Bertha adentrou o cômodo de Dilany esbaforida. Freou um pouco ao perceber que nem o barulho acentuado da cortina fez a jovem virar-se da posição que estava.
Aquela situação já lhe preocupara, sua filha não tinha ânimo para nada.
"Dilany chamaram no portão, quando olhei pela ventana não pude crer."
"Quem é mãe?" Pergunta apática.
"A rainha e aquele guarda que usa a farda diferente dos demais."
"Catléya e Corvel!" Estranha achando improvável.
"Sim Corvel e a duquesa Massara, esqueço que ela não é mais a rainha." Se explica. "Estou com medo de atender."
"Porquê?"
"Ontem para salvar a vida do pastor Calixto. Salvador revelou-se ao médico da cidade. De repente ele já contou a ela."
"Não tens do que temer mãezinha. Se ela veio atrás do filho diga aonde ele está e problema resolvido."
"As coisas não são assim Dilany. Salva
Via sim amontoado de corpos do lugar da onde veio. Muitas das vezes não tinha como mandar seus entes queridos de voltas aos familiares, para que lhe dessem um funeral descente.Inúmeras vezes cavou uma cova rasa para sepultar um companheiro de farda. Já teve que fazer fogueira de corpos, era o que a situação inclinava no momento.Na guerra a situação sempre foi devastadora. Entretanto seus 560 dias de guerra ficaram minúsculos no mesmo instante em que que Nikolai abriu a porta.Sua filha estava a salvo, sentia-se agradecido por isso. Mas não apagava a tristeza e impotência de não ter chegado a tempo. Da onde Nikolai vem seu povo é conhecido como frio. Entretanto nenhum senso comum regeria sua vida e atitude naquele instante.Odor da morte lhe era familiar mas as lembranças que tem junto ao cheiro fétido são de homens em batalha nunca de meninas na qual ele vivia no culto de domingo.Saiu do tra
O suor era frio, escorria pelo rosto de traços finos de Triana. As mãos trêmulas esfregavam-se uma na outra. Seu corpo estava gélido, a única parte aquecida era o estômago que lhe queimava cada vez que seu pai tentava saber os detalhes dos fatos que a afligiam."Filha papai não quer te forçar nada. Mas outras meninas correm perigo." Nikolai ajoelhado diante da filha argumenta.A casa de Calixto era uma das melhores das classes baixas de Arbória. Ter feito parte do clero lhe rendeu alguns frutos. Uma casa grande e arejada, plantar para si próprio, criar animais sem ter de dar 90% para o reino.Lauriano pai de Maria o mais sereno entre todos os pais, foi o escolhido para representar os demais. Ficou acertado que somente ele acompanharia a conversa de Nikolai e Triana. Como sempre Jofram se impôs contrário, porém com aceitação dos demais teve de resignar-seTriana estava senta em uma poltrona robusta de estofado
René aceitou receber Nikolai e Lauriano. Sentava por detrás da mesa do rei como foras sua. Entre uma baforada de tabaco no ar e um gole de vinho, ouvia sem dar muita importância para o que os pais falavam.No momento em que Nikolai questionou aonde estaria Nuno, o duque deixou de ser tão inexpressivo."O que insinuas perguntando pelo rei?""Tinha um homem de sua guarda morto no meio das meninas. Não achas no mínimo intrigante." Responde Lauriano."Para mim está claro feito água. Ele deve ter visto algo suspeito, ido atrás e o mataram. Morreu como herói.""Pareces fazer pouco caso de uma tragédia." Se irrita Nikolai. "Há indícios que tenha mais guardas metidos nesta história. Eu exigi saber aonde está o rei.""Aqui não exiges nada, mas se queres saber do rei, deve
"O que Silas Lerin faz aqui?" Pergunta Nuno já querendo elevar a voz."Calma alteza! Está tudo sobre controle. Silas estar aqui pois o Ziran não aguenta mais o pequeno trabalho que damos a ele..""Pouco me importa esse velho. Não quero perto de mim pessoas que tentam afrontar-me.""Ele já aprendeu a lição. Além do mais, tu fizestes o mais difícil que foi perdoa-lo.""Minha cabeça está quente, não tenho tempo para esse pobre diabo. E problema com as camponesas?""Está sendo resolvido.""Soube que Calixto fora golpeado, largou a batina, mas é um homem temente a Deus. Quero punição para o guarda.""Já resolvi também essa questão, como disse. Tudo sobre o mais absoluto controle por aqui."👑👑👑👑👑Dilany estava deitada em sua cama, mal se lembrara da última vez
A dor da impotência lhe consumia o pouco de sono que tinha. Por toda sua breve vida, supriu uma raiva dos nobres, mas naquele momento odiava um. Queria ir para bem longe daquele ser, ao mesmo tempo gostaria de vê-lo pagar por todos os seus pecados enforcado em praça pública. Sabia que era apenas desejos poluindo seu coração.Logo após deixar Triana na casa de Calixto, Dilany convenceu ao seus pais a não pernoitar no velório. Toda aquela situação lhe causava angústia, precisava regressar para casaCícero e vários camponeses foram dispensados das atividades com os nobres para acompanhar o enterro dos corpos. Para Dilany e alguns, era nítido que algo os nobres querism esconder com excessiva generosidade. Por muitas vezes, soube dos enterros com a carne putrificada do morto, pois os parentes espervam um pai, um filho... Sair do palácio para enterrar seu ente querido.Iria se levantar, parar de pensar nessa gente que se dizia nobr
Por DilanyFaz muito tempo que a minha vida vem se repetindo em um ciclo. Na verdade, são dezoito anos aonde tudo estava errado. Sentia-me faltando um pedaço. Ser quem não eu era, me fazia um ser humano quebrado e defeituoso.Entretanto, tudo piorou quando me despi e tirei a minha máscara masculina. Como é difícil ser mulher! Dilany mal renasceu e a aprisionaram dentro de um corpo feminino.Não podes trabalhar...Não podes amar...Seja donzela...Não podes vestir o que quer...Arrume os cabelos...Como Dilan, a maior obrigação que tinha além do trabalho, era curva-me reverenciando um povo soberbo e tolo, que acreditam ter sangue azul.Como Dilany até meu pai virou um ditador. Culpa dele? -- Não, óbvio que não -- senhor Cícero me ama.
Havia um clima diferente na humilde casa dos Ziran. Dilany e Salvador toleravam-se mais, contudo não agiam como uma casal. Trabalhavam na plantação, conversavam pelos cantos, porém dormiam separados.Cícero queria intervir, perguntar o que estava se passando. Sua filha andava por aí vestida de homem como se fosse natural. Tudo bem para se proteger, mas agora não haveria necessidade e toda aquela atitude lhe causava estranheza."Creio que seja mais prudente deixar que eles se resolvam." De alguma forma, Bertha tenta acalmar Cícero."Ainda sou o pai dela. Dilany ao ficar maior de idade, tem dado mais trabalho do que nunca.""Sim és o pai e sempre será. Mas agora não podes passar por cima do marido dela.""Minha intenção é ajudar somente. Nada mais que isso. Essa menina esperava o aniversário com afinco para trajar um vestido e agora que pode usar, vive fantasiada de Dilan."As pal
Madame Irlanda saiu do cômodo de Salvador, com uma rapidez notória."Já!" Cícero se surpreende."Sim ele é forte como um touro. O senhor mais do que ninguém sabe disso.""Verdade. Depois de tudo o que esse homem passou na cachoeira de cristais, realmente ele é bem forte.""Poderia chamar Bertha para ensinar os procedimentos medicinais."Cícero chamaria sua esposa na cozinha, porém foi impedido por Dilany que por ali aguardava noticias de Salvador. "Não precisa pai. Eu mesma cuidarei dele. Minha mãe já tem muitos afazeres na casa e a responsabilidade é minha."Cícero assente satisfeito com a decisão da filha. Dilany não poderia continuar na tratar o marido e seu senhor como estranho -- assim o camponês pensou."Pois bem. Deves dar o chá