Laura Se alguém me dissesse que um plano arquitetado em um momento de pressa e desespero poderia dar certo, talvez, antes de voltar para o Rio de Janeiro, eu poderia até tentar acreditar. Não, não era isso. Eu provavelmente riria e diria que a pessoa em questão está louca, não batendo muito bem da cabeça ou sofrendo de algum mal onde a esperança era a única força a se agarrar. Mas, agora, a resposta para isso era para mim até que óbvia, se parasse para analisar as coisas, ou poderia ser considerada o oposto do meu modo de pensar de antes. Eu achava, sim, que era possível, e a prova disso era a mulher à minha frente, com um sorriso de lado e uma expressão zombeteira que me fazia querer matá-la, mesmo sem poder. — Eu não acredito — murmurei, irritada demais para falar qualquer outra coisa. A mulher riu alto, e me senti como uma tola por um segundo. — Mas deveria — ela disse, erguendo-se do seu lugar para desatar os nós da co
LauraEu não sabia onde eu estava. Por mais que olhasse ao redor, tudo estava banhado pela escuridão da noite, tirando uma única janelinha, bem lá no topo da pequena sala onde eu me encontrava amordaçada, que servia de consolo para mim dada a minha situação.Quem havia ousado me sequestrar e o que fariam comigo? Essas duas perguntas ressoavam em meu interior, deixando meu estômago embrulhado. Poderia ser tanta coisa, considerando quem eu era e o quão preciosa minha vida poderia ser, que tentei pensar de um jeito positivo por um segundo.Talvez eles caíssem na real e me devolvesse inteira. Ou talvez não.Balançando minha cabeça de um lado para o outro, tentei não pensar nisso. Querendo ou não, era a minha vida que estava em risco naquele lugar, e se eu tivesse que fazer alguma coisa para fugir dali, não era tentando achar os culpados ou o porquê que eu conseguiria.Suspirei, tentando ficar de pé no cubículo. Aquele quarto não possuía mais
Valentim Já era a quinta noite após o sequestro de Laura — ou seja, quarta-feira — quando finalmente consegui uma pista sobre o paradeiro dela. Não era algo grande, apenas uma denuncia anônima feita para a polícia, que dizia ter visto vários homens armados entrando em uma casa velha junto de uma mulher, o que, quando se tratava da realidade que muitos aqui no morro viviam diariamente, não era algo tão raro assim. Mas, mesmo assim, não pude deixar isso passar. Reuni todos os meus homens e fui para o local assim que foi possível, desejando imensamente que Laura estivesse lá, sã e salva. O pensamento me fez balançar minha cabeça, curioso e perplexo sobre até onde eu queria chegar com isso tudo. É claro que eu queria ver Laura a salvo, mas o motivo para isso ainda me era desconhecido. Seria somente por causa da minha irmã e Emily, que esses dias, diante do sequestro de Laura, estavam arrasadas? Ou, talvez, fora pela ameaça que o tal
Valentim O som que vinha de dentro da casa, que agora parecia estar bem mais abandonado do que antes, era quase grotesco. O som, que destacava-se em meio ao silêncio, me causava ânsias e uma leve sensação de estar em um filme de terror. Esse fato, que eu havia guardado só para mim, me fez sorrir um pouco, após olhar para primeira porta suspeita e entreaberta que achei. Marcelo não ficou muito feliz por isso. Ignorando os olhares reprovadores do meu amigo, continuei andando, passo por passo, até alcançar um grande salão, que parecia vazio a princípio, mas logo percebi que os quatro homens de que Marc havia falado estavam reunidos ali, fazendo algo que eu não conseguia entender direito, não ainda. Olhei para meu amigo, quase como pedindo para que ele interpretasse a situação para mim, uma vez que meu cérebro parecia ter bugado. Mas Marcelo ficou apenas em silêncio, olhando para os homens, vendo algo que eu não tinha sido cap
LauraOs sons de tiros, socos e até algumas ofensas fora as únicas coisas que eu consegui ouvir durante o tempo que estava ainda meio grogue pelo efeito de uma droga que eu havia tomado para poder encenar melhor ou para tornar tudo aquilo mais verídico se caso, após voltar para a casa de Valentim, ele decidisse que iria fazer um exame de sangue em mim para descobrir o que tinham me dado para ficar naquele estado — que para ele era desacordado —, totalmente a mercê dos meus algozes.É, eu sei, eu sou uma puta de uma gênia.Depois que vi que era Patrizia e Matheo que estavam por trás daquele sequestro — ou melhor, metade dele —, eu decidi que ia tirar alguns dias de férias. Cinco dias era o suficiente para pôr minha cabeça no lugar e voltar a focar nos meus objetivos, que, naquele momento, se resumia a não me entregar a Valentim, por mais tentador que essa ideia fosse.No fundo, eu sabia que precisava descobrir mais sobre o passado dele, mesmo que f
LauraO sol invadiu o quarto em que eu me encontrava sem aviso prévio, causando um desconforto enorme em meus olhos e uma sensação de quentura que não parecia muito condizente com o momento. Mesmo a contragosto — pois estava muito gostoso o sono que tanto me envolvia —, abri meus olhos, me deparando com um quarto vazio e sem ninguém.Eu não tinha ideia de quanto tempo havia se passado, mas, uma coisa eu poderia ter certeza: o plano havia dado certo e ninguém suspeitava de mim. Por enquanto.Sorri, me espreguiçando. Em meu corpo não havia sinal da droga que eu havia ingerido no que imaginei ser a tarde anterior, me deixando propensa a acreditar que tudo havia acabado bem no fim, ou melhor, ao menos para mim.Soltei um suspiro, tomando coragem para saltar da minha cama. Amanhã seria um dia muito importante; eu finalmente iria fazer algo que fiquei planejando durante muito tempo, por mais que agora meu coração doesse ao pensar em fazê-lo. E isso soav
ValentimMeus passos se arrastavam pelo corredor, sem saber o que pensar. A conversa que tive com Laura a pouco segundos atrás me incomodava, de um jeito que eu não era capaz de entender. O que era esse sentimento estranho que estava apertando meu peito? Eu estava com pena dela? Era isso? Ou havia algo em sua fala que não condizia com as coisas que eu vi acontecerem?Não parecia ser esse último, embora uma bulga sempre permaneceria atrás da minha orelha enquanto nós dois fossem inimigos e nada além disso — o que eu estava quase desconsiderando. Depois de tudo que passei para salvá-la, talvez, só talvez, eu devesse começar a olhar para Laura como alguém importante o suficiente para me deixar meio louco das ideias e capaz de ir até o fundo do poço para ajudá-la.Sim, eu deveria começar a considerar isso. Só não sabia muito bem como fazê-lo.Suspirei, tentando não pensar nessas coisas complicadas. Isso não faria muito bem para minha cabeça, muito menos me daria as respostas que eu tanto
LauraA primeira coisa que notei após ouvir um tiro sendo disparado em minha direção fora o corpo de um dos meus capangas caindo, sem vida, em direção ao chão; a segunda, por sua vez, foi o ferimento em meu braço, que reluzia escarlate em meio à pouca luz; e, por fim, a cruel verdade que se esfregava na minha cara sobre aquele lugar: ele já não era mais meu lar, e minha cabeça realmente estava a prêmio.Olhei para os lados à procura do atirador, mas a única coisa que meus olhos eram capazes de notar era o líquido rubro que começava a escorrer até meus pés e manchava meus sapatos bejes.Não sei dizer ao certo o que senti naquele momento. Era uma onda de fúria que surgia do meu interior e me fazia ficar vermelha; espanto, dor, incredulidade. Sentimentos e emoções diversas que me faziam querer destruir tudo e a todos, até descobrir o que caralhos estava acontecendo ali.— Mas que…Não consegui terminar a frase. Outro disparo foi ouvido e por pouco não acertou minha perna esquerda. Em um