Mônica Sampaio
O mês passou rápido demais. E esses dias tenho andado bastante ocupada com o escritório de advocacia e com a faculdade também. Como é meu último ano na faculdade e eu tenho acompanhado a doutora Gisele em algumas audiências, quase não tenho tempo para respirar. Mas isso tem me dado algumas experiências interessantes, e tem me ajudado bastante na conclusão do meu curso. Estou em minha sala quando recebo um telefonema de um número desconhecido. E antes de atender, fico olhando o celular por um tempo, na dúvida se atendo ou não? Decido atender.— Alô? — Deixo transparecer o meu receio e me repreendo por isso.— Mônica Sampaio? — A voz máscula, de um timbre rouco e ao mesmo tempo grave me deixa arrepiada. Eu respiro fundo e me forço a falar alguma coisa.— Sim é ela. Quem é?— É o chefinho. — Ele faz uma pausa mínima. — Tudo bem? — PUTA MERDA! — Xingo mentalmente, fechando os olhos e seguro a ponta do meus nariz, respirando fundo. Estou morta de vergonha. Respiro fundo mais uma vez tomando coragem de voltar a falar. Sério, não acredito que a Ana fez isso comigo! Se tivesse um buraco aqui no chão da minha sala, eu me esconderia dentro dele e nunca mais sairia de lá. Eu não acredito que a Ana falou para ele do apelido! Penso irada com a minha amiga. — Mônica, você ainda está aí? — Luís me desperta dos meus pensamentos.— Ãh, sim. É que... Em que posso ajudá-lo, Luís? — gaguejo as palavras. Tem coisa mais idiota do que gaguejar para um homem como Luís Renato Alcântara? Mais que droga! Que mico!— O aniversário da Ana está chegando, será podemos nos encontrar pra conversar e combinar alguma coisa? — inquire. Oi? Como assim? — penso encarando a pilha de papel que está sobre a minha mesa e chego a desvanecer. Estou tão sobre carregada esses dias que combinei comigo mesma almoçar aqui mesmo no escritório. E mais uma vez, eu fecho os meus olhos e puxo o ar com força.— Tudo bem, pode ser durante o almoço? Tem um restaurante aqui perto da G & G Advogados — sugiro. — Eu só tenho uma hora de almoço. — Tento explicar, mas sou interrompida.— Trabalha para o Guilherme Albuquerque? — Noto a surpresa no seu tom de voz.— Na verdade, sou assistente de Gisele Albuquerque. Você os conhece?— Sim, são amigos meus. — Oh mundinho pequeno esse! Penso tão surpresa quanto ele.— Ah! — É só o que consigo dizer no momento.— Então, tudo certo! Estarei no restaurante em uma hora com minha equipe. — diz. Oi? Como assim com a equipe? Penso.— Desculpe, você disse equipe? — pergunto meio constrangida.— Só um amigo meu, uma amiga de trabalho dela, não se preocupe. — diz me deixando mais tranquila.— Ah, ok, então nos vemos em uma hora e, por favor, não se atrasem! — peço desligando o telefone. Horas depois estou na sala de pesquisa, assistindo a um vídeo do próximo caso. Uma cena inusitada de um suposto estupro em um motel. De verdade gente. Tem mulher pra tudo nesse mundo. Penso segurando o riso. A garota conheceu o jovem empresário em uma boate e os dois resolveram se divertir em um motel. No dia seguinte a vadia estava acusando o cara de estupro. Um caso clássico de um golpe. Alguém b**e à porta e eu tiro os olhos da tela, para encontrar a Doutora Gisele, que entra e se aproxima por trás de mim olhando as cenas.— Gostando de ver, Mônica! E amando cada vez mais as suas habilidades no trabalho. — Ela diz entusiasmada e eu sorrio satisfeita.— Estou indo almoçar e você já está liberada — avisa, automaticamente eu olho o relógio em meu pulso.— Tudo bem, irei assistir até terminar esse vídeo — aviso e ela acena um sim para mim, concordando.— Tudo bem. Ah, e hoje eu vou te dar duas horas de almoço — fala me deixando surpresa, pois estamos atoladas de trabalho até fechar esse mês. Inevitavelmente a olho especulativa.— Parece que o meu grande amigo precisa de você. Não sei para quê, mas ele precisa. — Ela diz e me lança um olhar curioso e depois sorri, eu faço um sim com a cabeça e sorrio também.*** Algumas horas depois...Entro no restaurante rústico que amo almoçar todos os dias e logo de cara vejo o chefinho acompanhado de um casal. Um cara alto e moreno, mas com um tom de pele clara. Os cabelos são escuros e bagunçados de um jeito sexy e tem uma barba por fazer que dá um charminho ao rosto de play boy. O cara exala uma sensualidade de deixar qualquer uma arriada dos quatro pneus. É lindo e... Nossa! De arrebentar os corações desavisados. Ainda bem que o meu está sempre sobre aviso. Rio dos meus pensamentos. Ao lado dele tem uma moça linda e com traços orientais. Seus cabelos são escuros, curtos e lisos... É uma mulher extremamente linda e muito elegante também.— Olá, Mônica! — Luís diz ficando de pé assim que me aproximo da mesa e os outros o acompanha no gesto educado. — Esta é Cassandra, uma amiga de trabalho da Ana.— Olá Cassandra! — digo apertando a sua mão.— E este é o Marcos, meu amigo e sócio.— Olá, Marcos! — digo repetindo o gesto de cumprimento. Só que o aperto dessa vez parece não ter fim e há uma coisa estranha nesse aperto. Tipo uma eletricidade percorrendo as minhas veias, que me faz recuar instantaneamente.— O prazer é todo meu, morena! — Ele fala usando um tom de voz extremamente grossa e rouca ao mesmo tempo me causa uma espécie de frenesi, que me faz engolir em seco. É um homem do tipo sedutor, um caçador, isso é notório e eu simplesmente me recomponho e tento focar na situação aqui e agora.— Eles também trabalham na mesma empresa em que eu e Ana trabalhamos. — Luís complementa. E eu apenas assinto dando um meio sorriso.— Mônica, por favor, me chame de Mônica. — Exijo me acomodando na cadeira de frente para o tal Marcos. Ele fica sério, mas seus olhos ainda me devoram.— Desculpe Mônica! — diz e sorri. E meu Deus, isso não se faz com uma pobre moça indefesa como eu! Que sorriso é esse papai?— Então, Mônica? — Luís começa a falar desfazendo a nossa conexão. O que eu agradeço de todo o coração. — Soube que você convidou a Ana para uma comemoração a dois em um barzinho. E eu gostaria de combinar...— Não é bem uma comemoração a dois. — O interrompo — Tem alguns amigos de infância e também alguns amigos da faculdade que a Ana fazia. Eu falei pra ela te levar. — Paro de falar quando vejo que Luís foi pego de surpresa. Definitivamente a Ana não havia dito nada pra ele.— É, ela me convidou, mas coincidentemente é o dia do seu aniversário e eu...— Coincidência? — Volto a int
Marcos AlbuquerqueO fato da Mônica ter quase estragado a surpresa do Luís para Ana me ajudou e muito a conseguir o contato dela. O que está me deixando acuado é o fato do Luís ter me feito prometer que eu não iria me aproximar da garota e a promessa para o meu melhor amigo é dívida. Então eu vou tentar me comportar o máximo que eu puder. Pego o meu celular e olho o número salvo na minha agenda. Ligo ou não ligo, eis a questão. Estou passando por uma guerra onde o anjinho no meu ombro direito me diz que não. Que eu tenho que cumprir a promessa. Mas o capetinha no meu ombro esquerdo fala que sim. Me mostra o lado delicioso da coisa toda e eu sou vencido pelo desejo ardendo dentro de mim, dando de ombros. O que eu tenho a perder? Nada. Ouvir um não, não vai me matar certo? E se eu ouvir um sim, será coisa de uma noite só. — Alô! — Ela diz do outro lado da linha. A voz deliciosamente sedutora me arrepia inteirinho e eu puxo a respiração. Controle-se homem! Me repreendo. Você deve isso a
— Porra, morena, assim não dá pra ser feliz! — resmungo para mim mesmo.Sinto as duas loiras se aproximarem e tocarem em meus ombros. Elas alisam, beijam meu rosto, mordiscam a minha orelha. Um arrepio descomunal se apossa da minha coluna. As loiras praticamente me devoram, mas os meus olhos estão lá embaixo, de olho naquela morena deliciosa, mexendo o seu corpo e deixando os caras próximos a pista de dança loucos de desejos por ela. Me afasto das meninas e sigo na direção das escadas e deixando-as para trás e começo a descer as escadas sem dar nenhuma justificativa e quando chego na pista de dança, tem uns caras dançando com ela. Me aproximo por trás da morena sem nenhum receio, coloco as mãos em sua cintura, começando a me mexer, seguindo o seu ritmo. Lanço um olhar furioso para os homens ao seu redor e eles logo entendem o recado, se afastando sutilmente. É isso aí meu amigo. A garota é minha e só minha. Penso me entrego ao ritmo da minha morena. Nossa dança continua de uma música
— Nossa, que bicho te mordeu? — A voz de Cassandra ressoa ao meu lado. — Nunca te vi assim tão mal-humorado — comenta. Eu respiro fundo. Ela tem razão. Fui um filho da puta com o cara, mas quem manda ser tão incompetente? Porra era só ele dá um telefonema e tudo estava resolvido!— Vamos para o hotel. — falo com um tom seco, ignorando o seu comentário. Cassandra arregala os olhos apertados e abre a boca pequena em espanto, por causa da minha atitude grosseira. — O que foi agora? — inquiro irritado.— Você está estranho — diz.— Estranho como?— Eu sei lá. Você não deu em cima de mim. Não tentou colocar suas mãos bobas em mim. Está irritado com tudo e com todos e agora quer ir para o hotel? Nada de garotas francesas? — inquire.Dou-lhe um sorriso malicioso.— Está sentindo falta das minhas investidas, senhorita Hattori? — inquiro debochado fazendo-a revirar os olhos.— Retiro o que disse! Vamos, estou com fome — retruca me fazendo gargalhar em alto e bom tom, enquanto ela bufa de modo
Mônica SampaioMais um dia se foi e foi tão corrido quanto os outros e entre uma audiência e outra, estudando casos e mais casos, eu tirei um tempo para finalizar alguns trabalhos da faculdade também. Encosto-me na cadeira, puxando o ar com força e tentando relaxar um pouco e para minha felicidade, doutora Gisele acabou liberando boa parte da equipe mais cedo. Pelo menos a parte envolvida na surpresa da Ana, no caso eu e ela. Pois é, ela decidiu que também vai para a festa da Ana. Perto das cinco da tarde corro para casa e me arrumo para ir para o barzinho que locamos para a surpresa da minha amiga e opto por um jeans surrado que eu amo, uma blusa estilo cigana com estampa floral e salto alto. Olho os meus cabelos soltos e decido deixar os meus cachos livres, sorrindo satisfeita para o espelho, mas logo o meu sorriso desfalece. Falta alguma coisa. Penso olhando o meu look de alto a baixo e vou até a pequena necessaire que deixei em cima da cama de solteiro e observo as poucas bijuteri
— Aonde você vai? — Ele inquire exasperado, mas eu não olho para trás e sigo direto para o bar para pegar outro copo de vodca no balcão. Me sento a mesa onde a Ana e o Luís conversam intimamente. Eles param a conversa de repente e me olham com olhos especulativos e depois voltam a sua conversa como se nada tivesse acontecendo. Marcos também vem para mesa e nós ficamos nos encarando, como um duelo de olhares. Ninguém pisca e ninguém diz nada. Em algum momento, Luís e Ana resolvem ir dançar e Marcos continua a me encarar do outro lado da mesa. — Qual é a tua, garota? — Ele cospe uma pergunta afetada.— O quê, do que você está falando? — faço-me de desentendida.— Eu só pedi a porra de uma dança, precisava daquele teatro todo com aquele cara? — pergunta entre dentes.— Não era um teatro. Qual é? Eu não sou nenhuma traíra tá bom? Você pode ficar com quem quiser, só me deixa em paz cara! — Não escondo a minha indignação.— Que mané traíra o quê? Do que você está falando garota? — Quero sa
Marcos AlbuquerqueNunca precisei correr atrás de uma mulher na minha vida e não vai ser agora que vou começar. Se ela quer distância, é distância que ela vai ter. Fica até melhor para eu cumprir a promessa que fiz ao Luís. Ainda estou aqui na festa, sentado no banco do bar, tomando o meu uísque e observando as pessoas se divertindo ao meu redor.— O que está rolando? — Gui se aproxima perguntando e se acomoda no banco ao meu lado. Levo o copo a boca e sem pressa alguma tomo um gole da minha bebida. Continuo observando as pessoas e lhe respondo com um tom seco.— Não sei do que você está falando, Guilherme. — Esvazio o meu copo em seguida e torno a enchê-lo.— Como não sabe, Marcos? E por que essa cara emburrada caramba? Nem parece que está em uma festa — comenta.— Eu não estou com a cara emburrada! — respondo irritado e dessa vez olho pra ele.— Cadê a morena? — questiona e eu desvio o meu olhar, focando na pista de dança.— Não sei de quem você está falando, Guilherme! — repito e e
— Prometeu? Prometeu para quem? — inquire ainda desconfiada.— Para o Luís.— Filho de uma... Por que ele pediria isso pra você? — indaga com interesse, mas eu sei que ainda não está acreditando em mim.— Ele tem medo de atrapalharmos o relacionamento dele com a Ana. — falo de uma vez e ela balbucia.— Então, você não é? — Mônica parece atordoada e eu me atrevo a dar um meio sorriso.— Não. — Mônica me olha por um tempo, parece pensar no que acabei de falar.— Ok, eu já entendi. — fala se levantando do sofá e erguendo as mãos em sinal de paz. — Agora, você pode me levar de volta? — pergunta segurando seus materiais que estavam largados em cima do meu sofá. O quê, nem pensar! Penso indignado.— Como assim te levar de volta, Mônica? — Eu quase grito a indagação.— Eu tenho faculdade, Marcos Albuquerque e eu levo isso muito a sério. Inclusive eu já perdi.... — Ela mal começa a falar e eu a surpreendo a puxando para os meus braços e a beijo com muita vontade. Que porra de faculdade que na