RosaEu ainda sentia a raiva queimando dentro de mim quando me deitei, mas o cansaço venceu rápido. Em pouco tempo, o peso do dia me arrastou para o sono, e a escuridão me envolveu como um abraço silencioso.A manhã de quinta passou num piscar de olhos, entre as tarefas do dia e os cuidados com Nina. Juan me avisou que teria que fazer plantão no hospital, e, como já era de se esperar, minha pequena não ficou nada feliz com a notícia. Mesmo assim, depois de muita brincadeira e uma chamada de vídeo com o pai, ela acabou pegando no sono, agarrada ao meu braço como se eu pudesse impedir o mundo de tirá-lo dela.Na sexta, assim que acordou e soube que o pai teria outro plantão, Nina ficou completamente desanimada. Ela passou a manhã toda largada no sofá, abraçada a um dos seus ursinhos, o olhar perdido na TV, sem realmente prestar atenção no desenho que passava.Aproximei-me e sentei ao seu lado, passando a mão delicadamente em seu cabelo.— Meu amor, você quer brincar? — perguntei com um
Rosa O dia amanheceu tranquilo, com o sol entrando pelas frestas da cortina e aquecendo suavemente o quarto. A primeira coisa que fiz foi pegar o celular e mandar mensagens de bom dia. Primeiro para Juan, avisando que sairíamos, depois para minhas irmãs e para Christopher. Assim que terminei, me levantei e comecei a me arrumar.Nina e eu saímos cedo e fomos a uma loja adorável de roupinhas infantis. O lugar era um verdadeiro mar de fofura, com vestidos minúsculos pendurados em cabides delicados e sapatinhos brilhantes expostos em prateleiras. A decoração suave, em tons pastéis, parecia saída de um conto de fadas.Enquanto caminhávamos entre os corredores, Nina, com seus olhinhos atentos, pegou um vestido vermelho lindo e me olhou com expectativa.— Mamãe, experimenta um também! — pediu, com a voz doce e animada.Fiquei um pouco desconfortável. Usar vestidos nunca foi um problema, mas a insegurança me invadia sempre que minha prótese ficava à mostra.Você não é mais aquela garota esco
Juan Carlos HernándezAcordei com risadas e uma pequena bola de energia pulando na minha cama.— Papito, acorda! — a vozinha animada de Nina encheu o quarto, e antes que ela pudesse fugir, puxei-a para perto, enchendo-a de beijos. Ela gargalhava, debatendo-se entre risos enquanto eu fazia cócegas nela.— Papito, para, por favor! — pediu entre soluços de riso.— Tá bom, tá bom, parei! — falei rindo junto com ela.Levantei-me e, no mesmo instante, ela pulou nas minhas costas, me fazendo de cavalinho até a sala. A risada dela era música para os meus ouvidos, um som que eu nem sabia que sentia tanta falta até tê-la novamente comigo. Coloquei-a no sofá, fui buscar nossa tigela de cereal e voltamos para assistir Os Padrinhos Mágicos. Às vezes, acho que sou mais criança que ela, mas quem se importa?O tempo passou rápido, e quando vi já era quase dez horas. Dei banho na Nina, tomei o meu e fui para a cozinha decidir o que faríamos para o almoço. Enquanto isso, ela brincava no tapete da sala.
RosaVer Nina correr até a casa da Rosa fez meu peito se aquecer. Mas o sorriso em meu rosto morreu quando a lembrança do pedido dela voltou à minha mente."Papito, posso convidar o tio Christopher para o meu aniversário?"Respirei fundo. Ter outro homem na vida da minha filha não era nada fácil de imaginar. Não porque eu nao quisesse que Rosa fosse feliz em nenhum momento, pensei nisso, mas porque, por tanto tempo, fui o único homem presente na vida dela. E agora, outro estava entrando nesse espaço, tornando-se familiar para Nina, alguém que ela queria ter em um momento especial.Sacudi a cabeça, afastando esses pensamentos, e fui para a cozinha preparar o jantar. Liguei o som, deixando a música preencher o ambiente, e comecei a cortar os legumes, movendo o corpo no ritmo da melodia. Cozinhar sempre me ajudava a relaxar.O celular vibrou ao lado da pia. Peguei-o e franzi a testa ao ver uma mensagem de um número desconhecido. Mas, ao abrir a conversa e ver a foto, sorri. Era Naomi.Na
Rosa FernándezSaí do apartamento do Juan me sentindo péssima. O jeito como ele olhou para mim antes de eu sair... Ele é um pai maravilhoso, e vê-lo se sentindo impotente por não conseguir acalmar a própria filha partiu meu coração.Entrei em casa e fui direto para o chuveiro. Não sei bem o motivo, mas, assim que a água quente deslizou pelo meu corpo, as lágrimas vieram sem aviso. Chorei. Chorei por Nina, por Juan, por mim. Passei boa parte da noite pensando neles, até que o cansaço me venceu.Na manhã seguinte, acordei atrasada. Xinguei mentalmente o despertador e me apressei para sair.— Apareceu a margarida.Revirei os olhos ao ouvir a voz do professor que parecia ter prazer em me provocar. Apenas entrei na sala e me sentei em silêncio. Ele me lançou um olhar crítico antes de continuar a aula.No final, ele me chamou.— Gostei que não trouxe a criança para minha aula.Cruzei os braços, sentindo o sangue ferver.— Se eu trouxe minha filha para aula, foi porque não tinha com quem dei
RosaDepois da aula, meu celular vibrou. Duas mensagens surgiram na tela, trazendo um turbilhão de sentimentos: uma de Juan e outra de Christopher. Ambas me deixaram com o coração disparado.Mensagem de Juan:"Boa tarde, a Nina está bem. Vamos sair um pouco, ela quer ir ao parquinho aqui perto de casa. Nos vemos mais tarde. Boa aula."Eu respirei fundo, tentando me concentrar. A mensagem de Juan, sempre calma e prática, tinha um tom de familiaridade. Ele cuidava da Nina como se fosse sua própria filha, e isso me aquecia por dentro. Mas, ao mesmo tempo, meu peito apertava com o medo de ser insuficiente.Mensagem de Christopher:"Linda, vou te esperar na entrada principal."Meu estômago deu um salto. O "Linda" era simples, mas me deixava com uma sensação de conforto e, ao mesmo tempo, algo mais profundo. Sentia uma mistura de emoção e ansiedade. Será que ele sabia o quanto aquilo me mexia?Guardei o celular rapidamente, tomando um momento para organizar os sentimentos antes de sair. Qua
RosaSento-me para terminar as atividades da semana quando escuto uma vozinha que tanto amo.— Mamãe! — Ela vem correndo e me abraça apertado.— Oi, meu amor! — Falo, beijando sua testa e largando os papéis na mesa. Meu óculos fica por lá, esquecido.— Eu estava com saudade... A senhora demorou muito! Quer brincar comigo? — Ela pergunta, os olhinhos angelicais brilhando de expectativa.— Eu também estava morrendo de saudade da minha filha linda. E vamos brincar do quê?— Da hora do chá! — Ela responde, pulando no sofá com empolgação.— Vou pegar as xícaras e você arruma nossos convidados.Ela sai correndo para o meu quarto, e eu arrumo as xícaras na mesinha de centro. Logo, ela volta trazendo uma coroa para cada uma de nós.— Mamãe, o Sapolino já está pronto! — Ela coloca o boneco de pelúcia ao lado do Bilu, organizando tudo com seriedade. — Achei nossas coroas também!Ela coloca uma na minha cabeça e outra na dela.— Rainha Mamãe, você quer uma colher ou duas de açúcar?— Duas, por f
Juan CarlosObservar Rosa com minha filha sempre me causa um misto de admiração e conforto. Para mim, é como se sempre tivesse sido assim, como se fosse natural que ela fosse a mãe de Nina. Talvez porque, no fundo, eu desejasse que fosse verdade.Às vezes, me pego imaginando... E se fosse? Se tivesse sido Rosa a engravidar de mim e não Nicole? Como seriam nossas vidas agora?Entro na sala e encontro Rosa sentada no sofá, as mãos entrelaçadas sobre os joelhos, um olhar distante.— Ela dormiu, Vitória — digo, tentando dissipar a tensão que ainda paira no ar. — Desculpa por isso hoje.Ela suspira, parecendo realmente abalada.— Eu é que peço desculpas. Não medi as palavras antes de falar... Sei que a nossa filha é sensível, mas estava tão concentrada nas besteiras da minha irmã que nem imaginei que ela fosse levar a sério.A forma como ela diz nossa filha aquece algo dentro de mim.— Tudo bem, Rosa. Isso poderia acontecer com qualquer um.Ela hesita por um instante, como se estivesse reu