Ameaças

Vittorio

— Sente-se— A minha voz soou firme e séria e Chiara logo atendeu ao comando —  Eu vim até aqui para falar sobre o seu casamento, Chiara. 

Chiara pareceu vacilar por um momento, mas logo seu olhar se tornou desafiador.

— Não entendo o que há para discutir, Senhor Castellani. É a minha vida, e eu decido o que fazer.

Não me deixei abalar pelas palavras, sabia que precisava manter-me calmo para conduzir a conversa da melhor forma possível, mesmo que estivesse me sentindo estranhamente desconcertado naquele momento.

— Você é minha tutelada, Chiara, e ainda tem muito a aprender sobre a vida e sobre as consequências de suas escolhas. Esse casamento pode ter implicações que você nem imagina — disse com firmeza.

Chiara revirou os olhos, parecendo irritada com a insistência.

— Eu não preciso do seu consentimento para me casar, Vittorio. Eu tenho idade suficiente para tomar minhas próprias decisões.

Olhei nos olhos de Chiara e respondi com determinação:

— Eu não posso impedi-la de se casar, mas quero que saiba que estou aqui para orientá-la e protegê-la. Se você precisa se casar para ser feliz, eu espero que seja realmente o melhor para você. Mas, saiba que a partir do momento em que concretizar essa decisão, não mais terá direito a nada do que vem usufruindo desde que nasceu.

Os olhos de Chiara se arregalaram diante do que ouviu e ela pareceu demorar alguns segundos para processar a informação.

— Isso é algum tipo de brincadeira, Vittorio? Você está inventando tudo isso para me impedir de casar? — Chiara retrucou com uma mistura de incredulidade e raiva.

Mantive a tranquilidade, mesmo diante do tom acusatório de Chiara.

— Não é uma brincadeira, Chiara. E não estou tentando proibi-la de se casar. Se é isso que você realmente deseja, não há nada que eu possa fazer para impedi-la — respondi com seriedade.

Ela estava visivelmente abalada, mas sua obstinação não diminuiu. Chiara se levantou e me encarou de forma desafiadora.

— Então, o que você está tentando fazer, afinal? Quer me manipular para desistir do casamento? O dinheiro é meu! Minha mãe deixou para mim, e você não pode me tirar isso! — Chiara retrucou, apontando o dedo para mim.

Suspirei e tentei conter-me com grande dificuldade. Qualquer outra pessoa que estivesse agindo como Chiara estava, não iria receber a mesma cortesia da minha parte. Poucos teriam essa coragem, também.

— Está enganada, Chiara. Débora não tinha um centavo. Era uma pobre coitada até você nascer.

— Está mentindo! — Ela gritou de maneira desafiadora.

— Acredite no que quiser, mas saiba que a verdade está à sua frente. Sua mãe não tinha fortuna para deixar você. Todo esse conforto com o qual está acostumada será perdido no momento em que concretizar a sua decisão — declarei com firmeza, olhando fixamente nos olhos dela.

Chiara parecia chocada com as palavras que acabara de ouvir. Seus olhos oscilavam entre raiva e incredulidade, como se estivesse lutando para assimilar a realidade que estava se desdobrando diante dela.

— Isso não pode ser verdade. Minha mãe sempre disse que tínhamos dinheiro guardado, que eu seria bem cuidada, que... — Chiara começou a dizer, mas eu a interrompi.

— Sua mãe disse muitas coisas para te proteger e te dar uma sensação de segurança. O dinheiro que existe nunca pertenceu a Débora, sempre esteve sob o meu controle, e é assim que vai permanecer até que você demonstre maturidade o suficiente para lidar com ele de forma responsável — afirmei com calma, mas sem recuar.

Chiara estava visivelmente abalada. Sua postura desafiadora começou a ceder, e ela afundou na cadeira, parecendo desamparada e perdida.

— Não entendo por que está me tirando tudo agora. Por que está agindo assim comigo? — Chiara murmurou, quase em um sussurro — Se o dinheiro que me cerca não pertence a minha mãe, a quem mais?

Respirei fundo antes de responder, sentindo a responsabilidade da situação pesando sobre mim.

— Não quero controlar sua vida, mas você é jovem, impulsiva e inexperiente. Eu só estou tentando protegê-la, mesmo que você não compreenda isso agora — expliquei com sinceridade.

Ela olhou para o chão por um momento, parecendo refletir sobre as palavras que eu havia dito. A tensão no ambiente era palpável, mas eu estava determinado a não ceder.

— Então, o que espera que eu faça? — Chiara perguntou finalmente, sua voz um misto de resignação e confusão.

Eu a encarei diretamente com uma expressão séria.

— Se você está determinada a seguir com o casamento, tudo bem, é uma escolha sua. Mas eu não vou permitir que você tome decisões impulsivas e se arrependa no futuro.

As minhas palavras pareceram atingir Chiara como um soco emocional. A sua expressão era de choque e extremo desgosto.

— Essa é sua última palavra?

— Sem dúvida alguma.

Chiara

Deixei o escritório de Vittorio Castellani com um misto de confusão e frustração. A revelação de que eu não era uma herdeira me atingiu como um soco no estômago. Subi as escadas apressadamente, mal cumprimentando Henriqueta, que parecia esperar por mim. 

Estava zangada com ela, acreditando que foi ela quem correu para contar ao arrogante Vittorio sobre meus planos de casamento com Rafael. A traição dela era algo que eu não estava pronta para perdoar tão facilmente.

Desabei em minha cama como uma tempestade, uma demonstração da garota mimada que, admito, sempre fui. Minha vida tinha sido repleta de privilégios, frequentando as melhores escolas de São Paulo e morando em uma luxuosa mansão no Jardim Pinheiros. Era difícil negar que minha vida tinha sido envolta em conforto. Mas agora, a lembrança de minha mãe apertava meu coração.

Minha mãe, uma figura estranha em minha vida, nunca mencionou nada sobre meu pai, afirmando que foi um encontro casual sem compromisso. Essa história me fez acreditar que ela era a mantenedora da casa, cuidando de todas as despesas. Nunca questionei o fato de que ela nunca trabalhava. Por que nunca parei para pensar sobre a fonte de renda de nossa família? Éramos só nós duas, já que minha mãe era filha única e meus avós faleceram quando eu era criança.

Quando Vittorio veio até nossa casa após o funeral de minha mãe, eu estava emocionalmente devastada para realmente entender suas palavras. Tudo o que eu conseguia captar era que ele se tornaria meu responsável legal a partir desse dia. Uma decisão tomada muito antes do meu nascimento. Eu presumi que minha mãe confiava nele.

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