Perséfone— Seu pai está te esperando — Cosmo diz encostado no batente do meu quarto, puxo-o para dentro e ataco seus lábios macios deliciando-me no resíduo de café.— Perséfone — murmura contra meus lábios e me afasta rapidamente — Não vamos fazer isso dentro da sua casa. Ninguém está aqui, mas esse é um limite muito rígido para mim, já quebrei a lealdade do seu pai e não vou transar debaixo do teto dele.— Quem estava falando de transar? — pergunto inocentemente.— Muito espertinha — ele sorri e acaricia meu rosto — Vamos, hoje você irá acompanhar os trâmites de uma negociação de armas — meu coração bate forte em um misto de sensações, estava apavorada e ansiosa ao mesmo tempo.As responsabilidades aumentavam cada vez mais e muitas vezes, principalmente de noite e na escuridão do quarto, perguntava a mim mesma se poderia ser o suficiente para comandar uma cidade tão grande, se algum dia chegaria ao patamar do meu pai.Coloco um sobretudo por cima da roupa e amarro meus cabelos em um
CosmoEu te amo.Eu te amo.Eu te amo.O eco dessas palavras me faz despertar abruptamente.O cheiro asséptico e a luminosidade me cegam por um momento, as paredes estéreis e brancas junto do som do monitor me dizem que estou no hospital, mas não há tempo para isso.Me sento sentindo a ferida na minha barriga queimar, mas essa dor não era nada comparada ao que estava sentindo.Arranco o acesso venoso do braço e a porta é aberta nesse momento, Axel entra e o que vejo me atordoa fortemente, apenas vi essa expressão quando Caim morreu.As mãos dele estavam tremendo, uma reação que tinha escondido no passado e uma reação que pensei ter sido superada há muito tempo, as mãos trêmulas me diziam como seus sentimentos estavam desestabilizados e que a situação estava fora do seu controle.— Porra, Cosmo! Você não pode fazer isso! — cambaleio ao me levantar e seguro na borda da maca por alguns segundos tentando me estabilizar.— Dormi por quanto tempo? — esperava que não tivesse se passado dias,
Cosmo— Axel, um pen-drive chegou na portaria do condomínio — aviso e estendo-o em sua direção — Você quer que eu o acompanhe? — pergunto. Estava aflito para descobrir o conteúdo que estava armazenado ali, porém também estava com medo do que iria encontrar.— Não — nega fazendo meu coração se contorcer em aflição — Preciso fazer isso sozinho, te chamarei se precisar de ajuda — ele some dentro do escritório deixando-me de mãos atadas. O pior é que eu não tinha o direito de reivindicar nada, mas em breve teria, Perséfone nunca mais deixaria a segurança dos meus olhos.Ando impaciente pela sala aguardando uma resposta de Axel. Yesenia estava refugiada na cozinha tomando uma xícara de café e Azazel não tirava os olhos da mãe consolando-a, todos estavam atordoados e com medo, esse momento me lembrava de quase 20 anos atrás quando Yesenia foi raptada pela irmã gêmea de Axel e eles perderam seu primogênito.Eu não aguentaria perder Perséfone.Estava prestes a bater na porta do escritório qua
PerséfoneA agitação me acorda bruscamente.Abro os olhos com esforço e me vejo dentro de um carro em movimento e a conversa anterior volta rapidamente a minha mente.Decolar!Porra!Não posso deixar minha família.Não posso deixar Cosmo!A encarnação do meu pai está sentado ao lado de Henric, enquanto o maldito dirige calmamente com um cigarro nos lábios.— Tenho um pressentimento de que essa puta ainda vai dar trabalho. O principal erro de Axel Devenuto foi dar liberdade demais a garota e colocá-la como sucessora no comando.Uma morte dolorosa aguarda esse babaca, irei adorar arrancar suas tripas com minhas próprias mãos, pode não ser hoje ou amanhã, mas já está predestinado a acontecer.Ao tentar me mexer percebo que meus pulsos e tornozelos estão soltos, porém estou com tanta dor que não sei se conseguirei dar conta de dois homens, parece que meu corpo foi fatiado e passado em um moedor logo em seguida, nunca me senti tão impotente assim.— Você é retardado mesmo, nem ao menos fal
PerséfoneMe aconchego no conforto e no calor sentindo-me em paz.Paz?Não era normal sentir paz se estava sendo torturada.Acordo assustada e o alívio recai tão forte dentro mim que volto a fechar os olhos.Estava no meu quarto e na minha cama envolvida pelas cobertas.— Filha? — olho para a ponta da cama e encontro papai, sua expressão denotando todo o cansaço que estava sentindo — Como você está?Me sento devagar tentando evitar que uma careta de dor e um gemido escape, ela tinha amenizado bastante e enfim conseguia respirar em harmonia, o inferno tortuoso finalmente acabou.— Bem melhor do que estava nas mãos daqueles bastardos — papai fecha os e parece estar passando pelo seu próprio inferno pessoal, mas nada do que aconteceu é culpa dele.Não há culpados nessa história, apenas Henric com a sua loucura descabida.Minha loucura pode ser comparada um pouco com a sua, a diferença é que nunca sequestraria Cosmo para submetê-lo as minhas vontades.— Está tudo bem, acabou pai — arrasto
PerséfoneAlguns dias depois me sentia bem o suficiente para começar a andar, ainda era dolorido colocar os pés no chão e caminhar, mas não aguentava mais ficar na cama o dia inteiro sendo mimada por todos.Tudo o que queria era torturar a pele de Henric e do seu parceiro torturador.— Ampliei a segurança de todos os membros da família — Cosmo avisa ao meu pai, ele somente assente e sai da sala deixando-nos sozinhos.Suspiro angustiada com a tensão entre os dois, que consequentemente deixava todo o ambiente tenso também.— Papai vai amolecer com o tempo — digo nervosa com essa situação, ele apenas concorda colocando as mãos dentro dos bolsos frontais da calça como se não se impostasse com a atitude do meu pai.Cosmo será o genro dele, então meu pai terá que superar isso em algum momento.— Vamos. Vou te colocar dentro do carro — Cosmo me pega em seus braços antes que eu possa protestar.A quem quero enganar?Adoro ser envolvida em seus braços.[...]O cheiro forte agride minhas narina
Perséfone15 dias depois— Droga, mãe! Pare com isso! — falo irritada quando ela tenta ajeitar meus cabelos mais uma vez. Suas mãos estavam inquietas e arrumava algo para ajeitar a cada cinco minutos!Já estava nervosa e ela somente estava colocando mais ansiedade em cima de mim!Olho para o meu reflexo no espelho e sinto-me mais tranquila ao ver como estava bonita. A sombra marrom realçou bastante meus olhos acompanhado do batom nude. Meu cabelo ganhou um corte moderno e repicado, e apesar de sentir saudades do cabelo longo, o novo corte trouxe uma mudança positiva na minha vida.Ao olhar para o espelho, vislumbrava uma nova mulher.Levanto-me da cadeira, coloco o scarpin branco aveludado e admiro a forma como o vestido se moldou ao meu corpo como uma segunda pele. Nunca me senti como as “garotas normais”, não sonhei com um casamento desde criança e jamais imaginei como minha festa de casamento seria. Também nunca sonhei com o vestido perfeito, então a minha escolha foi simples e ráp
Perséfone2 anos depoisEncaro as duas listras rosas sentindo o pavor me dominar.Eu sabia que esse momento chegaria, pois fazia dois meses que estava tentando engravidar, mas não imaginava que o resultado do teste iria me abalar tanto.O fato é que não sabia se estava pronta para ser mãe, não me imaginava parindo um filho aos 21 anos antes mesmo de tomar a liderança de Southward Angel.Foi uma conversa com minha mãe que abriu meus olhos, ela enfatizou que Cosmo já estava com 47 anos e que não aproveitaria um filho se estivesse velho demais para isso. Tenho certeza de que ele concordaria se dissesse que queria ter um filho somente aos 30 anos, porém, a conversa ficou pesando na minha mente e resolvi abandonar o anticoncepcional por conta própria, deixando a decisão a cargo do destino.Nos últimos dois anos coloquei a maior quantidade de disciplinas possíveis na minha grade curricular, consegui reduzir a graduação pela metade e irei me formar no próximo mês. Depois disso, me sentaria c