Kendra
Existem pessoas que são caras de pau, é claro, mas a minha irmã ganha de qualquer uma delas. Se não tivesse tanto dessa sem vergonhice enrustida de coragem não estaria no meio da minha sala com uma barriga gigantesca do tamanho de um bebê de quase oito meses.
— Pode me trazer um pouco de água? É difícil andar sem ver os próprios pés — declara com um sorriso que me faz querer vomitar.
Nunca tivemos o melhor dos relacionamentos, mas depois do que aconteceu, da sua aventura com o meu noivo, tudo somente piorou, pois as suas alfinetadas possuem muito fundamento agora.
Irritada, não por ela me pedir água, mas por ser uma burra gentil que fará o que ela solicitar devido às suas condições, vou até a cozinha e pego um copo o enchendo com água da geladeira para levar até a sala, antes que chegue perto ouço sua voz dizendo que não pode beber água gelada devido a sua imunidade, ainda mais brava, faço um retorno rápido para jogar o líquido na pia antes de enchê-lo com água filtrada.
— Obrigada. — Seu agradecimento, seja nesse momento ou em qualquer outro sempre soará como uma mentira sem tamanho para mim, não importa o que esteja sendo feito. — Não me ligou depois que enviei os convites, queria ter certeza de que recebeu, não vai poder entrar sem ele. — Esfregar sal na ferida deve ser uma especialidade dela, uma da qual abusa.
— Recebi — respondo rapidamente. — Apenas não tive tempo para ligar, estou enrolada com o livro novo.
— Ah. — O suspiro acompanhando a sua sentença é completamente mortal, como um tiro que te atinge em um ponto vital e te dá apenas alguns segundos para ver a cara do sujeito que tirou a sua vida.
— O que foi agora Michelle? — Inquiro, me parando quando noto que o meu tom está ficando alto, indo além do limite e não quero que diga que a fiz ter qualquer problema em sua gestação, pois esse é o medo de todos, de que um dia eu surte e acabe com a felicidade da minha irmã, quando foi ela que cometeu um erro primeiro.
— Não só... até quando vai continuar insistindo nessa vida, olhe para você, está acabada, vive em um apartamento qualquer, não tem uma vida estável, como vai poder encontrar alguém se vive desse jeito? — Mordo a parte de dentro da minha boca segurando todas as minhas palavras, porque sinto que se a abrir agora irei começar com uma discussão que vai fazer com que ela tenha seu filho no meio da minha sala.
— Você precisa decidir Michelle, veio aqui para me atormentar por conta do seu casamento ou devido ao meu emprego? — A pior parte disso é não poder ter uma discussão de verdade com ela. Com certeza.
— Acha que nossos pais ficam felizes em ver como vive? — Indaga, me aponta um dedo no meio da cara, como se eu precisasse disso para aprender o que é ter uma vida estável como ela, uma advogada muito bem formada que conseguiu bons casos antes de decidir caçar o meu noivo.
E sim, não estou sendo a vilã por ser aquela que levou um chifre, ela admite para qualquer um que o caçou, que tentou o que podia para que tivesse a sua atenção, pois segundo minha amada irmã eu não o amava, seu amor era maior que o meu, era o que ele merecia ao invés de pegar as minhas migalhas.
— Não peço dinheiro a nenhum de vocês, então, não tenho ideia de porque a minha vida tem a ver com o que querem — profiro, Michelle não tem ideia, ninguém da minha família tem conhecimento quanto aos livros que lancei com pseudônimo, são eles que enchem a minha conta e pagam meus boletos, os únicos livros que sabem que escrevi foram os que não fizeram sucesso, aqueles que foram escritos com o meu nome assinando como autora.
Eles não têm ideia da minha identidade como Ivy Morrel. Nada do que foi conquistado por ela está em conhecimento deles. Nem quero que saibam, pois sei que não mudará a forma como me veem.
O jeito como vivo é o modo que me faz sentir bem, não tem nada a ver com condições financeiras. Esse apartamento foi o primeiro lugar em que fiquei depois de sair de casa, ele tem um apreço especial em minha vida e quando consegui comprá-lo chorei por dias de felicidade.
— Nossos pais se preocupam com você, acham que vai morrer velha e gorda com o tanto de merda que come — fala, aponta para o cesto de besteiras posicionado estrategicamente perto da poltrona onde me sento para assistir minhas séries favoritas.
Realmente como muitas bobagens, mas não significa que não me cuido.
— Se for o que quero é assim que vai acontecer.
— Não haja como se fosse a dona da razão, sabe que escolheu errado ao sair de casa. — Respiro fundo, penso pela milésima vez que é uma mulher grávida, que não posso brigar como gostaria com ela ou posso ser acusada de homicídio duplo. — Esse trabalho nunca renderia, mas insistiu nisso e acabou nessa cova, aceite quando as pessoas querem ajudar.
— Igual a quando decidiu que meu noivo deveria ser o seu marido?
— Não fale desse jeito comigo, por mais que me olhe desse modo sabe que se ele te amasse nunca teria vindo atrás de mim, que as minhas tentativas não teriam dado em nada. Não tenho culpa de você não ter entregado o que ele esperava de uma noiva. — 1001 maneiras de não matar alguém, deveria ser o meu próximo livro a ser lançado, pois a cada vez que me encontro com a minha irmã tenho vários pensamentos que se encaixariam nessa temática.
— Michelle, seus comentários ficam piores a cada vez que nos encontramos, então, se puder não falar sobre o assunto te agradecerei — arrazoo ligeiro, espero que desista do que veio fazer aqui e decida que tem que ir para casa, pois o que mais quero agora é ficar sozinha para mais uma vez processar o fato de que segundo a minha irmã não fui mulher suficiente para manter o meu noivo, único motivo para Roger ter a escolhido.
— Não fuja, você sempre foge quando as coisas começam a dar errado, foi assim com o seu noivado — peço para os céus paciência, porque não sei se posso passar de hoje sem ter um troço.
KendraQuando Michelle decidiu que deveria ir embora já estava tão aliviada que não poderia nem me erguer do lugar, demorei uns bons minutos encarando os livros espalhados pela sala, os móveis cheios de poeira, os porta-retratos que agora têm fotos recortadas.Acho que foi pior cortar as fotos do que tacar fogo, pois a cada vez que as vejo sei que está faltando um pedaço delas. As vezes decisões feitas por impulso te levam a um rio de merda, e sempre fico na borda dele quando minha irmã decidi que é o seu dia de me infernizar.Agradeci quando Kitty me mandou novamente o convite para uma festinha de mulheres, mas ao chegar lá fui tão bombardeada por perguntas que sequer consegui pensar em outra coisa fora virar um copo de bebida um atrás do outro.Amo rum e qualquer outra bebida que o leve dentro, e hoje estou assim, me afundando no que pode me dar, mas nem tudo pode ser um mar de: me entregue a próxima dose.Em algum momento elas começaram a conversar sobre um site rolando, um que é m
JoshuaNão é a primeira vez que sou contratado por alguém que tem alguns problemas, mas uma que se recusa a acreditar que pagou pelo serviço, essa é a primeira que enfrento.Com uma mão na cintura enquanto a outra tenta organizar o cabelo bagunçado me encara. Me mantém na soleira da porta, está desconfiada demais para me dar qualquer espaço.Pelo cheiro de álcool vindo dela imagino que tenha feito o pedido enquanto estava bêbada, por esse motivo não se recorda de como aconteceu. No entanto, assistir enquanto ela tenta com todas as forças não surtar é muito engraçado e não deixo de sorrir, notando que tomo a sua atenção sinceramente com isto.— Pode repetir? — Rio mais uma vez, enfio a mão no bolso do jeans, me encosto contra a soleira e ela sente a necessidade de tomar algum espaço. Por ser a primeira vez que lido com alguém que não tinha ideia de que apareceria cada uma de suas reações se tornam divertidas de ver.— Me chamo Joshua e faço parte da namoro.com, uma empresa onde homens
Kendra Quando ele disse que seria um namorado perfeito, não estava mentindo, foi muito sincero, pois em seu primeiro dia fez questão de estar comigo, mesmo quando percebeu que passaria boas horas em frente ao notebook, e os céus disseram amém, pois estou finalmente conseguindo pensar em coisas decentes que possam ser colocadas no roteiro da história. Mas a premissa inicial mudou completamente, e poderia negar, mas o meu protagonista está bem mais parecido fisicamente com o meu namorado alugado. Seus fios longos são ajustados atrás da orelha enquanto utiliza da minha cozinha fazendo com que um cheiro incrível chegue as minhas narinas. Os fios estão em um tom de loiro acastanhado, como se pudesse mudar de cor completamente. É alto, tem 1,90, informação disponível no namoro.com. tem várias tatuagens no corpo, apesar de não ter visto nenhuma delas pessoalmente, me atrevi apenas a verificar o que exibia no catálogo. E quem sabe, elas não foram o motivo de ter o escolhido, já que sempre
Joshua — O problema com a inspiração é tão grave? — pergunto. O modo como me olha é quase como se gritasse como não tenho ideia do que é importante para o seu trabalho e não tenho muito conhecimento sobre escritores, é a primeira a pedir pelos meus serviços, e nenhuma mulher nunca foi tão sincera com tudo. Aproveitar refeições juntos foi o que pude incluir como programas de casal desde o primeiro dia. Claro, ela não se recusa, mas é óbvio que o silêncio é muito importante para o seu trabalho. — Considerando que posso acabar com as expectativas de muitas pessoas em mim, sim, é um problema gigantesco — fala Kendra, antes de morder uma torrada com vontade. — Seu trabalho inclui estar comigo 24 horas por dia? Porque não esperava você aqui tão cedo. — Cada cliente é diferente e acho que esse t
Kendra— Ontem enquanto não estava um cara veio aqui — fala Joshua enquanto desvio dele para ir em direção a geladeira pegando um pote de sorvete, mas sou parada por ele antes que prossiga. — Não pode comer direto do pote.Faço minha melhor expressão de irritação, mas isso não o comove, assim, preciso assistir enquanto põe uma boa quantidade em uma tigela de sobremesa e me entrega. Como se dissesse: “viu, é assim que seres humanos fazem”.— E quem era? Não tem muitas pessoas que saibam onde moro — profiro ligeiro, me encaminho para perto do meu notebook sorrindo por ver que consegui escrever algumas milhares de palavras. Joshua — Fominha, já voltei, você vai largar esse notebook ou não? — pergunto com entusiasmo. Paro depois de ver que Kendra está acompanhada, que a mulher parece muito perto de ter um colapso nervoso após ver minha presença, como se acreditasse que um fantasma vai pegá-la. — Olá, sou o Joshua, namorado da Kendra. — Ponho um sorriso encantador no rosto, ergo minha mão para cumprimentá-la, no entanto, a minha ação parece piorar a minha situação diante dela. — Puta que pariu, é incrível o que pode conseguir com algum dinheiro. — fala a convidada. Kendra sorri, pede silenciosamente para que vá fazer o que tinha como intenção antes de notar que estava com visita, mas é claro como o dia que a mulher em sua companhia não para de me en09. Dia 4: Não tem dinheiro que pague
Kendra— Então está indo tudo bem com o namorado falso gostoso? — questiona Kitty.Curiosa por minha vida que dá volta estranhas e que às vezes sequer controlo, Kitty pediu por um encontro fora da minha casa para que pudesse falar mais à vontade, mas me pergunto, como não pensei na possibilidade de ela apenas querer arrancar todas as informações possíveis sobre Joshua.— Aquele Thor jovem é uma tentação sem limites. Você está bem? — investiga após notar meu silêncio.— Pareço a ponto de ter um colapso nervoso por ele ser simplesmente perfeito? — Ela nega. — Nossos anos de amizade n&at
Joshua— Uau. — Exclama com os olhos brilhando, cintilando com tamanha força que atrai a atenção de quem está ao redor para olhá-la, apenas querem vê-la brilhar mais forte, e não conheço muitas pessoas que tenham esse tipo de magnetismo, mas Kendra o possui, no entanto, não parece se dar conta disso.Até mesmo eu, a pessoa que tem plena consciência de que nosso relacionamento atual não passa de uma troca de favores se vê mirando o que está na direção dela. Tudo aquilo que pode representar com um sorriso encantador enquanto põe uma mecha de cabelo para trás ou quando sibila sem parar sobre uma cena que precisa descrever em seu novo livro.Cada uma dessas