Passaram-se cinco dias depois da última vez em que Aisha se encontrou com Rachid. Ela não conseguia tirá-lo da cabeça, principalmente depois que ele falou que poderia se casar com ela. Mas mesmo que ela tivesse sentido um grande interesse por ele, ela ainda não tinha conversado sobre isso com a sua família, nem mesmo com Hana, a qual era considerada a sua melhor amiga. Então não sabia o que esperar da reação deles, principalmente de seu pai. Entretanto, a única reação que Aisha já poderia imaginar era com relação à Surya, que ficaria muito feliz de ver Aisha se casando e indo morar bem longe daquele país.
Enquanto Aisha estava em seu quarto, ela se lembrou de uma música a qual gostaria de escutar. A música se chama El Arbi e é cantada por Khaled. Essa era uma das músicas favoritas de Aisha, a qual ela amava dançar. Como ela queria muito ouvir a música de novo, ela começou a procurar o CD que tivesse essa musica no seu quarto, mas não encontrou. Então se lembrou de que o CD tinha sido emprestado para o seu irmão há algumas semanas atrás e até o presente momento ele ainda não o tinha devolvido para ela. Pensando em pegar o seu CD de volta, Aisha foi caminhando até o quarto de seu irmão, e quando ela chegou até à porta, a qual estava fechada, conseguiu ouvir uma breve conversa de Surya. E quando ela olhou pelo buraco da fechadura, viu que Surya estava sentada na cama, de costas e falando ao telefone. Estava conversando com alguém que Aisha não conseguiu saber quem era, mas ficou prestando atenção no assunto, pois pressentiu que Surya estivesse escondendo alguma coisa de sua família e de seu irmão.
– Não posso falar por muito tempo, pois pode chegar alguém e me ouvir conversando com você. – Disse Surya com alguém ao telefone. Depois de alguns segundos ouvindo o que a outra pessoa estava dizendo, Surya respondeu: – Eu só queria saber se você já chegou no meu país e se você já passou pelo deserto. – Alguns minutos depois, ouvindo o que a outra pessoa estava falando, ela respondeu: – E você já chegou a encontrar com ela? Vocês conversaram? Quero esse assunto resolvido o quanto antes! – Disse Surya. E depois de passar alguns segundos escutando a pessoa do outro lado da linha, respondeu: – Ótimo. Agora tenho que desligar, pois não posso correr o risco de chegar alguém aqui e ouvir a nossa conversa. Tchau. Até outro dia. – Disse Surya e no instante seguinte desligou.
Quando Aisha viu que Surya havia desligado o telefone, saiu de perto da porta, andando depressa, em direção ao seu quarto, e de forma cuidadosa, para que Surya não ouvisse os seus passos, e ela pudesse continuar acompanhando essa história sem que Surya percebesse, pois se ela estivesse tramando alguma coisa com essa pessoa do outro lado da linha telefônica, provavelmente não seria bom para Aisha. Então ela teria que ficar atenta a qualquer movimento estranho de sua cunhada, pois como Surya queria a parte de Aisha na herança que o seu marido Zayn receberia depois do falecimento de seus pais, Surya seria capaz de qualquer coisa para se ver livre de Aisha. E enquanto o tempo passava, ela ficava fazendo seus milhões de planejamentos e esperando a melhor oportunidade para agir como uma cobra e dar o bote.
Conforme as horas do dia foram avançando e foi se aproximando o final da tarde, Aisha pegou o seu véu, dessa vez na cor branca, foi para a frente do espelho e cobriu os seus cabelos com ele. Em seguida, ela desceu as escadas e foi caminhando até a cozinha, a fim de pedir a sua mãe e avisar a Hana que ela estava indo até o deserto para ver o pôr do Sol.
– Mãe, eu posso ir até o deserto agora?
– Pode, mas não demore muito, pois daqui a pouco vai anoitecer.
– Está bem. Até mais tarde. Tchau, mãe. Tchau, Hana. – Disse Aisha se despedindo e dando um abraço tanto em sua mãe quanto em Hana.
Quando Aisha saiu de casa, ainda em frente ao seu portão, ela olhou para todos os lados para ver se encontrava novamente com Rachid. Mas como não o viu mais, resolveu ir caminhando até a tenda, onde ela sempre ficava para ver se o encontrava pelo caminho.
Quando ela chegou até a tenda, ela se sentou como de costume, ficou olhando para o deserto e imaginando o que ela poderia conversar com Rachid, caso ele aparecesse de repente. Alguns minutos depois ele chegou, passou por ela. Conforme ele andava, ele olhava para ela, como se pedisse através dos olhos para que ela o acompanhasse. E foi o que ela fez.
Ele foi caminhando até uma tenda que ficava distante daquela onde ela ficava todos os dias. A tenda se localizava mais no interior do deserto, e ficava longe daquele lugar onde era mais frequentado. Como ela conhecia muito bem aquelas áreas, sabia que a tenda para onde ele estava indo era um lugar mais afastado e por isso ela o seguiu, mas sempre com cautela, olhando ao seu redor para se certificar de que não estava sendo observada por ninguém que pudesse denunciá-la nem que pudesse servir de testemunhas contra ela.
Quando chegou a região que tinha somente aquela tenda, ele entrou e se sentou aguardando por ela. Em seguida ela também chegou, e se sentando a frente dele, começaram a conversar.
– Aisha, como você está?
– Oi, Rachid. Estou bem.
– Quanto tempo que a gente não se vê. Se eu passo um dia longe de você, parece que passei um ano. Senti muitas saudades de ver os seus olhos de novo. – Disse ele fixando os seus olhos nos de Aisha.
– Eu também não consegui te tirar da minha cabeça nem por um minuto.
– Você chegou a falar de mim para a sua família? – Perguntou ele, tentando pegar nas mãos de Aisha.
– Não falei. Fiquei com medo da reação deles.
– Medo de quê? O que eles poderiam fazer contra você? Até onde eu sei, não fizemos nada de errado.
– Eu sei que não fizemos nada de errado, mas eles ainda não falaram de casamento comigo e eu penso que eu poderia estar me precipitando em falar isso com eles antes deles iniciarem o assunto.
– Se você entrar no assunto, talvez eles permitam até que você escolha o seu noivo. Por favor, não deixe essa oportunidade escapar. – Disse ele ainda segurando as mãos de Aisha.
– Talvez você tenha razão. Não vou perder a oportunidade de ficarmos juntos.
– Tente falar com eles, por favor. Talvez esse nosso encontro no deserto tenha sido obra do destino.
– Eu não duvido disso. Nunca duvidei. Vou tentar, talvez hoje ainda.
– Eu posso te dar um beijo?
– Um beijo? – Perguntou Aisha sorrindo. – Mas não somos casados. Não podemos nos beijar. – Disse ela fechando os olhos, mostrando que por mais que ela dissesse “não”, ela queria ser beijada por aquele homem que a tinha deixado apaixonada.
– Eu quero tanto ficar perto de você. – Disse ele se aproximando dela para tentar beijá-la.
– Eu também quero muito ficar perto de você, Rachid. – Disse ela, acariciando o rosto dele.
E nesse momento os lábios dele tocaram os dela.
O tempo passou e Aisha não percebeu que já havia anoitecido. Ela se esqueceu da hora enquanto esteve na tenda com Rachid. E se assustou quando viu que a noite já havia caído.– Rachid! Já anoiteceu! Tenho que ir embora. Minha família já deve estar me procurando. Se me encontrarem aqui eles podem até me matar.– Não diga uma coisa dessas, Aisha. Não fizemos nada de errado! Qual o erro de duas pessoas apaixonadas?– O erro é que não somos casados e não podemos ficar sozinhos aqui. Os costumes não permitem.– Então, o que faremos agora?– Eu vou sair primeiro e depois de um tempo você vai. Não podemos deixar que ninguém desconfie da gente.– Tudo bem. Vou fazer conforme você está falando.E antes de Aisha sair da tenda, ela deu mais um jeito apaixonado em Rachid, se
Quando Aisha pegou o seu véu, cuja cor era azul turqueza, ela foi para a frente do espelho a fim de se arrumar, então passou o véu cuidadosamente pelos cabelos, a fim de cobri-los, desceu as escadas e foi caminhando até a sala, onde estavam a sua mãe e Surya sentadas no sofá tomando um chá enquanto conversavam.– Mãe, eu vou para o deserto. Vou ficar lá um pouco.– Aisha, você pode ir, mas não durma de novo nas ruínas como você fez ontem. Você nos deixou muito preocupados.– Não vou perder a hora de novo.– Então pode ir.– Tchau. – Disse Surya.– Tchau, Surya. – Respondeu Aisha.Então Aisha foi caminhando até o deserto e foi direto para a tenda onde havia se encontrado com Rachid no dia anterior. Alguns minutos depois, ele chegou e a viu sentada debaixo da tenda.
No fim do mês, como já havia sido acordado, o casamento seria feito, e já estava tudo pronto para que o enlace matrimonial fosse feito. E tudo estava do jeito que Aisha sempre sonhou. Suas mãos estavam pintadas, com os desenhos que as árabes costumam fazer. O seu vestido branco com muitas flores coloridas. Tudo estava cheio de alegria e Aisha mal podia creditar que tamanhã felicidade estava vivendo. Estava casando com alguém que ela ama e com a autorização de seu pai, seu irmão e do seu avô.Depois que os anciãos oficializaram a união, Aisha viajaria com o seu agora marido Rachid para o Egito, pois ele tinha os seus compromissos para finalizar antes de viajarem realmente para viverem a lua de mel, que seria em algum país do ocidente, como Rachid havia prometido para Aisha bem antes deles se casarem, o que a deixou ainda mais feliz.Então eles foram até o aeropo
Depois de eles embarcarem no avião, Aisha logo adormeceu e depois de horas de vôo, eles chegaram ao país de destino. E quando eles foram avisados sobre o desembarque, Aisha perguntou:– Habib, agora você pode me dizer qual o país onde passaremos a nossa lua de mel. Onde estamos?– Estamos no Brasil.– Em que cidade do Brasil? Sempre quis conhecer o Brasil. – Perguntou Aisha, sentindo-se maravilhada.– Estamos no Rio de Janeiro, ou simplesmente, Rio, a qual é uma das cidades mais famosas do mundo. Por causa de sua imensa beleza e por seu conteúdo histórico, ela é chamada de cidade maravilhosa.– Eu já ouvi falar do Rio de Janeiro, mas eu sempre ouvi que aqui, por mais que seja muito lindo, é também muito violento. Tenho um pouco de medo.– Não tenha medo. Estamos juntos e vamos tomar muito cuidado por aqui. &ndash
Quando Aisha e Rachid chegaram ao local, ela viu que o estabelecimento era, de fato, uma casa de festas, onde poderia ter apresentações de bandas, e outros tipos de atrações, mas uma coisa que Rachid não havia falado com Aisha, era que essa casa noturna era mais destinada a receber os homens como os seus principais visitantes. Na verdade, Rachid estava escondendo muitas coisas de Aisha, uma das coisas era com relação a esse trabalho na casa noturna, pois esse estabelecimento era muito mais do que um simples local de apresentações e shows de bandas ainda desconhecidas ou pouco famosas. E Aisha, só de olhar a fachada, não gostou nem um pouco, pois finalmente percebeu que aquele era um local destinado para que diversas mulheres fizessem programa.Era uma realidade completamente diferente do que Aisha estava acostumada em seu país, pois ela nunca tinha visto um lugar como esse antes.&ndash
Cerca de sete dias depois, quando Aisha já havia esfriado a cabeça e entendido que a sua vida estava tomando um rumo mais do que terrível, ela começou a pensar em diversas possibilidades de sair dali. Mas primeiramente, ela teria que avisar a sua família sobre o que tinha acontecido com ela.– Camile, eu preciso de um telefone. Você poderia me ajudar a conseguir, por favor? – Perguntou Aisha, que não tinha conseguido dormir por mais uma noite.– Oi, Aisha, bom dia! – Disse Camile, se espreguiçando. Você não dorme, não?– Como que eu vou conseguir dormir passando por essa situação?– Mas é melhor você aceitar, pois é assim que vai ser. – Respondeu Rafaela, se virando na cama para dormir por mais tempo.– Mais tarde eu te ajudo a conseguir um celular. Uma das meninas conseguiu roubar de um client
Aisha ficou no alojamento, pensando no que poderia fazer para escapar do seu serviço, pois não queria fazer programa nem naquela noite nem em dia nenhum. Então ela decidiu fingir que estava doente para que ninguém exigisse que ela prestasse qualquer serviço, muito menos aquele tipo de serviço que ela jamais poderia imaginar, quanto mais cumprir. Então, quando todas as meninas desceram para o salão principal, Aisha ficou no alojamento deitada e Leila sentindo falta dela junto com as outras meninas, pensou que ela poderia estar atrasada, então subiu até o alojamento e disse:– Você não vai descer junto com as outras meninas? Você precisa trabalhar. Precisa pagar todo o dinheiro que nós investimos em você.– Não estou me sentindo bem hoje. Não consigo nem me levantar dessa cama, que dirá descer e trabalhar. – Respondeu Aisha, esfrega
A polícia chegou até o apartamento onde Rachid estava morando, pois depois que ele vendeu Aisha para Charles, ele conseguiu dinheiro suficiente para comprar um pequeno apartamento na zona sul da cidade. Mas ainda assim, a polícia conseguiu localizá-lo e o pegou. Confessando tudo o que sabia a respeito dos crimes que ele tinha cometido não só com Aisha, mas também com as outras meninas anteriormente, os outros comparsas também ficaram na mira da polícia. E através das confissões, a polícia verificou que o nome verdadeiro de Rachid era Luciano. Ele só tinha usado o nome Rachid para enganar Aisha, de modo a mostrar para ela que ele também era proveniente do oriente médio, assim como ela.O dono do estabelecimento também foi encontrado e, posteriormente, preso. E as meninas que trabalhavam obrigadas ficaram livres para viverem as suas vidas da forma que ela bem entendes