Marcos Não faço ideia do que fazer.Quando vejo Ana, só consigo ficar olhando de longe, não tenho coragem de ir até ela. Na verdade estou fugindo dela como o diabo foge da cruz desde que descobri a verdade sobre o exame de DNA. Foi naquele mesmo dia em que li a carta. Algo não estava batendo. Fui até o hospital.— Olá, meu rapaz. O que posso fazer por você? — coincidentemente a mesma mulher que fez o exame me atendeu, a mãe de Amelia. — Não te vejo há bastante tempo. Amelia está pensando em convidar você e sua família para um jantar — diz sorrindo.— Quero refazer o teste de paternidade — digo curto.— O que houve para querer isso? — a voz da mulher treme. — O teste é cem por cento certo.— Nada é cem por cento, senhora.— Tudo bem. Se é importante para você, me entregue as amostras. Vamos refazer.Nego com a cabeça.— Quero acompanhar o processo.— Isso é um absurdo. — A mulher se levanta, agitada. — Está dizendo que não confia no meu pessoal?Me levanto também.— Estou dizendo que
FabianaMe pergunto o que estou fazendo diante dessa fogueira. A primeira foi incrível, sentada ao lado de Marcos e de Ali tantos anos atrás. Agora o vejo do outro lado, entre duas garotas que claramente dariam tudo para trepar no mato com ele.Marcos nem me olha. O idiota não teve a decência de pedir desculpas. Sei que não posso exigir nada dele, que me perdoe, muito menos que me ame. Mas dói vê-lo seguir em frente, saber que a carta que ele leu não mexeu nem um pouco com seu coração.Queria ter um pedacinho que seja no meu coração disponível, assim eu conseguiria estar perto de outro homem. Saberia se ele aceitaria bem se me visse beijando outro. Mesmo que depois tivesse que lidar com as consequências por ser casada. Ninguém aqui me respeita mesmo.— Ali, acho que vou embora. Me desculpe. — Me levanto.Alice me puxa de volta.— Nãooo, amiga. Só mais dez minutos. Olha lá como a Carmelita está animada dançando com o marido.Sigo a direção do olhar de Alice e vejo Carmelita linda no se
FabianaSó percebo a presença de Ali ao meu lado quando chego perto da cancela que leva a casa principal. Obvio que não vou embora sem meu filho. Só preciso de um tempo, preciso apenas respirar.— Pode ficar com sua família? Eu não... eu...— Eu vou com a minha amiga. Não importa onde. — Ela simplesmente segura o meu braço e recomeçamos a andar. — Essa fogueira estava chata mesmo. Meu irmão canta muito mal.— Canto melhor que você. — Minhas pernas viram gelatina ao ouvir o timbre rouco de sua voz. Ainda bem que Alice está me segurando.Ou melhor... estava.— Vocês precisam conversar. — Ali diz me soltando e deixando para trás.Continuo andando, não faço ideia de para onde. Alguns passos e ele fica ao meu lado, mas não diz nada.O idiota do meu coração disparado feito louco.Não consigo me virar e encará-lo. Talvez seja por isso que ele segura meu braço, me fazendo parar meus passos vacilantes na noite pouco iluminada.— Podemos conversar?Finalmente. Respiro fundo, viro para ele e cru
MarcosTodos os olhares são para nós quando voltamos de mãos dadas. Sinto Fabiana tentando se soltar, mas aperto seus dedos, para lhe passar força e para impedir que fuja. É cruel a forma como sua confiança foi sugada de si durante esses anos. No passado, ela que teria erguido o queixo e andado ao meu lado. Essa Fabiana de hoje, caminha devagar, com o olhar e a cabeça baixo. E eu sou o único culpado.— Confie em mim — sussurro em seu ouvido.Ela apenas suspira em resposta.— Finalmente! — minha irmã grita e bate palmas, sendo acompanhada pela maioria naquela festa.Claro que sei que muito ali não são verdadeiros, mas tem aqueles que querem nosso bem, como a família da Carmelita. Ela está sorrindo para nós, abraçada ao marido.Aceno apenas e guio Fabiana para um banco perto da fogueira.— Quer alguma coisa? — pergunto, preocupado. — Percebi que não comeu nada.— Toda essa situação me deixa sem fome. — Sua voz sai como um sussurro.Me levanto.— Vou trazer algo de milho para você. Doce
FabianaMeu coração batia desregulado enquanto andava de mãos dadas com Marcos diante daquelas pessoas. Tentei focar na sua voz firme me pedindo para confiar nele. Assim eu não fugiria dos olhares em nossa direção. A maioria ali só me via com a esposa adultera de um velho nojento, alguém que se casou por interesse e se ferrou. Mas eu não fugi. Me mantive firme.Uma lembrança boa tomou conta de mim quando Marcos se preocupou com meu bem estar, se dispondo a buscar minha comida favorita, assim como fazia quando éramos dois jovens inconsequentes. Um pouco de alegria ameaçou me invadir, mas um nuvem negra a cobriu quando Carla parou na minha frente.— É sério isso? — apenas a encarei com curiosidade sobre sua pergunta, a sobrancelha erguida. — Depois de tudo que ele fez, vai aceitar assim? E aquela garota, que fez você massagear meus pés só para me humilhar, vai perdoar ela assim?Dou um sorriso amargo.— Você disse o mesmo para eles. Me culpou por tudo e questionou se me perdoariam tão f
MarcosMeus dedos formigam com o toque na pele dessa mulher. A sensação de ter suas costas contra o meu peito nu... isso nem consigo descrever. Meu coração parece querer sair do peito com o significado de suas palavras. Seu rosto virado para mim, me encara com expectativas.— Minha meta é te fazer feliz — digo segurando seu queixo, mantendo seus olhos presos aos meus. — Acredita em mim?Sinto sua resposta em um leve assentir.Curvo e tomo seus lábios devagar.— Eu te amo, Fabiana! — confesso sem nenhuma vergonha. Quero acabar com qualquer dúvida que ela tenha. — Eu te amo, como um maldito viciado.Fabiana apenas me olha, seus olhos marejados. Espero que ela diga algo, mas nada sai dos seus lábios além de uma respiração falha.Confesso que incomoda que não diga que sente o mesmo, mas seria canalha de cobrar isso dela quando já demonstrou de todas as formas.Tomo seus lábios novamente, sentindo sua maciez, seu gosto único que me deixa duro. Minha mão desliza do seu queixo, indo parar no
MarcosDesperto com um peso incomum sobre o meu corpo. Quando abro os olhos, encontro o corpo nu de Fabiana agarrado ao meu, com uma perna sobre as minhas.Meu desejo por ela desperta junto comigo. Um desejo que reprimo ao notar que ainda são nove da manhã.— Vou te deixar dormir um pouco mais, meu amor — falo baixinho enquanto a afasto gentilmente.Saio da cama e vou até o banheiro, onde tomo um banho rápido. Logo desço para o café da manhã, com muita dificuldade de deixar aquela beldade sozinha na cama.— Bom dia, irmão! Parece que a noite foi boa. — Alice diz maliciosa. — Tive que levar meu sobrinho para dormir no meu quarto, já que a cama no quarto da mãe dele estava cheia a ponto de fazer barulhos estranhos.Reviro os olhos para ela. Will está ocupado se empanturrando de bolo de milho, nem nos dá atenção. Acho que ele puxou esse gosto da mãe.— Bom dia, baixinha! — respondo e vou até meu filho, beijando sua cabeça e desejando bom dia.Me sento e sirvo café.— Não a chame, está be
Amélia— O que está fazendo? Não devia estar na delegacia?Só percebo que quebrei tudo no meu quarto depois que minha mãe grita na porta.Olho para o espelho quebrado e vejo minha imagem no uniforme. Meus cabelos ainda soltos.— Eu sou linda, sou carinhosa, sou mil vezes melhor que ela... Por que ele não me quis?— Filha...— Cala a boca, mãe. A culpa é sua. Dizia que ele era pobre e que eu devia me afastar. E olha só o que aconteceu.Ela não diz nada, apenas me olha com culpa e pena. Quando meu pai morreu, ela me deixou ser livre e amar quem eu quisesse, mas era tarde. Marcos já estava longe. Qualquer chance com ele se foi junto com a família Castro.Sempre fui apaixonada por Marcos. Ele foi o meu primeiro.O dor ferve dentro de mim. Ele me acha tão insignificante que nem mesmo me procurou para tirar satisfações. Sei que ela deve ter contato sobre aquele dia na delegacia. Mas para ele eu não sou nada. Só existe aquela piranha. Todos estão falando sobre como os dois estavam apaixonados