Narrador
Naquela manhã, Luana finalmente abriu os olhos. Ela não sabia onde estava, nem como havia chegado ali. Só sabia que seu irmão estava no sofá ali perto, dormindo. Sua mãe também dormia, mas segurando a mão da filha firmemente. A Dona Luísa não deixaria nem mesmo uma mosca pousar no rosto de sua caçulinha.
— Mãe. — Luana chamou, com a voz um pouco falha. — Onde estou? O que aconteceu? Por que esses fios?
Dona Luísa acordou e viu a filha reagindo. Começou a chorar imediatamente e beijar o crucifixo do terço pendendo em seu pescoço. Falou palavras de conforto e afeto a Luana e Lucas despertou com aquelas vozes. Ele instintivamente abraçou sua mãe e sua irmã antes mesmo de recuperar plenamente a consciência.
Estava tudo bem.
Ele sabia que tudo ia ficar bem.
LucianaHavia um monte de gritos e xingamentos das meninas na calçada do condomínio enquanto eu chamava um Uber para ir para minha casa. As fãs de Christofer puxaram meu cabelo e rasgaram a manga da minha blusa.Foi horrível.Elas sabiam que eu estava no carro dele, provavelmente virei a persona non grata das fãs.Christofer adquiriu bastante fama após algumas aparições na TV, e eu queria que ele tivesse o melhor dos mundos. Todo o reconhecimento pelo seu talento, e paz para continuar sua vida.O caminho até minha casa foi muito pior do que imaginei.Deixei Christofer triste.Eu estava triste.Meu apartamento parecia um mausoléu. Era um local que me dava dor e angústia. Eu olhava para o espelho e me lembrava da forma como fui cruelmente agredida com uma escova de cabelo. Os hematomas físicos perduraram por um bom t
LucianaO grito que Lucrécia deu me fez cair a ficha.Irmãs.Irmãs de verdade.Eu senti o peito doer um pouco, e segurei meu rosário.Meu pai tinha tido, mesmo, uma filha fora do casamento? Minha mãe tentou afastá-la da nossa vida?Eu tinha uma família?Milhares de pensamentos cruzaram minha mente, e todos envolviam diversas situações da minha vida que poderiam ser diferentes caso eu soubesse disso antes.Subitamente, todos os outros problemas pareceram pequenos.Eu tinha uma irmã. Sangue do meu sangue. Como seria minha vida agora? Íamos dormir juntas, comer juntas, ir ao shopping? Eu não sei.Não sei o quanto ela quer ficar perto de mim.Talvez ela me odeie.Lucrécia ocultava sua expressão entre os dedos, mas, com certeza estava chorando bastante. Ela deve ter passa
LucianaEra isso. Ele enxergava tudo como um negócio.É claro que eu ia fugir. Não tinha a menor condição de eu ficar perto de um maníaco desses.Maurício é tão frio e calculista quanto minha mãe. Ele me assusta, só pensa em dinheiro e poder.Eu não poderia manter um clima de ajuda mútua com ele. Estava pensando até em lhe pagar para que não me exigisse aproximação, mas não. Ele queria metade da minha herança e ainda queria usar minha imagem.
LucianaEngoli seco de novo. Suspirei e sequei meus olhos. Nunca tivemos uma conversa tão franca e tão emocionada.Bem, comigo as fãs dele fizeram pior: jogaram pedras. Não sei o que vai acontecer quando descobrirem a placa do meu carro.— Ele te tocou? Onde ele tocou? — A voz de Christofer se elevou de novo.— Já falei que ele não me tocou! — Coloquei o dedo na cabeça, sinalizando a loucura do que ele insinuou. — Eu estou no meu apartamento esperando os dias para o divórcio. Foi só um papel! Aliás, por
NarradorChristofer voltou ao Pub e se sentou no bar. Ele precisava beber mais ainda se queria passar por aquela noite.Eles transaram, mas Luciana esteve com ele apenas algumas horas, rápida e objetiva. Não, ele não queria isso. Ser amante era insuportavelmente doloroso. Era o pouco que ele conseguia agora.Seus amigos ainda estavam ali, mas ele não queria dar satisfações a ninguém. Ainda eram 2h da manhã, e o grupo estava acostumado a sair daquele Pub no mínimo às 4h.— E aí, o que aconteceu? — Lucas perguntou, sentando-se ao lado do amigo. — Achei que não ia mais te ver hoje.— Finge que eu morri. — Christofer murmurou, engargantando um Martini seco.— Ah. — Lucas lamentou. Estava cansado de avisar, cansado de ver a decadência do amigo, mas também não conseguia se
NarradorAquela foi a pior madrugada de sua vida.Aquela não era a primeira vez na vida que Christofer era molestado. Mas ele sentiu a mesma vergonha e a mesma vontade de morrer que sentiu na outra vez.Christofer agonizou sob o efeito de todas aquelas drogas. O coração acelerado. O ar que não cabia nos pulmões.Não conseguia entender o que poderia ter feito para merecer aquilo.Demorou até que ele conseguisse mexer o corpo. A arritmia foi passando. O desespero foi dando lugar a uma imensa dor.O corpo todo doía tanto que ele se sentia atropelado. O coração doía muito mais.Ele tinha vergonha de si mesmo.Evitou até mesmo se olhar no espelho do armário dos pais de Lucas ao passar por ele.E, por falar em Lucas, Christofer abriu a porta do quarto de seu amigo e viu que ele estava desmaiado no chão. Christofer te
LucianaEla encolheu os ombros. Sentiu um incômodo gigante por achar que pudesse ter sido vigiada, mas, no fundo, não se importava.— Não te interessa! — Luciana respondeu, irritada.Maurício mostrou para ela o celular. Fotos desfocadas dela com Christofer na noite anterior, na frente do Pub. Ele passou algumas, até mostrar o carro saindo do motel.— Eu sou o seu marido! — Ele gritou. Já sabia que ela ia fazer algo do tipo.— Está mergulhando demais no personagem!
LucianaEra a enésima vez que eu ligava para Christofer. Não aguentava mais ouvir o telefone chamando.Mandei uma mensagem:"Se não me responder, vou aí na sua casa."“Não venha.” Ele respondeu, rapidamente.Liguei insistentemente para Christofer, não sei o que ele estava fazendo, mas eu não conseguia controlar minha ansiedade, eu não podia parar de ligar.— Luci… — Ele atendeu.