FabianaSó percebo a presença de Ali ao meu lado quando chego perto da cancela que leva a casa principal. Obvio que não vou embora sem meu filho. Só preciso de um tempo, preciso apenas respirar.— Pode ficar com sua família? Eu não... eu...— Eu vou com a minha amiga. Não importa onde. — Ela simplesmente segura o meu braço e recomeçamos a andar. — Essa fogueira estava chata mesmo. Meu irmão canta muito mal.— Canto melhor que você. — Minhas pernas viram gelatina ao ouvir o timbre rouco de sua voz. Ainda bem que Alice está me segurando.Ou melhor... estava.— Vocês precisam conversar. — Ali diz me soltando e deixando para trás.Continuo andando, não faço ideia de para onde. Alguns passos e ele fica ao meu lado, mas não diz nada.O idiota do meu coração disparado feito louco.Não consigo me virar e encará-lo. Talvez seja por isso que ele segura meu braço, me fazendo parar meus passos vacilantes na noite pouco iluminada.— Podemos conversar?Finalmente. Respiro fundo, viro para ele e cru
MarcosTodos os olhares são para nós quando voltamos de mãos dadas. Sinto Fabiana tentando se soltar, mas aperto seus dedos, para lhe passar força e para impedir que fuja. É cruel a forma como sua confiança foi sugada de si durante esses anos. No passado, ela que teria erguido o queixo e andado ao meu lado. Essa Fabiana de hoje, caminha devagar, com o olhar e a cabeça baixo. E eu sou o único culpado.— Confie em mim — sussurro em seu ouvido.Ela apenas suspira em resposta.— Finalmente! — minha irmã grita e bate palmas, sendo acompanhada pela maioria naquela festa.Claro que sei que muito ali não são verdadeiros, mas tem aqueles que querem nosso bem, como a família da Carmelita. Ela está sorrindo para nós, abraçada ao marido.Aceno apenas e guio Fabiana para um banco perto da fogueira.— Quer alguma coisa? — pergunto, preocupado. — Percebi que não comeu nada.— Toda essa situação me deixa sem fome. — Sua voz sai como um sussurro.Me levanto.— Vou trazer algo de milho para você. Doce
FabianaMeu coração batia desregulado enquanto andava de mãos dadas com Marcos diante daquelas pessoas. Tentei focar na sua voz firme me pedindo para confiar nele. Assim eu não fugiria dos olhares em nossa direção. A maioria ali só me via com a esposa adultera de um velho nojento, alguém que se casou por interesse e se ferrou. Mas eu não fugi. Me mantive firme.Uma lembrança boa tomou conta de mim quando Marcos se preocupou com meu bem estar, se dispondo a buscar minha comida favorita, assim como fazia quando éramos dois jovens inconsequentes. Um pouco de alegria ameaçou me invadir, mas um nuvem negra a cobriu quando Carla parou na minha frente.— É sério isso? — apenas a encarei com curiosidade sobre sua pergunta, a sobrancelha erguida. — Depois de tudo que ele fez, vai aceitar assim? E aquela garota, que fez você massagear meus pés só para me humilhar, vai perdoar ela assim?Dou um sorriso amargo.— Você disse o mesmo para eles. Me culpou por tudo e questionou se me perdoariam tão f
MarcosMeus dedos formigam com o toque na pele dessa mulher. A sensação de ter suas costas contra o meu peito nu... isso nem consigo descrever. Meu coração parece querer sair do peito com o significado de suas palavras. Seu rosto virado para mim, me encara com expectativas.— Minha meta é te fazer feliz — digo segurando seu queixo, mantendo seus olhos presos aos meus. — Acredita em mim?Sinto sua resposta em um leve assentir.Curvo e tomo seus lábios devagar.— Eu te amo, Fabiana! — confesso sem nenhuma vergonha. Quero acabar com qualquer dúvida que ela tenha. — Eu te amo, como um maldito viciado.Fabiana apenas me olha, seus olhos marejados. Espero que ela diga algo, mas nada sai dos seus lábios além de uma respiração falha.Confesso que incomoda que não diga que sente o mesmo, mas seria canalha de cobrar isso dela quando já demonstrou de todas as formas.Tomo seus lábios novamente, sentindo sua maciez, seu gosto único que me deixa duro. Minha mão desliza do seu queixo, indo parar no
MarcosDesperto com um peso incomum sobre o meu corpo. Quando abro os olhos, encontro o corpo nu de Fabiana agarrado ao meu, com uma perna sobre as minhas.Meu desejo por ela desperta junto comigo. Um desejo que reprimo ao notar que ainda são nove da manhã.— Vou te deixar dormir um pouco mais, meu amor — falo baixinho enquanto a afasto gentilmente.Saio da cama e vou até o banheiro, onde tomo um banho rápido. Logo desço para o café da manhã, com muita dificuldade de deixar aquela beldade sozinha na cama.— Bom dia, irmão! Parece que a noite foi boa. — Alice diz maliciosa. — Tive que levar meu sobrinho para dormir no meu quarto, já que a cama no quarto da mãe dele estava cheia a ponto de fazer barulhos estranhos.Reviro os olhos para ela. Will está ocupado se empanturrando de bolo de milho, nem nos dá atenção. Acho que ele puxou esse gosto da mãe.— Bom dia, baixinha! — respondo e vou até meu filho, beijando sua cabeça e desejando bom dia.Me sento e sirvo café.— Não a chame, está be
Amélia— O que está fazendo? Não devia estar na delegacia?Só percebo que quebrei tudo no meu quarto depois que minha mãe grita na porta.Olho para o espelho quebrado e vejo minha imagem no uniforme. Meus cabelos ainda soltos.— Eu sou linda, sou carinhosa, sou mil vezes melhor que ela... Por que ele não me quis?— Filha...— Cala a boca, mãe. A culpa é sua. Dizia que ele era pobre e que eu devia me afastar. E olha só o que aconteceu.Ela não diz nada, apenas me olha com culpa e pena. Quando meu pai morreu, ela me deixou ser livre e amar quem eu quisesse, mas era tarde. Marcos já estava longe. Qualquer chance com ele se foi junto com a família Castro.Sempre fui apaixonada por Marcos. Ele foi o meu primeiro.O dor ferve dentro de mim. Ele me acha tão insignificante que nem mesmo me procurou para tirar satisfações. Sei que ela deve ter contato sobre aquele dia na delegacia. Mas para ele eu não sou nada. Só existe aquela piranha. Todos estão falando sobre como os dois estavam apaixonados
MarcosEstacionei vendo a movimentação estranha na cancela. Desci do carro sem ser notado. E logo entendi porque. Aconteceu alguma coisa entre Amelia e Fabiana. Percebo pela forma raivosa como minha mulher olha para a outra. Parece pronta para rasgar gargantas.Até deixaria Ana extravasar sua raiva, principalmente depois de saber como essa policial de quinta foi estupida com ela. O que me fez intervir foi o olhar curioso e assustado do nosso filho e de Gabriel.Me apresso e a seguro pela cintura.— Devagar, mamãe urso — digo para ela.É tão gostoso ver o corpo de Fabiana reagindo a mim. Dá vontade de rasgar suas roupas e foder até ela gritar meu nome em êxtase. Essa mulher vai ter que pagar por me deixar assim em um momento em que não posso realizar meus desejos.— Me solta, Marcos — diz com a voz rouca, me fazendo sorrir.— Só quando se acalmar. Eu ia gostar de te ver dando uma bela surra nessa daí, mas acho que vai ser mau exemplo para a nossa cria.— Não chama ele de cria — ela res
Acabo de voltar de uma visita a meu irmão com minha melhor amiga e encontro apenas trabalho.Aquele cigana estava certa, estou mesmo sendo cobiçada, mas tudo por causa da fama. Desde que apareci como figurante em uma novela gravada no povoado que surgem trabalhos sem parar. E eu nem sou atriz. Aprendi depois de começar a trabalhar no ramo. Meu agente diz que eu tenho talento natural. Por isso parece que sempre fiz isso.Eu gosto. Não é algo que quero fazer para sempre, mas curto viver personagens com suas histórias singulares, me ajuda a não pensar no fato de que ainda não consegui me abrir para o amor. Sou feliz, não posso dizer o contrário, mas sinto uma certa inveja do que minha melhor amiga e meu irmão tem.— Cheguei, estrela.O homem vestido em um terno vinho elegante me tira dos pensamentos. É o meu agente.Olho para ele, desacreditada da sua cara de pau.— Mike, você sabe que não sei dançar nem quadrilha. Que história é essa de personagem dançarina? Amor pela dança não dá para