Acabo rindo das suas palavras. — Marina, não é bem assim… — tento me defender, mas eu não sei como, no fundo a Marina tem razão, eu deveria ter conversado com o Samuel, independente dos nossos problemas, o filho é dele também e ele merece saber e participar. — Eu sei que eu tenho que ir lá falar com ele, mas eu não sou tão corajosa assim, Marina, eu não quero ouvir as coisas que eu sei que a mãe dele vai me falar. — Amiga, você não precisa ouvir nada da mãe dele, mesmo que ela seja a mãe da Sara e sofreu assim como a filha e toda a família, sua dívida já foi paga e a própria Sara já fechou esse ciclo — arrasta a cadeira para perto de mim, abraçando-me — É hora de ser feliz, Jules.— Eu não quero me iludir mais. Eu vou fechar esse ciclo, Marina e de uma vez por todas, não vou voltar atrás no meu pedido de divórcio, mas também não vou e nem posso impedir o contato do Samuel com o filho. — Você está dizendo que…— Que o nosso relacionamento será apenas como pais do bebê, eu não vou vo
— V-Você já saiu? — perguntei com minha voz falhando. — É, eu já saí — responde sarcástico. Eu sei que ele deve está com raiva porque eu não entrei no quarto. — Eu vou deixar vocês dois conversarem — o Daniel diz, afastando-se. — E não se preocupe com a reunião, Jules, eu já comuniquei ao Sanches e a Camila para me encontrar no Grupo Miller, vamos resolver tudo lá. — Mas… — tento argumentar, mas sou interrompida pelo Samuel.— Mas nada, o Daniel vai resolver isso e nós vamos conversar. — Ele diz já fechando a porta, nem mesmo se preocupa se o amigo já saiu ou não. Nós entramos e levo-o até a sala de jogos que fica perto da varanda, é melhor para termos privacidade.— Você aceita um suco ou chá? — Ele arqueia a sobrancelha quando eu pergunto, parece que não gostou da gentileza. — É sério que você vai agir desse jeito comigo? — questiona com raiva. — Desse jeito como? Eu só estou sendo simpática e educada com uma visita.— Visita… — ri nervoso. — Quer dizer que agora eu sou uma si
SAMUEL ADAMS — Jules! — Chamo, mas ela não responde, apenas fecha os olhos. — Que droga, Jules, não faça isso comigo… — murmurei, pegando-a no colo. Ando até a sala de estar e, felizmente, encontro a funcionária que me leva até a garagem onde está o carro da Jules. Ela vai receber algumas multas por excesso de velocidade, porque eu praticamente voei até o hospital. Durante o caminho, vou fazendo uma oração silenciosa enquanto olho a mulher desacordada no banco ao lado. Estou apavorado e com medo, por ela, pelo nosso filho… ela não pode perder o controle agora. — Você vai ficar bem, Jules, vai ficar tudo bem, nós já chegamos — sussurrei, enquanto estaciono o carro de qualquer maneira. Pego-a nos braços e vou correndo para dentro, assim que nos avistaram, os enfermeiros vieram com uma maca para levá-la para a emergência. — Ela está grávida e desmaiou — digo num fio de voz ao vê-la mais pálida que antes. — Por favor, não deixe acontecer nada com ela… nem com nosso filho — falei, sup
— Sua esposa está bem e seu filho também — o médico respondeu com um leve sorriso, tirando o peso da angústia que estava me consumindo. — O que causou o desmaio? Foi algo grave? — Não foi nada grave, mas requer cuidados. A sua esposa teve uma crise nervosa que resultou na perda de consciência, com certeza ela esteve sob forte pressão e para mulheres grávidas isso é perigoso. Eu sugiro que ela faça uma visita ao psicólogo para ajudar em qualquer que seja o problema. Mas no mais, os exames estão bons, claro ainda faltam os exames de sangue e urina que estão sendo processados, mas na ultrassonografia está tudo certo. — Pode deixar que vou cuidar de tudo isso e ela vai passar com o psicólogo sim. — Afirmo e o homem sorri ao notar minha visível ansiedade. — Posso ir vê-la? Ela já acordou? — Sim, pode ir lá. Ela ainda não acordou, mas fará isso em breve. Não esperei nem mais um segundo e nem quis saber se os outros também queriam vir. só saí apressado atrás da enfermeira que me guiou
JULES MONTEZ Ouvir as batidas fortes ecoando pelo quarto foi um momento único. As batidas do coração do meu filho.É uma emoção que transborda. Quando esse som entra pelos meus ouvidos, mexe com tudo dentro de mim, pois essa é a certeza que mesmo em meio ao caos, a felicidade pode se fazer presente, e fez.Olho para o lado e o Samuel não está nada diferente de mim, ele também está emocionado, porém é mais contido do que eu, não está se derramando em lágrimas. Ter ele aqui comigo dividindo esse momento é maravilhoso e triste ao mesmo tempo. Ele está diferente, esse tempo que passamos no quarto, mesmo que pouco, me mostrou um Samuel cuidadoso, carinhoso e até divertido, mais ou menos, aquele ali sempre será um ogro, mas agora não tem mais aquela frieza que tinha antes. O nosso beijo foi intenso, me deixou pegando fogo e a ele também. Vai ser tão difícil ficar sem esse contato, longe dos braços dele e de todas as sensações maravilhosas que me causa quando estamos juntos. Vai ser difíc
Eu sei que tenho que responder, mas não consigo pronunciar uma palavra sequer. — É, mãe, essa é a Jules — por fim o Samuel respondeu por mim. — Então, vamos para casa? Esse é um péssimo lugar para apresentações — riu, na tentativa de quebrar o clima tenso. — É mesmo, hospitais me causam arrepios — a Sarah concordou também tentando aliviar o clima, mas seu comentário acabou me deixando pior. Consciência pesada é foda. — Então vamos. Eu vou pegar suas coisas, Jules, você pode ir na frente com o Samuel — minha mãe segurou meu braço e sorriu, acho que é para me dizer um "não se preocupe, estou aqui com você."Saímos e o Samuel não soltou minha mão, ele ficou conversando com a mãe dele, que até riu com as provocações do Daniel. Aliás, o Daniel é um cara bem legal, está sempre rindo e falando asneiras, se eu não tivesse visto com meus próprios olhos ele matando aqueles homens com tanto sangue frio, jamais acreditaria se alguém dissesse que ele é perigoso. O Samuel já é diferente, o jeito
Passamos longos minutos em um silêncio ensurdecedor. — Eu… — finalmente decido quebrá-lo, eu preciso acabar logo com isso. Inspiro profundamente o ar tomando fôlego e coragem — Eu me perguntei por muitos anos o porquê eu fiz todas aquelas merdas, o que me levou a ser a pessoa odiosa que eu fui, mas eu não achei motivos cabíveis. E mesmo se existisse motivo, eu ainda estaria muito errada. Dona Sônia, eu passei anos acreditando que sua filha morreu naquele dia — levantei-me indo até a mesa, pego uma pasta que guardo como tesouro —, e eu tentei expiar meus pecados de todas as formas que imaginar — entrego-lhe a pasta. — A minha consciência não me deixou ter um dia sequer de paz. Eu sei que isso não é nada, mas se serve de alguma coisa para eu merecer uma mísera oportunidade de convivermos bem, eu não empurrei a Sara daquela sacada — suspirei, mostrando todo o meu desconforto com esse assunto — Isso não me faz menos culpada pelo final que a minha perseguição covarde e cruel, teve, mas eu
SAMUEL ADAMS — Calma, cara, pode parar com a maratona, se as duas tivessem brigando, com certeza já tínhamos ouvido a gritaria— o Daniel debocha. A minha ansiedade é tanta que não consigo ficar sentado. E sim, já andei alguns quilômetros, dando voltas nessa sala. — Não enche! — Respondi ríspido, e o maldito ri. — Samuel, fique calmo, a Jules não vai criar confusão com a sua mãe, ela quer fechar essa história de vez e creio que sua mãe também— a Janete diz calma demais. Será que é só eu que estou preocupado com essa demora toda? Faz quase uma hora que aquelas duas entraram naquele escritório. — Enquanto elas não vêm, nós podemos conversar também? — ela completa, conseguindo minha atenção.— Tudo bem. É sobre o seu marido, certo? — Ex. Eu não tenho marido há exatos quatro anos, quando ele morreu — responde com o rosto torcido. — Certo.— O que você vai fazer agora? — Sobre o quê você quer saber exatamente? — Eu quero saber de tudo. — suspiro profundamente— Aquele homem se esconde