Capítulo 4
Kaia

Eu os observei se afastando, com minha mente girando com o que eu tinha acabado de ouvir.

Doação de rim?

Eu nunca pensei que o propósito de Than era usar meu rim para salvar Alora…

Isso era ridículo!

Então, desde o começo, eu era uma existência sem sentido para ele. Ele só pensou em mim como uma doadora de órgãos… mesmo sendo companheiros, pelo amor da Deusa.

Ele só ficou comigo por um rim. Como ele podia ser assim… tão cruel!

Meu cérebro não conseguia mais pensar, e o forte zumbido de pensamentos incessantes estava me causando uma dor de cabeça terrível. A pouca esperança que eu tinha foi destruída, e não conseguia encontrar nenhuma razão para continuar vivendo.

— Você precisa permanecer forte… — As palavras encorajadoras da minha loba ecoaram em minha mente.

— Você está grávida.

— Sim, você está certa. — Enxuguei minhas lágrimas. Tinha que permanecer forte pelo bebê. Não podia simplesmente sentar e esperar pela morte. Agora, eu tinha uma criança inocente pela qual lutar.

De repente, senti como se todos os olhos e ouvidos da matilha estivessem sobre mim, todos servindo ao Than, espiões prontos para me trair.

Eu não podia ficar na matilha. Não podia ficar e esperar Alora acordar, esperando pela minha morte. Eu não podia confiar em ninguém.

Eu não tinha escolha… fugir!

Eu tenho que fugir...

...

Já fazia uma semana que eu tinha decidido partir, e não tinha visto Than durante toda essa semana.

Naquela manhã, Freya disse que Alora havia tido reações físicas, mostrando mais sinais de que iria acordar.

Achando que ela poderia acordar nos próximos dias, eu já tinha planejado minha fuga, mas adiantei para aquela noite. Eu não podia esperar mais.

À meia-noite, esperei até a escuridão para executar meu plano de fuga.

Tentei o meu melhor para evitar lugares onde os membros da matilha estivessem de plantão. Sabia que precisava chegar ao portão, então esperei que a troca de turno da meia-noite fosse minha oportunidade de enganar os guardas.

Usei o caminho ao lado do campo de treinamento, pensando que ninguém deveria estar treinando naquele momento.

Mas encontrei Than se exercitando com um guerreiro. Droga!

Eu me abaixei atrás de uma árvore, rezando para a Deusa da Lua que eu não tivesse sido vista.

Os dois pararam e olharam para a área das árvores. Meu coração bateu forte dentro do meu peito enquanto eu me escondia.

— Kaia? — Seus olhos examinaram a área enquanto eu o senti fazer uma conexão mental comigo. Droga! Ele deve ter me visto.

Fechei os olhos para me concentrar, eu não dei nenhuma resposta.

Fiz parecer que eu estava dormindo, nem mesmo tentei tirar ele da minha mente.

Só me movi novamente quando ele retornou ao treinamento.

Mudei minha rota e consegui chegar perto do portão sem ser detectada.

Observei das sombras, esperando o momento mais oportuno para escapar, quando os pelos da minha nuca se arrepiaram ao sentir alguém atrás de mim.

— O que você está fazendo? — Than me encontrou agachada, com um sorriso irônico no rosto.

Minha vida era uma piada para ele?

— Estou indo embora, Than. Não vou mais ficar aqui. — Eu me levantei, endireitando minhas costas.

— Acho que não… — Ele deu um passo em minha direção, mas foi interrompido pelo guerreiro com quem estava treinando. — Alfa? Beta Zane disse que você precisa voltar para o hospital.

— Agora não.

— Ele mandou dizer que… ela acordou? — O guerreiro parecia não entender as próprias palavras que recebeu na conexão mental com o beta.

Than me encarou por um momento antes de girar nos calcanhares. Seu guerreiro o seguiu.

Agora, eu estava sozinha. Essa era minha única chance… Ela ter saído do coma me deu uma oportunidade de ir embora.

Corri direto para fora do portão sem olhar para trás.

...

Continuei correndo até chegar à cidade mais próxima. Não demorou muito para Than perceber que eu tinha fugido por aqueles portões. Seus guerreiros me seguiram durante a noite.

Consegui encontrar uma cafeteria isolada onde tive um momento para descansar. Meus pés estavam machucados e minha garganta seca.

Eu estava grávida e não tinha matilha. O que ia fazer agora? Não tinha certeza, mas sabia que, não importavam os desafios à minha frente, eu me recusava a retornar para a Matilha Deserto Âmbar e para Than.

— Você não é daqui. De qual matilha você é? — O senhor dono da cafeteria, de cabelos prateados, perguntou enquanto enchia minha xícara de café. Ele estava me observando há um tempo e percebeu que eu não era humana como os outros clientes.

— Não. Estou procurando uma pessoa. Alguém que foi visto pela última vez em uma matilha…

— Qual matilha? — Ele murmurou baixinho, mantendo a voz baixa.

— A Matilha Fantasma das Trevas. — Dei de ombros, sem esperar que ele tivesse ouvido falar dela, mas vi seus olhos ficarem vidrados levemente em uma conexão mental.

— O que você tem a ver com essa matilha?

— Estou tentando encontrar alguém. Você tem um mapa? Pode me mostrar a localização? — Perguntei com uma leve esperança, mas ele balançou a cabeça antes de retornar aos seus clientes regulares.

Fiquei ali por mais uma hora, enquanto o dono ignorava minhas tentativas de fazer contato visual com ele. Ele não voltou a me encarar nenhuma vez, mas atendeu a todos os outros clientes.

Devolvi minha xícara de café usada ao balcão e me preparei para pagar minha conta quando o sino da porta soou, sinalizando que alguém havia entrado.

Foi quando o cheiro mais inebriante me atingiu.

Laranjas queimadas com chocolate amargo.

O aroma invadiu minhas narinas, fazendo minha boca salivar.

Com as costas para a porta, eu me virei, mas já encontrei um homem alto e forte que me envolveu por trás.

— Ouvi dizer que você tem perguntado sobre mim?

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