Capítulo 4

Passaram-se cinco dias depois da última vez em que Aisha se encontrou com Rachid. Ela não conseguia tirá-lo da cabeça, principalmente depois que ele falou que poderia se casar com ela. Mas mesmo que ela tivesse sentido um grande interesse por ele, ela ainda não tinha conversado sobre isso com a sua família, nem mesmo com Hana, a qual era considerada a sua melhor amiga.  Então não sabia o que esperar da reação deles, principalmente de seu pai. Entretanto, a única reação que Aisha já poderia imaginar era com relação à Surya, que ficaria muito feliz de ver Aisha se casando e indo morar bem longe daquele país.

Enquanto Aisha estava em seu quarto, ela se lembrou de uma música a qual gostaria de escutar. A música se chama El Arbi e é cantada por Khaled. Essa era uma das músicas favoritas de Aisha, a qual ela amava dançar. Como ela queria muito ouvir a música de novo, ela começou a procurar o CD que tivesse essa musica no seu quarto, mas não encontrou. Então se lembrou de que o CD tinha sido emprestado para o seu irmão há algumas semanas atrás e até o presente momento ele ainda não o tinha devolvido para ela. Pensando em pegar o seu CD de volta, Aisha foi caminhando até o quarto de seu irmão, e quando ela chegou até à porta, a qual estava fechada, conseguiu ouvir uma breve conversa de Surya. E quando ela olhou pelo buraco da fechadura, viu que Surya estava sentada na cama, de costas e falando ao telefone. Estava conversando com alguém que Aisha não conseguiu saber quem era, mas ficou prestando atenção no assunto, pois pressentiu que Surya estivesse escondendo alguma coisa de sua família e de seu irmão.

– Não posso falar por muito tempo, pois pode chegar alguém e me ouvir conversando com você. – Disse Surya com alguém ao telefone. Depois de alguns segundos ouvindo o que a outra pessoa estava dizendo, Surya respondeu: – Eu só queria saber se você já chegou no meu país e se você já passou pelo deserto. – Alguns minutos depois, ouvindo o que a outra pessoa estava falando, ela respondeu: – E você já chegou a encontrar com ela? Vocês conversaram? Quero esse assunto resolvido o quanto antes! – Disse Surya. E depois de passar alguns segundos escutando a pessoa do outro lado da linha, respondeu: – Ótimo. Agora tenho que desligar, pois não posso correr o risco de chegar alguém aqui e ouvir a nossa conversa. Tchau. Até outro dia. – Disse Surya e no instante seguinte desligou.

Quando Aisha viu que Surya havia desligado o telefone, saiu de perto da porta, andando depressa, em direção ao seu quarto, e de forma cuidadosa, para que Surya não ouvisse os seus passos, e ela pudesse continuar acompanhando essa história sem que Surya percebesse, pois se ela estivesse tramando alguma coisa com essa pessoa do outro lado da linha telefônica, provavelmente não seria bom para Aisha. Então ela teria que ficar atenta a qualquer movimento estranho de sua cunhada, pois como Surya queria a parte de Aisha na herança que o seu marido Zayn receberia depois do falecimento de seus pais, Surya seria capaz de qualquer coisa para se ver livre de Aisha. E enquanto o tempo passava, ela ficava fazendo seus milhões de planejamentos e esperando a melhor oportunidade para agir como uma cobra e dar o bote.

Conforme as horas do dia foram avançando e foi se aproximando o final da tarde, Aisha pegou o seu véu, dessa vez na cor branca, foi para a frente do espelho e cobriu os seus cabelos com ele. Em seguida, ela desceu as escadas e foi caminhando até a cozinha, a fim de pedir a sua mãe e avisar a Hana que ela estava indo até o deserto para ver o pôr do Sol.

– Mãe, eu posso ir até o deserto agora?

– Pode, mas não demore muito, pois daqui a pouco vai anoitecer.

– Está bem. Até mais tarde. Tchau, mãe. Tchau, Hana. – Disse Aisha se despedindo e dando um abraço tanto em sua mãe quanto em Hana.

Quando Aisha saiu de casa, ainda em frente ao seu portão, ela olhou para todos os lados para ver se encontrava novamente com Rachid. Mas como não o viu mais, resolveu ir caminhando até a tenda, onde ela sempre ficava para ver se o encontrava pelo caminho.

Quando ela chegou até a tenda, ela se sentou como de costume, ficou olhando para o deserto e imaginando o que ela poderia conversar com Rachid, caso ele aparecesse de repente. Alguns minutos depois ele chegou, passou por ela. Conforme ele andava, ele olhava para ela, como se pedisse através dos olhos para que ela o acompanhasse. E foi o que ela fez.

Ele foi caminhando até uma tenda que ficava distante daquela onde ela ficava todos os dias. A tenda se localizava mais no interior do deserto, e ficava longe daquele lugar onde era mais frequentado. Como ela conhecia muito bem aquelas áreas, sabia que a tenda para onde ele estava indo era um lugar mais afastado e por isso ela o seguiu, mas sempre com cautela, olhando ao seu redor para se certificar de que não estava sendo observada por ninguém que pudesse denunciá-la nem que pudesse servir de testemunhas contra ela.

Quando chegou a região que tinha somente aquela tenda, ele entrou e se sentou aguardando por ela. Em seguida ela também chegou, e se sentando a frente dele, começaram a conversar.

– Aisha, como você está?

– Oi, Rachid. Estou bem.

– Quanto tempo que a gente não se vê. Se eu passo um dia longe de você, parece que passei um ano. Senti muitas saudades de ver os seus olhos de novo. – Disse ele fixando os seus olhos nos de Aisha.

– Eu também não consegui te tirar da minha cabeça nem por um minuto.

– Você chegou a falar de mim para a sua família? – Perguntou ele, tentando pegar nas mãos de Aisha.

– Não falei. Fiquei com medo da reação deles.

– Medo de quê? O que eles poderiam fazer contra você? Até onde eu sei, não fizemos nada de errado.

– Eu sei que não fizemos nada de errado, mas eles ainda não falaram de casamento comigo e eu penso que eu poderia estar me precipitando em falar isso com eles antes deles iniciarem o assunto.

– Se você entrar no assunto, talvez eles permitam até que você escolha o seu noivo. Por favor, não deixe essa oportunidade escapar. – Disse ele ainda segurando as mãos de Aisha.

– Talvez você tenha razão. Não vou perder a oportunidade de ficarmos juntos.

– Tente falar com eles, por favor. Talvez esse nosso encontro no deserto tenha sido obra do destino.

– Eu não duvido disso. Nunca duvidei. Vou tentar, talvez hoje ainda.

– Eu posso te dar um beijo?

– Um beijo? – Perguntou Aisha sorrindo. – Mas não somos casados. Não podemos nos beijar. – Disse ela fechando os olhos, mostrando que por mais que ela dissesse “não”, ela queria ser beijada por aquele homem que a tinha deixado apaixonada.

– Eu quero tanto ficar perto de você. – Disse ele se aproximando dela para tentar beijá-la.

– Eu também quero muito ficar perto de você, Rachid. – Disse ela, acariciando o rosto dele.

E nesse momento os lábios dele tocaram os dela.

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