Capítulo 5
Kaia

— Ouvi dizer que você tem perguntado sobre mim? — O homem alto sorriu para mim, com seus olhos fixos nos meus. Nossos olhares se encontraram, e algo dentro de mim não quis desviar.

Minha cabeça e meus olhos pareciam desconectados. Algo estava acontecendo comigo sob o efeito do seu cheiro. Algo que eu não conseguia entender.

Seus olhos eram cinza-carvão, como as cinzas de um fogo extinto, mas ainda mantinham o calor de uma brasa. Estava arrumado, em um terno preto justo com uma gravata cinza que realçava propositalmente seus olhos.

Ele era elegante e bem-vestido.

Meus dedos coçaram para deslizar por seu cabelo castanho escuro e despentear aquele cabelo perfeito.

Cerrei as mãos para me impedir que os alcançassem e o tocassem.

Quando ele piscou, quebrando a conexão visual, minha loba finalmente atravessou a névoa em que eu havia sido capturada.

— Companheiro! — Ela gritou de alegria. Mas seu entusiasmo ainda não era tão forte quanto o meu.

Companheiro? Como era possível?

Acompanhei seu sorriso, me preparando para responder, quando me ocorreu… por que ele não estava reagindo como eu?

Ele não parecia estar ofegante como eu.

Estava composto, suas mãos estavam normais, nem mesmo ligeiramente cerradas para evitar que me puxassem para ele.

Para me reivindicar como sua.

Ele agia como se tudo estivesse normal, como se eu não fosse sua companheira. Como se minha mera presença não estivesse deixando seu lobo em desorientado, como estava acontecendo comigo.

Eu estava imaginando tudo? Estava certa ou não? Não podia estar imaginando…

— Você esteve perguntando sobre mim? — Ele limpou a garganta, me forçando a acordar do feitiço que sua presença criou. — Sobre minha matilha? — Seu rosto mudou para uma leve expressão brincalhona.

— Sua matilha? — Repeti, ainda tentando me concentrar.

— Sim, eu sou o Alfa da Matilha Fantasma das Trevas.

O Alfa?

Isso explicaria sua aura forte que dominou a cafeteria. Até mesmo os humanos o observavam sem perceber o motivo.

Seus sentidos naturais inatos estavam se aguçando, mas escolhiam ignorar. Estava claro que ele era um homem muito poderoso.

— Só ouvi falar sobre ela e fiquei curiosa. — Respondi, tentando soar despreocupada com a informação.

Eu tinha que ter cuidado. Se meu pai foi visto pela última vez na matilha dele, eles definitivamente se conheceram.

Essa matilha era famosa, e agora eu estava diante do Alfa.

Eu não podia deixar ele saber que eu era a filha do meu pai. Teria que continuar mantendo minha identidade em segredo, como antes.

Droga, mas agora eu era uma desgarrada e precisava de um lugar para ficar e me esconder. Um lugar onde pudesse reavaliar meus planos sem viver como uma desgarrada.

Eu não sabia por quê, mas a Matilha Deserto de Âmbar e a Matilha Fantasma das Trevas tinham um ódio antigo uma pela outra.

Than nunca mencionou o motivo, na verdade, se recusava a falar sobre a matilha inimiga.

Se esse Alfa descobrisse que eu era da matilha de Than… bem, eu não queria nem pensar nisso.

Eu tinha que esconder que pertenci à Matilha Deserto de Âmbar.

— Talvez eu possa me juntar à Matilha Fantasma das Trevas? Estou procurando uma nova matilha. — Coloquei algum dinheiro no balcão, agindo com frieza. Como se estivesse pronta para ir embora a qualquer momento, como se sua matilha não fosse a oportunidade de que eu desesperadamente precisava. Mesmo sendo uma matilha inimiga.

— Então, você é uma desgarrada? — Ele riu alto, com seus olhos continuando a me observar cuidadosamente.

— Você aceita desgarrados?

— Se tornar um membro da Matilha Fantasma das Trevas requer… certos testes. — Ele piscou antes que seus olhos ficassem vidrados.

— Que tipo de testes? — Perguntei. Meus olhos desviaram para um homem que acabava de entrar pela porta da cafeteria.

— Testes rigorosos como corrida, luta, uso de armas, pular de telhados… — O novo homem listou cada teste, enquanto o Alfa se afastava de nós, tendo uma breve conversa com o dono da cafeteria.

Ele estava longe agora, mas seus olhos permaneceram em mim, como se estivesse se preparando para agir. Como se pensasse que eu fosse correr. Mal sabia ele que eu não tinha para onde ir.

— Respiração subaquática… — O novo homem chamou minha atenção.

— Respiração subaquática? Para quê? — Interrompi, achando aqueles testes absurdos. Algo que eu simplesmente não conseguiria fazer.

Eu sequer conseguia me transformar naquele momento.

— Tenho outras habilidades que posso trazer para a matilha. — Ofereci ao homem, enquanto seus dedos continuavam erguidos na minha frente, listando coisas que eu deveria ser capaz de fazer.

— Ei? — Seus olhos examinaram seu superior antes que o Alfa se sentasse em um banco alto no balcão e tomasse um gole de café.

— Você realmente quer se juntar à minha matilha? — Seus olhos brilharam levemente enquanto ele soprava o vapor do café.

Minha loba ainda uivava em minha mente, quase chorando, porque o lobo dele sequer a percebeu. Mas as coisas eram diferentes agora. Eu precisava de um lugar para me manter segura.

Um lugar para ser protegida de Than, porque ele continuaria me procurando. Eu era a salvação de Alora. Ele nunca desistiria.

Embora a Matilha Fantasma das Trevas fosse conhecida como perigosa, talvez sua reputação me desse a proteção de que eu precisava. Talvez, por ser a matilha inimiga, Than não pensasse em me procurar lá.

— Sim. — Respondi após uma pequena pausa. Também precisava encontrar meu pai. Essa matilha podia ter as respostas que eu estava procurando.

O Alfa saltou do banco com um sorriso. Um sorriso que rapidamente se transformou em uma expressão séria quando ele mais uma vez se aproximou de mim.

— Sei quem você é.

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