O clima entre Bryan e Samantha estava mais tenso que um elástico prestes a arrebentar. Desde o hospital, ela tinha decidido ignorar o pai completamente. Sam estava claramente decidida a não ouvir mais nenhuma variação do velho discurso: “só quis te proteger”. E, claro, Bryan não sabia lidar com isso.No caminho de volta para casa, o silêncio no carro era tão pesado que até Stacie, normalmente uma tagarela, ficou quietinha, sem entender por que todo mundo estava tão sério. Samantha olhava pela janela, os fones no ouvido como um muro intransponível.Bryan soltou um suspiro profundo enquanto dirigia, lançando olhares tristes para o retrovisor.— Amanhã cedo ela volta a falar com você. Só não pressiona, tá bom? — Eu disse, tentando aliviar o clima.— Espero que você esteja certa. — Ele respondeu, parecendo um cachorro que perdeu o osso favorito.A dor no peito dele era evidente. Samantha é sua "primeira bebê", e ele não estava pronto para encarar o fato de que ela não era mais aquela meni
Na manhã seguinte, mal havíamos colocado os pés na sala de aula, e a tensão já era palpável. Samantha entrou de cabeça erguida, mas estava claro que o dia anterior ainda pesava sobre ela. Eu sabia que o sumiço dela havia despertado a curiosidade dos fofoqueiros de plantão. E, claro, ninguém perderia a chance de jogar lenha na fogueira.Assim que nos sentamos, Melanie, a rainha dos comentários maldosos, deu início ao espetáculo.— Gostou do presente do Joshua? — Ela perguntou, com um sorriso venenoso.Samantha virou-se na hora, e pela forma como os ombros dela se enrijeceram, eu sabia que a garota estava pronta para devolver na mesma moeda. E, talvez, até com juros.— Samantha, não. — Eu murmurei, puxando levemente o braço dela, tentando evitar uma briga que provavelmente terminaria com um aviso na agenda ou algo ainda pior.Mas Melanie, claro, não parou.— Ah, ela obedece à mamãe, eu tinha esquecido. — Ela zombou, e a sala explodiu em gargalhadas altas e exageradas.A frase me atingiu
Me virei lentamente, cruzando o olhar com ele pela primeira vez. Não precisei dizer nada; meu rosto deixava claro o quanto eu estava descontente.— Vamos, sei que você é inteligente e aprende rápido, Liah. — Ele começou, com aquele tom pomposo que só pessoas ricas sabem usar. — Os chineses comentaram sobre como você e Bryan foram incisivos nas negociações. Não sabia que minha nora era tão… esperta."Esperta". Claro. Esse era o jeito elegante dele de me chamar de ambiciosa ou caça fortunas.Antes que ele pudesse continuar, Stacie interrompeu:— Vovô, pra que você usa isso? — Ela perguntou, apontando para a bengala dele.— Pra me ajudar a andar melhor. — Ele respondeu com um sorriso paternal, mas logo voltou a me encarar. — Como eu estava dizendo…— Vovô, sabia que a Sophie já tá falando? — Stacie o interrompeu de novo, com os olhos brilhando de empolgação.Eu queria abraçá-la por me salvar daquele interrogatório.— É mesmo, querida? E o que ela falou primeiro?— Mamãe! — Stacie anuncio
Era noite de formatura, e as escadas da mansão viraram praticamente uma passarela. Descíamos, Samantha e eu, prontas para a ocasião que parecia o evento do século para ela e um tédio mortal para mim. Samantha estava radiante em um vestido justo, coberto de pedrarias, enquanto eu lutava para me equilibrar em saltos que pareciam instrumentos de tortura medieval.Bryan estava na sala com Sophie e Stacie, ambas sentadas em um tapete de brinquedos. Ele nos viu e imediatamente abriu um sorriso que parecia iluminar todo o ambiente.— Minhas garotas estão perfeitas. — Ele comentou, sem desviar o olhar.Stacie, empolgada, começou a pular no lugar.— Mamãe parece uma princesa! — Gritou, batendo palmas.Antes que eu pudesse responder, Bryan já estava com o celular em mãos, insistindo em tirar fotos e fazer vídeos.— É para a posteridade. — Ele disse, justificando sua empolgação.Eu sorri amarelo, porque, para ser honesta, odiava cada segundo daquela roupa apertada. Meu vestido parecia projetado
Quando chegamos em casa, o silêncio tomou conta do ambiente. A noite parecia ter deixado marcas mais profundas do que gostaríamos de admitir. Eu conseguia sentir a tensão ainda pairando no ar, principalmente entre Bryan e Samantha. Os olhos dela, inchados pelo choro, refletiam o cansaço da noite inteira, e ele, mesmo mantendo sua postura firme, parecia desgastado como se carregasse o mundo nos ombros.— Vai direto para a cama, mocinha. — Bryan disse, com aquele tom de voz firme, mas repleto de carinho.Samantha, no corredor, tirava os sapatos com uma expressão emburrada, como quem queria reclamar, mas sabia que não tinha forças para discutir.— Tá bom, mas só porque hoje foi um dia cheio. — Ela respondeu de má vontade, porém, no instante seguinte, surpreendeu a todos. Ela se inclinou e deu um abraço rápido no pai, quase tímido, antes de subir as escadas em silêncio.Eu assisti a cena de longe, tentando esconder um sorriso. Bryan podia não ser perfeito, mas ele era o tipo de pai que da
Sabe aquele momento em que o silêncio está tão pesado que você quase pode ouvi-lo gritar? Pois é, era exatamente assim que eu me sentia naquele instante. Bryan estava na minha frente, completamente mudo, enquanto eu o encarava esperando por qualquer reação. Qualquer coisa mesmo! Um sorriso, um grito, um questionamento. Mas ele parecia preso, talvez processando tudo que eu tinha acabado de dizer.— Bryan, sério, você precisa falar alguma coisa! — Cruzei os braços, tentando esconder o nervosismo.Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Antes que eu pudesse insistir, o som de batidas rápidas na porta quebrou o clima tenso.— Papai, mamãe, posso dormir com vocês? — A voz de Stacie soou do outro lado da porta, manhosa como sempre.Troquei um olhar com Bryan, que deu de ombros, ainda parecendo meio fora do ar. Me levantei para abrir a porta e lá estava ela, com seu pijama de unicórnios e um travesseiro quase maior do que ela.— Por que você quer dormir com a gente, princesa? — Perguntei
Duas semanas se passaram, e nossa casa havia se transformado em um verdadeiro cenário natalino. O cheiro doce de canela e pinho pairava no ar. Luzes cintilantes envolviam o corrimão da escada, piscando em harmonia com a melodia de músicas natalinas que ecoavam nos alto-falantes. A árvore de Natal na sala de estar parecia saída de um filme, com enfeites dourados e vermelhos que refletiam a luz de forma mágica. Pequenos detalhes, como as meias penduradas na lareira e o boneco de neve na entrada, davam um toque especial. Até o jardim estava decorado com renas iluminadas e uma faixa gigante desejando "Feliz Natal".Às sete da noite, estávamos todos na sala de cinema. Bryan fazia mistério sobre os presentes enquanto as meninas e eu trocávamos olhares curiosos. O ar estava cheio de expectativa.— Pai, só uma dica. Por favor! — implorou Stacie, com as mãos juntas como se estivesse orando.— Nem pensar. Vocês vão ter que esperar até amanhã de manhã. — Bryan cruzou os braços, tentando manter u
Eu ainda não sabia como processar a palavra "bebês" no plural. A doutora falou isso como se fosse a coisa mais normal do mundo, enquanto minha cabeça girava mais rápido que uma roda gigante. Era como se ela tivesse soltado uma bomba de confete no consultório, mas eu ainda estava decidindo se queria rir ou chorar.— Bebês? Como assim, bebês? — perguntei, a voz saindo mais fina que o normal.— É, no plural. Tem dois aqui. — A médica apontou para a tela da ultrassom como se fosse a cena final de um filme de suspense.— Dois?! — Bryan exclamou ao meu lado, arregalando os olhos. Pela primeira vez, ele parecia mais perdido do que eu.Olhei para o monitor e vi aqueles dois pequenos feijõezinhos se mexendo. Era surreal. Minha doce barriguinha chapada, que antes só servia para selfies no espelho, agora tinha se tornado a suíte presidencial de dois novos hóspedes. Dois!Enquanto Bryan me ajudava a limpar o gel, eu estava congelada, encarando minha barriga. A doutora continuava falando algo sobr