Yesenia
Gorjetas.
Ao longo da minha vida nunca pensei que ficaria tão feliz em recebê-las. Sempre assisti filmes em que as mulheres simplesmente se matavam para atender um cliente, eram cenas hilárias de se ver, porém, agora análise minha situação:
Me encontro na mesma situação que essas mulheres que vi nos filmes, a única coisa que altera o cenário é que não trabalho em uma simples lanchonete e sim em um bar luxuoso, onde as gorjetas são as melhores que existem, e por isto a disputa é maior.
Há um mês e meio minha vida era outra, a única coisa com a qual eu tinha que me preocupar era em estudar para as provas da faculdade e ajudar a enfermeira a cuidar da minha mãe caso ela necessitasse, mas minha mãe morreu a seis semanas, eu já estava conformada com seu diagnóstico de câncer de pulmão, a vida inteira fumando lhe deu um final de vida difícil, foi doloroso vê-la partir, entretanto, encarar a realidade foi pior ainda, o único dinheiro que nos ajudava nas despesas e a pagar minha faculdade foi cortado pelo governo assim que minha mãe se foi, então não tive tempo para chorar e lamentar sua perda, eu precisava de um emprego rapidamente se quisesse concluir a faculdade e pagar as contas, então aqui estou eu, com um sorriso brilhante no rosto e trajando um terninho observando como um falcão meu possível próximo cliente da noite.
O interessante deste bar é que todos os homens que frequentam são educados, como verdadeiros cavaleiros, eles vestem ternos caros e o dinheiro grita pelos poros deles, facilmente poderia estar trabalhando em uma lanchonete que cheira a alto teor de gordura e estar servindo mesas para homens que tem olhos gordos para meus seios e minha bunda, todavia esse lugar é diferente, ele não paga o melhor salário, mas as gorjetas são as melhores.
Marjorie caminha como um leão em busca da sua presa assim que um grupo de três homens entram e se sentam em uma mesa mais afastada das demais pessoas, ela arruma seus seios que estão quase caindo para fora do terninho e continua sua caminhada até os belos homens que acabaram de chegar. Percebi desde o meu primeiro dia de trabalho que ela claramente quer seduzir qualquer um destes homens, para ela não importa se ele é novo ou velho demais para ela, tudo o que Marjorie quer é viver uma vida de rainha.
Ela fala algo, provavelmente perguntando o que eles querem beber, seu sorriso é grande demais em seu rosto e qualquer um ali sabe qual é o seu propósito, o modo como se oferece deixa claro isso.
Seu sorriso morre e ela se afasta como se um bicho tivesse acabado de mordê-la, seus passos duros vêm rapidamente em minha direção e ela estaca na minha frente furiosa, seu rosto está tão vermelho que me pergunto como ela não entrou em combustão ainda.
— Eles querem que você os atenda — ignoro sua raiva direcionada a mim e com isto ela segue batendo seus pés no piso de madeira tão forte para que todo o bar ouça o quão furiosa ela está.
Olho em direção a mesa mais afastada onde os três homens conversam entre si, porém há um par de olhos que me observa com atenção e estremeço diante dos olhos castanhos penetrantes.
Há dois dias ele entrou sozinho pelas portas do bar e se encaminhou para a mesma mesa que está hoje, eu era a pessoa mais próxima e o atendi durante o resto da noite, toda a vez que me dirigia até sua mesa meu coração disparava, sua voz forte e ligeiramente rouca me deixava perturbada, sua presença dominante de certa forma me submetia.
No auge dos meus vinte e dois anos eu não havia conhecido muitos homens, minha experiência era quase nula, entretanto, nada se comparava ao homem mais sensual que já conheci na minha vida.
Seu tom de pele é aquele moreno na medida perfeita. Seu corpo é muito bem trabalhado, as coxas ocupavam perfeitamente as calças de seu terno e seu peito robusto é algo que chamava a atenção de qualquer mulher, como a minha e com certeza a de Marjorie, seus olhos provavelmente brilharam como dois sacos de ouro, pois é evidente que esse homem é apessoado de bens.
Caminho vagarosamente avaliando o seu rosto, hoje as linhas de seu rosto estão tensa, seu queixo quadrado lhe dá a aparência de ser um homem temível estão cerradas, como se algo lhe preocupasse, todavia, os seus olhos castanhos estão avaliando cada passo que dou no meu caminho até ele e os seus amigos.
Respiro profundamente assim que paro a sua frente em numa tentativa tola de acalmar as batidas do meu coração, ele tem algo que tira a minha concentração. Será sua presença dominante ou a sua voz sedutora?
— Senhores, como posso ajudá-los está noite?
— Traga a garrafa de Whisky Dalmore — assinto e fasto-me da sua voz que me atrai como o mel atrai a abelha, o valor dessa garrafa de whisky é o meu salário do mês, provavelmente só um gole é a gorjeta que consigo juntar até o final da noite.
Tiro o lacre do gargalo do whisky e o coloco na bandeja juntamente com os três copos e gelo, equilibro-a numa mão e retorno para o bar, onde uma música calma toca nos altos falantes.
Volto pelo mesmo caminho e os seus olhos claros prendem-me até o final no meu trajeto, deixo a bandeja na mesa e retiro o whisky, os copos e o gelo da forma mais graciosa que consigo, encaro os seus amigos com um sorriso e por último dirijo um sorriso a ele, um sorriso verdadeiro, não um que é falsamente plantado nos meus lábios para conseguir gorjetas até o final da noite.
— Tenham uma boa noite e chamem-me se precisarem de algo — e com essas últimas palavras, me encaminho para a próxima mesa que estava atendendo anteriormente, eles se levantam e se despedem agradecendo o bom atendimento, assim que passam pelas portas duplas, meus olhos seguem a notas deixadas na mesa, eu as pego colocando-as no meu bolso sem pudor ou vergonha e sigo para atender o próximo grupo de homens.
A noite segue com mais homens chegando e saindo, contudo, ele e os seus amigos continuam bebendo o whisky como água, ele não pede mais nada para mim e quando chega meu momento de ir embora, ele ainda está lá, hora dando um leve sorriso que não chega aos olhos ou conversando sobre um assunto que deveria ser muito sério.
Conto todo o dinheiro que consegui durante a noite e me frustro por saber que não estarei aqui quando ele decidir ir embora, há dois dias ele me deu a maior gorjeta que já consegui trabalhando aqui há um mês.
Arrumo a bolsa no meu ombro e passo pelas mesas em direção a saída, porém antes de conseguir passar pelas portas duplas uma mão com os dedos levemente calejados me param, engulo em seco ao encontrar o seu olhar e permaneço parada no meu lugar até que ele decida falar.
— Obrigado pelo atendimento — ele estende algumas notas e pego sentindo a timidez que senti no meu primeiro dia de trabalho — Sou Axel.
— Yesenia — sorrio de forma mais contida e me afasto — Tenham uma boa noite, senhores.
Passo pelas portas duplas e encho os meus pulmões com o ar fresco da noite depois de passar cinco horas dentro de um ambiente fechado.
Começo a caminhar tendo com destino a minha casa, a única coisa que a minha mãe conseguiu deixar no meu nome antes de morrer.
Por alguns segundos enquanto caminho, me permito pensar nele, em Axel, e percebo como o seu nome é forte e imponente assim como o dono, talvez o veja novamente amanhã ou daqui alguns dias, mas digo a mim mesma para não pensar demais nele.
Ele provavelmente não se lembrará de mim, pois homens do seu porte tem muitas coisas com as quais se preocupar, e uma mulher simples não se enquadra na equação.
AxelNunca tive medo de fazer o trabalho sujo, de sujar minhas mãos e punhos com o sangue de outra pessoa, alguns tinham medo de mim por ver o prazer em meu rosto ao torturar pessoas, talvez até me definam como um homem demente ou doente, a verdade é que gosto de ser reconhecido assim, isto os faz se afastar de mim e não se intrometer nos meus negócios.— Ele terminou de falar — Cosmo, meu homem de confiança se pronuncia atrás de mim e viro-me caminhando em direção ao balcão localizado em uma das partes mais abastadas de Southward Angel.Empurro a porta de metal e encontro três de meus homens ao redor do corpo de um homem quase sem vida, seu tórax mal se move e ele sabe que não sairá vivo daqui hoje.— A mulher está morta e eles se desfizeram do corpo — assinto, minha expressão se endurecendo a cada palavra que saí da boca de Thomas, um dos meus guardas — Aparentemente este homem faz parte de um grupo de criminosos que se instalaram na cidade há um mês, ouviram falar que você domina a
YeseniaRetoco cuidadosamente minha maquiagem antes de sair do banheiro e ir ao encontro de Axel, não vou mentir e dizer que estou chocada com seu pedido, seus olhares na minha direção sempre foi intenso, porém, também pensei que um homem com todo o seu porte jamais chamaria uma mulher que não é de seu nível social para uma bebida.Sejamos honestas, um homem como ele claramente quer me foder e deixar a paisana, claramente sou uma presa fácil e que pensa que vai cair na sua conversa, provavelmente cairei um pouco, porque vamos lá, o homem é lindo, mas também tenho dignidade. Minha mãe sempre me ensinou muito bem e nunca me deixarei ser um simples descarte.Sento-me frente a ele, nesse momento já me encontro mais plácida e não como um pimentão, que levou uma bofetada por causa da água.Seus olhos parecem memorizar cada traço do meu rosto antes de olhar definitivamente em meus olhos, ele acabou de ganhar um ponto por não deixar seus olhos seguirem para o resto do meu corpo.— Não sou de
YeseniaMeus pés estacam antes de entrar no bar.Será que ele estará aqui?Não que eu esteja ansiosa para vê-lo, a verdade é que não pensei por um minuto em Axel até o momento, entre acordar, ir para o estágio, voltar novamente para casa, estudar e me aprontar para o trabalho, o único momento que tive para pensar nele é agora, há poucos segundos de entrar para trabalhar mais uma noite.Não deveria estar ansiosa, mas estou.Há algo nele que me atrai, vejo homens bonitos todos os dias, contudo, algo na sua expressão me atrai imensamente.Como o mel atrai a abelha.Entro no estabelecimento e olho ao redor, em busca dele. Meus olhos demoram alguns segundos para localizá-lo no ambiente levemente escurecido, e lá está ele com o dono do bar, Vladimir.Marjorie está servindo a ambos com um largo sorriso no rosto, e o que me afeta é o sorriso que ele devolve a ela.Talvez em agradecimento?Marjorie é uma mulher linda e os homens seriam tolos se não lhe poupassem um segundo olhar, mas quando el
Axel— Esse menino será tão ruim quanto você é, Paolo — minha mãe diz enquanto assiste o que meu pai me fez fazer.Aos meus pés está a mais nova “puta” do meu pai, como ele próprio diz, “seus passatempos”, ela atentou contra a vida do meu pai na última noite e esse foi o seu erro, meu pai nunca deixaria algo assim passar.Eu tinha dez anos, mas me sentia muito mais velho que isso.— Pare de reclamar, Veka, você sabe que o menino foi feito para isso.— Somente quando você confessou depois do casamento quem realmente era — ela quase cuspe na face do meu pai, apenas não faz, porque sabe que sempre haverá uma retaliação.Mamãe era uma mulher tão bonita, hoje apenas vejo-a amarga e andando pelos cantos da casa falando sozinha.Ela nunca me tratou de forma ruim, sempre foi gentil e amorosa, entretanto, isso começou a mudar há alguns anos quando meu pai começou a me inserir nesse mundo, acho que ela não queria ver o que eu iria me tornar.— Você não me disse que iria me casar com o Diabo!—
AxelA primeira coisa que faço ao acordar no dia seguinte, é mandar uma mensagem para Yesenia. O fato é que não consigo tirar essa mulher da minha mente, meus pensamentos sobre ela são constante e inquietante, até mesmo pensei em deixar essa conquista de lado e seguir em frente, mas há algo nela que me envolve e preciso descobrir o que é.“Está disponível hoje?”Sua resposta não é imediata e eu também não esperava isso, o relógio a minha frente marca 9:28 da manhã, então nesse exato momento ela está dentro da UTI manipulando um acesso venoso central.Um pouco louco ter o conhecimento do que ela está fazendo nesse instante?Talvez só um pouquinho...Eu simplesmente quero saber como sua rotina funciona, as pessoas com as quais mantém contato, que devo dizer, não são muitas. Yesenia parece ser uma mulher solitária, de certa forma, se parece muito comigo.— Axel, o prefeito deixou alguns documentos para que você dê a sua aprovação — Cosmo diz depois de bater na porta e estender os documen
Axel— Mas e você? Tem uma boa relação com seus pais? — desperto dos meus pensamentos libidinosos que envolviam sua boca ao redor do meu pênis e o grunhido de apreciação que escaparia de seus lábios.— Ambos, tanto meu pai quanto minha mãe são falecidos. Meu pai morreu quando eu tinha 20 anos e minha mãe morreu três anos antes — sua expressão transmite compadecimento pela situação, contudo já faz 14 anos que isso ocorreu, e se soubesse das atrocidades que meu pai cometeu... Agradeceria por nunca ter conhecido um homem como ele.Pensando por um momento, hoje sou a cópia do que meu pai foi um dia, talvez seja apenas um pouco melhor comparado a ele, tenho muito dele em mim, vejo minha imagem no espelho todos os dias e percebo que carrego muito dele não apenas na aparência, mas dentro de mim também.— Já faz muito tempo — ela assente, todavia, percebo que Yesenia está sentindo sua própria dor com a perda recente da sua mãe, mesmo que tente não demonstrar.— O que você faz então? Em qual r
AxelEstava com uma dor de cabeça insistente já fazia dois dias, deveria ter percebido que as coisas estavam calmas há muito tempo, realmente não esperava problemas agora.Sei que em meu ramo de trabalho, o que mais surgirão são problemas, mas o fato é que eu estava focado demais em Yesenia para ficar atento ao que estava acontecendo.Meu maior foco agora é descobrir quem está por trás dos últimos acontecimentos.Pegar o que é meu...O que essa pessoa estava querendo dizer com isso?Nunca tomei nada de ninguém, apenas o que era meu.Seja qual for o plano, está sendo muito bem orquestrado, não é uma pessoa leiga no assunto, então tenho que quadruplicar minha atenção.— Axel — ouço o chamado de Cosmo e levanto o olhar, ele tinha 27 anos e aparentava muito bem sua idade, a barba loira assim como seu cabelo estava bem aparado e ele trajava um terno de corte perfeito, Cosmo era maduro e cumpria muito bem seu trabalho para sua idade — Recebi uma atualização sobre Yesenia, um de seus pacient
Axel— É um belo condomínio — Yesenia diz perdida pela paisagem do lado de fora do carro — É tão verde, diferente de todos os condomínios que já vi, a próxima casa deve estar a uns cinco quilômetros daqui.— Comprei a casa nesse condomínio, porque gosto da privacidade que ele me oferece e da natureza.— Combinação perfeita — e ela responde com um sorriso mais perfeito ainda.Entramos na rua da minha casa e logo a avisto, em tons de cimento e madeira, não era uma mansão, porque nunca senti necessidade disso, porém era agradável e me comportava muito bem.Estaciono o carro e antes que possa dar a volta para abrir a porta, ela mesma sai do carro, completamente animada.Foi uma ótima ideia adiantar nosso encontro para hoje, ela está em um estado melhor do que estava durante a manhã e tarde.Abro a porta de madeira e percebo como vê tudo ao redor entusiasmada.— Pode se aventurar pela casa, estarei na cozinha — aponta a direção oposta à sala — Sinta-se em casa.— Tudo bem, então já volto!