MarcosPela janela, observo a quantidade de gente circulando no ambiente decorado na frente do casarão.Eu fiquei com o quarto dos avós de Fabiana, enquanto Alice ficou com o quarto dela. Ela mandou trocar tudo. Ali não tem mais nenhum traço das noites em que visitava sorrateiramente a primeira garota que amei.O quarto dos velhos também mandei mudar. Na verdade toda a casa foi redecorada. Qualquer traço que um Medeiros já morou aqui sumiu.Meus pais não quiseram morar aqui, preferiram a outra fazenda. Eles não têm nenhum desejo de vingança, como a Alice. Nem o desejo maldito de ver aquela mulher, como eu.Busco ela com o olhar entre as pessoas que circulam, mas só vejo seus familiares, principalmente Carla que se destaca pelo vestido ousado no clima frio dessa noite.— Chegou a hora, irmão. Já vão nos anunciar.Viro para a porta ao ouvir a voz de Alice.— E nossos pais?— Não vão participar da grande aparição. Só querem acabar logo com isso para reverem os amigos.— Então vamos acaba
MarcosDepois de voltar da cidade, onde deixei o material do exame, estou andando perto do lago e pensando em tudo que mudou na minha vida quando vejo dois garotinhos correndo. Um deles é o filho de Fabiana.— Onde estão as mães de vocês? — pergunto me aproximando.— Não responde, Biel. Mamãe não deixa falar com estranhos. — O filho de Fabiana vai logo se colocando na frente do outro, como se pretendesse proteger.Sorrio da sua ousadia.— Sua mãe também deve ter dito para não correr por ai escondido, não é?Ele me olha desconfiado. Não responde nada. Logo ouço gritos desesperados pelos nomes dos garotos.— É melhor voltarem. As mães de vocês devem estar preocupadas.O pequeno Will segura na mão do amiguinho e corre para longe.Só essa pequena interação aqueceu meu coração, me fazendo desejar ainda mais ser pai desse menino.Quando volto para casa, faço uma investigação sobre o dia a dia do garoto e descubro que ele fica muito tempo na casa de Carmelita, que aquele amiguinho é o Gabrie
FabianaEstou sentada diante da única amiga que me restou. Carmelita.— Pela sua cara você já sabe — ela comenta colocando um copo de café fresquinho na minha frente.— Eles chegaram de madrugada em alvoroço. Sei. Ele está aqui. Ele é o dono de tudo isso.Suspiro. Carla chegou fazendo o maior barulho. Minha sorte é que Will tem um sono tão pesado que às vezes até me assusta. Ele continuou dormindo tranquilamente. Já eu... passei a noite em claro, mesmo depois que eles se calaram.— Parece tensa. Por que? É sua chance de esclarecer as coisas. Sei que isso tudo é uma bagunça, você agora está casada... mas tem um filho juntos.— Ele disse que você é uma sem noção interesseira se acha que vai acreditar que o filho é dele. — Suspiro novamente, lembrando da risada debochada. — Foram essas as palavras da Carla quando chegaram da festa.Carmelita franze o rosto.— Aquela víbora já foi fazer picuinha.— Pois é. Não sei se tenho coragem de encará-lo. Ele sabe sobre Will, mandei carta há anos.—
Marcos Durante dez anos uma mulher assombrou meus sonhos e pesadelos. Fabiana Garcia de Medeiros. Essa mulher tirou tudo de mim, minha família, meus amigos, meu lar, minha sanidade.Agora estou de volta, totalmente diferente do rapaz cheio de sonhos que fui. Alcancei um ponto da vida em que dinheiro e poder jorram em minha volta, sendo que eu me tornei a fonte. Contrário a mim, a família dela, assim como ela, perdeu tudo. Sua casa foi posta à venda por um preço muito abaixo do mercado, para cobrir dívidas do pai, irmãos e do marido dela. Eu comprei, não para ajudar, não para morar, apenas para devolver um pouco da humilhação que me causaram.Nem pretendia voltar para essa cidade, mas meus pais insistiram e minha irmã me fez ver que tirar a fazenda deles e ocupar o lugar onde reinaram era a melhor vingança. Mesmo podendo comprar uma muito maior, preferi a vingança. Quando me cansar, vendo essa porcaria de lugar e recomeço.Quando recebi o recado que ela queria me encontrar na árvore o
Marcos— Talvez eu tenha descoberto a forma de você se vingar de Fabiana — digo durante o jantar.Alice me olha empolgada e meus pais dão aquele olhar reprovador.— Ela quer trabalho. Pensei em ela ser sua assistente pessoal. O que acha?— Humm... — ela bate palmas sorrindo. — Adorei. Pode mandar começar amanhã.— Ela também que alojamento para ela e o filho...— Dá um quarto. Quero essa coisinha perto para atormentá-la dia e noite.Dou de ombros. Alice não sabe o quanto está facilitando as coisas para mim.— Vocês vão se arrepender. Escreva o que digo — nosso pai fala com seriedade. — Eu não criei meus filhos para serem cruéis. Sei que vocês têm coração gentis.— Pai, eu só vou mostrar para ela que não pode destruir a vida de alguém e sair ilesa.— E ainda vai dar o que ela quer, alojamento e emprego — completo a fala da minha irmã.Nossos pais apenas balançam a cabeça negativamente. Para não irritá-los apenas voltamos a falar sobre Fabiana depois que eles vão para casa.— Pensei em
FabianaFomos instalados em um quarto de hospedes. Marcos informou que colocaria uma cama de solteiro para o Will e que poderíamos deixar o lugar com a nossa cara.Meu pequeno adorou o espaço novo. Ficou pulando de um lado para o outro. Dormimos cedo, depois de jantarmos sozinhos na cozinha onde muitas vezes parei para dar oi a Dona Aurora. Apesar de me sentir estranha nessa situação, confesso que foi a melhor noite de sono que tive em anos. Sem os gritos histéricos de Carla sobre odiar ser pobre, sem os resmungos dos meus pais e a avós por noticias dos meus irmãos, sem o velho Bento e suas ordens. Sem contar que uma cama confortável faz toda diferença.Na manhã seguinte, assim como combinado, deixei Will com Carmelita e voltei para a fazenda. Hora de começar o trabalho.Encontrei Alice na sala. Ela usa um pijama de seda lilás. Continua linda e com o rosto de boneca que sempre teve.— Bom dia! — cumprimento.— Bem na hora. Sirva o meu café. — Ela não devolve o cumprimento, apenas orde
Dona AuroraNão gosto de ver meu filho assim. Ele está arrasado desde que a menina Fabiana terminou o namoro e fomos embora antes mesmo deles terminarem o ano na escola.E agora tem meu marido com essa dor lombar que o impede de trabalhar. Sei que agora não precisamos, mas ele fica irritadiço por não poder fazer o que gosta, que é cuidar dos animais. Os médicos já avisaram que ele não vai mais poder trabalhar pegando pesado, não podemos arriscar que piore.O vejo triste de um lado por isso, e do outro vejo meu filho destruído por não conseguir perdoar. O único momento em que ambos sorriem feito palhaços é quando o menino Will está entre nós. O pequeno virou a paixão do meu marido, que adora passar o tempo brincando com o menino.Eles eram tão jovens quando tudo aconteceu. Agora estamos bem, e é doloroso ver meus filhos com essa tal vingança.— Está pensando em que, mãe? — Alice pergunta. Estamos todos reunidos no almoço de domingo.— Em perdão.— Ah nem vem — ela resmunga.— Filha, vo
FabianaEm algum momento nos últimos segundos tudo desandou. Eu estava servindo Alice, ela começou a questionar o passado, sem me deixar explicar, estava fora de si, quando dei conta já estava com o rosto ardendo pelo tapa e ouvindo meu filho gritar e vir correndo.— Não pode bater na mamãe. — Ele chora e bate com o cavalinho de pelúcia em Alice, que não sabia como agir.— Calma, garoto. — Marcos pegou ele no colo, que continuava esperneando.— Não gosto dela. Não gosto desse cavalinho feio. — Ele joga o brinquedo nos pés de Alice. Os olhos dela se enchem de lágrimas.— É melhor vir comigo, Fabiana.Meio atordoada com o que acabou de acontecer, sigo Marcos para fora da casa, parando na varanda.— Me dá o meu filho. — Estendo os braços, me segurando para não chorar e deixar meu pequeno mais estressado.Estou tão cansada dele presenciando cenas assim, tão cansada de ver meu filho vir em minha defesa quando eu é que deveria protegê-lo. Achei que sair da casa do velho Bento mudaria nossas