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#2 - Cinzas, ossos e brasas

Três dias depois. Tijuca, 11:30AM.

Mari jogou a chave da moto em cima da mesa, junto com o capacete. Fechou a porta com o pé. Os óculos escuros ficaram em cima do micro-ondas. As luvas, sobre o telefone. A jaqueta de couro, na cadeira da sala. O coldre com a pistola ficou com ela.

Olhou a foto sobre o aparador. Ela e Rique na praia. Sorrindo. Jurerê. Foi um verão divertido. Os dois, de férias. Foram para o Sul, de moto. Ele ainda não namorava Julia. O primeiro ano como agentes.

Foi para a cozinha. Abriu a geladeira. Ficou parada, olhando lá para dentro. Três dias. Fazia três dias que ele tinha morrido.

Uma sombra se moveu na sala. Sacou a pistola e apontou naquela direção. Relaxou.

— Como é que tu entrou aqui, Vivico?

A pistola voltou ao coldre.

— Por trás. Pela área de serviço.

Mari caiu sentada no sofá.

— Queria ver se te pegassem...

O rapaz não respondeu. Só deu um muxoxo e sentou no parapeito.

— Você tá cansada.

Ela riu sem vontade. Exausta.

O enterro de Rique foi a coisa mais triste que ela já tinha visto. Estava arrasada. Os colegas estavam chocados. Pedro queria o relatório no dia seguinte, em sua mesa. O superintendente tinha aberto uma sindicância para apurar a circunstâncias da morte de seu agente. Os pais de Rique, diplomatas, desembarcaram de madrugada para enterrar o filho. Julia tinha criado confusão com ela. Para piorar, o caixão estava lacrado e blindado. Contaminação. E, ainda por cima, Dib apareceu por lá.

Levantou do sofá. Encheu um copo com uma dose generosa de Jim Beam. Engoliu a metade. Ignorou o álcool descendo como fogo pela garganta. Encarou o rapaz sentado no parapeito que dava na varanda.

— O que tu quer, Vivico?

— Muito mal esse lance do Rique. Ele era gente boa.

Mari olhou para a bebida no copo. Não ia chorar. Nem na frente de Vivico. Olhou para o rapaz.

Vivico que soltou pipas com ela. Que sempre a defendia dos outros garotos. Que se meteu com o tráfico. Procurado pela polícia. Seu informante. Vivico, seu amigo de infância.

— É, ele era sim — encarou-o — sabe de alguma coisa?

— As notícias correm.

As costas dela estavam rígidas. Vivico fungou. Mari o encarou outra vez.

— Tá usando de novo?

— E daí?

Ela balançou a cabeça. Merda de dependência.

— Fala logo.

Vivico pulou do parapeito. Serviu um copo do bourbon para si.

— Bebida de bacana — virou tudo — dizem que a encomenda do cara, o que dançou no Galeão, foi prum figurão da soçaite.

— A maleta que sumiu?

— Isso.

Vivico fungou de novo. Andou até a porta.

— É gente quente, Mari. De costas largas. Pega leve. Sei que tu tá puta pra caralho com o lance do Rique...

O copo de Mari se estilhaçou contra a parede.

— Você não sabe de nada, Otávio!

Ele não sabia que custou muito para ela sair daquele buraco debaixo da Fiocruz. Não sabia que ela que teve que tirar cada ínfima peça de roupa, se lavar com uma coisa que cheirava a creolina e voltar para casa num blindado, vestida com uma camisola de hospital que deixava sua bunda de fora. Seu consolo era que Dib também acabou enfiado numa merda daquelas. Bem feito! Se ele não tivesse corrido atrás dela, não teria passado aquele vexame.

Sua chance de fugir veio quando Lucas, o gorila-robô, levou o café. Jogou o café quente em Dib. Enfiou a mão no bolso dele. Pegou o cartão. Destrancou a porta. Fugiu.

Escutou os palavrões dele e não parou. Derrubou o cara que saía do elevador. Entrou e riu. A porta fechou na cara de Dib. Subiu. Quatro níveis acima. No meio do inferno.

Vermelho. Tudo vermelho. O ambiente carregado. O ar condicionado desligado. Quente.

Correu pelo corredor. Pegou o extintor de incêndio. Parou na frente do vidro blindado.

— Eu vou te tirar daí Rique. Foda-se essa história de contaminação. Isso é coisa de cinema!

Ergueu o cilindro pesado. Bateu uma vez. O vidro rachou. Preparou outro golpe. Nunca terminou seu gesto. Pela segunda vez naquele dia, foi derrubada.

— Sua maluca!

Dib em cima dela. De novo. Debateu-se. Não enxergava direito. Parte por causa da maldita luz vermelha que piscava. Parte por causa das lágrimas.

— Me deixa tirar o Rique de lá!

Dib olhou o vidro rachado.

— Merda! Não! — Ele puxou o rádio do cinto. — Lucas, procedimento de descontaminação.

— Dib...

— Agora, Lucas!

Os sprinklers do teto jorraram. A água brilhou em vermelho. Dib puxou-a para cima. Apesar de tudo, a camiseta molhada chamou atenção. Marcava os seios. A cintura fina. Sentiu ainda mais raiva. Dela e de si mesmo.

— Escute bem o que eu vou dizer — sacudiu-a pelos ombros. Parecia um cão raivoso — mais uma dessas e eu te mato pessoalmente!

Mari não viu Otávio sair pela porta. Sua cabeça fervia. Vivico não tinha como saber que, depois daquilo, ela não viu mais Rique. Nem vivo, nem morto.

Entregaram o distintivo dele na sua mão. Deixaram-na telefonar. E mandaram-na esperar. Isso tudo com aquela camisola ridícula. Tinha chegado em casa de madrugada.

Pela manhã, Julia apareceu lá. Histérica. Esfregou o rosto. A vaca tinha batido nela. Ela nem tinha reagido. Com sono, cansada, de ressaca. Ouviu cada absurdo que a garota de Rique despejou no seu ouvido. Depois, ela foi embora.

Ela simplesmente bateu a porta e foi tomar banho. Embaixo do chuveiro, chorou como uma louca. Então, aconteceu. Como?

A campainha tocou. Ela desligou o chuveiro. Enrolou-se na toalha. Cruzou a sala molhando tudo. Devia ser a faxineira. Era o dia dela vir. Por isso, abriu a porta sem olhar. Ou porque estava perturbada, exausta demais para pensar.

Dib estava ali. Deslizou o olhar pelo seu corpo. Despiu-a com aqueles olhos verdes.

— Não esperava essa recepção, agente.

Sorriu para ela. Insolente. Cínico. Tentou fechar a porta na cara dele, sem sucesso. O pé calçou a madeira e Dib foi entrando. O apartamento encolheu. O ar ficou pesado. Ela gritou.

— Fora da minha casa!

— Vim ver como está.

Ela apontou a porta.

— Fora, eu já disse!

Dib ignorou. Perguntou.

— Quem era aquela mulher que saiu daqui?

Ele viu a morena cor-de-jambo atravessar a rua no meio dos carros. Arrancou como uma alucinada no seu Clio. Sabia quem ela era. Julia Freitas. A noiva de Henrique Castelo.

Olhou o rosto da agente federal. Inchado e abatido. A marca visível de um tapa de um lado. Dava para ver o contorno dos dedos na pele fina.

Dib a encarava.

Mari apertou a toalha nas mãos. Seu corpo esquentou. Nada a ver com o verão do Rio. Tudo a ver com aquele homem. Contra sua vontade, sentiu-se ansiosa.

Concentre-se Mari! Que raiva! Dele e de si.

Questões práticas, Mari. Como ele sabia quem esteve ali? Deduziu. Ficou indignada.

— Estão me vigiando!

Calmo, ele respondeu.

— Para sua segurança, sim.

Maldito filho da puta!

— Não têm esse direito! Não quero ninguém na minha cola! E te quero fora daqui!

Dib não ouviu. Não podia.

Não olhando o corpo molhado, a toalha colada nos quadris, os pés encharcando o chão. Os cabelos grudavam no pescoço. A água escorria entre os seios. O tecido branco chegava às coxas. Como seria ali por baixo?

Olhou as pernas bem-feitas. Que o acertaram. Que fugiram dele. Admirou a coragem dela. Apesar da raiva. Mari Esteves não tinha abandonado o parceiro. Tinha lutado por ele.

Olhou a foto dos dois sobre o rack. Teriam um caso? Por isso a noiva irada foi lá? Sentiu ciúme. E se sentiu ridículo.

Seu olhar fixou-se no dela. Nos olhos cor de whisky. Furiosos. Fulminantes. Não conseguia desviar daqueles olhos. Desde a hora em que tocou a agente Mari Esteves, sabia que ela seria sua. Queria Mari e a teria.

— É surdo, por acaso? Já te mandei cair fora!

O sorriso ficou mais largo. Dib fechou a porta. Ultrapassou o hall. Ergueu a mão e mostrou a ela um pacote.

— Também vim devolver isso, agente Esteves.

Carrancuda, arrancou dele o embrulho. Espiou. Virou seu conteúdo no sofá. A 9mm, a Walter PPK, a faca. Faltava uma. Olhou para Dib.

Malicioso, tirou do bolso do jeans a faca menor. A que tinha tirado do sutiã dela.

— Quer que eu coloque onde achei?

Ela tomou a faca dele. Apontou a porta.

— Quero que suma daqui, ursinho! Meu parceiro acabou de morrer e eu não estou a fim de aturar suas gracinhas! Aliás, não estou a fim de te aturar. Se eu não o vir daqui até o dia do juízo final, vou ficar quase satisfeita! Você não é bem-vindo, persona non grata. Deu pra sacar?

Notou que ele respirava fundo. E ficava sério. Os dedos longos e morenos entraram no bolso do jeans. Uma correntinha. Uma medalhinha.

O tempo parou. Os dedos de Mari se fecharam ao redor do metal. Acarinhou o relevo na prata. Olhou a gravação por entre as lágrimas teimosas. São Dimas.

— O bom ladrão... — a voz grave de Dib causou-lhe um tremor — curioso que um agente da lei tivesse por protetor o padroeiro dos ladrões...

Ela lhe deu as costas. Sentou-se no sofá. Sua voz soou fraca.

— Onde...?

— No chão da sala. Está livre de contaminação. — Ele foi até sua frente. Sentou-se na poltrona. Esticou as pernas. — Achei que fosse querer.

Ela não se mexeu. Não brigou com ele. Toda a raiva tinha se evaporado. Só estava triste. Muito triste.

Conhecia Rique há anos. Fizeram faculdade juntos e depois, ingressaram na Policia Federal. Eram amigos, além de parceiros. Ele queria que ela fosse madrinha de seu casamento. Apesar de Julia detestá-la.

Ela nem notou que soluçava alto. Que apertava a medalha na mão, querendo uma explicação. Nem percebeu que chamava o nome do amigo e parceiro. Não viu quando Dib sentou ao seu lado e passou o braço sobre seu ombro.

Mari não viu nada.

Foi estranho. Dib achou que era só atração física o que sentia por ela. Puro sexo. Mas, tocar Mari Esteves, abraçar seu corpo e secar seu choro, foi uma experiência estranha. Desejava-a. Desde o momento em que pôs os olhos nela, ele a desejou. E ela nem sabia.

Viu Mari pelas câmeras, quando ela desceu do carro, no estacionamento da Fundação. Naquela hora, ele e Lucas haviam sorrido.

— Que gata!

— Sossega, Lucas!

A imagem mostrou Mari caminhando até a porta. De costas. O balanço de seu traseiro chamou a atenção dele. Seu andar determinado.

O sorriso que ela deu ao parceiro foi sacana, mortal. Dib sentiu-se ferver. Ele nem a conhecia. Mas já tinha sua ficha nas mãos. Seu agente no IML tinha ligado antes. Avisou dos dois federais que foram procurar o corpo. Ouviu-a dar o nome ao vigia. Mari Esteves. Agente Federal.

— Quero saber mais sobre ela — o rapaz na frente do monitor espantou-se. Reforçou a ordem — agora!

— Sim, senhor.

Em dez minutos ele sabia tudo sobre a vida pessoal de Mari. Solteira. Morava só. Pai militar, mãe psicóloga. Quatro irmãos. Dúzias de primos. Metade deles militares. Um pensamento o fez sorrir. A calcinha dela devia ser verde-oliva...

Quando tudo aconteceu, ela o surpreendeu. Não esperava aquela fúria. Não imaginou que a mulher de rosto meigo fosse uma lutadora. Ele achava Mari pequena. Chamou-a de baixinha. Mas não era verdade. Ela tinha quase um e setenta. Ele que era grande demais.

Mesmo assim, ela o deixou no chão. Rendeu Lucas. Derrubou um guarda. Fugiu dele. Nada tinha dado mais prazer a Dib do que pegá-la. Apesar de tudo, adorou saltar em cima dela. Aproveitou cada segundo do contato. Naquela hora, era testosterona pura. E adrenalina. E agora...

Agora que ela chorava do seu lado, sentia mais do que tesão. Seus hormônios ferviam, era verdade. Mas ele queria mais. Não queria só o corpo macio de Mari Esteves. Queria a mulher.

— Sinto muito, de verdade — ele falou — apesar de não acreditar. Eu não queria ter que deixar ele lá. Mas foi preciso. Além disso, ele foi exposto à contaminação. Não havia chance alguma de salvá-lo.

Ela levantou o rosto. Os olhos revoltados.

— Como, então, todos os que estavam perto daquele homem, no aeroporto, não morreram? E se havia perigo, por que permitiram a entrada de Rique na sala? E aquele outro homem que estava lá dentro? Que merda de confusão é essa? — Mari recuou no sofá. — Quem é você?

Dib não respondeu. Ficou olhando nos olhos dela. Ponderando um mundo de questões. Ele também estava curioso.

O laboratório estava classificado como seguro. Segundo os cientistas que tinham examinado o corpo, o agente que tinha matado o homem do aeroporto estava estabilizado.

Depois de tudo dar errado, ele tinha socado a cara do perito-chefe. Lucas, a custo, conseguiu tirá-lo de cima do homem. Assustado, o idiota explicou que, muito provavelmente, o agente tóxico tinha reagido com os gases naturais da decomposição orgânica e se tornado volátil e letal. E quando o desavisado biomédico e o federal abriram a gaveta, já era.

Como ia explicar aquilo para a irada agente Mari? Ele era o responsável por toda a operação. Ele tinha autorizado Lucas a liberar a entrada de Castelo naquela sala. O erro era dele!

— Eu sou Dib.

Mari retrocedeu. Colou-se ao braço do sofá. Distância quase segura.

— Isso não é nome de gente.

— É meu sobrenome.

— Anh...

— Libanês. Todo mundo me chama por ele. Desde a escola.

— Sei...

— Quer dizer "lobo".

Na certa ele acha que eu sou a Chapeuzinho Vermelho...

Ridícula! Era assim que se sentia. Sentada no sofá. Enrolada na toalha. Molhada como um pinto na chuva. Conversando com um troglodita, com um nome de ursinho, que na verdade queria dizer lobo. E achando ele um gato!

Eu mereço...

Mari estava desconfiada. Triste. Revoltada. Ele viu que ela fechava a cara. Cruzava os braços e o olhava de lado.

— Agora que já disse o que queria, pode cair fora.

O cretino sorriu. Devagarzinho. De um jeito preguiçoso. Seu estômago deu voltas. Mas que droga! Rique tinha acabado de morrer. Ela estava se sentindo um lixo. E reagia como uma idiota ao sorriso do ursinho Dib!

— Eu lhe dei algumas informações, agente — ele chegou mais perto dela — mas não disse o que queria — a mão morena segurou uma mecha úmida — mas acho que sabe o que eu quero. De verdade.

Ela tirou o cabelo da mão dele. Pulou em pé.

— Você quer é levar uma porrada no meio dessa cara! — Apontou a porta — fora daqui.

Dib ficou de pé. Na frente dela. Não se lembrava dele ser tão alto. Nem tão grande. Os olhos verdes se estreitaram. O sorriso dele ficou mais largo. Deu um passo na direção dela. Antes que Mari recuasse, puxou-a pela cintura.

— O que eu quero, você também quer — apertou-a contra si. Ela estava sem reação — apesar de tudo, sentiu a química entre nós. Por que acha que vim pessoalmente entregar essas coisas, Mari Esteves?

Ela, finalmente, se debateu.

— Para me encher?

— Não — ele a segurou pela nuca. Bloqueou a passagem, encostando-a à parede da sala — vim para te beijar.

Ele a deixou atônita. Prensou a boca sobre a dela. Puxou seu corpo contra o dele. Agarrou seus cabelos molhados e invadiu sua boca com a língua.

Mari tremeu. Cada fibra de seu corpo parecia acesa. Sob a toalha, perigosamente frouxa, os seios ficaram doloridos. Os bicos endurecidos. As pernas bambas. O ursinho tinha virado o próprio Lobo Mau. Ele a estava devorando. Consumindo.

Ele beijava de um jeito... de um jeito que deixava ela, justo ela, que sempre tinha saída e resposta para tudo, sem ação.

A toalha escorregou. Ela tentou segurar com uma das mãos. Ele agarrou seu punho.

— Não — a voz rouca a assustou.

— Me solta — pediu.

— Não posso — uma coxa metida em jeans entrou entre suas pernas. Esfregou-se nela. — Nunca estive tão louco por uma mulher como estou agora por você.

Mari gemeu. Que loucura! Ela também, apesar do que tinha acontecido, estava se derretendo por ele.

Como?! Isso não existia! Era coisa de romances, de filmes! Ninguém conhecia um cara num dia e ficava louca de tesão por ele no outro! Por mais sexy que ele fosse! Ela estava. Louca. E molhada. Puta merda!

A mão áspera desceu pelo seu corpo. Segurou-a pela nádega. Dib puxou-a para si. Esfregou-a nele. Recuou um pouco, libertou sua boca.

— Você quer?

Ela estava perdida. Presa nos olhos verdes. Devia ser efeito do trauma. Sim! Estresse pós-traumático. Era essa a explicação. Justificava seu desejo.

— Sim — um sussurro.

Mari não pensou mais. Era só estresse. E hormônios. Muito tempo sem namorado, sem homem. Muito tempo sozinha. Muito tempo sem dar. Era isso! Sentiu o volume sob o jeans, a dureza dele. As mãos apertaram seu traseiro. Ela agarrou os cabelos escuros. Eram macios. Fartos, apesar de curtos. Era loucura...

Foda-se!

— Nossa! — Ele estava assustado.

Aquela mulher era uma febre. As mãos nos seus cabelos fizeram um arrepio descer por sua coluna. Seu membro, que já estava duro, pareceu petrificar.

— Mari, tem que ser agora, já!

— Sim — ela trincou os dentes.

Sentia também aquela fome animal. Ela desceu as mãos até o cós da calça. Quase arrancou o botão e arrebentou o zíper. Baixou a boxer.

— Ah! — A mão dela em seu membro quase o fez gozar. — Tira a mão daí!

Ela recuou, sem entender. Dib encostou-a na parede, levantou-a pelas nádegas. Abriu suas pernas. Sem aviso, sem esperar. Encarou-a e entrou nela.

Mari retesou o corpo. Arqueou-se para trás. O homem ia matá-la! O beijo dele tirava seu fôlego. O corpo dele roçava no seu, deixava sua pele quente e arrepiada. E sentir "aquilo tudo" dentro dela, a deixava louca. Cruzou as pernas por trás dele. Um dos pés deslizou, sem-vergonha, pelo traseiro dele. Tão duro quanto o resto.

— Gostoso!

— Você é que é deliciosa, tira!

Parou dentro dela. Apoiou uma das mãos na parede. A outra continuou segurando seu traseiro. Mari apertou-se contra sua ereção, ganhando mais alguns centímetros de penetração.

— Isso nunca me aconteceu — ele arfou. Estava pasmo consigo mesmo. — Nunca.

— Oh! — Ela se abriu mais. — Nem comigo...

A boca gulosa sugou um dos seios de Mari. Um bico rosado, no meio da pele mais clara. Marca de biquíni. Pequenininho. Cortininha. Ultra sexy e feminino. A cara dela. A marca da calcinha revelaria um fio dental?

Se ela fosse sua namorada, mandaria Mari à praia com um maiô modelo 1910. Ou melhor, não deixaria Mari ir à praia!

Ela gemeu, gritou e quase enlouqueceu. Sentiu os dentes dele mordiscarem o mamilo, depois puxarem-no devagar. Um choque desceu por seu corpo. Instalou-se no meio das pernas. Uau! Que cara quente! Ele sabia onde botar a mão, a boca, a língua e o resto! Apertou-o dentro de si. Dib gemeu. Rouco, louco, pronto.

— Não posso mais — ele confessou, junto à boca de Mari. Agarrou os cabelos dela, fez sua cabeça tombar para trás. Encaixou-se no seu pescoço. E arremeteu.

Uma, duas, três vezes.

Mari vibrou. Da cabeça aos pés era puro tesão. Fogo. Uma labareda em forma de gente.

Sentiu o gozo dele dentro dela. Num último instante agradeceu a Deus por usar DIU. Não estavam usando camisinha. Puta vacilo! Merda! Dib, dentro dela, apertou seu traseiro. Estremeceu e deu um grunhido rouco. Um som gutural. Ela achou que ele fosse uivar de tanto prazer. Ainda ficou ali, parado, dentro dela. Ofegantes, saciados, espantados.

O Lobo Mau tinha acabado de devorar Chapeuzinho Vermelho.

Mari voltou a si. Afastou as lembranças. Olhou os cacos de vidro e a parede manchada. Vivico tinha saído. Ela nem tinha visto. Sua cabeça girava. Jim Beam e lembranças da loucura que tinha feito não eram uma boa combinação.

Agora, ainda vinha aquela informação sobre a tal maleta desaparecida. Estava uma confusão só por causa daquilo. Da Polícia Civil à Interpol, passando pela Federal e pelo Ministério da Defesa, todos queriam a tal maleta.

Mari pegou o celular. Discagem rápida.

— Edu?

— Mari?

— Eu. Como você está?

— Bem. E você? Soube do Henrique... que merda, hein?

— Não quero falar nisso, Eduardo.

Ouviu um suspiro do outro lado. Seu primo devia estar coçando a cabeleira loura.

— Do que quer falar então? Só liga pra mim quando se mete numa merda. Ou quando quer alguma informação.

— A idade te deixou mais inteligente, primo. Quero novidades sobre a tal maleta.

— Opa! Tá querendo muito...

— Edu, — contou até vinte — duvido que aí na agência não saibam de nada!

Eduardo Esteves era seu primo, por parte de pai. Milico até o último fio de cabelo. Colégio Militar, Aman, IME... um currículo enorme. Um gênio. Tinha chamado tanta atenção que hoje era um importante analista da Defesa. Se Edu não soubesse de alguma coisa, era porque essa coisa não existia.

— Mari, já disse. Tu tá querendo muito. Esse assunto é de segurança nacional.

— Fala sério! — Tentou brincar.

Mas lá no fundo, sentiu que ele falava a verdade. Depois de um tempo de silêncio, ele falou.

— Vou te chamar na nossa linha.

Ela desligou o celular e esperou. Um bipe soou dentro da gaveta do aparador. Pegou o aparelho criptografado, comprado no mercado paralelo. Atendeu.

— Escuta bem, Mari. Naquela maleta estava uma amostra de uma biotoxina sintetizada em laboratório. Veio camuflada, na forma de diamantes. Quem encomendou ficou sem seu brinquedo. E quem roubou, tem a cidade, talvez o país, nas mãos. Ah, e como sempre, você nunca me ouviu dizer isso. E se disser a alguém que fui eu que te contei, nego até morrer.

— Mas, Edu, quem encomendou? Quem roubou? Foi aquilo que matou o cara e o Rique? E quem eram aqueles caras na Fundação? Quem é esse tal de Dib?

Escutou Edu dizer um palavrão.

— Dib? Merda! Chega, Mari! Isso é tudo!

Mari xingou o primo. O safado tinha batido o telefone na sua cara. E estava nervoso. Esquisito.

Edu nunca ficava nervoso. Era o cara mais calmo que ela conhecia. E que história maluca era aquela? Por que seu primo tinha ficado mais nervoso ainda quando ela falou em Dib? Aliás, quem era Dib? Que grupo era aquele que se escondia debaixo de uma séria e honrada instituição de pesquisas como a Fundação Oswaldo Cruz? Decidida, resolveu agir.

— Ela acabou de sair, Dib.

— Fica na cola dela, Lucas

— Cara — Lucas arrancou com o carro — já viu aquela máquina?

— Mari?

— Não, animal — Dib era um tapado — a moto, a Fat Boy! A garota deve ser quente para andar montada naquilo!

— Vou quebrar tua cara, Lucas.

— Esquece, parceiro — Mari entrou no Rebouças. Ele foi atrás — quero a moto. Fica com a garota pra você.

— Agora sei que não vai perder a tira de vista. Nem que seja pra babar na moto dela.

— Podes crer, colega.

Santa Teresa, Rio de Janeiro, 03:45PM

— Não esperava chamar tanta atenção assim. Queria ter sido mais discreto. Foi mal.

Luciano Mendes Magalhães suava. O homem olhava para ele, furioso. O que tinha dado na sua cabeça para se meter com gente como ele?

Sede de poder. Cocaína. Ecstasy também.

O cara tinha grana. Prometeu uma participação nos lucros da distribuição das drogas no Rio. Em troca, ele ia representá-lo junto a quem interessava. Políticos corruptos, empresários, funcionários públicos de alto escalão, prevaricadores de toda espécie.

Não tinha entendido bem por que ele mesmo, pessoalmente, não tomava a frente. Já que tudo era encoberto por uma fachada lícita. O cara tinha berço. Charme, beleza. Uma profissão acima de qualquer suspeita. Por que não queria aparecer? Por que tinha chamado ele, que não tinha experiência com aquelas coisas? Ele sabia de roubar no pôquer, nos dados, nos cassinos clandestinos da serra. Não era agente secreto. Agora o homem olhava para ele com raiva. Como se fosse comer seu fígado no jantar.

Luciano tomou mais um gole de Grey Goose. O silêncio do cara dava medo.

— Eu disse para ser discreto. Expliquei o porquê — o homem se levantou e alisou o gato preto sobre a mesa de cristal. O bichano levantou o traseiro. O homem olhou em seus olhos. — A maleta tinha que ser levada com o cara e sumir só no hospital. Não no aeroporto. Acabou chamando atenção demais.

— O Zeca se apavorou. Sabe como é que são esses caras das ambulâncias — mais vodca no copo — um sujeito nunca chega ao hospital com tudo o que entrou numa daquelas. Depenam todo mundo... e se pegasse a maleta? E se abrissem?

A voz do homem soou gelada.

— Não iam abrir. Não tinham como. — A mão largou o gato. — Por falar nisso, nem nós. Onde a federal foi?

— Zeca tá atrás dela. Pegou o Rebouças, tava indo pra Lagoa. Tem um cara do Dib na cola dela.

O desdém na voz fria foi evidente.

— Dib. Ele só arruma confusão. — Pausa. — Ela foi para a casa dos pais. Consolar-se das perdas.

Luciano ficou curioso.

— Como sabe?

— Sei tudo sobre ela.

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