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#4 - Não confie em ninguém

Joatinga, 15:30PM

— Entre.

Mari espiou dentro da casa. Passou pelo hall e saiu na sala. Vista para o mar. Luz do sol. Grande. E impessoal.

O celular de Dib tocou. Assustou-a. Ele pediu licença para atender. Ela foi olhar a sala.

— Fale.

— Que porra foi aquela? Você está bem?

— Tá tudo certo, Lucas. E a moça, a amiga da Mari?

— Aqui do meu lado. Ficou nervosa com a confusão. Quer saber da amiga.

— Tá aqui comigo. Diz que tá tudo bem — virou de costas para Mari. Falou mais baixo. — Lucas, fica na cola dessa mulher. Consiga a colaboração dela.

— Ok. E quanto à federal encrenqueira? Vai fazer o que com ela?

— Levá-la pra cama. — Falou sem pensar.

Mari estacou. Ele se voltou para ela e riu. Tampou o fine com a mão.

— Tô brincando, — apontou o celular — é o Lucas.

Mari ficou emburrada. Deu-lhe as costas e foi até a varanda

— Dib?

— Tô aqui. Quero saber quem tentou pegar a Esteves. Alguém burlou a vigilância. Onde o Rodrigo estava? Eu ainda não tinha dispensado ele!

— Essa é a parte ruim, — Lucas fez uma pausa — pegaram o Rodrigo. Quando eu saí com a promotora, tinha dois policias perto do carro dele, do outro lado da rua. Passei por perto, como quem não quer nada. Apagaram ele, Dib. Tiro limpo, na nuca. Saí fora

Dib ficou em silêncio.

Rodrigo era um dos melhores da equipe. Como daria a notícia para mãe dele? A velha senhora pensava que o filho trabalhava em plataforma de petróleo. Por isso passava tanto tempo fora.

— Abafe tudo, Lucas. Acima de tudo, não deixe sair na TV. E mantenha a promotora com você. Bem guardada. Só ela pode nos ligar à Mari Esteves.

— Como?

— Não sei, cara, se vira! — Esfregou o rosto. Olhou para a mulher na varanda. Ia ser duro fazer aquilo. Mas era necessário. — Vou sumir com ela.

— Mari?

Baixou a voz. Um sussurro. Só Lucas ouviu.

— Mari Esteves vai morrer.

Santa Teresa, 06:00PM

Um raio cortou o céu. Zeca tremeu. Entrou na casa. Luciano estava de cara fechada.

— Idiota. Ele quer falar com você.

Droga! O cara ia comer seu fígado. Já tinha levado uma bronca pela maleta. Agora, ia levar uma surra. Esfregou a mão na calça. Abriu a porta.

— Licença...?

Detrás do encosto da cadeira, veio a reposta.

— Entre. E feche a porta.

Zeca obedeceu. Viu a mão do homem alisar o gato preto. Detestava gato preto. Dava azar. Cruzou os dedos. O homem não virou a cadeira para frente. Só perguntou.

— E então?

— Sinto muito, chefe. Ela fugiu.

— Fugiu? — A voz era calma. Controlada.

— O tal Dib apareceu lá. Fugiu com ela.

— Dib... — o gato se esfregou na mão do homem — ele está interferindo demais nos meus negócios. Para onde ela foi?

— Estou com uns caras na pista dela. Tivemos que apagar um cara do Dib.

A mão parou nas costas do gato.

— Vocês o quê?

— Um vigia do Dib. Tava na cola da tira. Pegamos ele. O cara nem soube o que acertou ele.

— Eu disse — a voz parecia contrariada — que não queria sujeira. Não queria chamar a atenção.

— Mas chefe...

— Provavelmente isso vai estar no Jornal Nacional.

— Mas o cara tá morto, chefe. Mesmo se tiver visto a gente, não tem como falar nada.

— É verdade — a cadeira girou. O homem ficou de frente para ele.

Zeca ficou espantado. Ele? Como? Abriu a boca para perguntar. A Walter PPK cuspiu um projétil.

— Nem você vai ter como falar — apertou o botão do interfone — Luciano, mande recolher o lixo.

Guardou a arma na gaveta. Pegou o gato e pulou sobre o cadáver de Zeca.

— Vamos, Sultão. O chão daqui é muito sujo para você brincar.

Joatinga, 06:00PM

Mari olhou de novo pela janela. O mar estava agitado. Ressaca. Outro raio rasgou o céu. As pedras ecoaram o trovão.

Dib tinha saído. Disse que ia comprar alguma coisa para comerem. Ela já havia tomado banho. Estava com uma camiseta emprestada por ele. Gigante. Dava duas dela ali dentro. Cheirou a roupa. Amaciante e Dib.

Ouviu a porta da frente bater. Seu coração disparou. Passar a noite na mesma casa que Dib não era boa ideia. Mas ele tinha uma lábia dos diabos. De algum jeito, a convenceu a ficar.

Pegou o telefone de novo. Mudo. Droga de chuva! Toda vez que chovia no Rio era aquilo! Queria ligar para a casa dos pais. Tinha procurado o celular. A porcaria tinha sumido. Na certa tinha caído na confusão. Ia pedir o de Dib emprestado.

— Mari! — A voz chamou do corredor.

— Aqui. — Esfregou os braços. Um arrepio percorreu seu corpo. Frio? Medo? Antecipação?

A cabeça dele apareceu na porta.

— Já tomou banho.

— Sim.

Ele sorriu.

Não. Não, não sorria assim!

— E aí? — Ela não tinha mais nada para falar.

— Trouxe pizza. Gosta?

— Sim.

Ele saiu da frente da porta. Mari hesitou e passou. Ouviu a voz dele atrás de si.

— Pare de ficar com medo de mim, tira. Não vou pular em cima de você e te arrastar pelos cabelos.

Ah, filho da mãe pretensioso... estacou. Virou-se para ele.

— Sabe, por um momento pensei que fosse desse tipo.

Ele passou à frente dela e perguntou, por cima do ombro.

— E isso te excita?

Mari recomeçou a andar.

— Não. Me irrita.

Dib virou para ela.

— Meio caminho andado.

Ficaram os dois parados na sala. Medindo forças. Outro raio brilhou lá fora. Um trovão mais alto fez tudo tremer. As luzes piscaram. E se apagaram.

— Ah, não! — Gemeu ela.

— Tem medo de escuro, agente Mari? — A voz soou bem perto. Ele não estava ali quando a luz apagou, estava?

— Claro que não.

Recuou. Esbarrou no encosto do sofá.

— Tem medo de mim?

Podia sentir a respiração dele bem perto. Um raio iluminou a sala. Dib estava a centímetros dela. O rosto dele pareceu meio sinistro sob aquela luz. Foi honesta.

— Não confio em você.

Outro raio. Ele estava contrariado? Ela falou. Mais para ouvir outra coisa além da chuva. Para quebrar aquele clima estranho.

— A pizza...

— Minha fome é outra.

Ele avançou. Prensou-a contra o sofá. As mãos dela empurraram o peito largo.

— Não acho boa ideia...

Ele segurou os punhos dela.

— Eu acho.

— Não.

— Isso ia acontecer, tira. Mais cedo ou mais tarde.

Outro trovão fez as janelas tremerem. Mari ainda tentou fazer Dib recuar. Ele a dominou. Levou suas mãos para trás das costas. E devastou-a com um beijo.

Sua língua quebrou a resistência dela. Entrou em sua boca. Percorreu-a por completo. Ainda segurando seus braços, puxou Mari contra si. Esfregou-se nela. Deixou-a senti-lo. Ouviu-a gemer.

— Mari...

A boca desceu pelo pescoço. Ela arqueou o corpo. Não podia resistir. Não queria. Os seios estavam duros. Os bicos marcavam o algodão da camiseta. A boca de Dib agarrou um deles. Sob o algodão, ela sentiu. Umidade. Calor. Ele chupou devagar o mamilo, por cima do algodão molhado. Prendeu-o entre os dentes. Passou a língua em cima dele.

— Oh! Isso não vai dar certo... — ela resmungou.

Dib largou seus punhos.

— Já está dando.

Empurrou-a por cima do encosto do sofá. Caiu por cima dela.

— Ai! Você é pesado!

— Desculpe, tira — ele segurou a barra da camiseta — Vou compensar você.

— O quê?!

Um trovão abafou a pergunta. E o gemido alto dela quando sentiu a boca de Dib entre as pernas. Estava sem nada por baixo. Claro. Ele tinha camisetas. Não calcinhas para emprestar para ela!

A primeira lambida quase a matou. Agarrou-o pelo cabelo. Tentou se afastar. Dib segurou-a pelas nádegas.

— Nada disso, — firmou-a no sofá — não vou te deixar fugir.

A língua penetrou entre as dobras. Ele saboreou o gosto dela. Totalmente mulher. Cravou os dedos na carne macia do seu traseiro. E mergulhou a língua dentro da umidade de seu sexo.

Mari pensou que fosse explodir. Ou voar. Ou morrer. Ele sabia o que e como fazer!

A língua a tocava com precisão. Exatamente onde daria prazer. Sem deixar que chegasse ao clímax. Tentando. Provocando. Enlouquecendo. Atirou a cabeça para trás. Gritou o nome dele.

— Dib!

Ele ergueu o rosto. Arrancou a própria camiseta.

— William.

Mari arfou. Puxou-o para cima pelos cabelos.

— Lobo mau.

Ele deu uma gargalhada. Ela jamais dava o braço a torcer.

— Gostei.

Beijou-a devagar. Deitou-se sobre ela. Deixou-a se acostumar com seu peso. Mari abriu as pernas. Acomodou o corpo largo e pesado entre elas.

— Ainda está vestido.

A mão procurou o botão do jeans. Tocou-o por cima do tecido. Duro. Firme. Grande.

— Mari — a voz soou como um aviso. Rouca. Grave.

— Tire ou eu desisto.

— Nem morto! — Ele rosnou.

Ela nem viu como. De repente, ele estava nu. De pé. Na frente dela. Outro raio iluminou o corpo dele. Um verdadeiro deus. Logo, ele estava em cima dela de novo. Acabou de arrancar a camiseta. Jogou a peça longe.

— Tenho que entrar em você. Agora. Não vou esperar!

— Você é louco!

— Tanto quanto você, tira.

As palavras terminaram num impulso firme. Ele estava inteiro nela. Começou a ir e vir, a mergulhar dentro dela. Seu corpo a pressionava contra o couro macio do sofá. Suas pernas se abriram mais, tentando acomodá-lo. Abrindo espaço para recebê-lo ainda mais fundo. Uma onda brotou do centro de seu sexo. Tomou seu corpo. Mari gritou. Gozou loucamente com ele dentro de si.

— Sim, tira! Goze pra mim! Grite meu nome. Enlouqueça comigo!

Sua boca buscou a dela. Sugou sua língua. Lambeu seus lábios. Bebeu cada gemido. As unhas de Mari cravaram-se nas suas costas. Dib sentiu-a tremer em volta de seu membro. Cerrou os dentes. Ainda não! Maldição! Ainda não!

Apertou um dos mamilos entre o polegar e o indicador. Ela se contorceu. Enfiou a mão entre eles. E rodeou seu membro com os dedos, enquanto entrava nela. Brincou com seus pelos. E acabou com sua resistência.

— Mari. Eu...

— Sim — ela mordeu o ombro dele. — Venha mais fundo. Eu também vou. Agora!

Com um rugido selvagem, ele a penetrou com mais força. Mari sentiu-o tocá-la no fundo de suas entranhas. Chegou a engasgar. Puxou-o pelo traseiro firme. Sentiu cada contração dele. Sentiu o gozo dele chegando. Desencadeando o seu. Gritou por ele. Sentiu-se caindo num abismo sem fim. A voz dele vibrou junto com os trovões. Num último impulso, ele explodiu dentro dela. Suados, ficaram imóveis.

Lá fora, o Rio afundava no dilúvio e no caos.

Elevado do Joá, 07:30PM

Suzana cruzou os braços. Olhou para Lucas. Ele tamborilava os dedos no volante. Lá fora, chuva e engarrafamento. Mexeu no som. Um CD de Marisa Monte começou a tocar.

Beija eu, beija eu, beija eu, me beija...

Logo essa música?

Lucas olhou para ela e sorriu.

— Também gosto dela — Suzana falou, mais para disfarçar o embaraço.

O trânsito andou. Ou melhor, se arrastou. Lucas olhou para frente. Depois, para o relógio no pulso.

— Três horas. Quase três horas pra chegar do Centro até aqui!

Suzana suspirou. Pelo menos estavam chegando. Depois da confusão na porta do restaurante, tudo o que podia ter dado errado, deu. Seu carro estava com dois pneus arriados. O celular tinha pifado. Uma chuva de verão tinha começado a afogar o Rio. Se não fosse por Lucas...

As luzes da Barra apareceram lá embaixo. Ela suspirou aliviada. Em meia hora, no máximo, estaria em casa. Ia tirar os sapatos de salto. Também ia botar as pernas para cima. Brincar com o gato. E ficar sozinha.

— Meu prédio é quase em frente ao Pepê.

— Certo.

Estranhou o tom de voz de Lucas. Ele tinha ficado muito sério. De repente.

— Algum problema?

Ele deu um sorriso amarelo.

— Nenhum.

— Anh.

Silêncio.

— Você se incomoda se eu parar numa conveniência? — Ele perguntou.

— Claro que não.

Desceram num posto de gasolina. Entraram na loja e Lucas pediu um café.

— Quer também?

— Aceito.

Ele pediu outro.

— Se quiser sentar, eu levo pra você.

— Obrigada.

Suzana sentou num banquinho. Logo ele veio, com os copos e mais uns pacotes embaixo do braço. Tomaram os cafés, e ele logo olhou o relógio. Ela notou as mãos dele. Grandes. Palmas quadradas. Dedos longos. Ele devia fazer miséria com aquelas mãos...

— Vamos?

Ele estendeu a mão e ajudou-a a descer do banco. Logo entraram no carro e Lucas arrancou. Suzana encostou a cabeça no banco e bocejou.

— Ai, que sono.

Ele não respondeu. Olhou para o retrovisor e depois para ela. Viu que fechava os olhos. Acelerou. Cinco minutos e Suzana dormia. Lucas reclinou um pouco o banco. Passou pela Barraca do Pepê. E pelo prédio dela. Seguiu em frente sem parar, direto para o Recreio. A casa da promotora ficou para trás.

Joatinga, 09:15PM

Mari acordou assustada. Olhou em volta. Estava na cama.

Passou a mão pelos cabelos e tentou se orientar. Estava na casa de Dib. Certo. Tinha transado com Dib. Hum. Não tão certo. Mas tinha sido bom.

Estava na cama de Dib? Talvez. Será que ele a carregou até lá? E onde diabos estava Dib? Olhou pela janela. Ainda chovia. Saltou da cama e andou pelo corredor.

Ouviu a voz de Dib, na cozinha. Estranho. Ele não parecia alguém que falava sozinho. Será que o telefone já estava funcionando? Sem querer, ouviu um pedaço da conversa.

— ...vai ter que ser assim, Lucas — pausa — aqui eu dou meu jeito — outra pausa. Mari ficou parada no corredor escuro. — As duas vão sumir.

Duas? Que duas? O que era aquilo?

— Certo. Da federal, cuido eu. Amanhã já vai estar feito.

Dib desligou o celular. O coração de Mari disparou. Fosse o que fosse, não ia ficar ali para descobrir o que estaria feito. Deu um passo para trás. Meu Deus! Quem era aquele cara? Onde ela tinha se metido?

A mão procurou a arma. Gesto automático. Claro que não achou. Estava só com a droga da camiseta! Deu outro passo para trás. Ele ainda estava na cozinha. Encolheu-se no escuro. Dib apareceu. Antes que a visse, correu.

— Mari! — Saiu pela porta. Correu na chuva, meio desorientada. — Volta aqui!

Passou pelo gramado, correndo. Onde estava a moto? Ouviu Dib vindo atrás dela.

Corra, Mari! Corra!

Disparou para a saída do condomínio. Tarde demais.

Suas pernas foram agarradas. Caiu no chão com ele por cima. Esfolou as mãos no chão. Tentou se soltar com um golpe de defesa. Ele a neutralizou. Ainda viu o rosto dele em cima do seu. Ferveu de ódio. Tremeu de medo. Olhou nos olhos dele.

Por quê?

Dib cobriu sua boca com uma mão. Pressionou suas carótidas, na base do pescoço, com a outra. Cinco segundos.

O mundo de Mari escureceu. Ela apagou.

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