tudo o que consigo pensar é que, finalmente, depois de tanto tempo, eu encontrei Lana. E a surpresa de vê-la grávida, com aquela barriga que grita tudo o que eu já deveria saber, faz meu coração apertar.Respiro fundo, tentando me controlar. O que mais quero, nesse momento, é arrancar tudo de dentro de mim, desabafar, entender o que aconteceu. Mas, principalmente, saber se aquele filho que ela carrega é meu.— Precisamos conversar sobre isso. — Minha voz sai mais grave do que eu imaginava, e eu aponto para sua barriga. — Esse bebê é meu, Lana?Vejo a mudança na expressão dela na hora. Seus olhos brilham com uma mistura de raiva e surpresa, e antes que ela consiga dizer qualquer coisa, ela dá um passo atrás. O olhar de fúria que ela me dá me atinge como um soco.— Como você pode se
LANA MARTINSO dia está quente, o sol b**e forte, mas nada disso parece me aquecer por dentro. Eu me sinto como se estivesse congelada, presa entre as escolhas do passado e as incertezas do futuro. Daniel está ali, à minha frente, com um semblante sério e determinado. Ele não parece disposto a recuar, e isso me deixa ainda mais inquieta.— Não vou te obrigar a voltar para São Paulo, Lana. — Ele diz, e suas palavras me atingem como uma lâmina afiada. — Mas eu vou ficar aqui em Madrid.Aquelas palavras ecoam em minha mente. Eu já sei que ele não vai embora tão facilmente. Mas isso não significa que eu vá permitir que ele seja uma constante em minha vida, não depois de tudo o que aconteceu.— Daniel, você não pode ficar aqui. Você tem sua vida, sua carreira... — Tento dizer, mas a verdade é que eu não tenho mais argumentos. A sensação de insegurança me engole. Ele não parece disposto a se afastar de mim, e eu não sei o que fazer com isso.— Não, Lana. — Me interrompe, seu olhar firme e se