— Entre.
Mari espiou dentro da casa. Passou pelo hall e saiu na sala. Vista para o mar. Luz do sol. Grande. E impessoal.
O celular de Dib tocou. Assustou-a. Ele pediu licença para atender. Ela foi olhar a sala.
— Fale.
— Que porra foi aquela? Você está bem?
— Tá tudo certo, Lucas. E a moça, a amiga da Mari?
— Aqui do meu lado. Ficou nervosa com a confusão. Quer saber da amiga.
— Tá aqui comigo. Diz que tá tudo bem — virou de costas para Mari. Falou mais baixo. — Lucas, fica na cola dessa mulher. Consiga a colaboração dela.
— Ok. E quanto à federal encrenqueira? Vai fazer o que com ela?
— Levá-la pra cama. — Falou sem pensar.
Mari estacou. Ele se voltou para ela e riu. Tampou o fine com a mão.
— Tô brincando, — apontou o celular — é o Lucas.
Mari ficou emburrada. Deu-lhe as costas e foi até a varanda
— Dib?
— Tô aqui. Quero saber quem tentou pegar a Esteves. Alguém burlou a vigilância. Onde o Rodrigo estava? Eu ainda não tinha dispensado ele!
— Essa é a parte ruim, — Lucas fez uma pausa — pegaram o Rodrigo. Quando eu saí com a promotora, tinha dois policias perto do carro dele, do outro lado da rua. Passei por perto, como quem não quer nada. Apagaram ele, Dib. Tiro limpo, na nuca. Saí fora
Dib ficou em silêncio.
Rodrigo era um dos melhores da equipe. Como daria a notícia para mãe dele? A velha senhora pensava que o filho trabalhava em plataforma de petróleo. Por isso passava tanto tempo fora.
— Abafe tudo, Lucas. Acima de tudo, não deixe sair na TV. E mantenha a promotora com você. Bem guardada. Só ela pode nos ligar à Mari Esteves.
— Como?
— Não sei, cara, se vira! — Esfregou o rosto. Olhou para a mulher na varanda. Ia ser duro fazer aquilo. Mas era necessário. — Vou sumir com ela.
— Mari?
Baixou a voz. Um sussurro. Só Lucas ouviu.
— Mari Esteves vai morrer.
Um raio cortou o céu. Zeca tremeu. Entrou na casa. Luciano estava de cara fechada.
— Idiota. Ele quer falar com você.
Droga! O cara ia comer seu fígado. Já tinha levado uma bronca pela maleta. Agora, ia levar uma surra. Esfregou a mão na calça. Abriu a porta.
— Licença...?
Detrás do encosto da cadeira, veio a reposta.
— Entre. E feche a porta.
Zeca obedeceu. Viu a mão do homem alisar o gato preto. Detestava gato preto. Dava azar. Cruzou os dedos. O homem não virou a cadeira para frente. Só perguntou.
— E então?
— Sinto muito, chefe. Ela fugiu.
— Fugiu? — A voz era calma. Controlada.
— O tal Dib apareceu lá. Fugiu com ela.
— Dib... — o gato se esfregou na mão do homem — ele está interferindo demais nos meus negócios. Para onde ela foi?
— Estou com uns caras na pista dela. Tivemos que apagar um cara do Dib.
A mão parou nas costas do gato.
— Vocês o quê?
— Um vigia do Dib. Tava na cola da tira. Pegamos ele. O cara nem soube o que acertou ele.
— Eu disse — a voz parecia contrariada — que não queria sujeira. Não queria chamar a atenção.
— Mas chefe...
— Provavelmente isso vai estar no Jornal Nacional.
— Mas o cara tá morto, chefe. Mesmo se tiver visto a gente, não tem como falar nada.
— É verdade — a cadeira girou. O homem ficou de frente para ele.
Zeca ficou espantado. Ele? Como? Abriu a boca para perguntar. A Walter PPK cuspiu um projétil.
— Nem você vai ter como falar — apertou o botão do interfone — Luciano, mande recolher o lixo.
Guardou a arma na gaveta. Pegou o gato e pulou sobre o cadáver de Zeca.
— Vamos, Sultão. O chão daqui é muito sujo para você brincar.
Mari olhou de novo pela janela. O mar estava agitado. Ressaca. Outro raio rasgou o céu. As pedras ecoaram o trovão.
Dib tinha saído. Disse que ia comprar alguma coisa para comerem. Ela já havia tomado banho. Estava com uma camiseta emprestada por ele. Gigante. Dava duas dela ali dentro. Cheirou a roupa. Amaciante e Dib.
Ouviu a porta da frente bater. Seu coração disparou. Passar a noite na mesma casa que Dib não era boa ideia. Mas ele tinha uma lábia dos diabos. De algum jeito, a convenceu a ficar.
Pegou o telefone de novo. Mudo. Droga de chuva! Toda vez que chovia no Rio era aquilo! Queria ligar para a casa dos pais. Tinha procurado o celular. A porcaria tinha sumido. Na certa tinha caído na confusão. Ia pedir o de Dib emprestado.
— Mari! — A voz chamou do corredor.
— Aqui. — Esfregou os braços. Um arrepio percorreu seu corpo. Frio? Medo? Antecipação?
A cabeça dele apareceu na porta.
— Já tomou banho.
— Sim.
Ele sorriu.
Não. Não, não sorria assim!
— E aí? — Ela não tinha mais nada para falar.
— Trouxe pizza. Gosta?
— Sim.
Ele saiu da frente da porta. Mari hesitou e passou. Ouviu a voz dele atrás de si.
— Pare de ficar com medo de mim, tira. Não vou pular em cima de você e te arrastar pelos cabelos.
Ah, filho da mãe pretensioso... estacou. Virou-se para ele.
— Sabe, por um momento pensei que fosse desse tipo.
Ele passou à frente dela e perguntou, por cima do ombro.
— E isso te excita?
Mari recomeçou a andar.
— Não. Me irrita.
Dib virou para ela.
— Meio caminho andado.
Ficaram os dois parados na sala. Medindo forças. Outro raio brilhou lá fora. Um trovão mais alto fez tudo tremer. As luzes piscaram. E se apagaram.
— Ah, não! — Gemeu ela.
— Tem medo de escuro, agente Mari? — A voz soou bem perto. Ele não estava ali quando a luz apagou, estava?
— Claro que não.
Recuou. Esbarrou no encosto do sofá.
— Tem medo de mim?
Podia sentir a respiração dele bem perto. Um raio iluminou a sala. Dib estava a centímetros dela. O rosto dele pareceu meio sinistro sob aquela luz. Foi honesta.
— Não confio em você.
Outro raio. Ele estava contrariado? Ela falou. Mais para ouvir outra coisa além da chuva. Para quebrar aquele clima estranho.
— A pizza...
— Minha fome é outra.
Ele avançou. Prensou-a contra o sofá. As mãos dela empurraram o peito largo.
— Não acho boa ideia...
Ele segurou os punhos dela.
— Eu acho.
— Não.
— Isso ia acontecer, tira. Mais cedo ou mais tarde.
Outro trovão fez as janelas tremerem. Mari ainda tentou fazer Dib recuar. Ele a dominou. Levou suas mãos para trás das costas. E devastou-a com um beijo.
Sua língua quebrou a resistência dela. Entrou em sua boca. Percorreu-a por completo. Ainda segurando seus braços, puxou Mari contra si. Esfregou-se nela. Deixou-a senti-lo. Ouviu-a gemer.
— Mari...
A boca desceu pelo pescoço. Ela arqueou o corpo. Não podia resistir. Não queria. Os seios estavam duros. Os bicos marcavam o algodão da camiseta. A boca de Dib agarrou um deles. Sob o algodão, ela sentiu. Umidade. Calor. Ele chupou devagar o mamilo, por cima do algodão molhado. Prendeu-o entre os dentes. Passou a língua em cima dele.
— Oh! Isso não vai dar certo... — ela resmungou.
Dib largou seus punhos.
— Já está dando.
Empurrou-a por cima do encosto do sofá. Caiu por cima dela.
— Ai! Você é pesado!
— Desculpe, tira — ele segurou a barra da camiseta — Vou compensar você.
— O quê?!
Um trovão abafou a pergunta. E o gemido alto dela quando sentiu a boca de Dib entre as pernas. Estava sem nada por baixo. Claro. Ele tinha camisetas. Não calcinhas para emprestar para ela!
A primeira lambida quase a matou. Agarrou-o pelo cabelo. Tentou se afastar. Dib segurou-a pelas nádegas.
— Nada disso, — firmou-a no sofá — não vou te deixar fugir.
A língua penetrou entre as dobras. Ele saboreou o gosto dela. Totalmente mulher. Cravou os dedos na carne macia do seu traseiro. E mergulhou a língua dentro da umidade de seu sexo.
Mari pensou que fosse explodir. Ou voar. Ou morrer. Ele sabia o que e como fazer!
A língua a tocava com precisão. Exatamente onde daria prazer. Sem deixar que chegasse ao clímax. Tentando. Provocando. Enlouquecendo. Atirou a cabeça para trás. Gritou o nome dele.
— Dib!
Ele ergueu o rosto. Arrancou a própria camiseta.
— William.
Mari arfou. Puxou-o para cima pelos cabelos.
— Lobo mau.
Ele deu uma gargalhada. Ela jamais dava o braço a torcer.
— Gostei.
Beijou-a devagar. Deitou-se sobre ela. Deixou-a se acostumar com seu peso. Mari abriu as pernas. Acomodou o corpo largo e pesado entre elas.
— Ainda está vestido.
A mão procurou o botão do jeans. Tocou-o por cima do tecido. Duro. Firme. Grande.
— Mari — a voz soou como um aviso. Rouca. Grave.
— Tire ou eu desisto.
— Nem morto! — Ele rosnou.
Ela nem viu como. De repente, ele estava nu. De pé. Na frente dela. Outro raio iluminou o corpo dele. Um verdadeiro deus. Logo, ele estava em cima dela de novo. Acabou de arrancar a camiseta. Jogou a peça longe.
— Tenho que entrar em você. Agora. Não vou esperar!
— Você é louco!
— Tanto quanto você, tira.
As palavras terminaram num impulso firme. Ele estava inteiro nela. Começou a ir e vir, a mergulhar dentro dela. Seu corpo a pressionava contra o couro macio do sofá. Suas pernas se abriram mais, tentando acomodá-lo. Abrindo espaço para recebê-lo ainda mais fundo. Uma onda brotou do centro de seu sexo. Tomou seu corpo. Mari gritou. Gozou loucamente com ele dentro de si.
— Sim, tira! Goze pra mim! Grite meu nome. Enlouqueça comigo!
Sua boca buscou a dela. Sugou sua língua. Lambeu seus lábios. Bebeu cada gemido. As unhas de Mari cravaram-se nas suas costas. Dib sentiu-a tremer em volta de seu membro. Cerrou os dentes. Ainda não! Maldição! Ainda não!
Apertou um dos mamilos entre o polegar e o indicador. Ela se contorceu. Enfiou a mão entre eles. E rodeou seu membro com os dedos, enquanto entrava nela. Brincou com seus pelos. E acabou com sua resistência.
— Mari. Eu...
— Sim — ela mordeu o ombro dele. — Venha mais fundo. Eu também vou. Agora!
Com um rugido selvagem, ele a penetrou com mais força. Mari sentiu-o tocá-la no fundo de suas entranhas. Chegou a engasgar. Puxou-o pelo traseiro firme. Sentiu cada contração dele. Sentiu o gozo dele chegando. Desencadeando o seu. Gritou por ele. Sentiu-se caindo num abismo sem fim. A voz dele vibrou junto com os trovões. Num último impulso, ele explodiu dentro dela. Suados, ficaram imóveis.
Lá fora, o Rio afundava no dilúvio e no caos.
Suzana cruzou os braços. Olhou para Lucas. Ele tamborilava os dedos no volante. Lá fora, chuva e engarrafamento. Mexeu no som. Um CD de Marisa Monte começou a tocar.
Beija eu, beija eu, beija eu, me beija...
Logo essa música?
Lucas olhou para ela e sorriu.
— Também gosto dela — Suzana falou, mais para disfarçar o embaraço.
O trânsito andou. Ou melhor, se arrastou. Lucas olhou para frente. Depois, para o relógio no pulso.
— Três horas. Quase três horas pra chegar do Centro até aqui!
Suzana suspirou. Pelo menos estavam chegando. Depois da confusão na porta do restaurante, tudo o que podia ter dado errado, deu. Seu carro estava com dois pneus arriados. O celular tinha pifado. Uma chuva de verão tinha começado a afogar o Rio. Se não fosse por Lucas...
As luzes da Barra apareceram lá embaixo. Ela suspirou aliviada. Em meia hora, no máximo, estaria em casa. Ia tirar os sapatos de salto. Também ia botar as pernas para cima. Brincar com o gato. E ficar sozinha.
— Meu prédio é quase em frente ao Pepê.
— Certo.
Estranhou o tom de voz de Lucas. Ele tinha ficado muito sério. De repente.
— Algum problema?
Ele deu um sorriso amarelo.
— Nenhum.
— Anh.
Silêncio.
— Você se incomoda se eu parar numa conveniência? — Ele perguntou.
— Claro que não.
Desceram num posto de gasolina. Entraram na loja e Lucas pediu um café.
— Quer também?
— Aceito.
Ele pediu outro.
— Se quiser sentar, eu levo pra você.
— Obrigada.
Suzana sentou num banquinho. Logo ele veio, com os copos e mais uns pacotes embaixo do braço. Tomaram os cafés, e ele logo olhou o relógio. Ela notou as mãos dele. Grandes. Palmas quadradas. Dedos longos. Ele devia fazer miséria com aquelas mãos...
— Vamos?
Ele estendeu a mão e ajudou-a a descer do banco. Logo entraram no carro e Lucas arrancou. Suzana encostou a cabeça no banco e bocejou.
— Ai, que sono.
Ele não respondeu. Olhou para o retrovisor e depois para ela. Viu que fechava os olhos. Acelerou. Cinco minutos e Suzana dormia. Lucas reclinou um pouco o banco. Passou pela Barraca do Pepê. E pelo prédio dela. Seguiu em frente sem parar, direto para o Recreio. A casa da promotora ficou para trás.
Mari acordou assustada. Olhou em volta. Estava na cama.
Passou a mão pelos cabelos e tentou se orientar. Estava na casa de Dib. Certo. Tinha transado com Dib. Hum. Não tão certo. Mas tinha sido bom.
Estava na cama de Dib? Talvez. Será que ele a carregou até lá? E onde diabos estava Dib? Olhou pela janela. Ainda chovia. Saltou da cama e andou pelo corredor.
Ouviu a voz de Dib, na cozinha. Estranho. Ele não parecia alguém que falava sozinho. Será que o telefone já estava funcionando? Sem querer, ouviu um pedaço da conversa.
— ...vai ter que ser assim, Lucas — pausa — aqui eu dou meu jeito — outra pausa. Mari ficou parada no corredor escuro. — As duas vão sumir.
Duas? Que duas? O que era aquilo?
— Certo. Da federal, cuido eu. Amanhã já vai estar feito.
Dib desligou o celular. O coração de Mari disparou. Fosse o que fosse, não ia ficar ali para descobrir o que estaria feito. Deu um passo para trás. Meu Deus! Quem era aquele cara? Onde ela tinha se metido?
A mão procurou a arma. Gesto automático. Claro que não achou. Estava só com a droga da camiseta! Deu outro passo para trás. Ele ainda estava na cozinha. Encolheu-se no escuro. Dib apareceu. Antes que a visse, correu.
— Mari! — Saiu pela porta. Correu na chuva, meio desorientada. — Volta aqui!
Passou pelo gramado, correndo. Onde estava a moto? Ouviu Dib vindo atrás dela.
Corra, Mari! Corra!
Disparou para a saída do condomínio. Tarde demais.
Suas pernas foram agarradas. Caiu no chão com ele por cima. Esfolou as mãos no chão. Tentou se soltar com um golpe de defesa. Ele a neutralizou. Ainda viu o rosto dele em cima do seu. Ferveu de ódio. Tremeu de medo. Olhou nos olhos dele.
Por quê?
Dib cobriu sua boca com uma mão. Pressionou suas carótidas, na base do pescoço, com a outra. Cinco segundos.
O mundo de Mari escureceu. Ela apagou.
Barra de Guaratiba, 03:00AMA primeira coisa que Suzana percebeu foi que estava deitada. Depois, que estava sem sapatos, mas vestida. Será que...?A mão tocou a saia, e a perna. As meias ainda estavam lá. E não sentia dor entre as coxas. Nem abriu os olhos. Apenas suspirou aliviada.— Não a estuprei, se é isso o que quer saber.A voz de Lucas. Abriu os olhos. Muito rápido.A tontura e a náusea foram repentinas. Colocou a mão no estômago. Num segundo ele estava do lado dela. Amparou-a, enquanto seu corpo colocava para fora aquela porcaria que a fez dormir.Ele saiu e a deixou deitada. Suzana respirou fundo. Tentou acalmar o coração. Tremia de medo.Ouviu Lucas voltando. Escutou-o sentar ao seu lado. Olhou para ele. Parecia meio embaçado ainda. Ele estendeu uma toalha úmida. Suzana limpou o rosto. Depois, sentou devagar. Enc
Dib não soube o quanto ficaram ali. Ele em cima dela. Mari olhando o céu. Estática. Que loucura era aquela? Puxou-a e colocou-a sentada. Ajeitou sua roupa e a dela.— Mari... — Muda. Olhando para ele. Respirava rápido e segurava com força sua camiseta. Dib suspirou. Passou a mão pelo rosto dela e beijou seus cabelos. Abraçou-a. — Mari, fale comigo.Ela não falou. Soluçou. O primeiro de muitos soluços. As mãos soltaram a camiseta. Começaram a esmurrar seu peito. Ele deixou. Só a abraçou, com força.— Shh, tudo bem, tudo bem, querida...Olhou-o com o rosto molhado. Estava descontrolada.— Não está tudo bem! Nada está bem! Meu melhor amigo morreu, fui suspensa, atacada... fui sequestrada por um louco, do qual não posso chegar perto sem ir pra cama com ele! Todos pensam que estou morta! E voc
Zona da Mata, Minas Gerais 2:00AMMari acordou de madrugada, com o som da chuva, de um violão, e de uma voz grave. Ele cantava?! Aquilo era uma surpresa!A raiva sumiu. De repente. Curiosidade, espanto e uma emoção estranha tomaram seu lugar dentro dela. Andou até a porta do quarto, arrastando consigo a manta. Ele estava sentado na varanda, de costas para a porta da sala. Ficou em silêncio. Olhando as costas dele. Largas, bronzeadas. Com cicatrizes. Enrolou-se mais na manta. Foi até a porta da sala. Ele ainda não tinha notado que ela estava ali. Prestou atenção."Now I feel I'm growing older/And the songs that I have sung Echo in the distance Like the sound Of a windmill goin' round..."De quem era mesmo aquela música? Deep Purple? Sim era isso. Ele dedilhou o violão. O aço das cordas gemia. Quase um lamento.
Lagoa, 5:15AMLuiz Esteves atendeu ao telefone antes do segundo toque. O coração disparado. Poderiam ser notícias. Algo sobre Mari. Ou sobre seu corpo. Stella, dopada, dormia. Ele passava as noites em claro, na varanda.— Alô.— Tio Esteves.— Otávio?!— Tio... levei um tiro.O coração do coronel disparou. Vivico era amigo de sua filha desde moleque. Estava no mau caminho. Mas era como um filho.— Onde está?— No apê da Mari... — a voz era chorosa, fraca — tio... eu tô morrendo...Zona da Mata, Minas Gerais, 6:00AMDib cobriu Mari com a manta. As olheiras dela estavam evidentes. Não tinham dormido. Haviam passado a noite ali, na varanda. Ele tocou violão até os dedos doerem. Ela tinha escutado. Quieta. Calada. A cabeça no seu ombro. Tinha
Base Aérea do Galeão, 11:50AMGabriel Esteves olhou para o comandante. Abriu a boca. Fechou de novo. Passou a mão pelos cabelos escuros. Abriu a boca de novo.— Sente-se, filho.O coronel apontou a cadeira. Ele sentou. Respirou fundo. Encarou o superior.— Minha irmã...— Recebi agora o telefonema, capitão — o coronel reassumiu a postura marcial — Está viva. Não sei como. Metida numa confusão no meio da pista da Base de Santa Cruz.— Confusão? — Claro, típico de sua irmã...— Não tenho os detalhes. Mas quero seu grupo lá, agora. Só chamei você aqui para que não fosse surpreendido quando a visse.Gabriel levantou da cadeira. Rígido. Encarou o superior. Os olhos castanhos fixos nos do coronel.— O senhor sabia?— Não, filho
O Ninho, 2:30PMLucas trincou os dentes. Mesmo com a anestesia, a dor era forte. Precisava de anestesia geral. Mas não podia se dar ao luxo. Não com tudo tendo dado tão errado.Dib estava encrencado. Ele era o segundo na cadeia de comando do grupo. Outro ponto. Ele gemeu. O suor encharcou sua testa. Estava medicado. E mesmo assim, sabia que estava com febre.— Dá pra acabar logo com isso, doutor?— Relaxa, cara — resmungou Sandro — tem que ficar bem feito, — olhou para o homem deitado na maca — sei que não vai poder repousar.Teresa entrou na sala. Sua cara não era boa. Entregou-lhe o celular. Lucas pegou com a mão livre.— É o Gus.Ele assentiu.— Lucas.— Dib tá vivo.— Graças a Deus. Tem acesso a ele?— Sim. Eu o vigio. Mas não estou só.&
Dib e Gustavo acompanharam com os olhos a partida do carro. O primeiro estava carrancudo. Nervoso. Mari estava naquele carro. Com Esteves e o maldito Henrique Castelo.Que filho da puta! Tinha enganado todo mundo. Tinha forjado a própria morte. E eles tinham caído que nem patinhos!— Eu mato aquele filho da puta de verdade! E o chefe do laboratório. Ele tem que estar metido nisso. Foi ele quem confirmou a morte de Castelo!— Calma Dib. Vamos atrás dele. Com aquela maleta na mão da federal, seria um risco grande atacar agora.— Eu sei! — Ele berrou — mas, que merda! Não me conformo em apenas deixar ele ir embora daqui com ela.Gustavo estranhou.— Fica frio. Você nunca foi assim. O que aconteceu contigo?Dib deu uma risada amarga. Encarou Gustavo, o cara mais gelado que já tinha conhecido. Depois dele.— Se eu te disser que me apaixo
Recreio dos Bandeirantes, 11:50pm— Lucas? Como... — Suzana segurou o lençol na frente do corpo — como entrou?Ele rodeou a cama. Sentou-se na beirada. Sem cerimônia. Colocou a arma em cima da mesinha. Só as luzes da rua entravam pela cortina. Ele ainda era uma sombra. Enorme. Aterrorizante. Na frente dela. Suzana sentiu a raiva dele. E também a sua.— O que quer aqui? Vai me sequestrar de novo?— Se for preciso, vou.Ela esqueceu o lençol. Esqueceu que estava nua. Ergueu a mão.— Cretino.Ele foi rápido. Segurou-a antes de acertá-lo. Falou com frieza.— Disse para nunca mais fazer isso.Suzana se debateu. E explodiu, aos gritos.— Canalha mentiroso! É casado com Teresa! Como pode ser tão cínico?— Não sou cínico e não menti. Sou casado com ela, si