DANIEL NAVARRO
Estou na sala de casa, sem ânimo para encarar o trabalho, com a ansiedade correndo pelas minhas veias como uma corrente elétrica. As palavras de Lana ainda ecoam na minha mente, um lamento persistente. A ideia de que ela realmente está decidida a me deixar é insuportável. Cada minuto parece uma eternidade. Sei que preciso fazer algo, qualquer coisa que possa impedir o que está prestes a acontecer.
A conversa que tivemos está cravada na minha memória. Ela foi direta, fria. — E, no fundo, sei que falhei com ela. Mas a ideia de perder Lana agora, depois de tudo que passamos, depois de tudo que ainda acredito que poderíamos ser, me deixa desolado.
Estou decidido: vou lutar por ela. Quero, preciso abrir meu coração, ser o homem que ela precisa, mo
LANA MARTINSTento reconstruir minha vida, mas os fantasmas do passado ainda me perseguem. Depois de todas as escolhas difíceis, mudo-me para Madrid, em busca de uma nova chance para mim e para Ana. Mas, mesmo com a mudança de cenário, a dor não desaparece. Cada dia parece um peso, carregado de incertezas e perguntas sem resposta.Ana, com sua pureza, não entende o que estamos vivendo. Cada vez que pergunta por que estamos em um lugar tão distante e diferente, sinto meu coração se partir. Ela só quer entender, e eu, desesperada, busco uma resposta que a tranquilize. Mas, a verdade é que nem eu mesma sei o que fazer com minha vida, quanto mais com as perguntas dela.— Maninha, por que estamos aqui? — Ela me pergunta um dia, com um olhar curioso e preocupado
DANIEL NAVARROA vida parecia ter desmoronado ao meu redor, e eu sabia que era minha culpa. Cada erro, cada palavra impensada, cada escolha errada que me afastou dela... tudo isso me consumia. O vazio dentro de mim parecia crescer a cada dia, um poço sem fundo que, por mais que eu tentasse preencher, continuava a me sufocar. Tentei seguir em frente, mas a raiva e a frustração por ter perdido Lana eram um fardo insuportável. E não importava o quanto tentasse escapar, o pensamento dela permanecia comigo, como uma sombra constante.Foi então que Carol apareceu.Ela foi uma distração. Uma fuga, talvez. Me convenci de que aquilo era só algo temporário, um jeito de abafar a dor que parecia corroer cada parte de mim. Carol foi se aproximando devagar, como quem sabe que a entr
DANIEL NAVARROA vejo ali, parada na minha frente, com os olhos fixos em mim e uma expressão de choque que parece me atravessar. A mistura de sentimentos que me consome é avassaladora—alívio, raiva, confusão. Tudo o que consigo pensar é que, finalmente, depois de tanto tempo, eu encontrei Lana. E a surpresa de vê-la grávida, com aquela barriga que grita tudo o que eu já deveria saber, faz meu coração apertar.Respiro fundo, tentando me controlar. O que mais quero, nesse momento, é arrancar tudo de dentro de mim, desabafar, entender o que aconteceu. Mas, principalmente, saber se aquele filho que ela carrega é meu.— Precisamos conversar sobre isso. — Minha voz sai mais grave do que eu imaginava, e eu aponto para sua barriga. — Esse bebê é meu, Lana?Vejo a mudança na expressão dela na hora. Seus olhos brilham com uma mistura de raiva e surpresa, e antes que ela consiga dizer qualquer coisa, ela dá um passo atrás. O olhar de fúria que ela me dá me atinge como um soco.— Como você pode se
LANA MARTINSO dia está quente, o sol b**e forte, mas nada disso parece me aquecer por dentro. Eu me sinto como se estivesse congelada, presa entre as escolhas do passado e as incertezas do futuro. Daniel está ali, à minha frente, com um semblante sério e determinado. Ele não parece disposto a recuar, e isso me deixa ainda mais inquieta.— Não vou te obrigar a voltar para São Paulo, Lana. — Ele diz, e suas palavras me atingem como uma lâmina afiada. — Mas eu vou ficar aqui em Madrid.Aquelas palavras ecoam em minha mente. Eu já sei que ele não vai embora tão facilmente. Mas isso não significa que eu vá permitir que ele seja uma constante em minha vida, não depois de tudo o que aconteceu.— Daniel, você não pode ficar aqui. Você tem sua vida, sua carreira... — Tento dizer, mas a verdade é que eu não tenho mais argumentos. A sensação de insegurança me engole. Ele não parece disposto a se afastar de mim, e eu não sei o que fazer com isso.— Não, Lana. — Me interrompe, seu olhar firme e se
LANA MARTINSO mês passa mais rápido do que eu espero. Quando percebo, já estou com seis meses de gravidez, e o prazo que dei a Daniel está se esgotando. Decido, enfim, que é hora de voltar para o Brasil. Sei que preciso encarar a realidade, o que significa enfrentar as consequências das minhas escolhas e, principalmente, as do passado.Chego a São Paulo com uma mistura de sentimentos. Estou nervosa por reviver tudo o que deixamos para trás, mas, ao mesmo tempo, aliviada por finalmente estar voltando para a cidade, perto de Daniel. Não é mais o mesmo, não mais para mim, mas ainda assim, ele é o pai da minha filha. E essa é a única certeza que tenho agora.Na noite que segue à minha chegada, Daniel me convida para um jantar na casa de seus pais. Hesito por um momento, lembrando-me do quanto essa situação pode ser desconfortável. Não sei c
DANIEL NAVARRONa manhã seguinte, ainda sentindo o impacto da noite na biblioteca, dirijo-me à casa de Lana com uma sensação de renovação. Chegando lá, encontro-a penteando o cabelo de Ana, e a imagem mexe comigo de uma forma inesperada. Não posso evitar imaginar como ela seria uma mãe incrível.Lana me oferece um café, e aceito, aproveitando a desculpa para prolongar o tempo com ela. Enquanto ela prepara a bebida, uma pergunta me escapa, como se já estivesse ali há tempos, esperando para ser dita.— Então... estamos namorando? — Eento soar casual, meio brincalhão, embora a expectativa me traia um pouco.Ela dá uma risadinha, mas desvia o olhar, mostrando uma hesita&cced
LANA MARTINSMeus dias na casa de Daniel começam a ganhar um ritmo próprio. Entre consultas médicas, repouso e os preparativos para a chegada de Nina, cada dia segue um padrão familiar, mas eu sinto que algo está mudando. É uma sensação boa, como se, finalmente, eu estivesse me preparando para algo maior do que imaginava.Certa manhã, a arquiteta chega com amostras de cores e tecidos para o quarto da bebê. Daniel a acompanha enquanto ela me mostra as opções, seus olhos atentos a cada detalhe, como se tudo fosse essencial. Tento disfarçar, mas não consigo evitar a emoção. Ver tudo tomando forma é um sinal claro de que uma nova fase está prestes a começar.— O que acha dessa cor? — A arquiteta perg
LANA MARTINSEstou em um espaço estranho, envolta em uma mistura de escuridão e luz, como se estivesse flutuando entre dois mundos. Fragmentos de vozes ecoam ao meu redor, mas parecem tão distantes, como se o mundo inteiro estivesse a milhas de distância. O peso no meu peito se dissipou, mas uma dor surda ainda persiste — algo que não consigo identificar completamente. Minha mente se perde entre realidade e desconhecido, sem noção exata de onde estou ou do que está acontecendo.Quando finalmente desperto completamente, a confusão me invade. Estou num hospital; os monitores emitem sons metálicos ao meu redor, e a dor, agora mais real, parece fazer parte de mim. Algo mudou, mas o medo ainda me consome. Onde está Daniel? E minha filha?O tempo parece congelado