Alguns dias depois, por perceber que não conseguia se esquecer dos olhos bem marcados daquele homem, cujo nome Aisha ainda nem fazia ideia de qual era, ela resolveu voltar ao deserto, pois além de ser o seu lugar favorito em toda a cidade, ela gostaria de se encontrar com ele novamente, mas de forma que ninguém soubesse, a fim de que não a julgassem por algo que ela não cometeu, pois, segundo os costumes do seu país, as mulheres não podiam ser vistas com nenhum homem que não fosse o seu marido, mesmo que elas ainda fossem solteiras. Então, antes de sair para o deserto, ela foi caminhando até a cozinha, pois imaginou que sua mãe poderia estar lá ajudando a Hana a preparar os alimentos. E quando ela viu sua mãe, perguntou:
– Mãe, vocês ainda vão precisar de mim hoje, ou posso sair um pouco? – Perguntou Aisha a sua mãe.
– Filha, todos os dias você vai querer ir até esse deserto?
– Deixei a menina ir, Samira. Já está tudo adiantado por aqui. E se ainda estiver faltando alguma coisa, eu me comprometo em te ajudar. – Disse Hana, como sempre ajudando Aisha a conseguir o que quer.
Enquanto isso, Surya escutava a conversa e cada vez mais ficava certa de que a família amava muito Aisha e que provavelmente ela era a favorita de Hana.
– Tudo bem. Pode ir, mas não demore muito, pois seu pai daqui a pouco vai chegar do trabalho junto com o seu irmão e vai acabar perguntando por você, está bem? – Perguntou Samira, a mãe de Aisha.
– Está bem, mãe. Não me demoro. Até mais. – Disse Aisha, dando um beijo no rosto de sua mãe e dando um forte e alegre abraço em Hana, se despedindo de ambas, e ignorando a presença de Surya na cozinha.
– E não se esqueça de colocar o seu véu! – Ordenou a mãe de Aisha, já imaginando que a filha pudesse esquecer devido ao imenso estado de euforia no qual ela se encontrava.
Então Aisha subiu as escadas e caminhou até o seu quarto, a fim de pegar o véu. Dessa vez ela escolheu a cor verde, então indo para a frente do espelho levantou o véu pelas extremidades e cobriu o seu cabelo, passando novamente as extremidades por baixo do queixo e envolvendo o pescoço. Depois ela saiu.
Mas enquanto ela caminhava em direção ao deserto a fim de se distrair um pouco, o homem estava caminhando por entre as mais de mil ruas da Medina, as quais eram as mais movimentadas da cidade. E nesse momento ele a avistou e passou a segui-la para aonde quer que ela esteja indo. E Aisha, sendo pega de surpresa, quando ela estava quase chegando até o deserto, em um local onde não havia ninguém além dela, ele conseguiu alcançá-la e quando ele chegou perto dela, ele a chamou:
– Olá, senhorita. – Disse o homem, que estava vestindo uma túnica branca, mas dessa vez ele estava sem o turbante na cabeça.
Como Aisha não sabia que tinha alguém além dela naquela localidade, ela se assustou quando ouviu essa voz, então no mesmo momento ela se virou para a fim de saber quem estava dirigindo a palavra a ela.
– Oi. – Repetiu o homem.
E quando ela viu que se tratava de um homem, ela se assustou, pois teve medo de que alguém a visse perto dele. Mas ao mesmo tempo em que ela se assustou, ela sentiu um pouco de alegria, pois viu que se tratava do mesmo homem viajante que ela tinha visto naquele dia no deserto com a caravana.
– Oi. – Disse ela disfarçadamente de modo que ninguém visse ou a escutasse. E ao mesmo tempo, olhando de forma assustada ao seu redor,
– Qual o seu nome? Você é aquela moça que estava sentada debaixo da tenda quando cheguei de viagem, estou certo? – Perguntou o homem.
– Meu nome é Aisha, e o seu? Sim, era eu quem estava na tenda naquele dia no deserto. – Disse ela enquanto caminhava um pouco mais a frente dele. E para que ninguém suspeitasse dela nem a reconhecesse, ela ajeitou o seu véu de modo que uma parte dele passasse pelo seu rosto, deixando apenas os olhos expostos.
– Meu nome é Rachid. Você poderia me dar a honra de te conhecer melhor? – Perguntou o viajante, acompanhando-a há alguns passos atrás dela.
– Me conhecer? Como assim? – Perguntou ela, sorrindo por baixo do véu.
– Conversar mais com você. Eu quero muito te encontrar de novo.
– Não podemos nos encontrar. – Respondeu Aisha.
– Por que não?
– Por que não faz parte dos nossos costumes. Não somos casados. As pessoas não podem nos ver aqui. – Disse ela enquanto começava a andar mais depressa para que ninguém os visse juntos.
– Mas se você me der a oportunidade de te conhecer melhor, podemos marcar o nosso casamento.
– E por que você acha que a minha família te aceitaria como o meu marido? – Perguntou ela ainda caminhando na frente dele.
– Eu faço o que for preciso para estar com você pelo resto da minha vida. A partir do momento em que eu te vi, você já entrou no meu coração, Aisha.
Nesse momento, Aisha ficou calada e tomada pela esperança de ter uma família com aquele homem por quem ela se encantou desde a primeira vez que viu.
– O que eu tenho que fazer para que a sua família me aceite como o seu marido? – Perguntou ele, enchendo o coração dela de alegria.
– Você tem que falar com os meus pais e com o meu avô.
– E onde eu poderia me encontrar com eles?
– Na casa com portão grande azul, o portão principal, próximo ao início da Medina.
– E quando eu poderia ir até lá?
– Ainda não sei. Tenho que conversar com eles primeiro.
– Não seria melhor nós conversarmos juntos?
– De jeito nenhum!
– Por quê?
– Porque haveria uma grande chance deles não te aceitarem por pensarem mal de mim, e ainda me julgarem como impura. Além disso, eles podem querer me castigar.
– É melhor eu conversar com eles longe da sua presença. Depois, sim a gente marca um dia para todos se conhecerem.
– Tudo bem. Eu aceito tudo o que você me propuser. Mas me diz uma coisa, por que você visita tanto o deserto? – Perguntou Rachid, curioso.
– Eu amo estar no deserto. Ele me faz imaginar milhões de coisas.
– Como o que, por exemplo?
– Como seria a vida além dele. Como seria a vida no ocidente. – Respondeu Aisha, sonhadora.
– Você nunca foi ao ocidente?
– Eu nunca fui. Você já foi?
– Sim, muitas vezes. Podemos viajar para algum país do ocidente e passarmos a nossa lua de mel lá, se você quiser. – Disse Rachid, encantando Aisha.
– Seria um sonho.
– Você pode escolher o país e nós iremos.
– Tudo bem. – Disse Aisha, sorrindo.
– Mas agora eu tenho que ir.
– Está bem. – Lamentou ele.
– Então até outro dia. – Disse ela, reforçando que o véu estivesse em seu rosto. E nesse momento ela desistiu de ir até o deserto. Foi caminhando e indo embora para longe dele em direção a sua casa.
Passaram-se cinco dias depois da última vez em que Aisha se encontrou com Rachid. Ela não conseguia tirá-lo da cabeça, principalmente depois que ele falou que poderia se casar com ela. Mas mesmo que ela tivesse sentido um grande interesse por ele, ela ainda não tinha conversado sobre isso com a sua família, nem mesmo com Hana, a qual era considerada a sua melhor amiga. Então não sabia o que esperar da reação deles, principalmente de seu pai. Entretanto, a única reação que Aisha já poderia imaginar era com relação à Surya, que ficaria muito feliz de ver Aisha se casando e indo morar bem longe daquele país.Enquanto Aisha estava em seu quarto, ela se lembrou de uma música a qual gostaria de escutar. A música se chama El Arbi e é cantada por Khaled. Essa era uma das músicas favoritas de Aisha, a qual ela amava danç
O tempo passou e Aisha não percebeu que já havia anoitecido. Ela se esqueceu da hora enquanto esteve na tenda com Rachid. E se assustou quando viu que a noite já havia caído.– Rachid! Já anoiteceu! Tenho que ir embora. Minha família já deve estar me procurando. Se me encontrarem aqui eles podem até me matar.– Não diga uma coisa dessas, Aisha. Não fizemos nada de errado! Qual o erro de duas pessoas apaixonadas?– O erro é que não somos casados e não podemos ficar sozinhos aqui. Os costumes não permitem.– Então, o que faremos agora?– Eu vou sair primeiro e depois de um tempo você vai. Não podemos deixar que ninguém desconfie da gente.– Tudo bem. Vou fazer conforme você está falando.E antes de Aisha sair da tenda, ela deu mais um jeito apaixonado em Rachid, se
Quando Aisha pegou o seu véu, cuja cor era azul turqueza, ela foi para a frente do espelho a fim de se arrumar, então passou o véu cuidadosamente pelos cabelos, a fim de cobri-los, desceu as escadas e foi caminhando até a sala, onde estavam a sua mãe e Surya sentadas no sofá tomando um chá enquanto conversavam.– Mãe, eu vou para o deserto. Vou ficar lá um pouco.– Aisha, você pode ir, mas não durma de novo nas ruínas como você fez ontem. Você nos deixou muito preocupados.– Não vou perder a hora de novo.– Então pode ir.– Tchau. – Disse Surya.– Tchau, Surya. – Respondeu Aisha.Então Aisha foi caminhando até o deserto e foi direto para a tenda onde havia se encontrado com Rachid no dia anterior. Alguns minutos depois, ele chegou e a viu sentada debaixo da tenda.
No fim do mês, como já havia sido acordado, o casamento seria feito, e já estava tudo pronto para que o enlace matrimonial fosse feito. E tudo estava do jeito que Aisha sempre sonhou. Suas mãos estavam pintadas, com os desenhos que as árabes costumam fazer. O seu vestido branco com muitas flores coloridas. Tudo estava cheio de alegria e Aisha mal podia creditar que tamanhã felicidade estava vivendo. Estava casando com alguém que ela ama e com a autorização de seu pai, seu irmão e do seu avô.Depois que os anciãos oficializaram a união, Aisha viajaria com o seu agora marido Rachid para o Egito, pois ele tinha os seus compromissos para finalizar antes de viajarem realmente para viverem a lua de mel, que seria em algum país do ocidente, como Rachid havia prometido para Aisha bem antes deles se casarem, o que a deixou ainda mais feliz.Então eles foram até o aeropo
Depois de eles embarcarem no avião, Aisha logo adormeceu e depois de horas de vôo, eles chegaram ao país de destino. E quando eles foram avisados sobre o desembarque, Aisha perguntou:– Habib, agora você pode me dizer qual o país onde passaremos a nossa lua de mel. Onde estamos?– Estamos no Brasil.– Em que cidade do Brasil? Sempre quis conhecer o Brasil. – Perguntou Aisha, sentindo-se maravilhada.– Estamos no Rio de Janeiro, ou simplesmente, Rio, a qual é uma das cidades mais famosas do mundo. Por causa de sua imensa beleza e por seu conteúdo histórico, ela é chamada de cidade maravilhosa.– Eu já ouvi falar do Rio de Janeiro, mas eu sempre ouvi que aqui, por mais que seja muito lindo, é também muito violento. Tenho um pouco de medo.– Não tenha medo. Estamos juntos e vamos tomar muito cuidado por aqui. &ndash
Quando Aisha e Rachid chegaram ao local, ela viu que o estabelecimento era, de fato, uma casa de festas, onde poderia ter apresentações de bandas, e outros tipos de atrações, mas uma coisa que Rachid não havia falado com Aisha, era que essa casa noturna era mais destinada a receber os homens como os seus principais visitantes. Na verdade, Rachid estava escondendo muitas coisas de Aisha, uma das coisas era com relação a esse trabalho na casa noturna, pois esse estabelecimento era muito mais do que um simples local de apresentações e shows de bandas ainda desconhecidas ou pouco famosas. E Aisha, só de olhar a fachada, não gostou nem um pouco, pois finalmente percebeu que aquele era um local destinado para que diversas mulheres fizessem programa.Era uma realidade completamente diferente do que Aisha estava acostumada em seu país, pois ela nunca tinha visto um lugar como esse antes.&ndash
Cerca de sete dias depois, quando Aisha já havia esfriado a cabeça e entendido que a sua vida estava tomando um rumo mais do que terrível, ela começou a pensar em diversas possibilidades de sair dali. Mas primeiramente, ela teria que avisar a sua família sobre o que tinha acontecido com ela.– Camile, eu preciso de um telefone. Você poderia me ajudar a conseguir, por favor? – Perguntou Aisha, que não tinha conseguido dormir por mais uma noite.– Oi, Aisha, bom dia! – Disse Camile, se espreguiçando. Você não dorme, não?– Como que eu vou conseguir dormir passando por essa situação?– Mas é melhor você aceitar, pois é assim que vai ser. – Respondeu Rafaela, se virando na cama para dormir por mais tempo.– Mais tarde eu te ajudo a conseguir um celular. Uma das meninas conseguiu roubar de um client
Aisha ficou no alojamento, pensando no que poderia fazer para escapar do seu serviço, pois não queria fazer programa nem naquela noite nem em dia nenhum. Então ela decidiu fingir que estava doente para que ninguém exigisse que ela prestasse qualquer serviço, muito menos aquele tipo de serviço que ela jamais poderia imaginar, quanto mais cumprir. Então, quando todas as meninas desceram para o salão principal, Aisha ficou no alojamento deitada e Leila sentindo falta dela junto com as outras meninas, pensou que ela poderia estar atrasada, então subiu até o alojamento e disse:– Você não vai descer junto com as outras meninas? Você precisa trabalhar. Precisa pagar todo o dinheiro que nós investimos em você.– Não estou me sentindo bem hoje. Não consigo nem me levantar dessa cama, que dirá descer e trabalhar. – Respondeu Aisha, esfrega