A primeira vista a cidade se mostrou maior do que eu imaginava, com ruas movimentadas e uma avenida com algum trânsito, nada demais, crescendo em Nova York nunca estive muito tempo em cidades pequenas, mas parecia ser um lugar agradável, vi algumas lanchonetes e restaurantes o que me deixou animada pensando que não teria dificuldade em achar um emprego, estacionei olhando um mapa da cidade que trazia dentro da bolsa e consegui rapidamente me localizar, a casa ficava alguns bons quilometros afastada da cidade, mas eu precisava comer, saí do carro caminhando pelas calçadas e olhando uma vitrine ou outra, entrei na primeira lanchonete e o cheiro de muffins me deu água na boca, o lugar parecia estar nos anos 70, com toda uma decoração a caráter, mas muito bem conservada, não estava muito cheio, mas optei por uma mesa perto das janelas ao invés de sentar em uma banqueta no balcão, uma garçonete loira e com um sorriso desconcertante anotou meu pedido, enquanto era chamada por outras mesas, vez ou outra alguns olhares eram direcionados a mim mas ninguém disse nada, estava claro que não recebiam muitos visitantes por aqui, a garçonete trouxe meu prato até a mesa e se sentou na cadeira a minha frente com o mesmo sorriso.
- Meu nome é Margareth, mas pode me chamar de Magie.
Apertei a mão estendida ainda me decidindo sobre como agir, mas de qualquer modo teria que conviver com as pessoas se iria mesmo viver aqui.
- Melissa.
- É um lindo nome, não recebemos muitas pessoas por aqui nessa época do ano, a maioria dos turistas que vêm visitar o parque preferem vir no verão.
- Não estou aqui para visitar o parque, eu estou me mudando para a cidade.
O sorriso desconcertante ficou ainda maior, o que podia fazer com que a mulher quase brilhasse se é que isso era possível, Margareth era uma loura estonteante, parecia jovem talvez alguns anos a menos que eu, a pele clara de aparência macia, e os olhos azuis podiam encantar qualquer pessoa, mas os lábios grossos e o nariz fino e arrebitado é que chamavam realmente atenção, era bonita o suficiente para ser uma rainha da beleza, e isso combinava muito com sua atitude alegre e positiva, seguiu contando sobre a cidade de maneira entusiasmada, não parecia ter a menor preocupação por estar falando com uma completa desconhecida, em alguns minutos descobri que trabalhava como garçonete para pagar os custos de um curso para esteticista, que sonhava em montar a própria clínica de cuidados femininos, havia nascido em uma cidade vizinha, mas se mudou para poder estudar, vivia em um apartamento a apenas algumas quadras, olhava interessada enquanto ela continuava me dizendo com detalhes quais lugares eu deveria conhecer e quais lojas eu deveria visitar para mobiliar a casa, vez ou outra levantava da mesa para atender pedidos e rapidamente voltava a se sentar a minha frente, eu seguia minha refeição apreciando a conversa, já fazia muito tempo que não conversava assim com alguém, cresci cercada de amigas principalmente na faculdade, mas James as afastou alegando que eram uma má influência, antes que me desse conta estava sozinha com ele.
Terminei a refeição e sai da lanchonete agradecendo a conversa e prometendo a Maggie voltar amanhã para outro café, como se toda a simpatia não fosse o suficiente a mulher me abraçou muito contente e anotou seu número em um guardanapo para eu ligar caso precisasse. Liguei o carro e segui o caminho indicado pelo mapa algum tempo se passou e os prédios e residências desapareceram da paisagem dando lugar a árvores e muitas áreas verdes, o céu azul contrastava perfeitamente com a paisagem, tomei o primeiro desvio a esquerda e segui pelo asfalto entre as árvores, cheguei a uma clareira e um pouco mais a frente avistei a casa. Não era exatamente o que eu esperava, acho que as fotos não me preparavam para isso, era ainda maior do que eu imaginava e com um aspecto envelhecido, o enorme casarão de dois andares estava cercado por uma vegetação espessa e um jardim que precisava de cuidados rodeava a casa, a pintura das imagens já quase não se via, estacionei em frente e tomei um último instante antes de seguir, estava em casa agora, finalmente depois de tanto tempo estava em casa.
Caminhei olhando para o gramado alto, e tomando cuidado para evitar possíveis buracos escondidos na vegetação, a casa era enorme, estava no meio da clareira parecendo imponente mesmo no estado de má conservação, a frente se via uma varanda grande depois de alguns pequenos degraus, a madeira do piso não parecia ruim, mas rangia a cada passo dado, a varanda estava em toda a frente da casa por longos metros, a porta principal era larga e alta, mais do que a maioria das portas que eu já tinha visto, as janelas com grandes vitrais e até uma porta francesa em um dos lados, retirei a chave da bolsa e abri a porta entrando na casa, o lugar era realmente enorme, o cheiro de poeira era forte, havia muitos móveis cobertos por lençóis, o piso de madeira antiga estava sem brilho mas não parecia ruim de tudo, o hall da entrada era grande o suficiente para um pequeno ambiente de estar, a frente se via a escadaria de acesso ao segundo andar, era toda em madeira e estava melhor conservada do que o piso, a escadaria era enorme e visivelmente se estendia a dois corredores no andar superior, segui a direita encontrando o que devia ser a sala de estar, com uma lareira e as portas francesas, as paredes em um tom de verde que não me agradava mas não era nada que não poderia ser mudado futuramente, retornei pelo caminho passando pelo hall e indo na direção oposta, rapidamente cheguei na cozinha, mais uma vez um cómodo espaçoso com armários antigos de madeira e um balcão que ocupava alguns bons metros, no meio uma mesa de madeira para oito lugares, a cozinha era bem iluminada por janelas grandes que davam para o jardim dos fundos, uma porta nos fundos que levava ao exterior da casa e outra porta que dava para uma escadaria que levava ao porão e a lavanderia, não quis descer, teria muito tempo pra isso, além do quê a idéia de descer em um porão de uma casa que estava fechada a vários anos não parecia nenhum pouco agradável, além da cozinha e da sala de estar o primeiro piso tinha mais dois comodos vazios, um quarto pequeno e um banheiro, subi os degraus ouvindo o ranger da madeira sob meus pés, segui um corredor com 3 portas, abrindo uma a uma pude constatar que deviam ser os quartos, eram amplos e bem iluminados, voltando pelo corredor havia um pequeno ambiente com algumas poltronas e portas brancas francesas com vitrais que davam para a varanda do piso superior, mais a frente estava uma porta de correr que acomodava um armário espaçoso, desse lado do corredor apenas uma porta, ao entrar a grande cama de casal com dossel dominava o grande quarto, esta deveria ser a suíte master, era gigantesca, o suficiente para um segundo ambiente com poltronas, uma lareira e portas francesas, também havia um closet de bom tamanho, e um banheiro com uma banheira e chuveiro, abri as portas francesas e caminhei para fora na varanda, era tão espaçosa quanto a do andar inferior, mas o piso parecia mais desgastado provavelmente por causa da chuva e falta de manutenção, a vista era incrível podia ver a vegetação ao redor e um bosque nos fundos da propriedade, também havia uma piscina vazia, e uma casa de madeira pequena e mais afastada, da frente era possível ver até a entrada da estrada secundária, todo o terreno desde o início da estrada pertencia aos meus avós, era amplo e sossegado, me dando a privacidade e a solidão que eu precisava.
Levaria tempo e muito trabalho manual para fazer os reparos necessários e com certeza algum dinheiro, poderia cuidar dos mais urgentes primeiros e ia me virando com o restante depois, nesse momento o que mais importava era uma boa limpeza, procurei por produtos de limpeza nos armários mas não havia nada o que não era nenhuma surpresa já que a casa ficava fechada a maior parte do tempo e apenas alguém vinha algumas vezes pra checar a propriedade é incrível que tenha se mantido praticamente intacta com exceção de algumas janelas com vidros quebrados, pondo minha mente em ordem decidi que o primeiro a se fazer era procurar um mercado e comprar produtos de limpeza e alguma comida, em três dias teria que ir até o escritório do advogado da família que cuidava dessa propriedade, foi gentil ele me enviar as chaves pelo correio quando pedi, mas ainda tinha alguns assuntos que ele queria falar pessoalmente, mas isso me dava tempo suficiente pra pelo menos tornar esse lugar habitável novamente, tranquei a porta e segui rumo ao centro da cidade, agora já estava perto da hora do almoço e o movimento nas ruas estava maior, estacionei em frente a um supermercado qualquer, não parecia muito cheio e agradeci mentalmente por isso, peguei um carrinho e fui pelos corredores procurando produtos de limpeza, os preços eram mais baratos do que os mercados em que eu estava acostumada o que me deixou imensamente alegre, depois de ter suficiente material fui atrás de comidas rápidas, apenas o que fosse mais fácil de preparar, a casa tinha eletricidade e água encanada mas eu duvidava um pouco que tivesse algum eletrodoméstico desse século pelo menos, teria que comprar pelo menos um microondas, e as outras coisas viriam depois, passando pela seçao de eletrodomésticos peguei o mais barato, estava pronta pra sair mas vi uma cafeteira elétrica em liquidação, podia viver sem luxos mas nunca sem café, fui até ela mas não rápido o suficiente, um homem a pegou nas mãos, de costas pra mim o estranho parecia incrivelmente grande se comparado aos meus 1,65m de altura, usava uma farda policial, e sem duvida nenhuma tinha alguns músculos muito aparentes, ainda tinha esperança que houvesse outra ou que talvez ele desistisse da compra, fui até ele e tomei coragem para falar, o homem se virou ao perceber minha presença atrás dele, e parecia que o mundo estava mais lento, sem a menor sombra de dúvidas o rosto másculo e sexy combinava com o corpo forte e musculoso, olhos castanhos profundos emoldurados por sobrancelhas grossas chamavam muita atenção, e o sorriso incrivelmente atraente poderia fazer uma mulher derreter, o homem era todo músculos e testosterona.
- Me desculpe, mas essa é a última cafeteira?
- Sim senhora, acho que é a última.
Meu desânimo se tornou mais evidente.
- Nunca vi você por aqui, é nova na cidade?
- Sim eu acabei de me mudar.
- Nesse caso deixe eu me apresentar, Logan Jones, xerife.
Ele estendeu a mão com um sorriso amigável, mas ter um estranho enorme tão perto de mim ativou todas as minhas defesas, estava petrificada, o homem deve ter percebido meu desconforto porque abaixou a mão.
- Acho que é agora que você me diz seu nome senhora.
- Melissa.
- É um prazer conhece-lá Melissa, como acabou de chegar na cidade vou deixar que leve a cafeteira.
Colocou no meu carrinho, e eu tenho certeza que um sorriso bobo e infantil iluminou meu rosto, poder levar a cafeteira pra casa era uma pequena vitória e eu apreciava vitórias não importando quão pequenas fossem, agradeci a Logan e segui meu caminho até o caixa, segui contente até em casa, e até um pouco constrangida pela generosidade dos estranhos naquela cidade, havia me esquecido que as pessoas podiam ser gentis se quisessem, Deus sabe que isso não fazia parte da minha vida a muito tempo.
De volta a casa, era hora de por a mão na massa, instalei os eletrodomésticos na cozinha e imediatamente pus a cafeteira pra funcionar, levei todos os produtos para a cozinha e me preparei para um longo dia, mas o fato de poder limpar e transformar a casa vazia em meu lar me enchia de satisfação, isso significava um novo começo, e talvez dessa vez, seria uma história com final feliz.
O despertador nunca me pareceu tão inconveniente, pela primeira vez em muito tempo consegui dormir a noite toda, talvez pela exaustão de passar o dia limpando toda sujeira acumulada em décadas, ainda podia sentir os pulsos doloridos, e não havia terminado o trabalho, acabei limpando apenas os comodos que usaria com frequência e mantendo os outros fechados até me decidir, os móveis estavam em bom estado, não eram exatamente agradáveis aos olhos mas teriam que servir pelo menos até eu conseguir um emprego, o único lugar que eu realmente teria que investir tempo e dinheiro o mais rápido possível era a cozinha, embora a água fosse encanada, tinha um gosto estranho de metal que me fazia torcer o nariz, a geladeira era pequena e desligava sozinha, o encanamento da pia tinha vazamentos que inundavam o chão, o fogão estava funcional mas não tinha certeza que deveria arriscar um incêndio usando uma coisa tão velha, a cozinha definitivamente precisava de uma reforma completa, graças a Deus eu
O dia passou voando, comecei a fazer planos para a reforma da cozinha, era espaçosa e bem iluminada, também era uma grande vantagem que a estrutura estava boa, tive algum trabalho desmontando os armários, a madeira antiga pesava horrores, teria que pagar alguém pra vir olhar a rede de instalação elétrica, era antiga e precisava ser vista antes que eu começasse a mexer nas paredes, acabei encarando o porão em vez de continuar procrastinando o problema, não era tão ruim quanto eu esperava, era espaçoso e uma única lâmpada iluminava o centro, descobri maquinas de lavar e secar que por um milagre pareciam funcionar perfeitamente, no mais haviam algumas prateleiras vazias e um bom material de construção civil que me iria ser útil, duas pequenas entradas ajudavam na circulação de ar e não havia mofo aparente, ou ratos, apenas alguns insetos e teias de
Depois de algumas horas, consegui contar toda a história mantendo o máximo de dignidade que consegui, era a primeira vez que falava com alguém sobre tudo tão abertamente, o xerife apenas me deixava continuar falando sem me interromper, apenas me trazia água ou café quando as lágrimas insistiam em cair, o senhor ao meu lado, mantinha uma mão na minha me passando solidariedade, e me oferecia o lenço vez ou outra.Poder contar tudo me fez sentir impotente no começo, culpa, vergonha e decepção eram tudo que eu carregava nos ombros por muito tempo, me senti vulnerável outra vez mas não como havia sido com James, não havia nada de ameaçador nestes homens, comecei contando sobre como conheci James, sobre a morte de meus pais, e segui a história desde o abuso psicológico até a última agressão física, cujas marcas ainda estavam evide
Acordo assustada na escuridão do quarto, a respiração descompassada e o suor escorrendo no meu rosto indicam meu descontrole, outra noite e outro pesadelo, na verdade era o mesmo de sempre, as noites se tornaram longas e torturantes revivendo um dos piores momentos da minha vida, a cada noite eu acabava dormindo menos, os pesadelos insistiam e eu não conseguia voltar a dormir não importa o quanto exausta eu estivesse.O pesadelo começava sempre no mesmo lugar, na sala de jantar onde eu levei os pratos de risoto para a mesa e James havia acabado de chegar do trabalho, dava pra dizer que teve um dia difícil e nesses dias que eram praticamente rotineiros a minha melhor opção era ficar calada e passar despercebida, servi o jantar em silêncio, tudo que consegui preparar foi um risoto, passei o dia me sentindo enjoada e cansada, aquela altura minha situação estava insustentável, não agu
Mais uma noite de pesadelos, graças a Deus Logan não parece ter ouvido toda a minha comoção no quarto, isso levantaria mais perguntas, e eu não tinha as respostas, pelo menos não queria aceitar que tinha, não sou burra vejo que têm algo errado, já até fiz uma pesquisa rápida sobre isso na internet, mas de aceitar que existe um problema até realmente ter que encara-lo é um grande passo.O dia amanheceu frio, o inverno chegaria forte e denso em algumas semanas, das escadas podia sentir o cheiro de panquecas vindo da cozinha, ao entrar no cômodo, Logan estava com uma camisa branca de mangas longas, e um jeans que parecia ter sido feito sob medida, estava de costas fazendo alguma coisa no balcão, Logan era um bom amigo, se fazia presente todos os dias, sendo útil como pudesse, me acompanhando em tudo e nunca fazendo perguntas, mas toda essa paciência tinha limite, m
Não sei como tinha deixado Logan me convencer a fazer isso, agora me olhando na frente do espelho o desespero se fazia mais claro, é claro que ele havia se aproveitado da situação para me fazer aceitar o convite pra jantar na casa dos seus pais, e tudo que precisou fazer foi abrir um sorriso maroto, maldito coração mole. O vestido que eu estava usando era de mangas longas mas não me impedia de sentir frio, mas era melhor do que usar jeans e parecia mais apropriado para a situação, até gastei algum tempo enrolando o cabelo e pondo alguma maquiagem no rosto, que era uma coisa que eu não fazia a muito tempo, James sempre reclamava se eu usasse alguma coisa além de cremes hidratantes para o cuidado da pele, mas eu até gostei do resultado, nada muito marcante apenas um blush pra dar um aspecto mais saudável para a pele pálida, rímel e delineador e um batom do tom dos meus l&aac
Conforme o tempo vai passando tendemos a nos esquecer de coisas que consideramos sem importância, um bom dia, os cuidados diários das pessoas que amamos, estamos tão acostumados a ter todos por perto que ne m cogitamos viver em um mundo sem eles, olhando para a árvore de natal no meio da lanchonete me lembro de como costumávamos montar a árvore e manter todos juntos no natal, ainda tenho algumas semanas antes do natal, mas dessa vez estarei sozinha, e olhar a árvore me deixa com um gosto ruim na boca, como se em outra vida eu pudesse fazer as coisas diferentes. - Você está melancólica hoje Mel. - Desculpe Maggie, é só a árvore de natal me fazendo lembrar de algumas coisas. - Eu entendo você, vai ser o seu primeiro natal na cidade, se quiser pode passar na casa dos meus pais comigo. - Não se preocupe comigo eu vou ficar bem. - Claro eu sei que o xerife vai cuidar disso. - Nós somos amigos, isso não é nada demais. - Sim dá pra pe
Logan não fez muitas perguntas sobre o acontecido no shopping, eu agradeci por isso aliviada por não ter que contar um momento tão constrangedor, de qualquer forma eu nem saberia o que falar. Mas conforme os dias iam seguindo, ele me tratava de uma maneira diferente, o que me fazia sentir ainda pior, a presença que antes era tão descontraída agora pisava em ovos ao meu redor.A situação estava insuportável, eu só queria que tudo voltasse ao normal, Logan estava deitado no sofá fazendo alguma coisa no celular enquanto minha irritação crescia, ele parecia não levar em conta como eu me sentia com isso.- Logan.- Sim querida.- Quero que você volte ao normal agora.- Do que está falando?- Não se faça de bobo Logan, você sabe bem do que eu estou falando.O homem se sentou imediatamente assumindo uma postura s