JULES MONTEZ Ele me encara com aquele ar autoritário e age como se eu fosse obrigada a responder. Mas se ele acha que vai se meter nos meus assuntos pessoais, está muito enganado. Na empresa ele pode ter controle, já que pagou, mas nas minha vida, não! Me despeço do Doutor João Guilherme e ando em direção à saída. — Você não vai me responder? — Ele pergunta, segurando meu braço. — Responder o quê? — Não me teste, Jules, você sabe muito bem do que eu estou falando! — responde, com os dentes cerrados. — Não, eu não vou responder! Satisfeito? Eu não sou obrigada a falar sobre algo que eu não quero, pelo menos, nessa parte, eu ainda tenho autonomia para decidir, você não pagou. Agora eu quero ir para casa, preciso descansar — saí sem esperar sua resposta. Eu estou um pouco mais calma, mas minha cabeça ainda está uma bagunça, aliás, não só a minha cabeça, tudo na minha vida está uma grande bagunça, uma merda. Agora não tem mais jeito, eu não vou conseguir continuar à frente da em
— Caramba! Achei que você tivesse morrido — ouço a voz irritada da Marina assim que atendo o telefone — Por que você não trabalha mais na sua empresa? — Oi, primeiro, né! — Digo e ouço-a bufar do outro lado. — Isso é uma longa história, Marina, muito longa para falar a verdade — suspiro. — Você está trabalhando agora? Podemos nos encontrar e conversar pessoalmente. Eu preciso mesmo falar com alguém — digo, jogando-me na cama. — Claro que podemos, eu também estou precisando falar contigo sobre uma coisa. Aliás, você vai para a Itália com o seu marido, né?— Itália? Não estou sabendo de nenhuma viagem não. — Não? Então o Léo mentiu para mim, aquele desgraçado! — Resmungou — Você vem aqui ou eu vou aí? — Eu vou, você está em casa? — Sim, quero dizer, estou no apartamento do Léo. — Ainda? — Pergunto, surpresa. — Longa história também — ouço seu suspiro pesado — Estou te esperando. Vou até o closet e procuro uma roupa, depois coloco meus remédios na bolsa, não posso esquecê-los.
— Onde vamos? — Pergunto, enquanto a espero trocar o vestido. — Em um bar, em Ipanema, fica no porto, de frente para o mar, onde os navios ficam atracados, um lugar com uma vista incrível — disse, enquanto tenta decidir entre duas calças jeans. — Qual delas fica melhor com aquela camiseta? — Elas são praticamente iguais, Marina.— Claro que não! Essa tem esses paetês nos bolsos — aponta para um detalhe quase imperceptível. — É, acho que vou com essa. E você vai assim? — Aponta para o macacão vinho, que estou usando. — É, está ótimo. Vamos logo, daqui até Ipanema, com esse trânsito do Rio de Janeiro, deve dar umas 2h. — Não tem problema, nós não temos que correr, hoje é o dia das meninas — balança um cartão black.— Olha só, ela tem um cartão preto sem limites, as coisas estão melhorando — ela fez uma careta divertida e revirou os olhos depois de me ouvir. — Não, infelizmente esse lindinho não é meu — suspirou olhando o cartão, tenho vontade de rir da cara desanimada que ela faz
— Doce é só modo de falar, quer dizer que é boa, não que é doce de verdade — respondeu, rindo — vamos lá, manda outra dose para dentro e você ganha um doce de verdade. Tem doce aí, né, gato? — Pergunta ao garçom, que também ri.— Tem sim, vou trazer as guloseimas que temos.— Obrigada! Vamos, Jules, mais um — ergue o copo e toca no meu, bebendo em seguida — Um brinde a nós. Eu viro o copo, bebendo devagar dessa vez, mas ainda queimou tudo enquanto descia goela abaixo. — Como as pessoas conseguem beber isso? — Falei, sentindo meus olhos lacrimejando. — Pelo menos, parece que está funcionando, daqui a pouco não vou lembrar nem meu nome, negócio forte da porra! — Esse é o objetivo, esquecer, desabafar, ser feliz, nem que seja por uma noite. Agora, fala aí, o que você vai fazer com seu marido agora?— Até o momento, eu não faço ideia. Marina, eu estou literalmente de pés e mãos atadas. E pior é que eu ainda descobri que meu pai tinha negócios ilegais, até eu fiz uma negociação ilegal,
SAMUEL ADAMS — Já viu o convite do casamento do Jason? — Daniel perguntou, confirmei com a cabeça e ele continuou: — Você vai levar a Jules? — Vou. — Isso será interessante. Como vocês ficaram ontem, ela está bem? — Está — respondi, girando a poltrona de um lado para o outro. — Você pode parar de dar respostas curtas e me contar as coisas em detalhes! — Disse, irritado — você pelo menos descobriu porque ela estava daquele jeito? — Segundo o médico dela, aquilo foi só estresse acumulado. — E você acreditou? — Me encara com descrença. — Porque eu não acreditaria. Daniel? Foi o médico dela quem disse, não tenho motivos e nem interesse em questionar nada — dou de ombros. Eu quero acreditar que não me importo, digo isso a mim mesmo o tempo todo, mas a verdade é que eu estou com essa coisa fervendo na minha mente, e eu não acreditei naquela explicação fraca que aquele médico deu.— E a Construtora Montez, o que vai fazer agora? — A Verônica está administrando, não está? — Olho-o s
Enquanto dirijo até lá, recebo o resto das informações, é claro que tinha que ter aquela amiga enxerida metida no meio disso. Segundo os registros das ligações dela, a última ligação veio da Marina, o GPS do carro dela mostrou que ela foi para o apartamento do Léo logo em seguida e depois seguiu para o endereço do bar, onde está parado desde então. Essa mulher quer chamar minha atenção? Pois agora ela conseguiu. O trajeto que seria feito em 1h40, eu fiz em 1h apenas, devo ter tomado multa por excesso de velocidade e vou descontar tudo isso da Jules. Assim que aproximei-me da porta, senti todos os meus músculos tensionarem e a minha vontade é matar aquela filha da puta, a desgraçada está com um otário, estão abraçados e se beijando tranquilamente. Então é assim que ela quer jogar? Ótimo. Ando até a mesa a passos largos e ouço a outra, que também está atracada com outro, aposto que o Léo nem imagina os passeios que a mulher dele faz. Aproximei-me, puxando o homem dos braços dela e já
Durante o caminho de volta, eu fiquei calado, mas as duas bêbadas não pararam de falar um minuto sequer. Eu segurei o volante com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos, ouvir as duas comentando sobre a bebedeira e rindo, me tirou do sério.— Ai, eu não tô bem — a Jules disse. Ela apertava a barriga e eu não tive tempo de perguntar nada, quando olhei na sua direção ela já estava vomitando tudo que tem no estômago. E fez isso no meu carro.— Mas que porra! Por que não pediu para parar, carvalho! — Gritei, com os dentes cerrados.— Não briga comigo, eu não tenho culpa de passar mal — ela disse, fazendo voz de choro e em seguida vomitou mais uma vez, quase no meu colo. Eu vou matar essa mulher!— Eu acho que precisamos levar minha amiga para o hospital, ela não aguenta um porre — a outra bêbada falou, rindo lá atrás. A minha vontade é parar o carro e jogar essas duas malditas na beira da estrada.Assim que entrei no estacionamento do prédio, enviei uma mensagem para o Léo
JULES MONTEZ Acordei com uma dor de cabeça dos infernos, parece que vai explodir a qualquer momento. Fiquei sentada na cama por alguns minutos enquanto as imagens da noite anterior passavam meio embaralhadas na minha cabeça. — Puta merda, que porra eu fui fazer! — Digo, batendo na minha cabeça. Eu sabia que ir atrás da Marina e embarcar nas loucuras dela ia dar merda. Olhei o pijama que estou vestida e as cenas da minha discussão com o Samuel ficam claras como água, é uma pena que a bebida não cause perda de memória, porque eu realmente não queria lembrar disso. Principalmente da parte em que ele me pegou aos beijos com aquele Lauro, Lúcio, Lucas... sei lá, nem lembro direito o nome dele, mas a bagunça que ele fez está muito viva. Aff. Soltei um longo suspiro, deixando-me cair nos travesseiros. — Pelo menos eu não dormi vomitada e na escada — Sussurrei e tive vontade de chorar quando lembrei que eu vomitei o carro do Samuel todo e quase vomitei no colo dele também. — Que porra! — Jo