Anne
Um tiro deveria apagar tudo que aconteceu comigo. D deveria me devolver a paz e minha confiança pessoal outra vez. Penso enquanto corro para longe da casa igual uma condenada, abandonando-o nas garras da morte. Entretanto, à medida que me afasto do casarão sinto que estou morrendo. É como se a minha vida tivesse ficado lá com ele e isso me apavora de alguma forma.Por que ele não me deixa ir?Por que simplesmente não me liberta?Paro de correr a poucos metros da praia, curvando-me para recuperar o meu fôlego, mas sem saber exatamente que rumo tomar. A verdade, é que estou presa em uma ilha e que não tenho para onde ir.— AAAAAAAAH! — grito em um misto de raiva e de frustração. Contudo, ao erguer os meus olhos na direção do mar o meu coração acelera forte dentro do meu peito ao perceber uma lancha parada em alto mar. Tenho vontade de gritar por socorro, pedir que eles me levem para a cidade mais próxima e finalmente me livrareiVlad A tempestade lá fora já acabou e o sol já começou a derramar os seus primeiros raios, que começam a invadir as janelas da sala de visitas. Respiro fundo tentando me situar e com um pouco de dificuldade me viro para o lado, encontrando-a adormecida bem ali, tão perto de mim e ao mesmo tempo inalcançável. Respiro fundo sentindo o meu peito protestar o meu ato. Ela voltou por mim. Penso abrindo um pequeno sorriso esperançoso e no ímpeto de sentir o seu calor junto ao meu me esforço para chegar mais perto dela. — Ah, droga! Resmungo com um gemido baixo e dolorido por conta do meu esforço, mas logo me sinto gratificado por estar tão perto dela outra vez. No ato, enfio o meu rosto cuidadosamente entre os seus cabelos para não a despertar e aspiro o seu cheiro bem debagar, porém profundamente. Logo sinto o meu coração bater em vida e o seu sangue que antes parecia congelado em minhas veias corre fazendo o corpo inteiro reagir a sua energia.
Anne Ele é tão teimoso quanto uma mula! Resmungo mentalmente enquanto o observo cortar a lenha do lado de fora. Contudo, Vladmir Mazza não é tão diferente dos seus irmãos. Athos e Artêmis tem tamanha teimosia e a arrogância, e o poderio parece fazer parte do DNA desses homens. No entanto, eu vi a sua fragilidade e ela é bem dolorosa. O pouco que ouvi escapar dos seus lábios durante os muitos delírios de febre deu para entender um pouco dessa sua rivalidade com os seus irmãos. Mas, quem é o verdadeiro culpado nessa história toda? O que de fato o levou a ter tantos ressentimentos dos seus irmãos? Não tenho certeza dessas respostas ainda. Só sei que os gêmeos não deveriam pagar por algo que eles nunca fizeram parte. Lembrar das súplicas de Vladimir Mazza durante os seus sonhos mais agoniantes me deixou suspensa. Ela implorava pela atenção e o carinho dos seus pais, mas o que isso quer dizer realmente? Vlad não foi amado, ou desejado por eles? Céus, isso é
Vlad — Mas o que eu fiz de errado agora? — resmungo saindo do quarto para ir atrás dela. Contudo, ao chegar na varanda encontro uma Anne que nunca vira antes. Ela parece ilhada dentro de si mesma. O seu olhar confuso me diz que além de mim, ela também não sabe o que aconteceu e isso me parece bem confuso. Sem saber exatamente como agir, procuro chegar mais perto dela, mas a minha vontade agora é tocá-la, atrai-la para os meus braços e de cuidar dela. No entanto, apenas paro do seu lado e olho para horizonte, levando as minhas mãos afoitas para atrás do meu corpo. Por alguns segundos ninguém diz nada até ela começar a falar. — Eu tive flash. — Um flash? E o que você viu? — Nada. Estava... tudo... escuro. — Dessa vez procuro os seus olhos, mas os seus continuam fixos no nada. — Mas tinha um grito. — Franzo o ceno. — Era... de medo, muito medo. — Sem saber o que dizer, puxo uma respiração. O escuro e o medo. Eu sei bem como é isso e ess
Vlad — Um celular. — Anne ralha ironicamente, enquanto sorri sarcástica para mim. Os seus olhos antes sorridentes e brilhantes agora me acusam como se eu fosse o pior criminoso na face da terra e eu suspiro, pensando em algo para dizer-lhe. Mas o que eu devo dizer, que eu menti outra vez? Que escondi o fato de que poderíamos ter deixado essa ilha desde o começo de toda essa bagunça? — Sabia que eu estava quase acreditando nesse Vlad todo atencioso? — Mas esse sou eu de verdade! — replico. — Anne eu... — Você mentiu para mim esse tempo todo, Vladmir Mazza! — Ela praticamente grita essa acusação. — Não. — Seu sorriso sarcástico se alarga. — Você mentiu para mim desde o começo de tudo. Desde que esbarrou em mim naquele maldito café — Anne, por favor me escute... — Como eu sou burra, não é? Você deve ter pensado, que garota ingênua, como é fácil enganá-la e tirar dela o quiser. Quer dizer, eu me deixei enganar por dua
Anne— Aqui está, senhor Vladmir. — Um funcionário do hotel diz largando as malas em um canto de parede. Entretanto, estou ocupada observando o confortável, porém, luxuoso apartamento, que tem boa parte das suas paredes de vidros, onde podemos observar toda a cidade.Respiro fundo e mesmo sem dizer-lhe nada, decido ir conhecer um pouco mais da casa que ficarei por trinta dias.Trinta dias. Às vezes me pergunto onde está o meu juízo.— Onde fica o outro quarto? — inquiro após andar por cada pedaço desse lugar.— Não temos outro quarto. — Vladmir responde com naturalidade.— Como assim, não tem outro quarto?— Não tem, Anne — bufo audivelmente.— Vladmir, eu deixei bem claro...— Que não dividiremos o mesmo quarto e nem uma cama. Eu me lembro de cada exigência sua, minha esposa. — Cruzo os braços na defensiva quando ele me olha nos olhos.— E então, como vai ser isso? — Ele dá de ombros.— Vamos dividir esse quarto.— Vlad...— Mas você pode ficar com a cama se quiser.— Oh! E, onde voc
Vlad... Eu levei anos para construir tudo que conquistei até agora, Vladmir e você não tem o direito de destruir tudo com os seus caprichos!Meus caprichos? Que merda ela está dizendo? Eu nunca fiz nada por mim, sempre foi tudo dedicado a eles e agora sou cobrado pelos meus caprichos? O Tim do elevador me desperta e eu saio imediatamente, caminhando com passos duros direto para a minha moto. Preciso me sentir livre, respirar ar puro porque estou morrendo sufocado por dentro.... Você pensa que sabe tudo, não é? ... Mas eu me sacrifiquei por você. ... Eu o trouxe para a esse mundo e você me deve isso!Trinco o maxilar.Sim, você me deu à luz, mas impiedosamente me jogou nas trevas em seguida, Senhora Mazza. Contudo, em meio a todo esse fogo que arde dentro de mim, tem uma enorme pedra de gelo dentro do meu coração que não derrete nunca. Fizeram de mim um homem sem alma, sempre pronto para servi-los. Mas agora... Deus, agora estou vendo um mundo diferente se abrir para mim e o medo d
Vlad Respira fundo, Vlad! Digo para mim mesmo quando a minha esposa sai do banheiro usando apenas um shortinho de seda rendado e uma miniblusa que deixa a sua barriguinha do lado de fora. Enquanto ela caminha na direção da cama, seca os seus cabelos com o auxílio de uma toalha. No entanto, ao olhar na minha direção desvio o meu olhar e finjo arrumar a minha cama improvisada do chão. Contudo, o meu coração quase salta para fora da boca quando ela apoia um pé na beirada do colchão e as suas mãos começam a deslizar por sua pele, espalhando um creme perfumado nela. Ela só pode estar de brincadeira comigo! Minutos depois, o som da sua respiração se espalha pelo quarto e eu volto a desviar o meu olhar, jogando um travesseiro sobre uma coberta grossa que abri no chão. Logo o barulho do secador preenche os meus ouvidos e eu me acomodo no meu cantinho, porém, não me deito, apenas finjo mexer no meu celular. Esses trinta dias serão o meu tormento. Penso abrindo a câmera apenas para observá-
Vlad— O que você fez, Vladmir? — Anne resmunga quando entramos no elevador. Confuso, apenas procuro os seus olhos, encontrando-os indecifráveis.— O que eu fiz?— Flores, beijo, almoço. O que você pretende com tudo isso? — Em resposta me viro de frente para ela e apoio as minhas mãos na parede atrás dela, olhando-a dentro dos olhos.— Estou fazendo exatamente o que te prometi, querida esposa. — Chego ainda mais perto, sentindo o seu hálito aquece o meu rosto. Contudo, os seus olhos estão ainda mais próximos dos meus e as minhas mãos coçam de vontade de puxá-la ainda mais para mim e de tomá-la aqui mesmo. No entanto, respiro fundo e controlo o meu coração afoito. — Estou trilhando um novo caminho até o seu coração. — Faço um esforço sobrenatural para me afastar dela