Eram três da manhã. Eu estava dormindo tranquilamente, ou ao menos tentando, quando o celular de Bryan começou a tocar. Era um som tão alto que ecoava pela casa inteira. Ele, como sempre, não mexeu um músculo, preferindo se enroscar mais em mim como se isso fosse abafar o barulho.— Bryan, vai acordar a Sophie... — resmunguei, já antecipando o inevitável.E claro, dito e feito. Antes mesmo que ele pensasse em atender, o choro da nossa caçula tomou conta do quarto.Suspirei, levantando para pegá-la no berço ao lado da cama. Enquanto a colocava no peito, vi Bryan atender o telefone com aquela expressão de quem queria matar alguém por estar sendo incomodado.— Sim, O’Connor falando... — começou, e eu sabia que era sério só pelo tom da voz dele.A conversa parecia urgente, as palavras vinham rápidas e tensas. Fiquei quieta, mas minha curiosidade me corroía por dentro.— Bryan, tá tudo bem? — perguntei, tentando decifrar seu rosto.— Preciso resolver algo urgente da companhia. — Ele deslig
Assim que chegamos ao hospital, tudo foi um caos. Bryan foi levado direto para a ala de cuidados intensivos, e eu, contra a minha vontade, fui arrastada para uma sala de exames.— Estou bem! — gritei pela terceira vez para as enfermeiras, completamente irritada com a insistência delas em me examinar.— É apenas protocolo, senhora, precisamos ter certeza de que não há nada grave.Protocolo ou não, eu só queria estar com Bryan. Cada segundo longe dele parecia uma eternidade, e meu coração estava pesado com a imagem dele desacordado.— Vamos trazer os papéis para você assinar. — A enfermeira, vendo que eu não cederia, finalmente me deu uma saída.— Obrigada. — Respirei fundo, tentando me acalmar.Fizeram alguns curativos nos arranhões dos meus joelhos e mãos, que ficaram ralados e esfolados com a queda. Coisa simples, mas a espera para ser liberada parecia interminável.Assim que me soltaram, praticamente corri até a recepção da emergência para perguntar sobre Bryan.— Quero saber em que
Eu já estava acordada fazia algum tempo, apenas admirando o rosto sereno de Bryan enquanto ele dormia. Mesmo com o cansaço evidente nos traços dele, a força e a determinação pareciam esculpidas em cada linha. Seus olhos, embora fechados agora, eram de um verde profundo que brilhava quando ele sorria. A barba rala no maxilar forte lhe dava um ar de maturidade, e o cabelo castanho-escuro, ligeiramente bagunçado, fazia com que ele parecesse casualmente impecável."Como alguém pode ser tão... perfeito?", pensei comigo mesma, sem perceber o sorriso bobo que surgiu no meu rosto.— Em outra vida, devo ter sido uma santa para merecer alguém tão especial como você. — Murmurei baixinho, com medo de acordá-lo.Só que a perfeição não poderia me salvar da realidade de uma bexiga cheia. Infelizmente, a vontade de ir ao banheiro era mais forte do que o meu desejo de continuar admirando aquele homem.Com cuidado para não acordá-lo, deslizei para fora da maca. Assim que abri a porta do quarto, senti a
Fiquei presa naquele maldito quarto mofado durante toda a madrugada, sentindo cada segundo se arrastar como se fosse uma eternidade. O cheiro úmido do lugar não ajudava a acalmar meus nervos, e cada estalo nas paredes parecia anunciar algo ruim. Eu sabia que Bryan já deveria estar mobilizando metade da cidade para me encontrar. Só que essa certeza, embora me desse força, não conseguia apagar o medo crescente dentro de mim.Quando o sol finalmente começou a brilhar timidamente através de uma fresta na parede, ouvi passos pesados se aproximando. A porta rangeu, e dois brutamontes entraram. Seus rostos eram tão ameaçadores quanto suas posturas.— Como dormiu a estrela do momento? — Um deles perguntou, com um sorriso sarcástico que me deu vontade de vomitar.— Meu marido vai me encontrar logo, e tenho pena do que ele vai fazer com vocês. — Retruquei, com uma bravata que talvez fosse mais para me convencer do que para intimidá-los.— Olha só a tigresa! — Ele riu, aproximando-se e segurando
Nossa chegada em casa foi acolhedora de um jeito que aqueceu meu coração. Antes mesmo de Bryan desligar o motor, um grito agudo atravessou o jardim.— Mamãe!Stacie surgiu correndo do gramado, descalça e rindo como se o mundo fosse perfeito. Ela correu tão rápido que mal tive tempo de abrir a porta do carro antes de senti-la pulando nos meus braços.— Cuidado, princesa! — A segurei com força, apertando-a contra mim como se o tempo não fosse suficiente para o quanto eu sentia sua falta.Cheirei seus cabelos, sentindo o aroma adocicado do sabonete infantil que ela usava. Beijei seu rostinho diversas vezes, ouvindo suas risadas musicais ecoarem como uma melodia de alívio.— Senti tanto a sua falta, mamãe! — Ela disse, suas pequenas mãos segurando meu rosto.— Eu também senti, meu amor.Ela tentou pular para os braços de Bryan, mas eu rapidamente a detive.— Mocinha, o papai está de licença médica de carregar crianças.— Licença médica? — Ela franziu a testa, confusa, mas acabou rindo. —
Depois de tudo que aconteceu, a noção de tempo tinha se perdido completamente. Eu estava exausta, como se tivesse corrido uma maratona emocional e física. Quando terminamos, percebi que nem tinha forças para me levantar da cama. Minha primeira vez tinha sido... intensa, para dizer o mínimo. Bryan, claro, parecia completamente disposto e cheio de energia.— Vamos tomar banho. — Ele disse, já se levantando da cama, completamente nu.Eu o observei da cama, com um misto de admiração e cansaço. Meu corpo ainda não tinha forças para acompanhá-lo.— Você está brincando, né? Eu mal consigo me mover. — Falei, minha voz rouca e baixa.Ele riu, aproximando-se novamente da cama e me pegando nos braços como se eu não pesasse nada.— Não tem desculpa, boneca. Vamos. — Disse, carregando-me até o banheiro.Assim que passamos pelo espelho, ele parou e observou meu reflexo. Sua expressão mudou imediatamente, passando de relaxada para preocupada.— Liah… — Ele começou, tocando minhas costas com delicade
Sete da manhã em ponto, e lá estava eu, sentada no pé da cama de Samantha. Na mão, uma fatia de bolo de chocolate da confeitaria que ela adorava, com uma velinha acesa no topo.O despertador dela começou a tocar, e a aniversariante do dia acordou lentamente, espreguiçando-se tanto que quase me acertou com os pés.— Parabéns! — Gritei, quando ela finalmente percebeu minha presença.— Obrigada, mãe! — Ela disse, vindo até o pé da cama para me abraçar.— Prefiro que me chame de Liah. — Tentei corrigir, mas, claro, não adiantou. Samantha adorava me constranger.— E que tal "mamãe"? É mais fofo, né? — Ela sorriu, apertando as próprias bochechas como se imitasse Stacie.Suspirei, fingindo irritação.— Quer saber? Hoje é seu dia. Pode me chamar como quiser. — Dei de ombros.— OK, mamãe! — Ela respondeu, exagerando no tom só para me provocar.Revirei os olhos, rindo por dentro, mas mantendo minha pose.— Agora se arruma, mocinha. Temos escola hoje. — Ordenei, enquanto lhe dava um abraço rápi
A primeira aula foi tranquila. Graças ao clube de robótica, passei o período mexendo em peças e circuitos, o que me ajudou a esquecer os últimos dias e as ameaças constantes de Brendon. Mas, quando a aula real começou e toda a turma se reuniu na sala, a bagunça habitual começou a testar a minha paciência.Eu não conseguia entender como aqueles adolescentes podiam ser tão... infantis. Não era uma questão de me sentir superior, mas eles agiam como se o mundo girasse ao redor de seus dramas insignificantes.E então, claro, veio a gota d'água: Joshua.— Abre o meu presente. — Ele disse para Samantha, com um sorriso exagerado.— O que será? Um anel? — Melanie praticamente pulava de curiosidade ao lado dela, com Virgínia acompanhando a empolgação.— Vai, abre logo! — Virgínia insistiu.— Tá bom! — Samantha cedeu, rasgando o minúsculo embrulho.Houve um coro coletivo de "Ooooh!" na sala, deixando até mesmo a mim curiosa sobre o que tinha ali. Mas, para minha surpresa, Samantha se afastou do